Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : doleiros

Investigado no tríplex do Guarujá era intermediário profissional da Mossack
Comentários Comente

Fernando Rodrigues

Ademir Auada viajava ao Panamá quase 1 vez por mês

Ele intermediou a Murray Holdings, de Nelci Warken

Eleição de Lula em 2002 seria “boa para os negócios”

triplex-guaruja

Ao centro, o Condomínio Solaris, onde fica o apartamento Tríplex que foi alvo da 22ª fase da Lava Jato

O empresário Ademir Auada, preso na fase “Triplo X” da Operação Lava Jato, atuava como intermediário na venda de offshores criadas pela empresa de advocacia e consultoria panamenha Mossack Fonseca. Arquivos da companhia listam 29 empresas em que Auada aparece como intermediário. Esse tipo de operação dificulta a obtenção da identidade dos verdadeiros donos.

Os arquivos da Mossack Fonseca revelados pela série Panama Papers mostram que Auada era o contato entre a firma panamenha e a publicitária Nelci Warken. Para a Polícia Federal, Nelci era “testa de ferro” num esquema montado pela Bancoop, o PT e a OAS. O objetivo seria esconder a verdadeira propriedade de imóveis do Condomínio Solaris, no Guarujá.

Durante as investigações da Lava Jato, a Polícia Federal levantou a suspeita de que um apartamento tríplex no Condomínio Solaris pertenceria à família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –o que o petista nega.

Ademir Auada foi preso na 22ª fase da Lava Jato, quando voltava de viagem ao Panamá. A “Triplo X”, como foi batizada, investiga se a OAS lavou dinheiro por meio de negócios imobiliários que beneficiaram o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Auada foi solto junto com Nelci Warken em 5.fev.2016. A Procuradoria Geral da República decidiu não requerer prisão preventiva dos 2.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada no domingo (3.abr.2016), é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

Em vários casos, inclusive no de Nelci, os funcionários da Mossack recebem instruções para “nunca contatar os clientes”. Eles deveriam contatar Auada.

Em 2012 e 2013, Auada esteve no Panamá para tratar diretamente da documentação das empresas de Nelci (Hazelvile International Inc. e Woodbay Holdings SA) e da Murray Holdings LLC, offshore dona de imóveis no Solaris.

Os arquivos da Mossack Fonseca apresentam 1.236 menções ao nome de Auada. Dão indícios de uma relação longa e produtiva entre eles. O empresário paulistano trabalha com a empresa panamenha pelo menos desde 2001.

auada-murray-edit

Mossack Fonseca envia a Ademir os papéis da Murray Holdings, de Nelci Warken

Há registro de várias reuniões entre ele e Mercedes Riaño, chefe da Mossack Fonseca Brasil, foragida da Polícia Federal brasileira desde que a fase “Triplo X” da Lava Jato foi deflagrada, em 27.jan.2016.

Auada também viajava muito ao Panamá para se encontrar pessoalmente com funcionários da matriz da Mossack Fonseca. Um deles comenta em registro de 2001 que o empresário ia ao Panamá a cada 40 dias, em média.

LULA AJUDA OS NEGÓCIOS
Em uma de suas viagens, em mai.2002, Auada fez avaliações sobre as eleições brasileiras durante um jantar com funcionários da Mossack. O relato está assim em documento dos Panamá Papers: “As eleições presidenciais no seu país (Brasil) ocorrerão em outubro deste ano (2002). A esquerda é muito forte e, se ganha, seria muito ruim para o país, mas bom para seus negócios”. Leia aqui parte dos relatos feitos pela Mossack sobre as reuniões com Auada.

O contexto dessa citação de Auada era o de que a eventual chegada do PT ao Palácio do Planalto produziria alguma reação de pânico entre os brasileiros mais abastados. Dessa forma, muitos poderiam desejar abrir empresas offshores para enviar recursos ao exterior –o que ajudaria os negócios da Mossack Fonseca.

A prisão de Auada pela Lava Jato foi realizada no aeroporto de Guarulhos, em 28.jan.2016, quando o empresário desembarcou retornando do Panamá.

OUTRO LADO
Blog conversou com Edvaldo Kavaliauskas, advogado que representa Auada nos processos da Lava Jato. O advogado confirmou a relação de seu cliente com a Mossack Fonseca, mas disse que ele deixou de trabalhar com os panamenhos há cerca de 2 anos. “Se subsistia alguma relação, era só o pagamento de anualidade de firmas que ele intermediou antes”, disse.

Segundo Kavaliauskas, Auada trabalhava como uma espécie de “despachante” internacional, auxiliando empresas na “redução da carga tributária”. Ele informa que Auada possuía clientes no Panamá e em outros países, o que justificaria suas frequentes viagens.

Em e-mail, a defesa de Auada também contestou o número de empresas encontradas em meio aos Panama Papers. Eis a íntegra da mensagem enviada:

Junto a empresa Mossack Panamá, o Sr. Ademir utilizou dos serviços desta empresa no registro e certificação de 19 empresas e não 29 como constou, sendo que dessas 19, três se encontram inativas.

“Com relação as viagens ao Panamá, informamos que essas são inerentes a atividade de consultor internacional, possui uma empresa naquele país devidamente declarada aos órgãos brasileiros, de seus serviços depreende-se a busca de negócios e mercados, visando a expansão comercial bem como a redução de custos operacionais para seus clientes, tudo em decorrência da instituição da Zona Franca de Colon.

“Salienta-se que as viagens não se restringem ao Panamá, pelo contrario, efetua um maior numero de viagens para outros países, pois além do serviço de consultoria atua como agente referenciador bancário.

“Todos os clientes que atuam no território nacional possuem seus registros no CADEMP e CNPJ.

“Ressalta que após a contratação dos serviços da empresa Mossack Fonseca Panamá, sendo a ultima em meados do ano de 2013/14, seus serviços se limitavam a efetuar, quando solicitado, dar suporte com a documentação para realização de alterações contratuais e documentais, quando necessário”.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

Leia tudo sobre os Panama Papers

O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participaram da série Panama Papers  os repórteres Fernando RodriguesAndré ShaldersMateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de ToledoDaniel BramattiRodrigo BurgarelliGuilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

Blog está no FacebookTwitter e Google+.


Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks
Comentários Comente

Fernando Rodrigues

Personagens da Lava Jato, mensalão e propinoduto estão ligados a contas no HSBC da Suíça

Doleiros citados em escândalos como a Operação Lava Jato, o mensalão e o caso PC Farias aparecem na lista dos 8.667 brasileiros relacionados a contas no HSBC da Suíça. Em todos os casos, foram investigados pela suspeita de terem operado dinheiro de origem duvidosa e acobertado operações financeiras ilegais. Eles negam ter cometido irregularidades.

No acervo de dados do HSBC suíço, vazado em 2008 por um ex-funcionário do banco, aparecem Henrique José Chueke e sua filha, Lisabelle Chueke (caso PC Farias); Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager (propinoduto); Benjamin Katz (Banestado); Dario Messer (mensalão); Raul Henrique Srour (Lava-Jato) e Chaim Henoch Zalcberg (Operações Roupa Suja e Sexta-feira 13).

Chueke, tido nos anos 1990 como um dos doleiros mais ricos do Rio de Janeiro, foi acusado de ter alimentado contas do empresário Paulo Cesar Farias, tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Melo, e de Ana Acioli, secretária do ex-presidente. Quando o escândalo veio à tona, os jornais publicaram que entre maio de 1991 e junho de 1992 o escritório de Chueke, situado no mesmo endereço da Belle Tours, empresa de sua filha Lisabelle, havia recebido 27 telefonemas da EPC, empresa de PC Farias. Nos registros do HSBC, Chueke e sua filha mantiveram uma conta conjunta de 24 de janeiro de 1989 a 28 de outubro de 2004.

MERCADO PARALELO
Vianna e Jager foram envolvidos no escândalo do propinoduto, revelado em 2003. Vianna foi assassinado com um tiro dentro de seu Audi, na Avenida Atlântica, no Leme, no Rio, em março daquele ano — 23 dias depois de o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ter bloqueado US$ 9 milhões que ele mantinha em uma conta bancária em Nova York. O bloqueio estabelecido pelos americanos atendia a um pedido da Justiça suíça. Na época, as autoridades brasileiras suspeitaram que a conta de Vianna havia sido usada para remeter ao exterior dinheiro obtido ilegalmente pelos fiscais da Receita envolvidos no escândalo. O Ministério Público Federal também suspeitou que a conta de Vianna servia para lavar dinheiro da contravenção no Rio de Janeiro.

Mais recentemente, em 2004, os Chuekes, Jager e Vianna apareceram numa ação do Ministério Público Federal decorrente da Operação Farol da Colina, da PF. Eles foram acusados de evasão de divisas, formação de quadrilha e operação de instituição financeira sem a devida autorização.

Nessa ação, Vianna ainda foi acusado pelos procuradores de ter sido sócio de Jager em uma empresa chamada Eleven Finance Corporation, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo o MPF, a offshore teria sido criada para administrar uma conta com recursos de operações ilegais de câmbio. Nas planilhas do HSBC, os dois surgem dividindo uma conta identificada pelo nome “Eleven”. Ela foi criada em 24 de outubro de 1988 e fechada em 15 outubro de 1991. Em 2006/2007, estava zerada.

Abaixo, os dados das referidas contas (clique na imagem para ampliar):

Arte

Benjamin Katz foi investigado pela CPI do Banestado por “operar fortemente no mercado paralelo”. Não houve relatório final por divergência entre os membros da comissão. O nome de Katz aparece no caso SwissLeaks ligado a uma conta que durou apenas 15 dias, de 1º a 16 de outubro de 1991.

No episódio do mensalão, o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, mais conhecido como Toninho da Barcelona, disse que Dario Messer recebia dólares do PT em uma offshore no Panamá e entregava ao partido o valor correspondente em reais no Banco Rural. Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, entre 1998 e 2003, Messer teria enviado irregularmente ao exterior pelo menos US$ 1 bilhão. Em 2005, a CPI dos Correios pediu à PF que o localizasse, mas ele havia embarcado para Paris. As planilhas do HSBC indicam que, em 2006/2007, Messer tinha US$ 69 mil depositados na Suíça.

Raul Henrique Srour foi citado na investigação da Operação Lava-Jato. De acordo com o MPF, ele fez parte do grupo do doleiro Alberto Youssef e atuou no mercado negro, fraudando identidades para realizar cerca de 900 operações de câmbio. Segundo os dados do banco suíço, Srour teve três contas, mas todas já haviam sido fechadas em 2006/2007, quando os dados foram extraídos do HSBC.

Henoch Zalcberg foi alvo de duas operações da Polícia Federal, a Roupa Suja e a Sexta-feira 13, realizadas em 2005 e 2009, respectivamente, para desbaratar uma quadrilha acusada de fraudar licitações, evadir divisas e lavar dinheiro. Em 2006/2007, a conta de Zalcberg no HSBC também já havia sido encerrada.

Participaram da apuração desta reportagem os jornalistas Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do “Globo”.

Doleiros negam ter cometido irregularidades ou permanecem em silêncio

Leia tudo sobre o caso SwissLeaks-HSBC no Brasil

O blog está no FacebookTwitter e Google+.


A função dos doleiros no Brasil
Comentários Comente

Fernando Rodrigues

Nas décadas de 1970 e 1980, a classe média brasileira não vivia sem um doleiro. A moeda norte-americana servia para proteger o dinheiro da inflação. Quem viajava para o exterior tinha um limite pequeno para comprar dólares. E não existia ainda cartão de crédito internacional.

Com a abertura da economia, a maior parte dessas operações hoje pode ser feita à luz do dia e sem a ajuda de um doleiro. Mas essa profissão ilegal continua a existir, como se observa nos vários escândalos sucessivos descobertos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Os doleiros têm hoje basicamente duas funções principais. A primeira é facilitar operações internacionais que são feitas com dinheiro ilegal. Uma compra de um produto caro no exterior, por exemplo. Entrega-se o valor em reais no Brasil e a mercadoria é comprada em outro país.

Outra função do doleiro é a de acobertar operações financeiras. Por exemplo, uma pessoa vende um terreno ou casa no Brasil e não deseja pagar imposto sobre o eventual lucro imobiliário. A venda é registrada por um montante diminuto e o pagamento é feito em dinheiro. O vendedor então entrega o valor em espécie a um doleiro e pode receber depois, em dólares (ou outra moeda) aqui ou no exterior.

Há também a operação inversa. Uma pessoa tem dinheiro no exterior e precisa trazê-lo de volta para o Brasil. Nesse caso, o doleiro pode ficar com os dólares que estão em outro país e entregar o valor em espécie ao interessado aqui.

Os doleiros são uma espécie de “private bank” informal para operações financeiras ilegais. Servem a um mercado no qual muitas pessoas querem fugir dos registros das autoridades.

Hoje, de acordo com as regras determinadas pelo Banco Central, é obrigatório fazer uma comunicação prévia ao banco, com um dia útil de antecedência, para saques em espécie de valor igual ou superior a R$ 100 mil reais. Essa exigência também vale para transferências ao exterior. Além disso, todas essas operações são comunicadas ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks

Leia tudo sobre o caso SwissLeaks-HSBC no Brasil

O blog está no FacebookTwitter e Google+.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>