Análise: Palácio do Planalto estava por trás do caso Renan e se arrepende
Fernando Rodrigues
Aliados de Renan culpam a Moreira Franco pela sua derrubada
Estratégia do Planalto seria desviar foco das críticas ao governo
“Mais forte do que qualquer cargo é estar ao lado do príncipe e poder falar ao seu ouvido”, dizia o ex-governador do Rio de Janeiro Moreira Franco (PMDB) em 1999 quando, na falta do cargo de ministro, assumiu como assessor especial do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
O texto foi originalmente publicado no Poder360. A análise é do editor Tales Faria.
Sua expectativa era de que o gabinete no Palácio do Planalto fosse suficiente para dar-lhe a dose de poder necessária.
Diga-se de passagem, embora amigo dos tempos de estudante de FHC, Moreira não teve ali tanto poder quanto detém agora no governo de Michel Temer.
FHC tinha amigos mais próximos, como o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta.
Já agora, com Temer como presidente da República, Moreira integra o chamado núcleo duro do Planalto, hoje restrito a ele e ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Fala o tempo inteiro “ao ouvido do príncipe”.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima (Segov) foi expelido deste núcleo no escândalo do prédio em Salvador. Mas atribui a Moreira parte das “intrigas palacianas” que resultaram em sua demissão.
Outro forte candidato ao núcleo era o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Nem chegou a entrar no governo. Foi para a cadeia responsabilizando Moreira por “intrigas” que resultaram em seu enfraquecimento. “Ele é o homem mais poderoso do governo”, chegou a apontar Eduardo Cunha.
Agora também os senadores mais próximos de Renan Calheiros –e o próprio!– enxergam em Moreira o braço do Palácio que articulou o enfraquecimento do presidente do Senado.
Do Planalto, segundo os aliados de Renan, teriam partido alguns dos incentivos à publicidade do Movimento Brasil Livre nas manifestações do último domingo.
A estratégia seria a seguinte: desviar o foco do presidente Michel Temer e do governo, focalizando os protestos em direção ao Congresso. Especialmente sobre Renan, fragilizado não só pelas denúncias da Lava Jato, mas sobretudo pelo embate com o Judiciário para tentar aprovar regras mais rígidas na lei de abuso de autoridade.
Esperavam-se milhões de pessoas nas ruas em todo o país. Não foram. Foram milhares. Mas foi o suficiente para apertar a corda sobre o pescoço de Renan e impulsionar o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, a decidir pelo afastamento do presidente do Senado do comando da Casa.
Nem Moreira, nem o Planalto, nem os governistas em geral esperavam pelo gesto de Marco Aurélio. A decisão jogou a pauta do Senado nas mão do vice-presidente da Casa, o petista Jorge Viana (AC).
O tiro contra Renan Calheiros agora ameaça a votação das reformas que o governo tanto necessita para atravessar a pinguela da interinidade de Michel Temer no governo.
Agora todas as articulações do Planalto são para tentar desfazer a crise. Não é impossível.
Mas Renan Calheiros sairá dela como mais um inimigo de Moreira Franco.
E está definitivamente engrossado o rastro de desconfianças e rancores que tem se formado entre os caciques do PMDB nesta passagem pelo governo.