Blog do Fernando Rodrigues

Levy soube do ‘downgrade’ às 14h de 4ª feira e não avisou Dilma

Fernando Rodrigues

Ministro da Fazenda não quis compartilhar informação

Planalto ficou sabendo só após 18h, pela imprensa

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Joaquim Levy: soube às 14h do rebaixamento do Brasil, mas não avisou Dilma

Emergiu mais um aspecto da descoordenação dentro do governo da presidente Dilma Rousseff. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, soube do rebaixamento do grau de investimento do Brasil na 4ª feira (9.set.2015) por volta de 14h. O czar da economia não compartilhou a informação nem com sua chefe no Palácio do Planalto.

Dilma e vários ministros palacianos só souberam do fato depois das 18h, quando várias agências de notícias começaram a noticiar a decisão da Standard & Poor’s.

Na 4ª feira, houve grande mal estar no Palácio do Planalto pelo fato de o ministro da Fazenda ter mantido o assunto em reserva. Um dos argumentos para o sigilo seria não permitir vazamentos enquanto o mercado financeiro ainda estivesse em funcionamento –mas ministros ouvidos pelo Blog consideraram extravagante deixar a presidente da República desinformada.

O fato é que Joaquim Levy já sabia desde a semana anterior, quando jantou com empresários em São Paulo, que a Standard & Poor’s estava para tomar uma decisão sobre o grau de investimento do país. O Planalto acha que o ministro da Fazenda errou ao não traçar uma estratégia previamente para o caso de confirmação do downgrade.

Nessas ocasiões o governo tenta preparar outras notícias para se contrapor ao fato negativo. É uma guerra de marketing difícil de ser vencida. Mas estar desprevenido degrada ainda mais o ambiente político.

Pior do que não planejar o governo internamente para reagir à notícia, Levy enclausurou-se na sede do Ministério da Fazenda em São Paulo na última 4ª feira. Quando soube do downgrade, Dilma Rousseff havia determinado que ele falasse à imprensa. A grande preocupação do Planalto nessas horas é saber como o “Jornal Nacional”, da TV Globo, vai noticiar o assunto –trata-se do telejornal de maior audiência no país.

No início da noite de 4ª feira, uma equipe do “Jornal Nacional” estava em frente ao Ministério da Fazenda em São Paulo tentando entrar no edifício para entrevistar Levy. Os jornalistas não tiveram sucesso. Telefonaram para pedir ajuda ao Palácio do Planalto, que tentou liberar a entrada. Não deu certo. A ordem para impedir a reportagem do telejornal entrar era do próprio ministro.

A nota oficial de Levy sobre o downgrade só ficou conhecida por volta de 22h. Foi quando ele também concordou em conceder a entrevista a outro telejornal da maior emissora do país, o “Jornal da Globo”. Tudo foi improvisado e o resultado (imagem e conteúdo) foi considerado um desastre pelo governo.

A entrevista ao ''Jornal da Globo'' foi ao ar já na madrugada de 5ª feira (10.set.2015). O ministro ficou instalado numa cadeira num nível abaixo da dos apresentadores, numa posição que evocava subserviência e fragilidade. Eis a imagem:

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O ministro da Fazenda numa cadeira em nível mais baixo que o dos apresentadores da TV Globo

Levy e parte de sua equipe continuam descontentes com a condução da política econômica de Dilma Rousseff. Um setor  da mídia tem tentado ajudar o ministro propagando versões edulcoradas da conjuntura, afirmando que ele teve sucesso nos últimos dias em convencer a presidente de que a “ficha caiu” a respeito da crise. Nada disso está acontecendo.

Dilma Rousseff continua sem certeza sobre o tamanho dos cortes que necessita fazer no Orçamento de 2016 para preencher o rombo inicialmente previsto na casa dos R$ 30 bilhões. A posição ortodoxa de Levy sobre mais cortes e alguns impostos continua sendo minoritária no Planalto.

O ministro e o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, estavam demissionários na 4ª feira da semana anterior, dia 2 de setembro. Ficaram em suas cadeiras apenas após o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, conversar com Dilma Rousseff. Foi por essa razão que naquela data houve um jantar com pesos pesados do PIB para recepcionar Levy em São Paulo.

Mas o ministro disse de maneira clara a todos naquele jantar do início do mês: vai tentar mais um pouco a implantação do ajuste fiscal, até por volta do fim do ano. E se não tiver sucesso? Aí terá de sair.

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