Candidato de João Santana perde eleição no Panamá
Fernando Rodrigues
Publicitário de Lula e Dilma colhe primeiro revés após longa série de vitórias
A eleição do empresário Juan Carlos Varela para a Presidência do Panamá, na América Central, neste final de semana, é um raro revés para o marqueteiro João Santana, atual guru midiático da presidente Dilma Rousseff e do pré-candidato petista ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha.
João Santana trabalhava há mais de 6 meses para eleger o candidato governista José Domingo Arias, apoiado pelo atual presidente, Ricardo Martinelli, e, segundo a revista ''Época'', mantinha uma equipe de 30 pessoas de sua confiança na Cidade do Panamá.
As pesquisas eleitorais no início do ano apontavam vitória certa de Arias, mas a proximidade do pleito tornou a disputa embolada entre 3 candidatos: além de Arias, o conservador Varela e o esquerdista Juan Carlos Navarro.
Com 60% das urnas apuradas, Varela foi consagrado vencedor pela Justiça Eleitoral do país na noite de domingo (4.mai.2014), com uma vantagem de 7 pontos sobre Arias.
Descrito pela imprensa panamenha como “el hacedor de presidentes”, João Santana vinha de uma sequência de 6 eleições presidenciais vitoriosas: Lula em 2006, Mauricio Funes (El Salvador) em 2009, Dilma Rousseff em 2010, Danilo Medina (República Dominicana) em 2012, José Eduardo dos Santos (Angola) em 2012 e Nicolás Maduro (Venezuela) em 2012.
Tanta exposição acabou colocando o marqueteiro brasileiro na linha de tiro da oposição local, que apontou possível influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de Arias.
Santana e Dilma
Mesmo sem ter contrato com o governo federal, Santana atuou nos últimos anos como conselheiro informal de Dilma –assim como também atuou durante o segundo mandato de Lula.
Frasista profícuo, na sua entrevista à “Época”, em outubro de 2013, Santana disse o seguinte sobre a disputa presidencial deste ano no Brasil: “A Dilma vai ganhar no primeiro turno, em 2014, porque ocorrerá uma antropofagia de anões. Eles vão se comer, lá embaixo, e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo”.
Antes, em 2010, Santana havia previsto para Dilma uma posição majestática na sociedade brasileira: “Há na mitologia política e sentimental brasileira uma imensa cadeira vazia, que chamo metaforicamente de 'cadeira da rainha', e que poderá ser ocupada por Dilma”.
“A República brasileira não produziu uma única grande figura feminina, nem mesmo conjugal. Dilma tem tudo para ocupar esse espaço. O espaço metafórico da cadeira da rainha só foi parcialmente ocupado pela princesa Isabel. Para um homem sim, seria uma tarefa hercúlea suceder a Lula. Para uma mulher, não. Em especial, uma mulher como Dilma. Lula sabia disso e este talvez seja o conteúdo mais genial da sua escolha”, disse.
Em 2012, Santana decretou que sua previsão sobre a “Dilma rainha” estava se concretizando: “Ela está firmando uma imagem vigorosa de grande consolidadora das políticas sociais, de ampliadora dos direitos da classe média, de reformadora moral e modernizadora do país. Está se formando a imagem de uma mulher firme, honesta, que não tem medo de tomar medidas duras. Uma mulher que não se deixa mandar. Que sabe fazer parcerias e alianças com setores importantes, especialmente com Lula. Uma presidenta que enfrenta uma das maiores crises da economia internacional sem titubear. Uma mulher de raça. Que enfrenta os bancos para abaixar os juros, as empresas de energia para abaixar a tarifa elétrica. Eu não estou inventando: estou relatando a leitura de estudos profundos de opinião”.
[O sr. afirmou em 2010 que Dilma ocuparia metaforicamente a cadeira da rainha no imaginário do brasileiro. Isso está se passando?]
“Era uma imagem figurada. Uma metáfora que está se cumprindo simbolicamente. Grandes camadas da população têm um respeito, uma admiração e um carinho tão sutil por Dilma que chega até a ser de uma forma majestática. É diferente daquele amor quase carnal, elétrico, vulcânico que têm por Lula”.
Leia entrevistas concedidas por João Santana em 2006, 2010 e 2012.