PT precisa fazer concessões, diz Berzoini, articulador de Dilma
Fernando Rodrigues
Com um discurso moderado e visando a reduzir a temperatura elevada nas relações entre o Palácio do Planalto e o Congresso, o novo ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, declara que seu partido, o PT, “tem que fazer concessões” para as outras agremiações que compõem a aliança de sustentação à presidente Dilma Rousseff.
Em entrevista ao programa Poder e Política, do UOL e da “Folha”, ele disse: “Sou daqueles que defende que o PT aproxime a sua estratégia política em todo o Brasil com o PMDB. Também com o PP, PSD, PC do B. Com todos os partidos que fazem parte da base, no sentido de buscar uma maior harmonia na convivência. Não dá para a gente ter um foco de tensão muito forte nos Estados e ter uma aliança nacional. Quero ter harmonia nos Estados, nos municípios e no Parlamento”.
A estratégia descrita por Berzoini é a mesma defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o indicou para o cargo de ministro de Dilma Rousseff. A chegada do novo articulador político ao Planalto tem como objetivo reagrupar a aliança vitoriosa na disputa de 2010.
Como o PT já tem a maior bancada na Câmara e avança também para ampliar sua presença no Senado, há um temor de outras siglas governistas de que possam ser canibalizadas nas urnas pelos petistas. Berzoini nega essa intenção.
“Comandamos uma aliança de centro-esquerda que é responsável hoje por grandes avanços. Queremos que o PMDB, o PP, o PSD, o PC do B, o PDT e outros aliados se apropriem desses bons resultados também junto com o PT para disputar a política nacional. Não queremos uma hegemonia só do PT. Queremos uma hegemonia do conjunto da base”.
Aos 54 anos, ministro duas vezes durante o governo Lula (Previdência Social e Trabalho) e presidente nacional do PT logo depois do escândalo do mensalão, em 2005, Berzoini é hoje um político moderado nas suas respostas. “Precisamos construir no Brasil uma estratégia que vá muito além dos limites do PT. Isso significa dialogar de uma maneira muito ampla com os demais partidos”.
Na prática, o trabalho de Berzoini vai consistir de duas tarefas principais. Honrar a liberação de emendas ao Orçamento que ficaram pendentes de 2013 e assim acalmar deputados e senadores aliados. Em segundo lugar, mas não menos importante, tentará evitar que o Congresso se ocupe de votar projetos que possam ter repercussão negativa nos cofres do governo. Assim espera repetir a partir de junho uma coalizão eleitoral para sustentar a reeleição de Dilma com um número de partidos semelhante ao de 2010.
Disposto a debelar de uma vez o foco de insatisfação do PMDB na Câmara dos Deputados, Berzoini faz elogios ao acordo entre esse partido e o PT para se revezarem no comando da Casa. “Não temos qualquer tipo de dificuldade de fazer uma discussão sobre essa questão da composição do Parlamento, da composição da Mesa”, declara.
Uma das principais críticas recentes de congressistas sobre a articulação política do Planalto era a falta de poder da ex-ministra Ideli Salvatti, a quem Berzoini sucedeu. A partir de agora, diz ele, haverá “clareza e transparência nos acordos”. Promete “não fazer nenhum tipo de compromisso que não possa ser cumprido” entre o governo e o Congresso.
A fala diplomática se esvai quando o assunto é a CPI da Petrobras proposta por adversários do Planalto. A iniciativa seria só “fato político” para “encobrir o vazio programático da oposição”. Nesse contexto, “é fundamental que haja uma espécie de CPI para todos”, com investigação que atinja PSDB e PSB.
O sinal de “volatilidade” na popularidade do governo Dilma em pesquisas deve ser creditado a “um noticiário muito intenso, negativo”. Essa dúvida sobre o projeto reeleitoral dilmista reacenderá o movimento “volta, Lula”? O ministro nega: “A imensa maioria da bancada do PT não tem qualquer cogitação em relação a isso. Se tiver dois, três ou quatro pessoas que tenham essa perspectiva, não falam abertamente”.