Vantagem numérica no Datafolha, mesmo mínima, incendiará militância petista
Fernando Rodrigues
Pesquisa mostra Dilma com 52% e Aécio com 48%
Está em jogo qual campanha negativa será mais eficaz
Petista tenta agora usar crise hídrica de SP contra tucano
O cruzamento das curvas e a inversão de posições entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) na pesquisa Datafolha desta segunda-feira (20.out.2014) deve incendiar a militância petista nesta reta final de campanha.
Segundo o Datafolha, numa pesquisa com 4.389 eleitores e realizada integralmente nesta segunda-feira, Dilma aparece com 52% dos votos válidos contra 48% de Aécio. Nas duas pesquisas anteriores, o tucano liderava numericamente com 51% contra 49% da petista.
É evidente que do ponto de vista estatístico nada mudou. Ambos, Dilma e Aécio, continuam empatados no limite da margem de erro –que é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Mas nessas horas, numa eleição que será aparentemente decidida “nos detalhes”, como dizem os técnicos de futebol, o aspecto psicológico vale muito. O PT é tido como o partido com a militância mais aguerrida em retas finais de campanha. Os pontinhos a mais que Dilma recebeu hoje no Datafolha serão vitais para motivar os ativistas pró-PT.
É claro que do ponto de vista estritamente objetivo é necessário olhar com cautela esses percentuais do Datafolha. Sobretudo numa campanha com tantas reviravoltas como esta de 2014. Nada impede que ocorram mais inversões de posição até o dia da eleição, domingo, 26.out.2014.
O certo ainda é apenas registrar que o desfecho da corrida presidencial continua indefinido.
Feitas as ressalvas, é preciso também mencionar dois fatos a serem considerados.
Primeiro, a eficácia da campanha negativa de parte a parte.
Aécio falou basicamente em corrupção, Petrobras e incompetência gerencial da atual administração federal. A não ser um brasileiro que tenha chegado agora de Marte, todos já conheciam as histórias de corrupção envolvendo o PT e a Petrobras.
Já Dilma introduziu de maneira viral para o grande público casos considerados novos para parte do eleitorado. Por exemplo o episódio em que Aécio foi barrado por uma blitz, no Rio, e se recusou a fazer o teste do bafômetro –além de estar dirigindo sem carteira de motorista. A petista também enfatizou ao máximo a imagem de elitista do PSDB/Aécio, que não se preocupa com os mais pobres.
Quem foi mais eficaz na campanha negativa? Aécio ou Dilma?
O outro aspecto a ser mencionado a respeito dos últimos dias é o destaque dado à crise hídrica de São Paulo. As emissoras de TV que durante o primeiro turno tratavam com cuidado o assunto (temendo serem partidárias, pois ainda havia uma disputa pelo governo paulista), agora rasgaram a fantasia.
Nesta segunda-feira, 20.out.2014, o “Jornal Nacional” da TV Globo fez longa reportagem sobre a falta de água entre os paulistas. Ontem, 19.out.2014, o programa “Fantástico” também martelou sobre o tema. E todas as outras TVs estão indo na mesma linha.
Para complicar, o Brasil e o Estado de São Paulo enfrentaram um calor incomum nos últimos dias. A vida de milhões de paulistas se degradou. E todos estão se vendo agora –diferentemente do que ocorria no primeiro turno– nos telejornais noturnos.
Dilma Rousseff e sua equipe de marketing estão tentando surfar nessa onda desde domingo, quando o programa da petista falou em tom grave para se solidarizar com os paulistas que sofrem uma situação “muito triste e preocupante”.
De maneira esperta, Dilma não cita o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), que foi reeleito no primeiro turno. A petista só fala no “modelo de gestão tucana” que o “adversário [Aécio] defende e representa”.
Dilma sabe que é quase impossível ganhar em São Paulo. Mas sabe também que pode obter alguns pontos extras ali para não perder feio, como o Brasil foi derrotado para a Alemanha na Copa do Mundo de Futebol. De quebra, a petista sabe que todos os eleitores, de norte a sul, estão assistindo às reportagens da TV Globo e de outras emissoras sobre a falta de água em São Paulo. Vai tentar se aproveitar disso.
Vai dar certo? As próximas pesquisas, e, mais importante, as urnas dirão.