Decisão de Renan sobre CPI dá tempo para oposição repensar a estratégia
Fernando Rodrigues
mas governo também ganha oxigênio para tentar reagrupar seus aliados no Congresso
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou nesta quarta-feira (2.abr.2014) que a decisão final sobre a CPI da Petrobras ficará com a Comissão de Constituição e Justiça da Casa.
Foi uma saída política. Renan atuou em várias frentes.
Primeiro, ajudou ao governo porque a CPI da Petrobras continua não instalada. O Palácio do Planalto terá um pouco de oxigênio para trabalhar seus aliados no Congresso. Apresentar algum fiapo de investigação para tentar convencer alguns de que está tomando providências. Enfim, a presidente Dilma Rousseff e sua equipe terão um pouco de espaço para trabalhar politicamente.
Segundo, Renan não desagradou totalmente a oposição (apesar dos discursos em contrário), porque sinalizou que pode haver uma CPI mais adiante. No fundo, está mais ou menos claro que a investigação é viável. Agora, será apenas uma questão de formatação dessa eventual CPI.
Por fim, em terceiro lugar, mas talvez mais importante, Renan deu um pouco de tempo para que a oposição ganhe espaço na mídia reclamando alguns dias ou semanas –afinal, a CCJ só analisará o tema na semana que vem. A oposição também poderá refletir se a estratégia de uma ''CPI do fim do mundo'' (a única que será possível instalar), investigando tudo, serve aos interesses eleitorais de quem pretende chegar ao Palácio do Planalto.
É muito simples o cenário atual. Não se trata aqui de um jogo simples de gente “do bem” contra gente “do mal” debatendo se um ato de corrupção ou incompetência na Petrobras deve ser investigado. Isso é o que menos interessa à maioria dos senadores (há exceções, claro).
O que está acontecendo é um jogo político clássico de um ano eleitoral.
Com muita razão, a oposição decidiu que precisaria propor uma ampla investigação da Petrobras, sobretudo porque a estatal comprou uma refinaria nos Estados Unidos com um prejuízo na casa de US$ 1 bilhão. Pior ainda, a presidente da República admitiu que aprovou a operação sem saber direito do que se tratava e passou vários anos sem tomar uma providência a respeito.
Muito bem. É dever da oposição pedir tal tipo de investigação. Mas no Brasil é sempre necessário qualificar de maneira correta quem é (ou pode ser) oposição para valer. No caso, os pontas-de-lança a favor da CPI da Petrobras são o ex-governador por 8 anos de Minas Gerais, Aécio Neves, do PSDB, e o governador também por 8 anos de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB.
Seria muita ingenuidade supor que dois governadores de Estado, que pertencem ao establishment político brasileiro e são integrantes da elite mais estabelecida na história recente, possam propor investigar apenas uma estatal do governo federal. O jogo da política não é assim tão maniqueísta. Há estatais com problemas em todas as partes no Brasil. Por que não são investigadas? Porque o governo federal e dezenas de governos estaduais não têm interesse nisso.
Ao ser encurralado pela iminência da CPI da Petrobras, o governo federal reagiu dizendo que investigaria também possíveis irregularidades de administrações do PSDB e do PSB nos Estados. É péssimo para o Brasil que os políticos se anulem dessa forma –mas é da regra da política. Jogo jogado.
No Brasil, oposição com autoridade para propor investigações sobre qualquer coisa, sem temer uma revanche, só se encontra nos pequenos partidos de esquerda que nunca chegaram ao poder, como PSOL ou PSTU. Assim como o PT também foi um dia de oposição e defendia CPIs de manhã, de tarde e de noite. Agora, não mais.
Infelizmente, quando quem está no governo federal é o PT e quem está na oposição é o PSDB, os riscos para os partidos são sempre muito maiores do que o benefício para o Estado. Esse cenário também pode ser visto com lente invertida em São Paulo, onde o PSDB está no governo estadual e o PT faz o papel de oposição.
No final, a decisão de Renan Calheiros de postergar o desfecho desta novela foi uma obra muito bem elaborada de engenharia política, “a la Frank Underwood”, do seriado “House of Cards”. A oposição terá tempo para continuar a faturar um pouco mais nos noticiários da TV. Como já fez Aécio Neves reclamando no plenário do Senado e posando para as lentes das câmeras.
Mas Aécio Neves sabe que o controle de danos será duro numa CPI da Petrobras que também investigue negócios suspeitos relacionados ao PSDB. O mesmo vale para Eduardo Campos e o PSB.
Em resumo, daqui a uma semana uma ampla CPI poderá ser instalada. Talvez até demore um pouco mais, pois a decisão da CCJ pode ter de ser submetida ao plenário do Senado. Só que todos os lados envolvidos já terão desidratado bastante os seus ímpetos. Para o prejuízo do Brasil –que não verá uma investigação para valer– e para o benefício dos políticos que disputam cargos na eleição de outubro.
Simples assim.