Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : Raul Henrique Srour

Empresários investigados utilizaram serviços da Mossack Fonseca
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Fernando Rodrigues

Raúl Srour e Benjamin Katz criaram offshores dos Panama Papers

João Procópio Prado firmou acordo de “consultoria” de US$ 1 milhão

Famílias Haber, Kattan e Trombeta compraram firmas via Mossack

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o doleiro Raúl Henrique Srour na CPI da Petrobras, em agosto de 2015

A firma panamenha de advocacia e consultoria Mossack Fonseca forneceu empresas offshore para diversos “doleiros” brasileiros investigados na Lava Jato e por suposta participação em desvios no banco Banestado nos anos 1990.

Raúl Henrique Srour e João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado são réus na Lava Jato. Prado trabalhava para o doleiro Alberto Yousseff.

Um dos primeiros investigados na Lava Jato, Raul Henrique Srour manteve pelo menos 2 companhias com a Mossack & Fonseca: a Seaway Holdings Corp (aberta em 2000, nas Bahamas) e a Uniglobe Finance Limited (que funcionou de 2007 a 2009, nas Ilhas Virgens Britânicas).

Srour foi preso em 17.mar.2014 e solto em 24.abr.2014 após pagar fiança de R$ 7,2 milhões. Ele é apontado pelo MPF como um dos membros do grupo de Alberto Yousseff que operava no mercado paralelo de câmbio. Na denúncia, o Ministério Público Federal enquadra seu envolvimento em crimes de lavagem de dinheiro praticados pelo menos desde a década de 1990. Srour também apareceu nos documentos do SwissLeaks.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada no domingo (3.abr.2016), é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

JOÃO PROCÓPIO
João Procópio de Almeida Prado é contador e trabalhava com o doleiro Alberto Yousseff. Na denúncia apresentada contra ele na Lava Jato, o Ministério Público Federal afirma que Prado era o responsável por criar, movimentar e gerir várias das offshores usadas pelo grupo. A denúncia faz a ligação dele com diversas empresas do mesmo tipo.

Os arquivos da Mossack contêm 2 offshores até agora desconhecidas pela força-tarefa da Lava Jato e que são reveladas pelos Panama Papers: a Edaco Services (aberta no Panamá em set.2011) e a Cedes Management Corp (também no Panamá, em jul.2012).

Os documentos contêm indícios de que uma das contas movimentadas por Prado, a Santa Tereza Services LP, pode ter sido usada para enviar dinheiro a um ex-dirigente da Fifa, Jack Warner.

A principal peça é um acordo entre a Santa Tereza e outra offshore, de nome Pendrey Associates Corporation. Esta última pertence a Ken Emrith, um cidadão de Trinidad e Tobago ligado a Warner.

Em dezembro de 2012, Santa Tereza e Pendrey firmaram acordo de “consultoria” para a expansão do porto da Baía de Walvis, na Namíbia. Em valores da época, o negócio envolveu US$ 1 milhão. No contrato, há a assinatura de Prado.

Estas informações foram apuradas em colaboração com a repórter Camini Marajh, do jornal Trinidad Express.

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O acordo entre a Pendrey e a Santa Tereza, de Procópio, com as assinaturas

FAMÍLIA HABER
O doleiro Roger Clement Haber tem um passado de investigações por suas atividades no mercado de câmbio. Ele foi investigado pela CPI do Banestado em 2003. Em 2006, foi escrutinado pela Polícia Federal por operar a offshore Agata, nas Ilhas Virgens Britânicas. Havia a suspeita de que a empresa seria usada para enviar remessas ilegais de dinheiro para fora do país.

A lista de suspeitos de utilizar os serviços de Roger Clement Haber, segundo a Polícia Federal, inclui nomes notórios como o deputado federal e ex-prefeito de SP Paulo Maluf, as Casas Bahia e os marqueteiros do PT Duda Mendonça e João Santana.

Com a Mossack Fonseca, Roger Clement Haber e sua mulher, Myriam Haber, criaram a Fuenteverde Trading Inc. em 1998. A empresa estava delegada ao casal por meio de uma procuração (“power of attorney”), mas era dirigida oficialmente por outra firma, a Belgravia.

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Procuração para Roger Haber, expedida pela Mossack

Os documentos da Mossack indicam que a Fuenteverde foi utilizada em 2000 para efetuar a negociação da Romipar Participações Ltda., que pertencia a uma empresa uruguaia e foi adquirida pelo casal. Em 2006, ela voltou a ser usada, dessa vez para a venda de uma loja da Romipar na avenida Angélica, em São Paulo.

Em 2010, a administração da Fuenteverde foi transferida para o filho do casal, Richard Clement Haber, e ações foram emitidas em nome de outra empresa, a Polaris Holding Inc.

Em 2015, uma firma de advocacia acionou a Mossack Fonseca Brasil pedindo informações antes de assumir o controle da Fuenteverde. Alegou representar a viúva do beneficiário final da empresa, que seria Myriam Haber. Roger Clement Haber morreu em dez.2010.

A MF-Brazil não se mostrou disposta a ajudar e rejeitou qualquer contato. Não há documentos que indiquem novas movimentações depois disso.

KATTAN, KATZ E TROMBETA
Os arquivos também trazem informações sobre companhias ligadas a outros empresários que foram ou são alvo de investigação no país. Estão nos arquivos Roberto Trombeta, hoje delator na Lava Jato; o empresário Benjamin Katz e a família Kattan, investigados no caso Banestado.

Benjamin Katz descreve a si próprio como empresário do ramo imobiliário, baseado no Rio de Janeiro. Ele abriu uma offshore de nome Guibor Ltd. em 1º.jul.2014, nas Ilhas Virgens Britânicas. Não há, no entanto, registro das atividades da empresa após sua abertura.

Ele enviou à reportagem comprovantes de que a empresa foi declarada às autoridades fiscais brasileiras, sendo, portanto, legal.

A família Kattan aparece nos registros da Mossack Fonseca como proprietária de pelo menos 14 empresas offshores, abertas de 1992 a 2010. Muitas dessas foram usadas para movimentar contas bancárias nas seguintes instituições: Safra (nas unidades da Suíça e de Luxemburgo), UBS (Alemanha), e UBP estão entre as instituições usadas.

Em 2003, a sede de uma empresa dos Kattan foi alvo de busca e apreensão da PF, à pedido da CPI do Banestado. A PAI Capital Corporation teria movimentado US$ 200 milhões e seria uma das principais empresas do caso.

De todos os integrantes da família, David Kattan é o que mais aparece como titular de offshores. As jurisdições usadas pelos Kattan geralmente são o Panamá, as Bahamas e as Ilhas Virgens Britânicas.

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Procuração da Brownbay para David Kattan

Outro grupo responsável por várias offshores da Mossack é o de Roberto Trombeta. Ele, a filha Fabiana de Paula Trombeta e o sócio, Rodrigo Morales, aparecem como donos ou como intermediários de 17 offshores geridas pela Mossack.

A relação dos Trombetas com a Mossack Fonseca era mais como intermediários (“client”, no jargão offshore) do que como usuários finais. Das offshores abertas por eles, por exemplo, 4 tinham como usuário final o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o Caoa –dono de revendedoras de automóveis e da operação da montadora Hyundai no Brasil.

OUTRO LADO
Todas as pessoas mencionadas nesta reportagem foram procuradas pela reportagem. Eis o que cada um disse:

João Procópio
Por meio do advogado Ricardo Berenguer, João Procópio Prado negou conhecer a Mossack Fonseca ou as offshores Edaco Services e Cedes. Sobre a Santa Tereza Services LP, a defesa disse que não tem como verificar se houve alguma transferência a Ken Emrith porque os documentos dessa empresa foram apreendidos. Afirmou ainda que só se manifestará sobre esse assunto em juízo.

Raúl Srour
Raúl Henrique Srour foi procurado por meio do escritório Sánchez Rios Advocacia Criminal, de Curitiba. E-mails foram enviados a partir de 11.mar, quando houve contato telefônico. Nenhuma resposta foi recebida até a publicação deste texto.

Benjamin Katz
Por meio de sua assessoria, Benjamin Katz disse que a Guibor Ltd foi constituída para “adquirir um imóvel em Miami e por uma questão sucessória”. O uso da offshore seria “tributariamente mais aconselhável para preservar o patrimônio da família. Sem a offshore, haveria uma incidência tributária de 50% em caso de falecimento do proprietário”.

A assessoria também encaminhou documentos comprovando que a offshore foi declarada à Receita Federal e ao Banco Central.

A assessoria de Katz também diz que ele nunca atuou como doleiro. Um pequeno resumo das atividades dele foi enviado pela assessoria. Eis a íntegra:

“Empresário brasileiro, 55 anos casado, 4 filhos, atua na área de construção e incorporação imobiliária através da empresa Visione Empreendimentos Imobiliários com mais de 200.000 m2 já construídos de habitação residencial para a classe média, exclusivamente com recursos privados. Nenhum empreendimento da família Katz teve investimento público.

Empreendedor, trouxe importantes marcas e investidores estrangeiros para se implantarem no Brasil, como, por exemplo, Fossil watches e Guardone rastreamento de veículos por satélite.

Ele frisa, também, que o imóvel comprado nos Estados Unidos, via offshore, foi parcelado e ainda está em construção”.

Kattan e Trombeta
As famílias Kattan e Trombeta não foram localizadas para comentar.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

Leia tudo sobre os Panama Papers

O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participaram da série Panama Papers  os repórteres Fernando RodriguesAndré ShaldersMateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de ToledoDaniel BramattiRodrigo BurgarelliGuilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks
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Fernando Rodrigues

Personagens da Lava Jato, mensalão e propinoduto estão ligados a contas no HSBC da Suíça

Doleiros citados em escândalos como a Operação Lava Jato, o mensalão e o caso PC Farias aparecem na lista dos 8.667 brasileiros relacionados a contas no HSBC da Suíça. Em todos os casos, foram investigados pela suspeita de terem operado dinheiro de origem duvidosa e acobertado operações financeiras ilegais. Eles negam ter cometido irregularidades.

No acervo de dados do HSBC suíço, vazado em 2008 por um ex-funcionário do banco, aparecem Henrique José Chueke e sua filha, Lisabelle Chueke (caso PC Farias); Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager (propinoduto); Benjamin Katz (Banestado); Dario Messer (mensalão); Raul Henrique Srour (Lava-Jato) e Chaim Henoch Zalcberg (Operações Roupa Suja e Sexta-feira 13).

Chueke, tido nos anos 1990 como um dos doleiros mais ricos do Rio de Janeiro, foi acusado de ter alimentado contas do empresário Paulo Cesar Farias, tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Melo, e de Ana Acioli, secretária do ex-presidente. Quando o escândalo veio à tona, os jornais publicaram que entre maio de 1991 e junho de 1992 o escritório de Chueke, situado no mesmo endereço da Belle Tours, empresa de sua filha Lisabelle, havia recebido 27 telefonemas da EPC, empresa de PC Farias. Nos registros do HSBC, Chueke e sua filha mantiveram uma conta conjunta de 24 de janeiro de 1989 a 28 de outubro de 2004.

MERCADO PARALELO
Vianna e Jager foram envolvidos no escândalo do propinoduto, revelado em 2003. Vianna foi assassinado com um tiro dentro de seu Audi, na Avenida Atlântica, no Leme, no Rio, em março daquele ano — 23 dias depois de o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ter bloqueado US$ 9 milhões que ele mantinha em uma conta bancária em Nova York. O bloqueio estabelecido pelos americanos atendia a um pedido da Justiça suíça. Na época, as autoridades brasileiras suspeitaram que a conta de Vianna havia sido usada para remeter ao exterior dinheiro obtido ilegalmente pelos fiscais da Receita envolvidos no escândalo. O Ministério Público Federal também suspeitou que a conta de Vianna servia para lavar dinheiro da contravenção no Rio de Janeiro.

Mais recentemente, em 2004, os Chuekes, Jager e Vianna apareceram numa ação do Ministério Público Federal decorrente da Operação Farol da Colina, da PF. Eles foram acusados de evasão de divisas, formação de quadrilha e operação de instituição financeira sem a devida autorização.

Nessa ação, Vianna ainda foi acusado pelos procuradores de ter sido sócio de Jager em uma empresa chamada Eleven Finance Corporation, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo o MPF, a offshore teria sido criada para administrar uma conta com recursos de operações ilegais de câmbio. Nas planilhas do HSBC, os dois surgem dividindo uma conta identificada pelo nome “Eleven”. Ela foi criada em 24 de outubro de 1988 e fechada em 15 outubro de 1991. Em 2006/2007, estava zerada.

Abaixo, os dados das referidas contas (clique na imagem para ampliar):

Arte

Benjamin Katz foi investigado pela CPI do Banestado por “operar fortemente no mercado paralelo”. Não houve relatório final por divergência entre os membros da comissão. O nome de Katz aparece no caso SwissLeaks ligado a uma conta que durou apenas 15 dias, de 1º a 16 de outubro de 1991.

No episódio do mensalão, o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, mais conhecido como Toninho da Barcelona, disse que Dario Messer recebia dólares do PT em uma offshore no Panamá e entregava ao partido o valor correspondente em reais no Banco Rural. Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, entre 1998 e 2003, Messer teria enviado irregularmente ao exterior pelo menos US$ 1 bilhão. Em 2005, a CPI dos Correios pediu à PF que o localizasse, mas ele havia embarcado para Paris. As planilhas do HSBC indicam que, em 2006/2007, Messer tinha US$ 69 mil depositados na Suíça.

Raul Henrique Srour foi citado na investigação da Operação Lava-Jato. De acordo com o MPF, ele fez parte do grupo do doleiro Alberto Youssef e atuou no mercado negro, fraudando identidades para realizar cerca de 900 operações de câmbio. Segundo os dados do banco suíço, Srour teve três contas, mas todas já haviam sido fechadas em 2006/2007, quando os dados foram extraídos do HSBC.

Henoch Zalcberg foi alvo de duas operações da Polícia Federal, a Roupa Suja e a Sexta-feira 13, realizadas em 2005 e 2009, respectivamente, para desbaratar uma quadrilha acusada de fraudar licitações, evadir divisas e lavar dinheiro. Em 2006/2007, a conta de Zalcberg no HSBC também já havia sido encerrada.

Participaram da apuração desta reportagem os jornalistas Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do “Globo”.

Doleiros negam ter cometido irregularidades ou permanecem em silêncio

Leia tudo sobre o caso SwissLeaks-HSBC no Brasil

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