Influência de Dilma tende a derreter no Congresso
Fernando Rodrigues
Chegou a hora de a presidente Dilma Rousseff experimentar para valer a antipatia que construiu laboriosamente nos últimos dois anos e meio entre deputados e senadores. A queda de 27 pontos em sua popularidade, medida pelo Datafolha, será sentida agora a cada necessidade de negociação.
Na relação com os congressistas, presidentes da República são temidos ou admirados. Às vezes, raramente, as duas coisas. Dilma era sempre muito temida até maio passado, pois tinha a popularidade mais alta entre todos os ocupantes do Palácio do Planalto pós-ditadura nesta fase do primeiro mandato.
Do alto de sua aprovação popular, a petista acostumou-se a agir de forma imperial. Não dava entrevistas, exceto para a mídia amiga com quem podia opinar sobre novelas e culinária.
Até agora, foi fácil se comportar como um Emílio Garrastazu Médici sentado dentro do Planalto, ouvindo o jogo da seleção brasileira pelo rádio e olhando com desdém para o Congresso, do outro lado da Praça dos Três Poderes. Agora, com uma aprovação mais próxima da de João Figueiredo, o cenário ganha em complexidade.
Políticos são pragmáticos. Não gostam de arranjar briga com uma presidente da República que é bem avaliada e ruma para a reeleição.
Na nova conjuntura em formação, entretanto, o poder da presidente tende a derreter momentaneamente dentro do Congresso. Ela poderia compensar essa perda de popularidade com as relações pessoais e políticas. Ocorre que essas relações sempre foram muito tímidas ou inexistentes, por decisão da própria Dilma.
O Blog conversou ao longo da sexta-feira, 28.jun.2013, com vários presidentes de partidos e com líderes governistas no Congresso. Todos apoiaram a ideia do plebiscito para a reforma política de nariz virado. Em público, fingiram muito bem. Faz parte.
Na semana que vem, a conjuntura talvez mude. Os deputados e senadores devem se sentir mais à vontade para exercer sua sinceridade em público, quando tiverem de manifestar suas impressões sobre a forma como Dilma Rousseff conduz seu governo.
Mas é importante fazer duas ressalvas.
Primeiro: essa pesquisa foi realizada agora, no auge dos protestos de cidadãos indignados. Não é certo que algum outro político possa herdar de maneira definitiva o capital político-eleitoral que antes estava com Dilma e o PT para 2014. É necessário esperar mais algum tempo, talvez alguns meses, para saber como o cenário atual vai decantar.
Segundo: no auge do mensalão, em 2005, Luiz Inácio Lula da Silva também foi dado como morto e sua popularidade ficou num nível baixo e similar ao de Dilma agora. O restante da história é conhecido: o país voltar a crescer de maneira vigorosa e o petista foi reeleito em 2006.
O que diferencia o cenário de hoje do de 2005 é algo muito simples. O presidente lá atrás era Lula: um político esculpido na escola das negociações difíceis e das relações pessoais sólidas com seus aliados. Hoje, a presidente é Dilma, uma política quase sem grupo de confiança com quem possa governar nem um círculo generoso de amizades no Congresso.