Gilberto Carvalho me ameaçou, diz José Roberto Arruda
Fernando Rodrigues
Ex-governador de Brasília diz ter sido pressionado em 2009, um pouco antes de surgirem gravações suas em vídeo recebendo dinheiro
O ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, 60, está de volta à política. Filiado ao PR, pretende reconquistar nas urnas neste ano a cadeira que perdeu em 2010 após o escândalo conhecido como mensalão do DEM –sua legenda à época.
Ele não está vetado pela Lei da Ficha Limpa porque não foi condenado por um órgão colegiado. Ao explicar seu envolvimento no mensalão do DEM, quando apareceu em um vídeo recebendo dinheiro em espécie, Arruda diz ter sido vítima de um “golpe” engendrado pelo PT, cujo “artífice” foi o atual governador de Brasília, o petista Agnelo Queiroz.
Em entrevista ao programa Poder e Política, do UOL e da ''Folha'', sua narrativa inclui uma suposta ameaça recebida de Gilberto Carvalho, com quem esteve em setembro de 2009, um pouco antes da eclosão do escândalo. Naquele período, Carvalho era chefe do Gabinete Pessoal do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele foi me pressionar: ‘Ou você muda de partido ou você vai cair’. Foi um recado muito claro que recebi”, diz Arruda. “O que ele fez de maneira velada foi uma ameaça”.
Também nessa época, antes do escândalo, Arruda recebeu em almoço Dilma Rousseff e Erenice Guerra. Dilma era ministra da Casa Civil. Erenice, a secretária-executiva (a número dois do Ministério). Ambas também teriam sugerido a Arruda que abandonasse o DEM e que se filiasse a alguma legenda da base governista federal, preferencialmente o PMDB.
O que disse Dilma nessa ocasião? “A mesma coisa: ‘Olha, você não quer mudar de partido para me apoiar?’ ”, relata.
Dias depois desses encontros, Arruda viu sua carreira desmoronar com o surgimento de gravações em vídeo mostrando políticos de Brasília, inclusive ele, recebendo dinheiro em espécie.
Sua explicação para o seu vídeo tem duas partes. Primeiro, responde que a gravação é de 2005, quando era deputado federal, e não governador. Segundo, afirma que pegou o dinheiro, mas que não ficou com os recursos. “Não há na gravação nenhuma cena que mostra eu levando o dinheiro. Eu não levei. Eu devolvi”. Onde está essa cena da devolução? Segundo Arruda, foi cortada numa edição.
Quando esteve preso por dois meses, em 2010, declara ter sido procurado pelo então diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Qual foi o conteúdo da conversa? “Ele me propõe: ‘Fale o nome de políticos do DEM e do PSDB que você, por ventura, tenha ajudado e você sai daqui amanhã. Não precisa dizer muita gente, diz só o nome do Arthur Virgílio, do Marconi Perillo e do José Agripino’”.
Líder na disputa pelo governo de Brasília segundo pesquisas locais realizadas em junho, Arruda tem de 25% a 30%, conforme o instituto. Para presidente, ele votará em Aécio Neves (PSDB). “Contra o PT”, explica.
Outro lado
O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) classificou de “absoluta invenção” as declarações de Arruda.
Por meio de sua assessoria, Carvalho afirmou: “Jamais discuti questões partidárias com esse cidadão. Seu relato é uma absoluta invenção. É tão verdadeiro quanto a honestidade dele”.
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, declarou, via assessoria, que Arruda “tenta, num golpe teatral, manipular a informação e enganar a população mais uma vez”.
“Arruda é conhecido como um mentiroso contumaz. Não entendo porque Arruda insiste em mentir tanto. Isso me parece doentio, incorrigível”, afirmou Agnelo.
Procurada, a assessoria da presidente Dilma Rousseff afirmou que ela não iria comentar.
A reportagem não conseguiu contato com o ex-diretor da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa, nem com a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra.
(Colaborou Aguirre Talento)