Saiba como a hipótese do impeachment aparece nas conversas em Brasília
Fernando Rodrigues
processo só andará se houver acordo sobre quem o comandará
De mansinho, nos bastidores, voltou aquela discussão recorrente na política sobre um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Nesta segunda-feira (29.jun.2015) cedo, deu-se uma conversa entre duas pessoas que acompanham a política muito de perto. Foi assim:
A – Perguntaram-me hoje o que acontece se Dilma Rousseff sofre o impeachment. Queriam saber quando e em que hipótese haveria uma nova eleição…
B – Se só sair a presidente Dilma, assume Michel Temer até o final do mandato.
A – É, mas essa história de Lava Jato é sobre propina para a campanha da presidente… Se for confirmada, atinge a chapa inteira. Até porque votamos para presidente e vice-presidente de maneira conjunta. É a chapa completa que fica atingida…
B – Nesse caso, saem os dois, se houver impeachment. Saem Dilma Rousseff e Michel Temer. E aí, como ainda não foram cumpridos 2 anos de mandato, tem de assumir o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e novas eleições são convocadas em 90 dias.
A – Aí começam os problemas. O PMDB do Michel Temer vai ser contra, pois serão todos colocados para fora do poder. O PMDB de Eduardo Cunha é mais modesto em tamanho e força para estar à frente do processo. Quem pode se interessar é o PSDB, pois pesquisas dizem que uma eleição hoje colocaria Aécio Neves na frente.
Aí terminou a conversa.
Como se observa, haver ou não haver impeachment depende de dois fatores.
O primeiro, por óbvio, é a existência de algum fato objetivo que complique criminalmente a presidente da República. O segundo é a necessidade de as forças políticas mais relevantes se entenderem sobre quem comandaria essa transição.
O indício sobre crime eleitoral na campanha de Dilma de 2014 já apareceu na delação premiada de Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC. A petista declarou que não respeita delatores. O problema é outro: tem de dizer o que achou do conteúdo da delação –e responder de maneira objetiva no caso de acusação se transformar em denúncia.
A união de forças anti-Dilma hoje exigira muita engenharia política.
Quando o Brasil teve o impeachment de Fernando Collor, em 1992, havia partidos políticos muito mais sólidos e estruturados. PMDB e PFL dominavam o centro do espectro político.
Hoje, a fragmentação é completa.
Por que os 10 partidos no momento grudados ao governo largariam esse conforto para apoiar uma nova eleição de um tucano –possivelmente Aécio Neves? Só o farão depois de ter segurança de que ficarão no mesmo lugar no qual se encontram.
Por essa razão, o impeachment pode até estar voltando aos poucos ao debate em Brasília. Mas a viabilização dessa saída é muito mais complexa do que possa parecer.