Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : SwissLeaks

Poder e Política na semana – 23 a 29.mar.2015
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Fernando Rodrigues

Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff sofrerá pressão do PMDB para promover uma reforma ministerial e o Senado deve instalar a CPI do SwissLeaks-HSBC.

Dilma comanda reunião de articulação política na manhã de 2ª feira, no Palácio do Planalto. Em seguida, recebe o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e o presidente da mundial da General Eletric, Jeffrey Immelt. Na mesma data, a CNT divulga pesquisa sobre índices de popularidade do governo federal e avaliação pessoal de Dilma. Na 4ª feira, a presidente recebe em audiência governadores da região Nordeste.

Na 3ª feira, os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), participam de evento da Confederação Nacional da Indústria que divulgará as propostas legislativas do setor.

Também na 3ª feira, o Senado deve instalar a CPI do SwissLeaks-HSBC, que investigará contas de brasileiros mantidas no HSBC de Genebra.

A CPI da Petrobras se reúne na 3ª feira para analisar requerimentos e deve receber plano de trabalho da empresa de investigação Koll, a ser contratada pela Câmara dos Deputados. À tarde, será lançada no Congresso a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Petrobras. Na 5ª feira, o Conselho de Administração da estatal se reúne no Rio e deve discutir a publicação do balanço e a venda de partes da companhia. Também na 5ª feira, a CPI da Petrobras colhe depoimento de Júlio Faerman, ex-representante da SBM Offshore no Brasil.

Nesta semana, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deve participar de reunião do conselho de administração do BNDES. Em pauta, o aumento dos juros de empréstimos concedidos pelo banco.

E na 6ª feira sai um indicador vital para a economia: o IBGE divulga resultado do PIB do 4º trimestre de 2014.

Eis, a seguir, o drive político da semana. Se tiver algum reparo a fazer ou evento a sugerir, escreva para frpolitica@gmail.com. Atenção: esta agenda é uma previsão. Os eventos podem ser cancelados ou alterados.

 

2ª feira (23.mar.2015)
Dilma e a política – presidente Dilma Rousseff comanda reunião de coordenação política. Às 9h, no Palácio do Planalto.

Dilma e a gestão – às 11h30, a presidente recebe o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.

Dilma e a General Eletric – às 15h, Dilma reúne-se com o presidente mundial da GE (General Eletric), Jeffrey Immelt.

Popularidade de Dilma – Confederação Nacional do Transporte divulga, às 16h, os resultados da pesquisa CNT/MDA com índices de popularidade do governo e avaliação pessoal de Dilma Rousseff.

Futuro de Traumann – Thomas Traumann (foto), ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, volta de férias. Nesta semana a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado deve analisar requerimento do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) para que ele seja convocado a explicar documento interno elaborado por sua pasta com diagnósticos e propostas sobre comunicação oficial. O ministro também pode ser indicado a assumir a gerência de comunicação da Petrobras após a demissão de Wilson Santarosa.

Alan Marques/Folhapress - 19.dez.2014

Leilão da Lava Jato – Justiça Federal do Paraná leiloa Porsche Cayman avaliado em R$ 200 mil apreendido de Nelma Kodama, denunciada pelo MPF por organização criminosa, crimes financeiros e lavagem de dinheiro. É o primeiro leilão de um bem apreendido pela Operação Lava Jato.

Protestos – programa “Roda Viva”, da TV Cultura, entrevista o empresário Rogerio Chequer, líder do Vem pra Rua, um dos organizadores de atos contra o governo Dilma.

Eslovênia e Brasil – ministro de Negócios Estrangeiros da Eslovênia, Karl Erjavec, chega ao Brasil para visita oficial e é recebido pelo vice-presidente Michel Temer e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Erjavec fica no Brasil até 4ª feira (25.mar.2015).

Grécia e zona do euro – Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, reúne-se com Angela Merkel, chanceler alemã, em Berlim.

 

3ª feira (24.mar.2015)
Renan, Cunha e a indústria – presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), participam de evento da Confederação Nacional da Indústria que divulga as propostas legislativas do setor. Às 12h30, na sede da entidade, em Brasília.

CPI do SwissLeaks – Senado deve instalar a CPI do SwissLeaks-HSBC, que investigará contas de brasileiros mantidas no HSBC de Genebra.

CPI da Petrobras – empresa de investigação Koll deve apresentar seu plano de trabalho para a CPI da Petrobras. Companhia será contratada pela Câmara dos Deputados por cerca de R$ 500 mil para auxiliar o trabalho da comissão.

Frente em defesa da PetrobrasFrente Parlamentar Mista em Defesa da Petrobras é lançada na Câmara. Às 17h.

Tombini no Senado – Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado sobre diretrizes da política monetária.

PMDB e reforma do Estado – legenda apresenta proposta de reforma administrativa que incluiu redução do número de ministérios e dos cargos comissionados no governo.

Reforma política – Comissão especial do Congresso sobre reforma política analisa proposta do relator, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI),  desmembrar a PEC 352/13 em três emendas, sobre financiamento de campanha, sistema eleitoral e reeleição.

Reforma política 2 – Senado realiza sessão temática sobre financiamento de campanha eleitoral. Às 11h.

Mauro Vieira no Senado – Comissão de Relação Exteriores e Defesa Nacional do Senado promove audiência pública com ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, sobre a política externa brasileira.

Maioridade penal – Comissão de Constituição e Justiça realiza audiência pública sobre a PEC 171/93, que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Marcus Vinícius Furtado Coelho, presidente da OAB, participa.

Meio Ambiente – Frente Parlamentar Ambientalista e WWF Brasil promovem café da manhã sobre desmatamento na Amazônia. Na Câmara dos Deputados.

Biodiversidade – Comissão do Meio Ambiente do Senado realiza sessão sobre o PLC 2/2015, que estabelece o novo marco legal sobre biodiversidade.

Lei Anticorrupção – Valdir Simão, ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, comanda seminário sobre a Lei Anticorrupção. Às 9h, na sede da entidade, em Brasília.

Cooperativismo –Organização das Cooperativas Brasileiras lança agenda legislativa do setor para 2015. Frente Parlamentar do Cooperativismo, presidida pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), participa.

Divida pública – Tesouro divulga relatório da dívida pública referente a fevereiro.

Inflação – FGV divulga a expectativa de inflação dos consumidores.

Indústria – FGV divulga prévia da Sondagem da Indústria.

PC do B na TV – legenda tem 5 minutos de propaganda em rádio e televisão, divididos em inserções de 30 segundos ou 1 minuto.

Príncipe Albert em SP – príncipe Albert, de Mônaco, é homenageado em jantar em São Paulo, na casa de José Auriemo Neto, da incorporadora JHFS, para divulgar ações da ONG Brasil Monaco Project.

Licitações em debate – Foz do Iguaçu (PR) sedia Simpósio Nacional de Licitação e Contratos. Até 6ª feira (27.mar.2015).

ONGs e movimentos sociaisFórum Social Mundial na Tunísia discute modelos de globalização sob uma perspectiva de esquerda. Até sábado (28.mar.2015).

 

4ª feira (25.mar.2015)
Dilma e o Nordeste – presidente Dilma Rousseff reúne-se com governadores da região Nordeste. No Palácio do Planalto.

Ajuste fiscal – comissões mistas do Congresso analisam as medidas provisórias 664 e 665, que alteram regras de benefícios trabalhistas e previdenciários.

Kassab no Senado – Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado realiza audiência pública com o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, sobre as ações da pasta.

Precatórios – plenário do Supremo Tribunal Federal deve retomar julgamento sobre o prazo para pagamentos de precatórios. Cinco ministros já votaram a favor de estabelecer prazo de 5 anos para o pagamento do estoque de precatórios devido pela União, Estados e municípios, que ultrapassa o valor de R$ 95 bilhões.

Arrecadação – Comissão de Finanças e Tributação promove reunião com representantes da Receita sobre arrecadação de tributos federais.

MIT e Brasil –  Rafael Reif, presidente do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), participa de debate sobre inovação e prestação de serviços no setor público, promovido pela Comunitas. Em SP.

PSOL e a crise – legenda promove debate sobre a crise política e econômica. Luciana Genro, candidata do partido a presidente da República em 2014, participa. Às 18h30, na UnB.

Emprego – Dieese divulga resultado de pesquisa sobre emprego e desemprego.

Consumo – FGV divulga a Sondagem do Consumidor.

 

5ª feira (26.mar.2015)
Petrobras – Conselho de Administração da estatal se reúne no Rio. Devem estar na pauta assuntos relacionados à publicação do balanço e a venda de partes da companhia.

CPI da Petrobras – comissão colhe depoimento de Júlio Faerman, ex-representante da SBM Offshore no Brasil, acusado de ter pago propina a diretores da Petrobras.

Reforma política – senadora Marta Suplicy (PT-SP) e Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, lançam campanha pela garantia de 30% das vagas no Legislativo a mulheres. Hoje a lei estabelece cota de 30% para as mulheres nas candidaturas ao Legislativo.

Inflação –  Banco Central divulga relatório de inflação referente ao primeiro trimestre de 2015. Às 11 horas, o diretor de Política Econômica, Luiz Awazu Pereira da Silva, concede entrevista coletiva.

Tesouro – Conselho Monetário Nacional reúne-se em Brasília.

Sabesp – companhia divulga seu balanço anual referente a 2014.

Emprego  – IBGE divulga resultado da Pesquisa Mensal de Emprego de fevereiro.

Construção Civil – FGV divulga o INCC e a Sondagem da Construção.

PC do B na TV – legenda tem 5 minutos de propaganda em rádio e televisão, divididos em inserções de 30 segundos ou 1 minuto.

 

6ª feira (27.mar.2015)
PIB – IBGE divulga resultado do PIB do 4º trimestre de 2014.

Comércio – FGV divulga a Sondagem do Comércio.

Novo partido – historiador Célio Turino, ex-Rede Sustentabilidade, lança manifesto do partido Raiz Movimento Cidadanista, que ele pretende viabilizar. A deputada Luiz Erundina (PSB-SP) é uma das apoiadoras.

 

Sábado (28.mar.2015)
Criação da Rede – diretório nacional da Rede Sustentabilidade reúne-se em Brasília e deve decidir protocolar novo pedido na Justiça Eleitoral para obter o registro de partido político. Até domingo (29.mar.2015).

Setubal, 60 – Roberto Setubal, presidente do Itaú, comemora 60 anos com festa na Casa Fasano, em São Paulo.

PC do B na TV – legenda tem 5 minutos de propaganda em rádio e televisão, divididos em inserções de 30 segundos ou 1 minuto.

Nigéria vota – eleitores do país africano vão às urnas eleger seu novo presidente.

 

Domingo (29.mar.2015)
Eleições na França – país realiza segundo turno das eleições departamentais. No primeiro turno, a direita e a ultradireita saíram vencedoras.

 

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Celebridades estão relacionadas a contas no HSBC na Suíça
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Fernando Rodrigues

Claudia Raia, Marília Pêra, Francisco Cuoco e Roberto Medina, entre outros, estão nos arquivos

Jorge Amado e Tom Jobim, que já morreram, também aparecem no SwissLeaks

Maioria dos citados já recebeu incentivos públicos por meio de leis de fomento

Arte/Folhapress

Edson Celulari, Claudia Raia, Andrucha Waddington, Marilia Pêra, Maitê Proença e Hector Babenco

Nomes da cultura nacional, ligados a música, TV, cinema e literatura, estão na lista dos 8.667 brasileiros relacionados a contas numeradas –cujos donos são identificados apenas por um código– na agência de “private bank” do HSBC em Genebra, na Suíça. Os dados dos arquivos se referem a 2006 e 2007, embora algumas contas já estivessem encerradas nessa época.

Num trabalho de reportagem do UOL em parceria com o jornal “O Globo”, os citados foram todos procurados e disseram não ter contas no HSBC no momento ou não ter cometido qualquer irregularidade.

A investigação mostra também que há casos de personalidades que receberam dinheiro público para desenvolver atividades artísticas por meio de leis de fomento –como a Lei Rouanet e o Fundo Nacional de Cultura. Mas não é possível nem correto fazer uma conexão entre o dinheiro captado e os recursos que eventualmente circularam nas contas bancárias na Suíça.

Os arquivos da filial do HSBC em Genebra foram extraídos em 2008 por Hervé Falciani, que era técnico de informática do banco. Os dados foram obtidos em 2014 pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos, com sede em Washington, nos EUA, que firmou parceria com o jornal francês “Le Monde” para investigar o caso, conhecido como SwissLeaks. No Brasil, UOL e “Globo” fazem a apuração com exclusividade.

Os dados do HSBC em Genebra indicam que registros de quatro membros da família de Jorge Amado (1912-2001) na instituição. Além do escritor, aparecem na lista sua mulher Zélia Gattai (1916-2008), e os dois filhos: a editora gráfica Paloma e o escritor João Jorge.

Os quatro integrantes da família Amado foram titulares da conta 30351 TG, aberta em 25 de janeiro de 2001 e encerrada em 25 de março de 2003.

Em Salvador, a Fundação Casa de Jorge Amado funciona com apoio do Ministério da Cultura. Segundo a assessoria de imprensa da pasta, de 2009 a 2012, a entidade recebeu do Fundo Nacional de Cultura R$ 557 mil e captou R$ 622 mil via Lei Rouanet, embora no site do Ministério da Cultura apareça um valor menor captado, de R$ 622 mil.

A Lei Rouanet permite a empresas financiarem projetos culturais e deduzir 100% do valor gasto do seu Imposto de Renda, até o limite de 4% do imposto devido.

Abaixo, os dados das contas no HSBC relacionadas a celebridades (clique na imagem para ampliar):

tabela2

O cineasta Andrew Waddington, mais conhecido como Andrucha, também é listado como dono de uma conta numerada no banco suíço. Sócio da produtora Conspiração Filmes, ele aparece nos registros dividindo uma conta com seu irmão Ricardo Waddington, que hoje é diretor da TV Globo. Em 2006/2007, a conta dos dois não tinha saldo.

Andrucha e Ricardo Waddington foram titulares da conta 14870 HW, aberta em 7 de março de 1997 e encerrada em 31 de janeiro de 2000.

A Conspiração Filmes, de Andrucha, captou R$ 13,4 milhões, conforme dados do Ministério da Cultura. O dinheiro foi liberado para projetos como “Taça do Mundo é Nossa Casseta & Planeta O Filme”, “Matador” e “Eu Tu Eles”.

O cineasta Hector Babenco aparece relacionado à conta 1683 JM, aberta em 25 de abril de 1988 e encerrada em 6 de janeiro de 1992. Sua produtora, a HB Filmes, já captou R$ 16,2 milhões para trabalhos como o filme “Carandiru” e a peça de teatro “Hell”.

A atriz Claudia Raia, segundo os registros do HSBC, teve uma conta na agência de Genebra, número 34738 ZES, de 3 de maio de 2004 a 5 de novembro de 2006. Era um depósito em conjunto com seu então marido, o também ator Edson Celulari. Eles se separaram em 2010. Na época em que os dados foram extraídos do banco, em 2006/2007, a conta tinha um saldo de US$ 135 mil.

Cláudia Raia, por meio de suas duas empresas denominadas “Raia Produções”, captou, de 2009 a fevereiro de 2015, um total de R$ 7,4 milhões via Lei Rouanet para os musicais “Pernas pro Ar”, “Charlie Chaplin” e “Raia 30 Anos”. A responsável pela produtora é a irmã de Cláudia, Maria Olenka de Fátima Motta Raia.

Já Edson Celulari, por meio da Cinelari Produções Artísticas, captou de 1997 a 2012 R$ 2,6 milhões para as peças “D. Quixote de lugar nenhum”, “Fim do jogo”, “Nem um dia se passa sem notícias suas” e “Dom Juan”.

Na tabela abaixo, o valores captados via Lei Rouanet pelos artistas brasileiros citados no SwissLeaks. As imagens foram extraídas do sistema SalicNet, do Ministério da Cultura:

ArteO nome do ator Francisco Cuoco também está entre os correntistas na Suíça. Ele aparece relacionado a uma conta no HSBC da Suíça, de número 25403 ZFG, aberta em 11 de setembro de 1994 e ainda ativa em 2006/2007, com saldo de US$ 116 mil.

Cuoco já atuou em peça patrocinada em 2009 pela estatal Eletrobrás, a “Deus é química”, escrita por Fernanda Torres. Em 2011, também estrelou “Três Homens Baixos” em festival com apoio da Lei Rouanet.

E ainda há mais duas atrizes nos arquivos do HSBC: Marília Pêra e Maitê Proença.

Marília Pêra está relacionada a depósitos no HSBC da Suíça por meio da conta 25570 ZGM, aberta em 22 de fevereiro de 1999 e ativa em 2006/2007. À época, o saldo era de US$ 834 mil.

A empresa da atriz, a Peramel Produções Artísticas, captou R$ 100 mil via Lei Rouanet para montar e divulgar a peça “A filha da…”, com a própria Marília em cartaz, que estreou em 2002.

A atriz Maitê Proença está nos arquivos do SwissLeaks vinculada à conta 15869 HP, aberta em 17 de abril de 1990 e ativa em 2006/2007, quando os dados foram extraídos do HSBC. O saldo era de US$ 585 mil.

Sua empresa, a M. Proença Produções Artísticas, captou R$ 966,9 mil via Lei Rouanet para as peças “Achadas e Perdidas”, “Isabel”, “A Beira do Abismo me Cresceram Asas” e “As Meninas”.

Maitê envolveu-se em uma polêmica por causa de duas pensões recebidas do governo do estado de São Paulo no valor total aproximado de R$ 17 mil mensais, deixadas por seus pais, o procurador de Justiça Carlos Eduardo Gallo e a professora Margot Proença, mortos em 1989 e 1970, respectivamente.

Maitê recebe o benefício porque nunca se casou oficialmente, no papel. Ela teve as pensões cortadas no final de 2009 por decisão da SPPrev (São Paulo Previdência). O governo alegou que a atriz não podia mais ser considerada filha solteira de Carlos e Margot, pois manteve vida conjugal com o empresário Paulo Marinho, com quem viveu por 12 anos e teve uma filha. Para a SPPrev, sua união estável deveria ser equiparada ao casamento.

Maitê recorreu à Justiça. Em 2010, conseguiu restabelecer o pagamento das pensões. Em 2013, a atriz defendeu o recebimento do benefício e afirmou ao UOL que a pensão era um “direito adquirido”.

Jô Soares está no acervo de dados vazado do HSBC identificado como “acteur, journaliste, écrivain & animateur de télévision sur chaînes TV au Brésil” (ator, jornalista, escritor e animador de televisão em canais de TV no ​​Brasil). Apresentador do “Programa do Jô”, de entrevistas, ele aparece relacionado a 4 contas no HSBC de Genebra, todas já encerradas em 2006/2007. A de número 33540 GG, aberta em 5 de março de 2001 e fechada em 17 de janeiro de 2003, a 23940 AM, aberta em 9 de janeiro de 1998 e fechada em 29 de outubro de 2002, a 1514 GG, aberta em 4 de novembro de 1988 e fechada em 25 de março de 1997, e a 1642 GG, aberta em 21 de fevereiro de 1997 e fechada em 10 de março de 2001.

O músico Tom Jobim (1927-1994) e sua última mulher, Ana Lontra Jobim, também estão relacionados a contas no HSBC da Suíça. Ana manteve uma conta conjunta com Tom, número 20282 AC, de 23.dez.1993 a 7.jun.1995.

Ana também manteve outras 2 contas relacionadas a seu nome. A número 23015 AB, de 2.set.1995 a 14.fev.1996, e a conta 23082 AB, de 1.dez.1996 a 23.ago.2005. A Fundação Tom Jobim já captou R$ 1,7 milhão via Lei Rouanet. O dinheiro foi aplicado em eventos como a exposição Tom Jobim – Música e Natureza.

Arte/Folhapress

Jorge Amado e Zélia Gattai, em foto de 1994, e Tom Jobim e Ana Lontra, retratados em 1988

O publicitário e empresário Roberto Medina, idealizador do Rock in Rio, aparece ligado à conta 7853 MA, aberta em 16 de janeiro de 1990 e fechada em 5 de setembro de 2000 no HSBC. Conforme informações do Ministério da Cultura, a empresa Rock World captou R$ 13,6 milhões para a realização do Rock in Rio 2013 e 2015.

Com exceção de Jô Soares e de Ricardo Waddington, os artistas e intelectuais listados nas planilhas do HSBC de Genebra receberam dinheiro público para realizar seus trabalhos.

É legal ter contas na Suíça?
Ter uma conta bancária na Suíça ou em qualquer outro país não é ilegal, desde que seja declarada à Receita Federal. Os titulares também devem informar ao Banco Central quando o saldo for superior a US$ 100 mil.

Correção em 25.mar.2015 às 22h: A versão inicial desta reportagem informou que a Fundação Casa de Jorge Amado havia captado R$ 1,2 milhão pela Lei Rouanet e R$ 477 mil pelo Fundo Nacional de Cultura. Os dados haviam sido fornecidos pela assessoria de imprensa do Ministério da Cultura, que se corrigiu na 3ª feira (24.mar.2015). Segundo a pasta, a fundação captou R$ 622 mil via Lei Rouanet e R$ 557 mil pelo fundo.

Participam da apuração da série de reportagens SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion (do UOL) e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta (do jornal “O Globo”).

Famosos no SwissLeaks negam vínculo com HSBC ou dizem ter declarado conta

Dono de 3 contas declaradas no HSBC, Paulo Coelho defende divulgação

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Famosos no SwissLeaks negam vínculo com HSBC ou dizem ter declarado conta
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Fernando Rodrigues

As celebridades citadas nas planilhas do HSBC e localizadas pelo UOL e pelo jornal “O Globo” negaram ter conta no banco suíço ou afirmaram que suas operações financeiras foram realizadas dentro da lei.

Paloma Amado afirma que seu pai, Jorge Amado, morou na França e abriu uma conta em Nova York para receber o direito autoral arrecadado fora do Brasil.

“Quando [ele] foi aos Estados Unidos para o lançamento do livro ‘Tocaia Grande’, levou nossa mãe [Zélia] até ao banco e transformou a conta em conjunta, pois tinha medo de que, com sua morte, o dinheiro ficasse bloqueado”, escreveu Paloma num e-mail, compartilhado com o irmão, João Jorge. Segundo ela, os dois também estiveram com os pais na agência do HSBC nos EUA quando a conta de Jorge Amado passou a ser compartilhada pelos quatro da família.

Paloma prossegue: “Quando ele ficou doente, ligaram do banco avisando que, pela legislação americana, em caso de morte do titular da conta, ela ficaria bloqueada até o encerramento da sucessão, quando o tesouro americano cobraria um imposto de transmissão altíssimo”. Num outro trecho da mensagem, escrito por João Jorge, vem a conclusão: “Para evitar isso [a cobrança de um imposto de transmissão altíssimo], nosso pai deveria transferir sua conta para um país que tinha normas mais favoráveis à família. No caso da Suíça, papai seria titular, mamãe, Paloma e eu, beneficiários em caso de falecimento, o que de fato aconteceu em meados de 2001”.

No e-mail enviado ao jornal “O Globo”, Paloma afirmou ainda que a conta foi encerrada logo após a morte de Jorge, em 2003, e que as declarações de Imposto de Renda feitas por ele na época “foram guardadas pelo prazo legal de 5 anos e depois destruídas”.

Jô Soares disse ter ficado espantado com sua presença nas planilhas do HSBC suíço, mas confirmou que os dados como nome completo e data de nascimento, listados no documento, coincidem com os seus. Jô afirmou que era correntista do HSBC de Nova York e disse que todas as transações foram devidamente declaradas às autoridades fiscais.

O apresentador também afirmou que nunca foi informado sobre qualquer operação do banco com a filial suíça e que desconhece as duas entidades relacionadas a ele nos arquivos do HSBC: a Lequatre Foundation e a Orindale Trading.

Por meio de suas assessorias de imprensa, Ricardo Waddington e Hector Babenco disseram que nunca tiveram conta no HSBC. Maitê Proença afirmou, por e-mail, que está em meio a uma série de gravações e que não tem conta no banco suíço.

Roberto Medina afirmou, também pela assessoria, que é correntista do HSBC no Brasil, mas nunca teve conta em Genebra.

Francisco Cuoco e Marília Pêra foram procurados por meio do escritório Montenegro e Raman, que os representa, mas a assessora responsável por ambos não respondeu aos pedidos de esclarecimentos até a conclusão deste texto.

Claudia Raia foi procurada por e-mail e telefone por intermédio de sua assessoria de imprensa, mas também não respondeu. A reportagem tentou localizar Edson Celulari via departamento de comunicação da TV Globo, mas não obteve sucesso.

Ao longo da semana, o “Globo” enviou diversos e-mails a Andrucha Waddington, solicitando sua posição sobre o assunto. Ele também não se posicionou.

Na 4ª feira (18.mar.2015) e na 5ª feira (19.mar.2015), o UOL entrou em contato por e-mail e telefone com a Jobim Music, o Instituto Tom Jobim e a secretária de Ana Lontra Jobim. Também deixou recado na residência da viúva de Tom Jobim, que não respondeu os questionamentos.

CLAUDIA RAIA SOLTA NOTA OFICIAL
A atriz Claudia Raia publicou uma “nota de esclarecimento” em 23.mar.2015, às 19h, na sua conta no Instagram. Ela declara que a conta que manteve na Suíça era uma “reserva pessoal” e com os “devidos impostos recolhidos”. Não fica claro se a conta no HSBC de Genebra foi declarada à Receita Federal nem se o valor foi informado ao Banco Central, como determina a lei.

Eis a íntegra da nota da atriz Claudia Raia:

“Em relação a matéria “Lista de correntistas do HSBC…” publicada hoje, venho informar que a conta citada – encerrada em 2006- continha um dinheiro que era uma reserva pessoal, fruto de muito trabalho, com seus devidos impostos recolhidos.
Sobre a associação leviana e irresponsável que a matéria tenta fazer entre a existência dessa conta e a captação de recursos para meus espetáculos musicais através da Lei Rouanet, gostaria de afirmar que sempre realizei corretamente a rígida e transparente prestação de contas exigida pela Lei- nunca houve nenhum tipo de dúvida sobre isso. Essas contas inclusive estão disponíveis no órgão competente para qualquer tipo de consulta.
Sou uma empresária e produtora cultural que luta há 30 anos para levar espetáculos de qualidade à população brasileira, gerando empregos e capacitando profissionais no país. Não há o menor cabimento associar um antigo investimento pessoal meu a valores de captação para produções culturais realizadas por mim.
Entendo a importância da investigação dos casos de corrupção que vêm assombrando nosso país e assim como todos os brasileiros torço para que os culpados sejam punidos.”

Participam da apuração da série de reportagens SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do jornal “O Globo”.

Celebridades estão relacionadas a contas no HSBC na Suíça

Dono de 3 contas declaradas no HSBC, Paulo Coelho defende divulgação

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Dono de 3 contas declaradas no HSBC, Paulo Coelho defende divulgação
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Fernando Rodrigues

Escritor recebia parte de seus direitos autorais na Suíça, mas pretende deixar o HSBC

Para esta reportagem, ele enviou comprovantes de que informou depósitos à Receita Federal

Lavandeira Jr./Efe - 23.jan.2010

Paulo Coelho tem como representante legal a offshore Belisle Foundation, com sede no Panamá

O escritor Paulo Coelho levou um susto na última 3ª feira (17.mar.2015). Apesar de já ter lido notícias de que planilhas contendo dados de contas secretas do HSBC suíço haviam sido vazadas por um ex-funcionário da instituição, não imaginou que seu nome estaria numa delas. Nos registros do banco, Paulo Coelho aparece relacionado a três contas numeradas.

Ao ser consultado sobre elas, o escritor enviou ao jornal “O Globo”, parceiro do UOL nesta investigação, documentos que comprovam que as contas foram declaradas às autoridades brasileiras. O escritor explicou que é por meio dessas contas que recebe parte de seus direitos autorais. Ele afirma que “é, sim, papel da imprensa noticiar com o máximo de clareza possível” as informações relacionadas ao caso SwissLeaks.

Descrito nos arquivos do HSBC em Genebra como “famous writer” (escritor famoso), Paulo Coelho tem como representante legal a Belisle Foundation. A sede dessa fundação é no Panamá –paraíso fiscal no Caribe que o HSBC costumava recomendar a seus clientes interessados em abrir uma empresa offshore.

Segundo Paulo Coelho, por volta de 2008 e 2009, o HSBC comunicou a seus correntistas que uma lista havia sido furtada por um ex-técnico de informática e que poderia chegar à imprensa. A instituição não avisou especificamente a nenhum de seus clientes quem poderia aparecer nessa documentação vazada.

“Quando as reportagens começaram a sair, não imaginei meu nome ali. Pensava que a lista tinha apenas contas que não haviam sido declaradas. Acompanhei o do caso de [Michael] Schumacher, meu vizinho na Suíça, e de John Malcovitch. E, pelo que entendi, as coisas não ficaram muito claras”.

Desde 2008, Paulo Coelho tem residência suíça e recebe parte de seus direitos autorais no HSBC. Para evitar ser tributado duas vezes, solicitou ao Brasil declarações de que pagava impostos no país. “Também por aí, as autoridades brasileiras sabiam que eu recebia dinheiro fora do país”, diz ele.

Sobre sua relação com o HSBC, Paulo diz que não passa de algo corriqueiro: “Ela se resume em pegar o ônibus e ir até lá. Mas deduzo que eles sempre souberam quem estava na lista e que podiam, pelo menos, ter me dito. Acho que ficaram com medo de que eu fechasse a conta. Fecharei na semana que vem”.

Participam da apuração da série de reportagens SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion (do UOL) e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta (do jornal “O Globo”).

Celebridades estão relacionadas a contas no HSBC na Suíça

Famosos no SwissLeaks negam vínculo com HSBC ou dizem ter declarado conta

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“Há interesse público na revelação de contas do HSBC da Suíça”
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Fernando Rodrigues

Diretora-adjunta do ICIJ, Marina Walker Guevara defende divulgação de dados de quem tem papel ativo na vida social ou política dos países

Marina Walker Guevara na sede do ICIJ, em Washington

Marina Walker Guevara na sede do ICIJ, em Washington

A diretora-adjunta do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), Marina Walker Guevara, explica os critérios usados na apuração da série de reportagens que ficou conhecida como SwissLeaks.

Participam da investigação de maneira colaborativa 163 jornalistas de 55 países e de 65 veículos de comunicação. Sem essa interação multinacional entre repórteres teria sido impossível apurar todas as dezenas de histórias que estão sendo publicadas no mundo todo.

A seguir, trechos da entrevista da diretora-adjunta do ICIJ, uma organização sem fins lucrativos, com sede em Washington, nos EUA:

UOL/Globo – O que é e quando surgiu o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, em inglês)?
Marina Walker Guevara
 – O ICIJ é uma entidade sem fins lucrativos que surgiu nos Estados Unidos em 1997 para reunir jornalistas que trabalhavam isoladamente assuntos de interesse global, como o fluxo ilícito de dinheiro. Acreditamos que esses são temas que não podem ser tratados sob uma ótica nacionalista porque têm ramificações. Então nos reunimos. De lá para cá, já fizemos reportagens de grande impacto sobre empresas de tabaco e sobre contratos fechados pelos Estados Unidos no Iraque. Agora são os paraísos fiscais.

É a vez do SwissLeaks?
O SwissLeaks é o terceiro capítulo de uma trilogia. O primeiro foi o OffshoreLeaks, que nos permitiu saber mais sobre cerca de 100 mil empresas abertas em paraísos fiscais e sobre como políticos e celebridades escondiam dinheiro nelas. O segundo capítulo foi focado nas grandes corporações multinacionais e em como muitas delas conseguiram evadir impostos –a série ficou conhecida como Luxembourg Leaks. Falamos de Pepsi, Disney e Ikea, por exemplo. Agora trabalhamos com aqueles que possibilitam isso tudo: os bancos. O SwissLeaks.

O foco então é no HSBC suíço e não em seus correntistas?
Sem dúvida. O HSBC é um dos maiores bancos do mundo e falhou em seu controle de qualidade. Deveria ter se preocupado em saber sobre seus clientes, em buscar informações sobre a origem dos valores que guardava e em não ser usado para lavar dinheiro. É um fato tão claro que essa barreira de controle falhou que, por iniciativa própria, o HSBC veio à público dizer que fez uma “limpeza” na carteira de clientes de 2006/2007 e que seu braço em Genebra abriu mão de 70% dos correntistas.

Mas as reportagens publicadas costumam trazer nomes.
O SwissLeaks já rendeu centenas de reportagens. São mais de 160 jornalistas, em 65 veículos de comunicação, espalhados por 55 países escrevendo sobre isso. Muitos revelam nomes porque isso torna a história mais local. Mas também há outra razão para publicarmos nomes. Há, de fato, interesse público em saber sobre contas no HSBC de empresários, políticos e pessoas que se envolveram em escândalos.

O que deve ser considerado como interesse público?
Informações que, apesar de serem de caráter privado, de origem bancária, disserem respeito a pessoas públicas, a cidadãos que têm um papel ativo na vida social ou política de um país. Não interessa revelar a conta secreta de pessoas comuns, que são irrelevantes e não influenciam no destino do país nem na opinião.

Por que não divulgar a lista completa de correntistas secretos do HSBC?
Divulgar a lista toda não seria fazer jornalismo. O trabalho do repórter é justamente pegar essa base de dados e aplicar sobre ela critérios de interesse público, avaliando que pessoas devem entrar em reportagens e que pessoas não precisam ser expostas. O mais importante é entender o que chamamos de esquemas sistêmicos. Nós do ICIJ estamos interessados em saber como traficantes de drogas e vendedores de diamantes usavam o banco, por exemplo.

Como avalia a atuação dos governos até agora?
Há ainda muitas dúvidas sobre a atuação deles. Por que o Reino Unido só agiu contra uma pessoa? Por que outros países se movem de forma mais lenta? É claro que há cumplicidade, mas também há a agenda política de cada lugar. Na Europa o assunto está quente porque o debate tributário está em pauta.

O que esperar dos governos?
Vamos ver se eles são oportunistas fiscais, que agem só porque há um dinheiro grande a ser recuperado, ou se estão dispostos a repensar estruturas e criar novos acordos.

Podemos confiar na base de dados que foi vazada?
Não encontramos nada que indique que foi manipulada. Nem todas as pessoas que aparecem ali foram à Suíça abrir contas. Há quem tenha sido agregado por familiares sem saber. Há quem tenha investido em fundos que reinvestiram na Suíça, e há quem tenha sido cliente de bancos comprados pelo HSBC. Encontramos muitos casos que não estavam em ordem (contas mantidas ilegalmente) e que há processos abertos em diferentes países. Para nós, isso é sinal claro de que havia mesmo muito o que questionar ali.

Participam da série sobre o SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do jornal “O Globo”.

SwissLeaks: no exterior, US$ 1,3 bilhão já recuperado

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SwissLeaks: no exterior, US$ 1,3 bilhão já recuperado
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Fernando Rodrigues

Valor é a soma de impostos sonegados e multas aplicadas aos criminosos

Desde 2010, quando as autoridades francesas passaram a dividir com outros países as planilhas que o ex-técnico de informática do HSBC Hervé Falciani havia vazado do banco dois anos antes, aproximadamente US$ 1,36 bilhão já foi recuperado na forma de impostos sonegados e multas. A cifra equivale, por exemplo, ao PIB das Ilhas Cayman, segundo dados do Banco Mundial.

A Bélgica, que tem 11 milhões de habitantes, está em primeiro lugar no ranking dos países que mais conseguiram repatriar valores –até agora, US$ 490 milhões. O país é o 10º no ranking dos valores depositados por seus habitantes nas contas secretas entre 2006 e 2007.

Num trabalho que se estende por quatro anos, os belgas conseguiram repatriar 7,8% do que havia sido depositado na Suíça. Determinaram o pagamento de impostos sonegados e aplicaram multas aos correntistas que não declararam a posse dos valores (tabela abaixo).

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A Espanha está em 2º lugar na lista de valores recuperados, tendo repatriado US$ 298 milhões. Percentualmente, é o país que teve melhor desempenho até agora, 13% do que seus cidadãos mantinham no HSBC.

Em 3º lugar está a França (US$ 286 milhões). Por lá, além do foco na recuperação do dinheiro sonegado, as autoridades também se dedicaram à responsabilização de dirigentes do HSBC. A principal acusação foi a de que a filial do banco na Suíça oferecia aos franceses produtos que permitiam burlar o Fisco –prática relatada pelo jornal “Le Monde”.

As investigações francesas terminaram em fevereiro e o órgão equivalente à Receita Federal da França tem até maio para definir as medidas jurídicas que serão adotadas para tentar punir os dirigentes da instituição financeira.

No 4º lugar da lista dos países que mais conseguiram recuperar dinheiro aparece o Reino Unido (US$ 205 milhões). Entre os britânicos, a divulgação do SwissLeaks causou polêmica pela falta de reação das autoridades. A justificativa do poder público foi a dificuldade de acessar dados completos. Stephen Green, ministro do Comércio até 2013, saiu desgastado por ter ocupado um alto cargo no HSBC.

Na América do Sul, a Argentina saiu na frente. Desde setembro analisa seus dados.

O Brasil está para solicitar oficialmente as informações para o governo francês. No Senado, deve ser instalada na 3ª feira a CPI do SwissLeaks-HSBC, que pretende investigar tanto a instituição bancária como os contribuintes brasileiros que mantiveram depósitos na Suíça.

Participam da apuração da série de reportagens SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do jornal “O Globo”.

“Há interesse público na revelação de contas do HSBC da Suíça”

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Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks
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Fernando Rodrigues

Personagens da Lava Jato, mensalão e propinoduto estão ligados a contas no HSBC da Suíça

Doleiros citados em escândalos como a Operação Lava Jato, o mensalão e o caso PC Farias aparecem na lista dos 8.667 brasileiros relacionados a contas no HSBC da Suíça. Em todos os casos, foram investigados pela suspeita de terem operado dinheiro de origem duvidosa e acobertado operações financeiras ilegais. Eles negam ter cometido irregularidades.

No acervo de dados do HSBC suíço, vazado em 2008 por um ex-funcionário do banco, aparecem Henrique José Chueke e sua filha, Lisabelle Chueke (caso PC Farias); Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager (propinoduto); Benjamin Katz (Banestado); Dario Messer (mensalão); Raul Henrique Srour (Lava-Jato) e Chaim Henoch Zalcberg (Operações Roupa Suja e Sexta-feira 13).

Chueke, tido nos anos 1990 como um dos doleiros mais ricos do Rio de Janeiro, foi acusado de ter alimentado contas do empresário Paulo Cesar Farias, tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Melo, e de Ana Acioli, secretária do ex-presidente. Quando o escândalo veio à tona, os jornais publicaram que entre maio de 1991 e junho de 1992 o escritório de Chueke, situado no mesmo endereço da Belle Tours, empresa de sua filha Lisabelle, havia recebido 27 telefonemas da EPC, empresa de PC Farias. Nos registros do HSBC, Chueke e sua filha mantiveram uma conta conjunta de 24 de janeiro de 1989 a 28 de outubro de 2004.

MERCADO PARALELO
Vianna e Jager foram envolvidos no escândalo do propinoduto, revelado em 2003. Vianna foi assassinado com um tiro dentro de seu Audi, na Avenida Atlântica, no Leme, no Rio, em março daquele ano — 23 dias depois de o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ter bloqueado US$ 9 milhões que ele mantinha em uma conta bancária em Nova York. O bloqueio estabelecido pelos americanos atendia a um pedido da Justiça suíça. Na época, as autoridades brasileiras suspeitaram que a conta de Vianna havia sido usada para remeter ao exterior dinheiro obtido ilegalmente pelos fiscais da Receita envolvidos no escândalo. O Ministério Público Federal também suspeitou que a conta de Vianna servia para lavar dinheiro da contravenção no Rio de Janeiro.

Mais recentemente, em 2004, os Chuekes, Jager e Vianna apareceram numa ação do Ministério Público Federal decorrente da Operação Farol da Colina, da PF. Eles foram acusados de evasão de divisas, formação de quadrilha e operação de instituição financeira sem a devida autorização.

Nessa ação, Vianna ainda foi acusado pelos procuradores de ter sido sócio de Jager em uma empresa chamada Eleven Finance Corporation, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo o MPF, a offshore teria sido criada para administrar uma conta com recursos de operações ilegais de câmbio. Nas planilhas do HSBC, os dois surgem dividindo uma conta identificada pelo nome “Eleven”. Ela foi criada em 24 de outubro de 1988 e fechada em 15 outubro de 1991. Em 2006/2007, estava zerada.

Abaixo, os dados das referidas contas (clique na imagem para ampliar):

Arte

Benjamin Katz foi investigado pela CPI do Banestado por “operar fortemente no mercado paralelo”. Não houve relatório final por divergência entre os membros da comissão. O nome de Katz aparece no caso SwissLeaks ligado a uma conta que durou apenas 15 dias, de 1º a 16 de outubro de 1991.

No episódio do mensalão, o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, mais conhecido como Toninho da Barcelona, disse que Dario Messer recebia dólares do PT em uma offshore no Panamá e entregava ao partido o valor correspondente em reais no Banco Rural. Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, entre 1998 e 2003, Messer teria enviado irregularmente ao exterior pelo menos US$ 1 bilhão. Em 2005, a CPI dos Correios pediu à PF que o localizasse, mas ele havia embarcado para Paris. As planilhas do HSBC indicam que, em 2006/2007, Messer tinha US$ 69 mil depositados na Suíça.

Raul Henrique Srour foi citado na investigação da Operação Lava-Jato. De acordo com o MPF, ele fez parte do grupo do doleiro Alberto Youssef e atuou no mercado negro, fraudando identidades para realizar cerca de 900 operações de câmbio. Segundo os dados do banco suíço, Srour teve três contas, mas todas já haviam sido fechadas em 2006/2007, quando os dados foram extraídos do HSBC.

Henoch Zalcberg foi alvo de duas operações da Polícia Federal, a Roupa Suja e a Sexta-feira 13, realizadas em 2005 e 2009, respectivamente, para desbaratar uma quadrilha acusada de fraudar licitações, evadir divisas e lavar dinheiro. Em 2006/2007, a conta de Zalcberg no HSBC também já havia sido encerrada.

Participaram da apuração desta reportagem os jornalistas Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do “Globo”.

Doleiros negam ter cometido irregularidades ou permanecem em silêncio

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Doleiros negam ter cometido irregularidades ou permanecem em silêncio
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Fernando Rodrigues

Os doleiros citados nas planilhas do HSBC suíço localizados pelo UOL e o “Globo” negaram ter cometido irregularidades na realização de operações financeiras ou não quiseram fazer comentários sobre as contas.

Em relação a Oscar Frederico Jager, o advogado Bruno Saccani afirmou que seu cliente não quis dar declaração sobre as contas do HSBC suíço. Sobre o processo ao qual Jager responde na Justiça Federal por evasão de divisas, de 2004, Saccani disse que a pena foi extinta por prescrição. Sobre o nome “Eleven”, que é citado num dos processos da Justiça Federal como sendo uma offshore e também aparece na lista do HSBC, o advogado disse que deve se tratar de uma coincidência. Saccani também afirmou que não há qualquer pendência de processos anteriores a 2004 em relação a seu cliente.

Saccani também representa o empresário José Henrique Chueke, filho de Henrique José Chueke e irmão de Lisabelle. Em nome da família, ele informou que todas as operações realizadas no exterior foram devidamente declaradas e feitas com a autorização do Banco Central. Ele negou que o pai tivesse tido uma conta secreta no HSBC da Suíça.

Benjamin Katz afirmou que jamais teve conta no HSBC do exterior e considera “um disparate” as informações extraídas da planilha do banco e  atreladas a seu nome. “Não faz sentido nenhum abrir uma conta no dia 1º e fechar no dia 16 do mesmo mês. Acho que isso daí só pode ter sido feito por alguém interessado em fisgar clientes”, disse.

Katz acrescentou que é um empresário do ramo da construção civil. Quanto ao Banestado,  afirma que “no relatório da CPI, foi acusado de lavar dinheiro e excluído do mesmo sem jamais ter sido chamado para depor ou prestar esclarecimentos e que recentemente venceu um processo contra o Google, conseguindo que qualquer referência a seu nome vinculada a este caso fosse retirada da internet”.

Dario Messer foi contatado através do advogado Luciano Saldanha Coelho, por e-mail e telefone. Ele informou que falaria com seu cliente e, caso Messer desejasse, enviaria uma resposta. Até a conclusão deste material Coelho não havia respondido.

Favel Bergman Vianna foi assassinado em 27 de março de 2003, na Avenida Atlântica, no Leme.

Na semana passada, o advogado Ubiratan Guedes, que representa Chaim Henoch Zalcberg —citado no primeiro capítulo da série sobre o SwissLeaks— disse que seu cliente tem 92 anos de idade e aguarda ansiosamente uma decisão da Justiça para provar sua inocência. “Ele é a pessoa mais injustiçada que eu conheço, um homem ilibado, com mais de 60 anos de exercício da advocacia”, diz Guedes. Sobre a conta numerada na Suíça, o advogado disse não ver qualquer ilegalidade . “Ter dinheiro no exterior não é algo proibido. Não há nenhum ilícito, e ele não responde na Justiça por isso”, afirmou.

Raul Srour, por meio de seu advogado, Luiz Gustavo Pujol, afirmou que a conta mais recente ligada a seu nome, encerrada em 23 de janeiro de 2004, “foi objeto da delação premiada por ele firmada com o Ministério Público Federal atuante em São Paulo no ano de 2006, de modo que qualquer questionamento a respeito já foi esclarecido às autoridades competentes”. Quanto às demais contas, “todas encerradas no início da década de 90”, Srour preferiu não fazer comentários.

Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks

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A função dos doleiros no Brasil
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Fernando Rodrigues

Nas décadas de 1970 e 1980, a classe média brasileira não vivia sem um doleiro. A moeda norte-americana servia para proteger o dinheiro da inflação. Quem viajava para o exterior tinha um limite pequeno para comprar dólares. E não existia ainda cartão de crédito internacional.

Com a abertura da economia, a maior parte dessas operações hoje pode ser feita à luz do dia e sem a ajuda de um doleiro. Mas essa profissão ilegal continua a existir, como se observa nos vários escândalos sucessivos descobertos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Os doleiros têm hoje basicamente duas funções principais. A primeira é facilitar operações internacionais que são feitas com dinheiro ilegal. Uma compra de um produto caro no exterior, por exemplo. Entrega-se o valor em reais no Brasil e a mercadoria é comprada em outro país.

Outra função do doleiro é a de acobertar operações financeiras. Por exemplo, uma pessoa vende um terreno ou casa no Brasil e não deseja pagar imposto sobre o eventual lucro imobiliário. A venda é registrada por um montante diminuto e o pagamento é feito em dinheiro. O vendedor então entrega o valor em espécie a um doleiro e pode receber depois, em dólares (ou outra moeda) aqui ou no exterior.

Há também a operação inversa. Uma pessoa tem dinheiro no exterior e precisa trazê-lo de volta para o Brasil. Nesse caso, o doleiro pode ficar com os dólares que estão em outro país e entregar o valor em espécie ao interessado aqui.

Os doleiros são uma espécie de “private bank” informal para operações financeiras ilegais. Servem a um mercado no qual muitas pessoas querem fugir dos registros das autoridades.

Hoje, de acordo com as regras determinadas pelo Banco Central, é obrigatório fazer uma comunicação prévia ao banco, com um dia útil de antecedência, para saques em espécie de valor igual ou superior a R$ 100 mil reais. Essa exigência também vale para transferências ao exterior. Além disso, todas essas operações são comunicadas ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks

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Por que há tantos brasileiros no SwissLeaks
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Fernando Rodrigues

País aparece muito bem representado no vazamento de dados do HSBC

Só Suíça, França e Reino Unido registravam mais clientes do que o Brasil na agência de “private bank”, em Genebra, do HSBC quando vazaram os dados completos da instituição, na virada de 2007 para 2008.

Eis o ranking dos países com mais clientes citados no SwissLeaks, tudo compilado pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos):

1º Suíça: 11.235
2º França: 9.187
3º Reino Unido: 8.844
4º Brasil: 8.667
5º Itália: 7.499
6º Israel: 6.554
7º Estados Unidos: 4.183
8º Argentina: 3.625
9º Turquia: 3.105
10º Bélgica: 3.002

Como se observa, os 8.667 clientes brasileiros no HSBC suíço (com cerca de US$ 7 bilhões de saldo) ficam à frente de italianos e israelenses. O Brasil tem mais do que dobro de nomes na comparação com os Estados Unidos (4.183).

Por que existiu essa predileção de brasileiros por um banco como o HSBC, que nem tem uma história tão antiga por aqui? Afinal, o HSBC só entrou no Brasil para valer ao comprar o antigo banco Bamerindus, nos anos 1990.

Uma das razões que explicam esse fenômeno é o fato de o HSBC ter expandido seus negócios na década de 90, comprando alguns bancos de investimentos nos quais havia uma presença maior de brasileiros.

Em 1999, o HSBC adquiriu por cerca de US$ 10 bilhões os bancos Republic New York Corporation, nos Estados Unidos, e o Safra Republic Holding, na Europa. Ambos pertenciam ao banqueiro Edmond Safra –irmão de Joseph e Moise Safra, donos do Banco Safra no Brasil.

Durante muitos anos, os endinheirados brasileiros enxergaram na família Safra um sinônimo de segurança para guardar suas fortunas, seja no Brasil ou no exterior. Quando o HSBC assumiu as carteiras do Republic New York e do Safra Republic Holding, muitos clientes brasileiros foram juntos.

Todos os arquivos dos dois bancos vendidos por Edmond Safra foram parar na Suíça. Nesse pacote estavam as informações pessoais e financeiras de muitos brasileiros que tiveram conta há 20 anos ou mais no Republic New York e do Safra Republic Holding. Mesmo que as contas já estivessem fechadas, os dados passaram a fazer parte do acervo histórico do HSBC em Genebra. Por essa razão, alguns hoje se surpreendem as descobrir seus nomes na lista do SwissLeaks.

Os arquivos do HSBC foram furtados em 2008 por Hervé Falciani, funcionário do banco na área de informática. Ele retirou dos computadores tudo o que encontrou a respeito de clientes da instituição.

No caso do Brasil, são 8.667 nomes de pessoas que estão relacionadas a operações no HSBC de Genebra, mas que podem não ter aberto originalmente essas contas nessa instituição. Uma das possibilidades é que alguns possam ter mantido contas em outros bancos que foram comprados pelo HSBC, como os de Edmond Safra.

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