Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : Protestos

2 ministros de Temer são vaiados por ativistas no Nordeste no mesmo dia
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Fernando Rodrigues

Mendonça Filho (PE) foi alvo de protestos em 2 Estados diferentes

Manifestações do PT e da esquerda contra ministros são frequentes

Mendonça Filho:  protesto foi pautado por “esquerda radical”

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O ministro da Educação, Mendonça Filho

Os ministros Ricardo Barros (Saúde) e Mendonça Filho (Educação) foram alvos de protestos enquanto cumpriam agendas em Estados da região Nordeste, ontem (15.ago). Mendonça chegou a ser vaiado no mesmo dia em 2 Estados diferentes: Pernambuco e Sergipe. Os ataques partiram de ativistas ligados a partidos que fazem oposição ao presidente interino, Michel Temer.

As informações são do repórter do UOL André Shalders.

Ricardo Barros sofreu os apupos quando deixava um encontro com empresários em Recife (PE), no fim da manhã. Os manifestantes o chamavam de “golpista” e “machista”. Já Mendonça Filho recebeu vaias em Petrolina, no interior pernambucano, e em Aracaju (SE).

Em Sergipe, Mendonça foi interrompido por manifestantes ligados ao Levante Popular da Juventude no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Na ocasião, Mendonça anunciou a liberação de R$ 10 milhões para o hospital.

O vídeo abaixo mostra parte do protesto contra Mendonça em Aracaju:

No começo da manifestação, um manifestante lembra episódio embaraçoso envolvendo o ministro: “Recebe o [ator] Alexandre Frota para debater a educação brasileira (…)”. Um outro grita “Seu partido [o Democratas] foi contra as cotas [raciais e sociais no ensino superior]”.

Mendonça até tenta retrucar: “Do mesmo jeito que eu ouvi os outros, eu acho que numa democracia é importante ser ouvido”. Ele acaba interrompido pelos manifestantes.

Protestos contra ministros do governo Temer têm se tornado frequentes e geralmente são organizados por sindicalistas e militantes ligados ao PT e a partidos de esquerda.

O protesto contra Mendonça Filho em Aracaju, por exemplo, contou com apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT), como mostra o material de divulgação da manifestação (clique na imagem para ampliar):

cut-se-reproducao15ago2016

Convocatória para o protesto de ontem, divulgada pela CUT

MENDONÇA: PROTESTO É FRUTO DE INTOLERÂNCIA
O ministro enviou nota ao Blog. Mendonça ressaltou que não está intimidado e não deixará de circular pelo país. Para ele, protesto como os de hoje são fruto de um clima de intolerância e são pautados “em cima de inverdades manipuladas por parte da esquerda radical, que quer transformar as universidades federais em gueto de um pensamento único”.

Eis a íntegra:

O direito de protesto faz parte do processo democrático. Respeito e convivo democraticamente com esse tipo de manifestação. É claro que, em algumas situações como as de hoje, há clima de intolerância, radicalismo e o protesto é pautado em cima de inverdades manipuladas por parte da esquerda radical que quer transformar as universidades federais em gueto de um pensamento único. Mas, isso não me intimida. Não há lugar nesse País, nem universidade, que eu deixe de circular por causa de protesto. Estou trabalhando pela Educação e vou continuar esse trabalho: liberando verbas, retomando as centenas de obras paradas nas universidades e institutos federais. Já liberamos R$ 2,6 bilhões para o ensino superior, em três meses, quase o dobro do que era liberado pelo Governo anterior. A execução orçamentária para 2017 será, no mínimo, a mesma de 2016, a qual aumentamos em 35% a previsão orçamentária deixada  pelo Governo anterior, que cortou R$ 6,4 bilhões do Orçamento do MEC de 2016. Desse corte, a atual gestão resgatou R$ 4,7 bilhões. Hoje liberamos recursos para retomar obras como a da unidade materno infantil do Hospital Universitário da Federal de Sergipe, parada há 04 anos. Pena que não houve  protesto contra a paralisação dessas obras“.

NORDESTE É MAIOR DIFICULDADE DE TEMER
O Nordeste é uma  região na qual Michel Temer mais enfrenta dificuldades desde que assumiu o Planalto, há 3 meses. O presidente interino ainda não foi ao Nordeste (uma viagem para Alagoas e Pernambuco chegou a ser agendada em julho, mas foi desmarcada).

Segundo pesquisa do Ibope divulgada em julho, 63% dos moradores do Nordeste desaprovam a forma com que Temer governa o país, contra 53% na média nacional.

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Aumentam menções a Lula, mas tudo foi muito menor do que em março
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Fernando Rodrigues

Citações a Dilma no Twitter caíram 77,5%

Estudo comparativo da Bites, especializada em monitorar redes sociais, indica que a intensidade dos comentários neste domingo (16.ago.2015) foi bem menor do que no dia do protesto recorde há 5 meses (15.mar.2015).

A melhor forma de comparar é quantas vezes a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, foram citados.

“Em 15 de março, o nome de Lula apareceu 28.237 em posts publicados no Twitter. Dilma foi citada em 443.349 tweets”, diz a Bites. Agora, “o ex-presidente estava até às 20h presente em 44.335 posts contra 99.685 para Dilma”. Eis os dados na tabela a seguir (clique para ampliar):

Dilma-Lula-protestos

E as críticas ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)? Segundo a Bites, o peemedebista só apareceu 4.484 vezes nas redes sociais. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), menos ainda: 1.704 vezes.

“No total, os protestos e manifestações de hoje geraram 229 mil tweets no Brasil, 757 posts em blogs e 3.698 artigos em sites de notícia”, registra a Bites.

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Dilma manda ministros não darem entrevistas sobre protestos
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Fernando Rodrigues

“Manifestações foram dentro da normalidade democrática”, diz Planalto

Depois de uma reunião de avaliação no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff determinou que nenhum de seus ministros dê entrevistas a respeito das manifestações de protesto neste domingo (16.ago.2015).

Vários ministros que estiveram desde o final da tarde com a presidente (e ficaram até o início da noite) não foram liberados para dar entrevistas formais.

Segundo mensagem recebida pelo Blog às 18h46 do Palácio do Planalto, a posição oficial do governo seria apenas a seguinte:

“Segundo o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, o governo viu as manifestações dentro da normalidade democrática”.

Embora ninguém vá aparecer para vocalizar em público, há um clima de comemoração dentro do governo a respeito dos protestos deste domingo. Por várias razões, sendo 3 delas as principais:

1) público menor do que em março: confirmaram-se as previsões de que haveria menos gente na rua agora do que em 15.mar.2015. Ou seja, a situação não melhorou, mas também não piorou;

2) oposição tímida: os principais líderes da oposição tiveram comportamento reservado e não conseguiram aparelhar os protestos a favor de seus partidos;

3) acordão com o PMDB em curso: os atos deste 16 de agosto não tiveram energia para dinamitar o grande conchavo criado entre o Palácio do Planalto e uma ala do PMDB, com Renan Calheiros e Michel Temer à frente. Dilma Rousseff acredita que pode acelerar a votação, nas próximas semanas, de alguns itens da chamada “Agenda Brasil” –e, assim, reverter o clima ruim que vigora entre os agentes econômicos.

Mas se tudo foi como esperava o Planalto, por que algum ministro palaciano não deve dar uma entrevista? Simples. Porque Dilma acredita estar ainda muito frágil para aparecer em público (ou expor um ministro seu a esse tipo de situação). Poderia parecer que a administração dilmista já está comemorando a reação política que esboçou nos últimos cerca de 10 dias.

A posição de recato do Planalto visa a preservar o pouco (muito pouco) que o governo conseguiu até agora. No entender dos ministros e da presidente, seria um erro tentar aparecer em público fazendo perorações a respeito dos atos de 16 de agosto. Um risco que aumenta quando Dilma se lembra do desastre midiático que foi a entrevista conjunta na noite de 15.mar.2015 dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria Geral da Presidência).

O governo não divulgou a lista completa de quem esteve com a presidente desde o final da tarde de hoje. Estiveram no Alvorada, pelo menos, os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social), Jaques Wagner (Defesa) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

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Para 30%, hiato entre o que Dilma promete e faz é maior razão para protesto
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Fernando Rodrigues

Segundo pesquisa, apenas 4% dizem que partidos de oposição são responsáveis por manifestações de março

53% afirmam que escândalos de corrupção no governo Dilma são mais graves do que os de gestões anteriores

A diferença entre o que foi prometido por Dilma Rousseff na campanha e as decisões tomadas por ela no começo do seu segundo mandato foi o principal motivo para os protestos contra o governo em março, segundo pesquisa feita pela consultoria Expertise.

A maior parcela dos brasileiros entrevistados –30%– aponta o descompasso entre o dito na campanha e as atitudes de Dilma como força motriz para os protestos.

Em segundo lugar vem o escândalo de corrupção na Petrobras. Para 22% dos entrevistados, a Operação Lava Jato e seus desdobramentos foram o maior estímulo para as pessoas irem às ruas ou baterem panela em suas varandas.

Outros 18% afirmam que a principal razão das manifestações de março é a gestão da petista “como um todo”.

Apenas 4% dizem que as pessoas foram às ruas por influência da mídia e 3% apontam os partidos de oposição como responsáveis pelos protestos. Os dados estão na tabela abaixo:

Arte

A pesquisa também confirma a percepção de petistas de que o pronunciamento oficial de Dilma em 8 de março, Dia da Mulher, foi prejudicial ao governo. 55% das pessoas que acompanharam o discurso em rede nacional de rádio e televisão disseram se sentir pessimistas ou muito pessimistas após ouvir a presidente, enquanto apenas 10% se sentiram otimistas ou muito otimistas.

Nesta 3ª feira (31.mar.2015), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou encontro com dirigentes petistas para criticar o pronunciamento de Dilma. “Não sei quem foi o infeliz que convenceu ela a falar”, disse Lula, segundo relato de presentes à reunião.

 

PERCEPÇÃO DA CORRUPÇÃO
A maior parcela dos entrevistados pela Expertise –53%– afirma que os escândalos de corrupção no governo Dilma Rousseff “são mais graves do que eram nos governos anteriores”. Os outros 43% respondem que “os problemas de corrupção sempre aconteceram da mesma forma, independente do partido que está no poder”.

A disputa sobre qual seria o governo mais corrupto provocou recente troca de farpas entre petistas e tucanos. Dilma afirmou que se a Petrobras tivesse sido investigada em 1996 e 1997, quando Fernando Henrique Cardoso era presidente, a corrupção na estatal não teria se estendido até os dias atuais. Em resposta, FHC disse que Dilma e Lula eram os responsáveis por nomear diretores da empresa acusados na Operação Lava Jato.

 

METODOLOGIA
O questionário foi aplicado pela internet e teve 2.083 pessoas respondendo, de todos os Estados, nos dias 16 a 18 de março. A margem de erro da pesquisa é de 2,1 pontos percentuais.

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Governo errou antes e depois dos protestos
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Fernando Rodrigues

Nos últimos dias, PT e Planalto tentaram desqualificar manifestações

Entrevista de ministros após os atos mostra discurso desafinado

Rossetto-Carodozo

Os ministros Miguel Rossetto (esq.) e José Eduardo Cardozo falam sobre os protestos

O governo da presidente Dilma Rousseff conseguiu errar antes e depois dos protestos deste domingo (15.mar.2015) em todo o país.

Nos últimos dias e semanas, o PT e o Palácio do Planalto trabalharam para tentar desqualificar previamente as marchas de protesto. Nas redes sociais, simpatizantes dilmistas classificavam os manifestantes de “elite branca”, “coxinhas”, “varanda gourmet” e “almofadinhas”. A crítica mais benigna dos governistas era que haveria pouca gente ou que apenas setores da classe média sairiam de casa no domingo.

A forte adesão de centenas de milhares de pessoas destruiu os argumentos petistas e do Planalto. Segundo o Datafolha, São Paulo teve a maior manifestação política (210 mil pessoas) desde as Diretas-Já, em 1984.

Passadas as marchas, a presidente Dilma Rousseff escalou dois ministros para falar com repórteres. Miguel Rossetto (Secretaria Geral da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Justiça) apareceram para a entrevista com camisas sociais azuis, sem gravata, ternos desalinhados e semblantes de derrotados. Nessas horas, imagem é quase tudo.

Mas o conteúdo ainda foi mais desalentador para o governo. Um ministro (Cardozo) começou com uma fala mais humilde falando em respeito à democracia. O outro (Rossetto) começou classificando os manifestantes como eleitores que votaram contra Dilma Rousseff em 2014. Disse também que “não é legítimo o golpismo, a intolerância, o impeachment infundado que agride a democracia”. Mas como o ministro Rossetto sabe que todos os que foram às ruas queriam o impeachment e votaram contra Dilma?

Tudo somado, Rossetto e Cardozo não trouxeram em suas falas nada que pudesse minimizar o mau humor de brasileiros que estão protestando. Sem contar as velhas desculpas do tipo “o Brasil só melhora depois de uma reforma política”.

Para Cardozo, “a atual conjuntura aponta para uma necessária mudança no nosso sistema político-eleitoral (…) é um sistema anacrônico que constitui a porta de entrada principal para a corrupção no país. Então, é preciso mudá-la por meio de uma ampla reforma política”.

Ocorre que o governo federal é comandado pelo PT há 12 anos. Durante algum tempo, o presidente no poder (Lula) teve mais de 80% de aprovação popular. Mesmo assim, a administração federal petista não se sentiu compelida a promover uma reforma política. Dizer que agora tudo depende de leis mais rígidas e de uma reforma política é uma possível saída retórica. Mas a eficácia desse argumento é frágil.

Quem conversa com os assessores de Dilma Rousseff sente que o problema no momento parece ser a grande incapacidade do Palácio do Planalto de reconhecer o que está se passando na sociedade. E, em seguida, ter presença de espírito para fazer algum tipo de autocrítica para reconquistar uma parte da confiança perdida entre os brasileiros.

O país passa por um momento curioso do ponto de vista sociológico. A demonstração de indignação se transformou quase numa forma de relacionamento social. Os amigos vão ao restaurante, o garçom demora para atender e em segundos alguém está falando alto: “É um absurdo. O Brasil não dá mais. Nada funciona”. Pode-se gostar ou não dessa atitude, mas cenas assim estão se tornando cada vez mais comuns.

O pior para quem está no governo é não entender esse “zeitgeist”, esse espírito do tempo que parece estar tomando conta de parte da sociedade brasileira, sobretudo nos grandes centros urbanos.

As imagens da TV mostraram desde cedo no domingo mais de uma dezena de cidades com protestos de pessoas nas ruas. A TV Globo transmitiu vários flashes ao vivo. As TVs de notícias 24h (GloboNews, BandNews e RecordNews) ficaram quase 100% do tempo com imagens dos atos públicos.

País de tradição abúlica, o Brasil tem poucos episódios de grandes passeatas. Teve a direita em 1964. As Diretas-Já, em 1984/85. O impeachment de Collor, em 1992. As jornadas de junho de 2013, que protestaram contra quase tudo, principalmente contra a política tradicional.

Como se observa na história, o Brasil às vezes passa 10 anos ou mais entre um momento e outro de grandes protestos. Agora, essa distância parece estar se estreitando. Menos de 2 anos depois das marchas de junho de 2013 há um novo protesto generalizado. É um fato raro.

O Brasil não é a Argentina ou outros países latinos nos quais é comum a população ir às ruas reclamar.

O que se passou neste domingo –sem fazer juízo de valor sobre determinadas propostas que apareciam nas faixas dos manifestantes– tem grande relevância política.

Goste ou não dos manifestantes, o governo Dilma às vezes demonstra não entender que a tessitura do grupo que foi às ruas neste 15 de março é muito semelhante à das massas que fizeram as Diretas-Já e o impeachment de Collor.

Sem uma reação melhor do que a entrevista dos ministros Rossetto e Cardozo será difícil a presidente Dilma se recuperar politicamente.

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Análise: incivilidade urbana mostra coisas fora do lugar no Brasil
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Fernando Rodrigues

Morreu nesta segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014, o repórter cinematográfico Santiago Andrade. Ele tinha 49 anos. Foi atingido por um rojão disparado por um manifestante no Rio, na quinta-feira passada, dia 6.

Santiago teve afundamento de crânio. Não resistiu. Casado há 30 anos, ele deixa a mulher, uma filha e 3 enteados.

É uma história triste com muitos ângulos a serem analisados.

Toda vez que morre um inocente a sociedade reage com repulsa.

Logo em seguida, surgem as teorias sobre o que poderia ter sido feito. E sobre o nexo causal entre a morte e atitudes tomadas ou não no período anterior.

Os jornalistas que fazem a cobertura desses eventos precisam todos estar mais equipados, já foi dito. É verdade.

A polícia poderia, dentro das regras, reprimir com mais eficiência tais manifestações violentas. É verdade.

Enfim, há uma infinidade de reflexões a serem feitas. Eu prefiro ficar com duas que considero as principais.

Uma é o grau de incivilidade a que chegou a sociedade brasileira, sobretudo nos grandes centros urbanos. Já houve manifestações de massa no passado, para derrubar a ditadura. Durante o movimento por eleições diretas, no início dos anos 1980, milhões foram às ruas. Não me recordo de os manifestantes soltando rojões sem pensar nas consequências.

O que leva um cidadão a acender um rojão no chão e apontá-lo para uma aglomeração de pessoas inocentes? É preciso ter muitas ideias fora do lugar para protagonizar um ato assim tão tresloucado. Mas aquele pavio acesso na última quinta-feira parece que já vinha sendo queimado há algum tempo –metaforicamente falando. A tragédia maior deu-se agora, com a perda de uma vida, mas poderia ter ocorrido já nos protestos do ano passado.

Torço para que após a trágica morte de Santiago Andrade muitos que agem de maneira irresponsável passem a incorporar um pouco de civilidade durante manifestações de rua –que são legítimas.

A outra reflexão que faço é sobre o grau de descontrole pelo qual passa o país. A vida nas grandes cidades está um inferno. Há risco de apagões. Em São Paulo, é real a possibilidade de racionamento de água. O transporte público é um purgatório para milhões de brasileiros. Os serviços de saúde continuam uma insanidade.

Alguém pode ter certeza de que as coisas vão melhorar nos próximos meses? Só os governos (municipais, estaduais e federal), por dever de ofício é que têm um discurso otimista. Ninguém mais.

Alguém garante que não vão mais ocorrer manifestações de rua, inclusive com violência? Ninguém tem esse poder de previsão.

Em resumo, a morte do cinegrafista Santiago Andrade, trágica para a família e para os amigos, também é para todos nós um sinal de alerta sobre como as coisas parecem fora do lugar no Brasil.

O pior é que parece haver pouco a fazer além de torcer para que novas tragédias assim não ocorram.

É muito triste para o Brasil tudo isso…

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