Na Fiesp, “falta de credibilidade” do governo Dilma dominou debate
Fernando Rodrigues
Ninguém se dispôs a defender o administração federal
Michel Temer foi neutro, sem ataques mas sem elogios
Impeachment não foi mencionado durante o jantar
O jantar promovido ontem (27.ago.2015) ontem pela Fiesp para 25 convidados foi cheio de discursos pessimistas a respeito do estado da economia. Todos os presentes (a lista está no final deste post) se mostraram também pouco confiantes na capacidade do governo para se recuperar, sobretudo pela falta de credibilidade que enxergam na administração atual comandada pela presidente Dilma Rousseff.
Embora o tema “impeachment” não tenha sido tratado de maneira aberta, a expressão “falta de credibilidade” foi a pedra de toque do encontro. Mesmo empresários que falam bem do governo em público, como Rubens Ometto (da Cosan), foram duros em suas críticas. Ometto reclamou da política federal para o uso de etanol, que é a sua área.
Quando alguém fazia alguma ressalva era quase sempre em causa própria. Murilo Portugal (Febraban) e Fábio Barbosa (conselheiro do Itaú) defenderam a política de alta dos juros. Argumentaram que agora o Banco Central apenas está corrigindo o erro cometido no primeiro mandato de Dilma, quando a taxa Selic foi rebaixada de maneira equivocada, no entender do mercado.
Benjamin Steinbruch (CSN), que em abril deste ano escreveu que a economia melhoraria “significativamente a partir do terceiro e quarto trimestres“, ontem misturou pessimismo com otimismo: “Eu duvido que tenha país do mundo, com uma taxa de juros dessa, com uma inflação que não é de demanda, e esteja ainda em pé. E é isso que ainda dá alguma esperança”.
Na sua intervenção, Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), disse que um dos grandes problemas do país no momento é “a falta de confiança” combinada com a “falta de esperança”.
Um dos mais inflamados a respeito da crise atual foi Jorge Gerdau Johannpeter (Grupo Gerdau), afirmando que a indústria está “morrendo”.
Michel Temer, o último a falar, fez um discurso ponderando sobre os conceitos de “governo”, “governança” e “governabilidade”. Não criticou a administração da qual participa, mas tampouco fez uma defesa enfática da presidente Dilma Rousseff.
Paulo Skaf, anfitrião da noite, concedeu entrevista ao final. Disse que não há mais voto de confiança ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A razão teria sido a defesa que Levy fez do aumento de impostos sobre a folha de pagamento das empresas.
“Foi a gota d’água. Tivemos 500 mil postos de trabalho fechados no primeiro semestre, e a previsão de fechar mais 1 milhão no segundo semestre”, afirmou o presidente da Fiesp.
Sobre a volta da CPMF para financiar a saúde, Skaf posicionou-se enfaticamente contra. “Não tem o mínimo sentido criar uma contribuição para a saúde. Depois vão querer criar uma contribuição para a educação, para a segurança… (…) Nós vamos bombardear no Congresso esta iniciativa do governo ou qualquer outra que esteja ligada ao aumento de impostos”.
QUEM FOI AO JANTAR
Além do staff da Fiesp, os principais convidados ao jantar de ontem foram os seguintes (em ordem alfabética):
1) Antonio Delfim Netto (ex-ministro da Fazenda);
2) Benjamin Steinbruch (CSN);
3) Carlos Alberto de Oliveira Andrade (presidente da Caoa);
4) Fábio Barbosa (conselheiro do Itaú);
5) Flavio Rocha (Riachuelo);
6) Gustavo Diniz Junqueira (presidente da Sociedade Rural Brasileira);
7) Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central);
8) Jorge Gerdau Johannpeter (Gerdau);
9) José Antônio Fernandes Martins (Marcopolo)
10) José Ricardo Roriz Coelho (presidente da Abiplast – Associação Brasileira da Indústria do Plástico);
11) José Yunes (advogado e amigo de Michel Temer);
12) Josué Gomes da Silva (Coteminas);
13) Luiz Carlos Trabuco (Bradesco);
14) Luiz Moan (presidente da Anfavea e diretor da GM);
15) Marcos da Costa (presidente OAB-SP);
16) Michel Temer (vice-presidente da República);
17) Nelson Jobim (ex-ministro da Justiça, da Defesa, ex-presidente do STF e filiado ao PMDB);
18) Murilo Portugal (presidente da Febraban);
19) Paulo Skaf (presidente da Fiesp);
20) Rafael Cervone Netto (presidente da Abit – Associação Brasileira da Indústria Têxtil);
21) Rodrigo Rocha Loures Filho (Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República);
23) Rubens Ometto Silveira Mello (Cosan);
24) Thierry Fournier (Saint Gobain);
25) Waldemar Verdi Júnior (Rodobens).