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Ficar em silêncio ajudou a Vale na tragédia de Mariana (MG), diz Mário Rosa
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Fernando Rodrigues

Empresa optou pela cautela e se comprometeu menos

Hoje (25.nov) sai a última parte do “Glória e Vergonha”

Mário Rosa relata amizade com Fernando Cavendish

E conta como Eike Batista negocia já em decadência

(Antonio Cruz/Agência Brasil)

Vale evitou exposição na imprensa após tragédia em Mariana (MG)

Dias depois do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), os presidentes da Vale e da BHP visitaram o local da tragédia e deram uma entrevista à imprensa. As respostas foram vagas, sem anúncios de impacto.

O tom evasivo dos chefes das duas controladoras da Samarco, responsável pela barragem prenunciou o comportamento das empresas durante todo o desdobramento da cobertura da imprensa. A estratégia adotada pela Vale foi calculada para afastar a empresa das manchetes e reduzir os impactos negativos em sua imagem.

A história é contada pelo consultor político e empresarial Mário Rosa em seu livro “Glória e Vergonha: memórias de um consultor de crises”. A obra está publicada em capítulos no UOL. A última parte foi ao ar nesta 6ª feira (25.nov).

Esta resenha está no Poder360 e foi preparada pelo jornalista Mateus Netzel.

A tragédia de Mariana (MG) relembra Mário Rosa de sua amizade com o empresário Fernando Cavendish, da Delta Construção. Investigado em mais de uma operação da Polícia Federal, era um cliente com alta demanda de gerenciamento de crises. Na mais pessoal delas, perdeu a mulher, a cunhada e amigos íntimos em um acidente de helicóptero. Na mais recente, foi preso pela Operação Saqueador, em junho deste ano. Atualmente, o empresário é réu e se encontra em prisão domiciliar.

Em uma das crises –provocada pela gravação de uma conversa de Cavendish com o bicheiro Carlinhos Cachoeira–, em 2012, a Delta era um dos principais alvos da CPI do Cachoeira. Na ocasião, um episódio exemplifica as estratégias de Mário Rosa para auxiliar seus clientes em casos com grande exposição midiática.

Em meio à devassa feita a sua empresa, Cavendish tomou a iniciativa de entregar um lote de documentos à CPI como forma de demonstrar boa vontade com as investigações. Os papéis foram todos colocados em uma grande caixa com a logomarca da Delta. O próprio empresário foi ao Congresso entregar o volume.

O factoide estava criado: a “caixa da Delta”. Só se falou nisso na cobertura do dia. A mídia foi hipnotizada pela caixa de papelão.

FERA FERIDA
Mesmo em decadência, Eike Batista demonstrava a agressividade que o levou a sustentar a 7ª maior fortuna do mundo, segundo a Forbes. Na negociação de venda de uma mina de carvão na Colômbia, já na curva descendente de seu grupo empresarial, levou Mário Rosa em seu jato particular a Bogotá para presenciar a conversa com um investidor indiano.

O consultor teve então uma amostra do estilo abrasivo de Eike. No final de 5 horas de negociação, o empresário dá seu melhor golpe. Na saída da conversa, entrega simpaticamente ao indiano um envelope com estimulantes sexuais. Deixa o investidor com um riso amarelo na cara.

REFLEXÕES
Nos últimos capítulos de seu livro, Mário Rosa faz uma homenagem a seus mentores e a sua família. Dedica seus agradecimentos, entre outros, aos jornalistas José Amílcar Tavares Soares, e Tales Alvarenga; aos publicitários Duda Mendonça, João Santana e Nizan Guanaes; e ao palestrante Roberto Shinyashiki.

Encorpa também as reflexões realizadas ao longo de todo o livro sobre a função que exerce. Termina o livro revelando um temor. Um arremate que explica em parte a importância que reserva a seu trabalho e, talvez a intenção de escrever esta obra.

Leia as 5 partes do livro em PDF:
1ª parte
2ª parte
3ª parte
4ª parte
5ª parte

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Delta ganhou de 13 governos estaduais e de 28 prefeituras
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Fernando Rodrigues

Dados fiscais da empreiteira Delta, suspeita de abastecer o esquema de Carlinhos Cachoeira, expõem sua dependência do Estado para existir. Declarações de Imposto de Renda de 2009 e 2010 mostram que a empresa faturou nesses anos R$ 3,172 bilhões. Desse total, só provém do setor privado 0,4% (R$ 12,4 milhões).

Do setor público, a Delta recebeu R$ 3,159 bilhões no período analisado. O governo federal lidera o ranking de pagadores da empresa: contribuiu com 49% (R$ 1,567 bilhão) do faturamento total. Governos estaduais e do Distrito Federal respondem por 35% (R$ 1,108 bilhão). As prefeituras, por 15% (R$ 484 milhões).

O sigilo fiscal da Delta foi quebrado a pedido da CPI do Cachoeira e analisado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), integrante da comissão. Em entrevista ao Poder e Política, projeto da Folha e do UOL, Randolfe disse que chama a atenção a quantidade de pagamentos feitos pelo governo e por prefeituras do Rio de Janeiro à Delta. Clique aqui para assistir a esse trecho da entrevista de Randolfe em tablets e em smart phones.

Foram 12 Estados e o Distrito Federal e que transferiram dinheiro à empreiteira no período analisado. As transferências do Governo do Rio representam 48,6% (R$ 539 milhões) do total.

Com relação às prefeituras, 10 das 28 que contrataram a Delta são do Rio. Esse grupo fluminense responde por 36,3% (R$ 176 milhões) do que foi pago por municípios à empresa.

Nenhum pagamento recebido pela Delta pode ser considerado ilegal, em princípio. Está tudo declarado pela empresa à Receita Federal. A CPI do Cachoeira terá de analisar quais foram de fatos os serviços prestados pela empreiteira. Aí poderá fazer um juízo sobre o que foram de fato esses pagamentos.

Os R$ 12,4 milhões recebidos pela Delta do setor privado têm origem em apenas 4 empresas, segundo os dados fiscais da empreiteira: Dimensional Engenharia, Thyssenkrupp, Construcon e Universo Online (UOL).

Acesse aqui a lista completa e detalhada dos pagamentos recebidos pela Delta em 2009 e em 2010. Aqui, quadro resumido.

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Demóstenes ajudou a proteger dono da Delta
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Fernando Rodrigues

A CPI do Cachoeira não quer convocar o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, alegando que não há razão para investigar a empresa fora dos limites da região Centro-Oeste.

Mas há indícios nas ligações telefônicas em posse da CPI que Carlinhos Cachoeira se interessava em proteger Cavendish. Até porque em uma das conversas em maio de 2011 de Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (à época do DEM de Goiás) o assunto é como fazer para que o dono da Delta não fosse convocado.

A data de um dos telefonemas é 8 de maio de 2011.

Cachoeira pergunta a Demóstenes: “Viu a matéria da Delta, aí?”.

Tratava-se de uma reportagem da revista “Veja” sobre o fato de a Delta ter contratados os serviços de consultoria de José Dirceu, ex-deputado federal, do PT de São Paulo.

Ao que Demóstenes responde: “Estou te ligando por isso”. Diz que fará um pedido para Cavendish ir ao Senado falar, “mas requerimento é convite, o cara pode recusar”. Ou seja, era apenas um jogo de cena.

Demóstenes então faz uma sugestão de estratégia para o dono da Delta: “…Talvez o Fernando [Cavendish] se antecipasse soltando a nota dizendo que isso é mentira, que é um problema empresarial, que nunca teve isso e tal, tal… e pula fora”.

Resumo: Cavendish não teve de depor no Senado. Agora, a história está se repetindo, apesar dos indícios que demonstram haver muitos interesses entre Cachoeira e o dono da Delta.

Abaixo, transcrições dos telefonemas a respeito de Cavendish em conversas de Cachoeira:

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