“Dilma está muito atenta a isso”, disse João Santana em novembro de 2012
Fernando Rodrigues
Vale a pena ler a análise do marqueteiro a presidente há poucos meses
“Há um desejo de continuidade forte, e nenhum sinal de fadiga de material''
Em entrevista à Folha, na edição de 26 de novembro de 2012, o marqueteiro João Santana foi indagado sobre se estaria em gestação na sociedade brasileira algum novo tipo de demanda que poderia desafiar a permanência do PT no poder.
Santana disse que “mudanças sóciodemográficas alteram algumas demandas”, mas que a presidente “Dilma está muito atenta a isso”.
Para ele, havia no final de 2012, “um desejo de continuidade forte, e nenhum sinal de fadiga de material, o PT sai vencedor nesse debate”. Sobre Dilma: “Ela está [em novembro de 2012] com uma imagem boa e num patamar raro. E qualitativamente vai melhorar ainda mais”.
E o prognóstico para 2014: “De todos os [candidatos] que apareceram, só tenho certeza mesmo sobre o nome de Dilma Rousseff. Ela será candidata e vai ganhar a eleição. Provavelmente no primeiro turno”.
Uma ressalva: João Santana não foi o único a ter dificuldade para antever o que se passa agora. Há cerca de um mês, todos os analistas políticos ainda não enxergavam as mudanças que estavam para ocorrer no país. O máximo que se dizia era que o discurso de “o Brasil melhorou, mas dá para fazer mais” seria insuficiente para alavancar algum candidato de oposição tradicional. Essa avaliação se mantém, pois os nomes dos partidos do establishment anti-PT não estão se saindo melhor do que Dilma na nova conjuntura.
Eis aqui o trecho que merece ser lido da entrevista de João Santana:
Folha – Com a ascensão de muitos brasileiros para a classe média não mudam os patamares? As demandas?
João Santana – As mudanças sóciodemográficas alteram algumas demandas, mas as questões centrais permanecem: melhorar a vida, mais oportunidade, mais serviços públicos de qualidade, emprego e segurança. Dilma está muito atenta a isso.
Folha – Mas em 2014 o eleitor pode dizer: o PT está no poder há 12 anos e muita coisa ainda está ruim…
João Santana – Se for assim, o PT também poderá dizer que está no poder há 12 anos e tudo o que está bom é por causa de sua administração. E vai dizer, ainda, o que pode melhorar. E como há um desejo de continuidade forte, e nenhum sinal de fadiga de material, o PT sai vencedor nesse debate.
Folha – Por quê?
João Santana – Primeiro, a imagem de Dilma. Ela está com uma imagem boa e num patamar raro. E qualitativamente vai melhorar ainda mais. Segundo, o grau de afinidade dela com o Lula. Terceiro, depois que passou a haver reeleição para presidente, o brasileiro tende a pensar num ciclo de oito anos para presidente. E, por último, a oposição não tem candidatos fortes nem vai ter tempo nem circunstância para construir um projeto competitivo.
Folha – E a economia?
João Santana – Terá um papel importante, porém, não o único. Na hipótese que me parece completamente improvável de a economia ter sérios abalos, a população verá Dilma com muito mais capacidade de controlar o timão num momento de crise do que alguém da oposição.
Folha – Como FHC em 1998?
João Santana – O que eu quero dizer é que com a economia em bom estado, Dilma está fortalecida. Com uma crise, que não virá, ela também estaria. Porque com o cardápio de candidatos que está sendo oferecido, as pessoas vão confiar muito mais nela. Isso não falo da minha cabeça, mas de simulações que a gente faz. E mais, a percepção da crise internacional é forte em todas as camadas socioeconômicas do Brasil. O pobre está vendo todos os dias na TV como estão os Estados Unidos, a Europa.
Folha – Dos nomes citados para 2014, quem deve mesmo concorrer?
João Santana – De todos os que apareceram, só tenho certeza mesmo sobre o nome de Dilma Rousseff. Ela será candidata e vai ganhar a eleição. Provavelmente no primeiro turno.
Folha – No primeiro turno?
João Santana – Tem todas as condições. Não será surpresa [risos].
Folha – Aécio Neves é competitivo?
João Santana – Mais para o futuro. Não me parece que vai chegar com força suficiente em 2014.
Folha – Eduardo Campos?
João Santana – Acho que ele é muito inteligente para querer ser candidato. Ele sabe que o melhor momento dele será depois.
Folha – Joaquim Barbosa?
João Santana – Acho também que é uma pessoa inteligente e saberá tomar a decisão certa. Caso se candidatasse poderia ter um final de carreira melancólico. Não se elegeria, faria uma campanha ruim e teria uma votação pouco expressiva. Não tem apelo para ser candidato presidencial.
Folha – Joaquim Barbosa não tem apelo?
João Santana – Certeza absoluta. Mesmo com os pontos positivos que tenha, não tem perfil de presidente. Não tem preparo político para enfrentar o embate de uma campanha. Não tem base partidária que lhe forneça uma estrutura sólida. O povo separa bem as coisas: sabe que uma coisa é ser juiz outra é ser presidente.
Folha – Marina Silva?
João Santana – É uma boa candidata, mas acho que neste interstício de dois anos ela perdeu muito espaço. E não conseguiu recompor uma base partidária. Ela saiu bem da campanha de 2010, mas perdeu o vigor nesses dois anos, durante os quais poderia ter feito um trabalho mais consistente.
Folha – Ciro Gomes? Acabou o ciclo dele?
João Santana – Não sei nem se ele tem condições de se impor como candidato em seu partido.
Folha – E Lula em 2014?
João Santana – Não quer ser candidato a presidente da República, em 2014. Defende, de toda alma, a reeleição de Dilma.
Folha – A presidente está fazendo uma aliança partidária muito ampla para 2014. Deixa poucas opções para o PSDB. Essa é a ideia?
João Santana – Isso é muito bom se se confirmar em 2014. Porque Dilma vai ter condições de mostrar muita coisa que ela tem realizado e isso será possível na campanha eleitoral.
Folha – Para esse cenário se consolidar é importante que o PSB e Eduardo Campos se mantenham na aliança dilmista?
João Santana – O ideal não só para a presidenta Dilma como para Eduardo Campos é que o PSB fique no campo governista. Ele poderia se transformar num forte candidato para 2018.
Folha – Mas o PT jamais apoiaria para presidente um nome do PSB…
João Santana – Não sei. Isso aí é o PT que pode responder. Mas que Eduardo Campos seria um candidato a presidente melhor em 2018 do que seria em 2014, sem dúvida alguma.
Folha – O que Eduardo Campos ganharia esperando até 2018? Não é melhor concorrer em 2014 para acumular capital político?
João Santana – Depende. Visto de um lado, sim. Visto de outro, não. Se você examinar, historicamente, entre os candidatos que seguiram essa linha de acúmulo gradativo de forças só houve um que se saiu bem nesta estratégia, que foi Lula. Adhemar de Barros [1901-1969] foi um caso patético. Leonel Brizola [1922-2004] fracassou. Ciro Gomes não teve resultados. Então, é uma faca de dois gumes. Um candidato jovem que vem pela linha da renovação torna-se muito mais forte se trabalhar no momento preciso, com impacto, do que tentar no varejo, aos pouquinhos. Foi o que aconteceu, positivamente, com Haddad em São Paulo: chegou no momento correto e causou uma grande surpresa. Por sinal, Fernando Haddad tem tudo para ser presidente da República, em 2022 ou 2026. É jovem, vai fazer um bom governo em São Paulo…
Folha – Não é muita futurologia?
João Santana – É… Mas se a política não permite futurologia, as entrevistas permitem. Fernando Haddad tem hoje 49 anos. Tem tudo para fazer uma grande administração em S. Paulo. Vai ficar oito anos em São Paulo, porque ele vai se reeleger. Em 2022, 2026, vai ter um pouco menos ou um pouco mais de 60 anos.
Folha – Esse seu raciocínio é todo construído a favor do projeto da reeleição de Dilma. Se Eduardo Campos se lançar candidato a presidente em 2014, ele não força a realização de um segundo turno?
João Santana – Se a eleição fosse hoje, novembro de 2012, Dilma ganharia no primeiro turno. Se fossem candidatos de oposição, a Aécio Neves e Eduardo Campos não teriam, somados, 10% dos votos. Não significa, obviamente, que não possam melhorar. Mas uma mudança grande só poderia ocorrer caso haja fortes mudanças no quadro politico, econômico e social. Isso parece muito pouco provável.
Folha – O sr. citou Fernando Haddad como presidenciável. Mas em 2014 tem eleição para o governo paulista. Haddad pode ser o nome do PT nessa disputa?
João Santana – Ele não quer e sabe que seria um erro mortal repetir a mal sucedida experiência de Serra. O PT não precisará de Haddad para vencer as eleições. Tem outras nomes para isso.
Folha – Qual deve ser o candidato do PT a governador de São Paulo em 2014?
João Santana – Não sei, é uma decisão do partido. Mas vou fazer uma provocação. É uma pena o nosso candidato imbatível, Lula, não aceitar nem pensar nesta ideia de concorrer a governador de São Paulo. Você já imaginou uma chapa com Lula para governador de São Paulo tendo Gabriel Chalita, do PMDB, como candidato a vice? E mais do que isso. Já imaginou o que seria, para o Brasil, Dilma reeleita presidente, Lula governador de São Paulo e Fernando Haddad prefeito da capital? Daria uma aceleração incrível no modelo de desenvolvimento econômico e avanço social que o Brasil vem vivendo.
Folha – Lula vai ser candidato?
João Santana – Ele não aceita. Se isso sair publicado ele vai xingar até a minha quinta geração.
Folha – Já conversou com ele a respeito?
João Santana – Não, mas sei que ele não aceita.
Folha – Como sabe que ele não aceita se não conversou com ele?
João Santana – Sei por conversas com interpostas pessoas.
Folha – E qual será o nome do PT para concorrer ao Bandeirantes?
João Santana – Há vários nomes. Marta Suplicy, Aloizio Mercadante, Alexandre Padilha, José Eduardo Cardozo, Luiz Marinho. Todos muito fortes.
Folha – Quem Lula prefere?
João Santana – A coisa mais difícil do mundo é saber quem Lula deseja antes que ele queira que as outras pessoas saibam. Há uma necessidade forte de renovação, uma onda que já passou pela capital. Todos são nomes muito bons e dentro de um campo de renovação. Agora, me parece que o sempre novo e cada vez mais novo é Lula. Sua candidatura, em São Paulo, inclusive não iria contrariar esse sentimento de renovação. Ao contrário. Seria reforçado pela capacidade que ele tem de se renovar.