Morre Luiz Carlos Santos, articulador da emenda da reeleição de FHC
Fernando Rodrigues
político habilidoso, foi do PDC, PMDB, PFL e PSD e era conhecido por dar ''nó em fumaça''
Morreu hoje (31.jan.2013) o ex-deputado e ex-ministro Luiz Carlos Santos. Ele tinha 80 anos.
As causas da morte não foram divulgadas, mas a suspeita é que Santos tenha morrido dormindo, depois de sofrer um infarto. Ele tinha boa saúde e só se queixava nos últimos tempos de uma bursite (inflamação) na cabeça do fêmur de uma das pernas. O velório será a partir das 16h30 de hoje, na Assembleia Legislativa de São Paulo. O enterro está marcado para amanhã, 01.fev.2013, no cemitério Gethsemani, no bairro do Morumbi, em São Paulo.
Luiz Carlos, como era mais conhecido, fazia parte de um grupo de políticos tradicionais que fizeram carreira em São Paulo: sempre negociando, atuando nos bastidores e tocando grandes projetos de poder. Era um exímio negociador,
Luiz Carlos dos Santos nasceu em Araxá (MG), em 26 de maio de 1932. Estudou direito na USP (54-58). Foi o mais relevante articulador político do primeiro mandato (1995-1998) do tucano Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto.
Exerceu a função de líder do governo FHC na Câmara, de 95 a 96. Antes, havia sido também líder de Itamar Franco. Assumiu o Ministério da Coordenação de Assuntos Políticos de FHC em maio de 96. Ao nomeá-lo para o posto, o tucano enfrentava dificuldades para coordenar sua base de apoio no Poder Legislativo. No discurso em que apresentou seu novo ministro, Fernando Henrique disse que Luiz Carlos sabia “dar nó em fumaça”.
No Ministério de Assuntos Políticos, Luiz Carlos deu o nó na principal fumaça à sua frente: foi o articulador-chefe da aprovação da emenda constitucional que deu a FHC o direito de disputar a reeleição. Os trabalhos de convencimento dos congressistas se arrastaram durante o segundo semestre de 1996, até que o texto foi aprovado em 28 de janeiro de 1997. O gabinete ocupado por Luiz Carlos centralizava todas as demandas de deputados e de senadores que prometiam votar a favor do projeto político de interesse do governo tucano.
Quando surgiu o escândalo da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, em 13 maio de 1997, Luiz Carlos soube como manobrar politicamente para abafar o caso, apesar dos fortes indícios de irregularidades. O Palácio do Planalto conseguiu conter o ímpeto da oposição e uma CPI nunca foi instalada. O governo posterior ao de FHC, o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nunca teve um articulador no Planalto do estilo e com a habilidade de Luiz Carlos Santos –o Blog aqui não faz juízo de valor se o que era articulado era bom ou ruim para o país. O fato é que Luiz Carlos Santos trabalhava com grande competência a favor do sucesso do governo ao qual servia. Era um dos mais fieis colaboradores do tucano FHC, mesmo sendo um político do PMDB.
Luiz Carlos começou sua carreira como vereador em São Paulo (1963-1968), pelo antigo PDC. Depois, foi deputado estadual (1979-1982; 1983-1996 e 1987-1990), pelo MDB/PMDB, partido ao qual ficou filiado muitos anos.
Na sua encarnação peemedebista foi também eleito deputado federal três vezes (1991-1995; 1995-1999 e 2003-2007). No final de 1997, filiou-se ao PFL.
Pouco depois de ingressar no PFL, já no início de 1998, deixou de ser ministro de FHC. Teve de se desincompatibilizar do cargo para concorrer à vaga de vice-governador paulista na chapa encabeçada por Paulo Maluf (PP). Luiz Carlos tomou esse caminho com o consentimento e aval total de FHC –que disputava a reeleição para presidente e desejava ter dois palanques naquela eleição em São Paulo (o outro palanque foi o do candidato à reeleição para o Palácio dos Bandeirantes, o tucano Mário Covas, que venceu).
Com a derrota de Maluf em 1998, Luiz Carlos ficou sem mandato a partir de 1999. Sentiu-se, no começo, abandonado por FHC. Até que em maio de 1999 assumiu a presidência de Furnas (empresa estatal federal de energia). Foi uma indicação política explícita de Fernando Henrique para compensar o amigo e aliado derrotado na eleição do ano anterior.
Ficou no posto de presidente de Furnas até 5 de abril de 2002. Saiu do cargo para disputar uma vaga de deputado federal naquele ano. Foi eleito para exercer seu último mandato na Câmara, até o início de 2007.
Em 2011, Luiz Carlos deixou o PFL (já então chamado de Democratas) para entrar no novo PSD, sigla criada pelo seu amigo e então prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Encantou-se com o projeto da nova sigla e passou a ser um defensor incasável de uma Constituinte para o Brasil.
Luiz Carlos era casado com Maria Aparecida de Faria Santos. Teve duas filhas, Ana Lúcia e Ana Laura, e três netos.