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Arquivo : junho 2012

Poder e política na semana – 25.jun a 1º.jul.2012
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Fernando Rodrigues

Temas que farão o drive político da semana: 1) cassação do senador Demóstenes Torres, de Goiás, poderá ser recomendada pelo Conselho de Ética do Senado nesta 2ª feira (25.jun.2012); 2) a CPI do Cachoeira ouvirá depoimentos de convocados de 3ª a 5ª feira (26 a 28.jun.2012), falarão pessoas relacionadas aos governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF); 3) a destituição de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai será tema da reunião de cúpula do Mercosul na 5ª feira e na 6ª feira (28 e 29.jun.2012); 4) o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, poderá liberar o julgamento do mensalão até 6ª feira (29.jun.2012); 5) acabará no sábado (30.jun.2012) o prazo para os partidos escolherem seus candidatos a prefeito e vereador.

Além disso, a presidente Dilma Rousseff receberá prefeitos no Palácio do Planalto na 4ª feira (27.jun.2012). Ela assinará um termo de compromisso para financiar a construção de quadras esportivas, compra de carteiras escolares e aquisição de ônibus. O ministro Aloizio Mercadante (Educação) estará presente. Dilma deverá chegar na Argentina na 6ª feira.

É também nesta semana que o PSDB completa 24 anos. O partido foi fundado em 25.jun.1988.

E o TSE ainda não decidiu se revoga a regra que proíbe a candidatura de políticos que tiveram contas de campanhas passas reprovadas. O Tribunal precisa correr para não causar bagunça na eleição deste ano, pois termina em 5.jul.2012 o prazo para partidos inscreverem seus candidatos.

A seguir, o drive político da semana:

 

Segunda (25.jun.2012)
Cassação de Demóstenes – Conselho de Ética marcou para esta data votação que pode recomendar perda de mandato do senador goiano. Se o grupo optar por cassá-lo, medida terá que ser votada também no plenário da Casa.

STF e o mensalão – o ministro revisor, Ricardo Lewandowski, teria de  liberar o processo nesta data para que o julgamento comece em 1º.ago.2012, como planejado pela Corte. Mas a expectativa é que ele só apresente seu trabalho na 6ª feira (29.jun.2012).

Planalto light – até 6ª feira, servidores da Presidência poderão participar de eventos que promovem a qualidade de vida no expediente do trabalho. A notícia foi dada pela coluna “Radar” da revista “Veja”.

PSDB faz 24 anos – partido fundado em 1988 lançará novo portal na internet.

Foster em Rio e SP – presidente da Petrobras anunciará plano de investimentos da empresa para o período 2012-2016 de manhã, no Rio, e à tarde, em São Paulo.

Greve da PF – Polícia Federal se comprometeu a não atrapalhar a Rio+20. Com a conferência encerrada, deverá retomar a pressão por aumento salarial.

Abílio Diniz em Paris – após perder o controle do Grupo Pão de Açúcar, empresário brasileiro fará reunião com o novo controlador, seu sócio Jean-Charles Naouri, da rede francesa Casino.

Inflação – FGV divulga IPC-S.

Consumo – FGV divulga sondagem sobre o assunto.

 

Terça (26.jun.2012)
CPI e Perillo – comissão ouvirá, a partir de 10h15, pessoas relacionadas ao governador de Goiás, do PSDB. São esperados Lúcio Fiúza Gouthier, ex-assessor do político; Écio Antônio Ribeiro, sócio da empresa Mestra Administração e Participações; e Alexandre Milhomen, arquiteto que trabalhou na reforma da casa vendida pelo tucano.

Fiesp e Olimpíadas – Paulo Skaf receberá, às 10h, o presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman. Falarão sobre oportunidades de negócios e patrocínio dos jogos.

Câmara e Chico Anysio – Casa fará homenagem póstuma ao humorista. Quem solicitou a sessão foi o deputado André Figueiredo (PDT-CE).

Pauta da Câmara – deverão continuar repercutindo na Casa 1) a história sobre a venda de emendas de um deputado para outro e 2) o projeto que acaba com o teto do funcionalismo.

Congresso e São João – como todo ano, Câmara e Senado ficam mais parados que de costume na época das festas juninas. Neste ano, os políticos ainda têm as articulações eleitorais para se ocupar na hora do trabalho.

PPS na TV – partido dissidente do PCB e aliado do PSDB e do DEM terá 5 minutos em rede nacional divididos em vídeos de 30 segundos ou 1 minuto. Terá de novo na 5ª feira (28.jun.2012).

Gilberto Gil, 70 anos músico, ex-ministro da Cultura, nasceu em 1942, em Salvador.

Inflação – Fipe divulga IPC referente ao período de 24.mai a 22.jun.2012. FGV publica IPC-S Capitais e INCC-M.

 

Quarta (27.jun.2012)
Dilma e prefeitos – recebe prefeitos e assina termo de compromisso para construção de quadras esportivas aquisição de ônibus e carteiras (mesas escolares). Programa pra fortalecer a área da educação. Mercadante deve participar.

Escândalo Cachoeira – caso tem novo juiz responsável: Alderico Rocha Santos. Ele assume após Paulo Augusto Moreira Lima deixar o posto dizendo que recebe ameaças e Leão Aparecido Alves não assumir a tarefa por ter ligações com suspeitos.

CPI e Perillo – mais pessoas ligadas ao governador de Goiás, do PSDB, deverão prestar depoimento, a partir de 10h15: Jayme Eduardo Rincón, ex-tesoureiro da campanha do político; Eliane Gonçalves Pinheiro, ex-chefe de gabinete do governador; Luiz Carlos Bordoni, radialista que trabalhou na campanha do tucano.

Graça Foster em Nova York – presidente da Petrobrás também apresentará os investimentos da empresa para o período de 2012-1016 para a plateia internacional. Irá a Londres em 2.jul.2012.

Novo Código Penal – juristas entregarão anteprojeto ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), em solenidade com a presença de senadores e convidados.

STF e MP – Corte prossegue julgamento de casos que colocam em questão a legalidade de investigações criminais conduzidas pelo Ministério Público. Uma das ações envolve Sérgio Gomes da Silva, denunciado pelo assassinato do prefeito de Santo André, do PT. Aqui notícia da “Folha” sobre o início do julgamento (para assinantes do jornal e do UOL).

PMDB nas eleições – o presidente do partido, senador Valdir Raupp (Rondônia), sairá de licença do Senado para se dedicar às campanhas de candidatos a prefeito.

PHS no STF – na pauta do tribunal, ação movida pelo Partido Humanista da Solidariedade para ampliar o tempo de TV de nanicos como ele.

Todos x PSD – por outro lado, DEM, PMDB, PSDB, PR e PP  querem impedir o aumento do tempo de TV e da fatia do Fundo Partidário destinados aos nanicos.

Pesquisa eleitoral – congresso da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas reunirá em São Paulo representantes do Datafolha, do Ibope, do MCI, do Sensus e do Vox Populi.

Empreendedor brasileiro – às 18h45, o Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp ouvirá palestra de Salim Mattar, fundador da Localiza. Ele foi indicado em 2012 como um dos 50 CEOs de melhor desempenho da América Latina pela revista Harvard Business Review.

Política econômica – reunião da Comissão da Moeda e do Crédito (Comoc).

Emprego e desemprego – Dieese divulga novos dados sobre o assunto.

Indústria – FGV publica sondagem sobre o setor.

Pecuária – IBGE divulga Pesquisas Trimestrais do Abate de Animais, do Leite, do Couro e da Produção de Ovos de Galinha.

 

Quinta (28.jun.2012)
Dilma e a Agricultura – presidente anunciará o Plano Safra 2012/2013 no Palácio do Planalto. Todo ano governo anuncia recursos pra financiar agricultura empresarial. Ano passao 107 bilhões, repassado a produtores e BB. Tem Banco da amazonia, banco do nordeste. Grandes agricultores. Na próxima semana anunciara recursos para agricultura familiar.

Cúpula do Mercosul – Dilma deverá chegar só na 6ª feira (29.jun.2012). Brasil, Argentina e Paraguai cogitam aplicar sanções ao Paraguai por causa da destituição do presidente Fernando Lugo. Já nesta cúpula os paraguaios estão excluídos.

CPI e Agnelo – comissão ouvirá pessoas relacionadas ao governador do Distrito Federal, do PT. São esperados, a partir de 10h15: Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete do petista (que teve o direito de ficar em silêncio garantido pelo STF); Marcello de Oliveira Lopes, ex-assessor da Casa Militar; e João Carlos Feitoza, ex-subsecretário de Esportes.

Greve e eleições – funcionários do Judiciário Federal em São Paulo planejaram greve para este dia. O protesto por aumento salarial inclui a Justiça Eleitoral e a do Trabalho e poderá causar problemas se durar mais dias. O prazo para registro de candidaturas terminará em 5.jul.2012.

PPS na TV – partido do deputado Roberto Freire terá 5 minutos em rede nacional divididos em vídeos de 30 segundos ou 1 minuto.

Política econômica – reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Inflação – FGV divulga IGP-M.

Eleições na Mongólia – país asiático fará eleições parlamentares.

 

Sexta (29.jun.2012)
Dilma na Argentina – presidente deverá participar do encontro de cúpula do Mercosul em Mendoza. A reunião, prevista para começar na 5ª feira (28.jun.2012), terá como tema a destituição do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, pelo Congresso do país.

Mensalão no STF – há expectativas de que o ministro revisor do processo, Ricardo Lewandowski, entregue seu trabalho até esta data.

PSDB e São João – seção brasiliense do partido organiza festa junina. Fará parte das comemorações pelos 24 anos da sigla.

Indústria – IBGE divulga Índice de Preços ao Produtor das Indústrias de Transformação.

Serviços – FGV publica sondagem sobre o setor.

 

Sábado (30.jun.2012)
PT nas eleições – partido fará convenção em São Paulo para oficializar Fernando Haddad como seu candidato a prefeito.

Fim das convenções – último dia para realização das reuniões que oficializam candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador.

PTB na TV – partido terá 5 minutos em rede nacional divididos em vídeos de 30 segundos ou 1 minuto.

Eleições na Islândia país europeu fará eleições presidenciais.

 

Domingo (1º.jul.2012)
Censura aos partidos – a Lei brasileira proíbe, a partir desta data, as propagandas partidárias gratuitas e pagas no rádio e na TV.

Censura ao jornalismo – também fica proibido para rádios e TV transmitirem, mesmo que por entrevista jornalística, imagens de realização de pesquisa eleitoral “em que seja possível identificar o entrevistado ou em que haja manipulação de dados”.

Censura às novelas – outro exemplo da proibição: TVs não poderão mais “divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente, exceto programas jornalísticos ou debates políticos”.

Eleições no mundo – México fará eleições presidencial e legislativa; Mali e Senegal farão eleições parlamentares.

 

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Dilma e o medo de ser “imperialista”
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Fernando Rodrigues

reação sobre crise paraguaia reacende antigo dilema:

Brasil quer condenar, mas teme que Brasília vire Washington

A crise política instalada no Paraguai depois de o país protagonizar um processo de 36 horas para destituir seu presidente, Fernando Lugo, serve para explicitar alguns defeitos e idiossincrasias da política externa brasileira.

Logo depois que Lugo foi deposto num julgamento político e sumário, um ministro importante do governo Dilma Rousseff comentou:

“Você viu o número de manifestantes em frente ao Congresso deles? Só umas 3.000 pessoas. Tinha de ter umas 30 mil… Ou seja, o Lugo não está com tanto apoio assim. Vamos ter de esperar para saber como reagir”.

O que essa declaração significa? Duas coisas:

1) indefinição de valores: o governo da presidente Dilma Rousseff está de olho na reação da população do Paraguai para depois calibrar a reação oficial do Brasil.

Ou seja, a interpretação sobre se há algo de errado do ponto de vista democrático depende muito de como a população do Paraguai vai reagir. E de como reagirão os principais países no cenário internacional. Até agora, EUA e Espanha bateram palmas para o Congresso do Paraguai. Já os vizinhos bolivarianos estrilaram.

A verdade é que começa a existir dúvida no núcleo central do governo Dilma sobre se o que se passou no Paraguai foi mesmo um golpe ou algo na linha chavista, “dentro da lei” (sic).

Este Blog não tem dúvida: o que se passou ali no Paraguai está longe de ser algo compatível com as boas normas e práticas democráticas –e aqui não existe nenhum juízo de valor, a favor ou contra Lugo.

Mas ilógico imaginar que a operação de retirada de trabalhadores sem-terra com mortes seja razão legítima para depor o presidente em 36 horas.

Parece claro que Lugo é incompetente, não tem apoio político-partidário e jogou o país numa profunda crise econômica. Muito bem. No ano que vem tem eleição e os paraguaios poderiam votar num candidato de oposição.

2) o medo ingênuo de ser imperialista: não é de hoje (vem desde sempre) um temor pueril de que cole ainda mais no Brasil uma imagem já renitente no Cone Sul: os brasileiros são os imperialistas do subcontinente latino-americano.

Ontem (22.jun.2012), após a queda de Lugo, uma observação palaciana foi emblemática: “Não podemos ser imperialistas. Brasília não é Washington”. É verdade.

Mas países de tradição católica e ibérica como o Brasil gostam mesmo de falar as coisas de maneira transversa, ou pela metade. “Passa lá em casa” é a frase síntese do brasileiro. Quem ouve isso sabe: o sentido é quase sempre o inverso –“não passe lá em casa”. É o “homem cordial” sobre o qual discorreu tão bem Sérgio Buarque de Holanda.

Ou seja, o governo brasileiro (de Dilma, Lula ou FHC, não importa), quer mandar na América Latina e na África. Mas quer continuar com a imagem de bonzinho na região, sem a pecha de imperialista.

Países anglo-saxões têm mais tradição de dizer o que pensam, para o bem e para o mal. Quando os EUA consideram que um país vive em democracia, fazem uma afirmação nesse sentido. E o mesmo vale para ditaduras ou democracias postiças.

O Brasil, não. Escuda-se sempre no (bom) princípio da autodeterminação dos povos e na política de não intervenção em assuntos internos de outras nações –embora isso nada tenha a ver com dizer o que se pensa.

O problema é que ambiguidade produz mais ambiguidade. Forma-se um círculo vicioso. No caso do Brasil, como justificar agora que houve um golpe constitucional-congressual no Paraguai se Brasília nada diz sobre a fragilidade da democracia em países como Venezuela, Equador, Bolívia e até Argentina?

Para não ser imperialista, o Brasil acaba não sendo nada. Fica com o pior dos mundos.

Até porque, na maioria dos vizinhos latino-americanos a imagem brasileira é péssima e igual há anos: o Brasil é na região o que os Estados Unidos são para o México e parte da América Central.

A anedota antiga de dois mexicanos sentados numa estrada na fronteira entre o seu país e os EUA logo poderá ser adaptada para Brasil e Paraguai.

É assim:

Mexicano 1: olhe, lá estão Califórnia, Novo México, Texas, Arizona…
Mexicano 2: sim, um dia tudo isso foi nosso, do México. Os gringos nos roubaram tudo.
Mexicano 1: sim, é verdade. E nos roubaram justamente a parte asfaltada.

 

A teoria do “dentro da lei”
A crise paraguaia remete é claro para o problema central nesses casos: Foi golpe? O Paraguai vive num regime que pode ser considerado uma democracia? A deposição de Lugo foi “dentro da lei”?

Para início de conversa, a escravidão no Brasil existiu, como se sabe, dentro da lei. Era legal ter escravos em casa.

Esse argumento da escravidão é um pouco extremo, mas nos obriga a um raciocínio mais sofisticado sobre o Paraguai. Deve-se pensar mais antes de afirmar de forma peremptória o mantra da vez: “o impeachment de Lugo foi dentro da lei”.

Esse mantra é atraente, pois não houve pessoas mortas nem presas.

O problema é que no século 21 não haverá mais (ou serão raríssimos) golpes de Estado no velho estilo das repúblicas das bananas.

Aqueles golpes com militares tradicionais, cheios de medalhas pregadas no peito e entrando no palácio presidencial para prender a todos só vai sobreviver em comédias sarcásticas no cinema, como no filme “O ditador”, de Sacha Baron Cohen (o Borat). Aqui, um trailer hilariante.

Os inimigos da democracia já assistiram a muitos filmes de Costa Gravas. Aprenderam como não se deve fazer. Agora, a “tendência” é fazer tudo “dentro da lei” (sic). Até os golpes de Estado ficaram politicamente corretos.

Foi o que se passou no Paraguai. Tudo “dentro da lei” (sic). Um processo que começou em terminou em apenas 36 horas.

A inépcia do Itamaraty
Outro aspecto relevante que emerge da atual crise paraguaia é a incapacidade operacional do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Dilma Rousseff só soube do problema político no país vizinho quando a Câmara dos Deputados do Paraguai já havia votado e aprovado o impeachment de Fernando Lugo.

Como é possível o serviço diplomático do maior país latino-americano não suprir sua presidente de informações sobre um iminente golpe de Estado numa nação que faz fronteira com o Brasil?

Quando Dilma soube, a vaca já havia ido para o brejo. Foi próximo do patético a tentativa de enviar chanceleres de vários países para tentar reverter o processo. O Senado do Paraguai não teria mais como encontrar um argumento político para recuar. Os senadores seriam massacrados por estarem se curvando à uma pressão externa.

Há hipóteses para essa inoperância do Itamaraty.

Uma delas é um fato: os diplomatas brasileiros são vendidos por um preço acima do seu valor real. A lenda de que o Ministério das Relações Exteriores é uma reserva de valor e qualidade é só isso mesmo –uma lenda. Há, por óbvio, exceções. Mas são apenas exceções.

O segundo ponto a ser considerado é o modelo gerencial escolhido por Dilma Rousseff. A presidente tem poucos assessores com liberdade para lhe dizer coisas desagradáveis, para interrompê-la ou trazer notícias ruins.

Os diplomatas já tem um comportamento pusilânime por natureza. São treinados para agradar. Com uma presidente da República adepta de um estilo duro no dia a dia, os itamaratecas tendem a ser ainda mais tímidos do que já são.

Mas nada justifica a omissão no caso do Paraguai. Tivesse tomado conhecimento do assunto antes, um país como o Brasil poderia ter ajudado a mediar a crise e evitar a deposição do presidente do país  vizinho –ajudado, é claro, dentro dos limites da legalidade e da diplomacia.

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Rio+20: faltou energia e faltaram líderes
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Fernando Rodrigues

conferência foi mais história de oportunidade perdida

quem deixou de ganhar foram Dilma Rousseff e o Brasil

 

RIO DE JANEIRO – Terminou ontem (22.jun.2012) a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. A imensa maioria dos participantes ficou insatisfeita.

O documento final só reafirma princípios criados há 20 anos, aqui mesmo no Rio, na Eco-92. Não houve avanços objetivos, como fixação de metas. Tudo ficou para 2014/2015, quando os países, em tese, dirão quais são seus planos.

O texto da Rio+20 não toca no mais importante: a designação compulsória de dinheiro para bancar a transição em direção a um mundo mais sustentável e amigável com a natureza.

O que deu errado? O vilão mais óbvio, diriam alguns, seria o sistema de multilateralismo, cuja pedra de toque é a participação de todos países membros da ONU na tomada de decisões. Afinal, houve risco até de não haver um documento final na Rio+20 –dado o alarido criado por inúmeras opiniões divergentes e por causa da crise financeira internacional.

Quem já assistiu ou participou de plenárias gigantescas como a Rio+20 sabe que o problema é outro. O relativo fracasso da conferência não se deveu ao multilateralismo –que saiu até fortalecido.

Houve dois fatores principais para as coisas terem andado mal.

Primeiro, o mais óbvio: a situação de incerteza (para dizer o mínimo) no cenário econômico internacional. Essa é sempre uma boa desculpa.

Mas não custa lembrar que em 1992 os EUA também patinavam, A antiga União Soviética tinha colapsado e uma penca de países no Leste Europeu estava falida. Ainda assim, o resultado da Eco-92 foi mais avançado –muito mais, quando se considera que naquela época o discurso da sustentabilidade estava só engatinhando.

O segundo fator que impediu mais arrojo na Rio+20 foi não haver líderes mundiais comprometidos e verdadeiramente interessados em abraçar a causa com a antecedência devida.

O multilateralismo não prescinde de líderes. Assim como a democracia. É por essa razão que países elegem seus presidentes. O mundo não é uma grande ágora (ou cúpula dos povos) no qual o assembleísmo possa resolver tudo.

Muitos poderiam (deveriam) ter assumido a missão. Por vários fatores conjunturais, Dilma Rousseff era a pessoa mais apropriada para ter incorporado a tarefa de liderar o processo da Rio+20.

O governo brasileiro sempre dirá que isso foi feito, que a presidente se interessou e que a alta diplomacia do país esteve envolvida de maneira profunda nos debates para elaboração do documento final. Mas foi pouco.

Nesses casos, o líder encarregado –ou que se autoimpõe tal missão– tem de rodar o mundo. Falar a cada semana com seus contrapartes, insistir, marcar posição. Esse é um processo que dura anos.

Dilma demonstrou nos últimos dias interesse verdadeiro pela Rio+20. Mas menos do que o necessário nos meses anteriores. É dela, portanto, uma parte considerável da responsabilidade pelo jeito melancólico que terminou a conferência.

A Rio+20 é mais uma história de oportunidade perdida para o Brasil. E para Dilma Rousseff. Não que o país e a presidente tenham saído como grandes derrotados. Ao contrário. Em certa medida, o esforço final da diplomacia brasileira e da presidente acabaram compensando –pelo menos, houve um documento final.

Só que perdeu-se a chance de colocar o Brasil de fato de maneira mais vistosa no topo da lista dos países interessados em desenvolvimento sustentável.

Fica para a próxima.

p.s.1: apesar desta visão crítica acima sobre o que se passou no Rio de Janeiro nesta semana (este Blog foi produzido a semana inteira dentro do Riocentro), é errado avaliar que a Rio+20 tenha sido um fracasso completo. Não foi. Para resumir, tratou-se apenas de uma conferência cujo resultado foi débil demais para o esforço dispendido. O custo-benefício não compensou.

p.s.2: e uma última observação a propósito do multilateralismo. O sistema continua vigoroso e sem concorrentes quando se fala da busca de uma governança global. Mas a ONU é um fracasso. A organização está caduca, obsoleta, sem capacidade de se renovar. Teve uma sucessão de secretários-gerais fracos. Ban Ki-moon é só o epítome dessa decadência –e ainda foi humilhado por Dilma Rousseff ao aceitar se retratar a respeito de uma crítica que fizera sobre o documento final da Rio+20.

O que fazer? Reformar a ONU. Vai sair a reforma? Não. O melhor então é evitar conferências controladas pela organização, especialista em deixar tudo mais burocrático e lento. A Rio+20 sendo comandada apenas por um grupo de países –preservando o multilateralismo– teria sido muito melhor.

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Paraguai, o teste de Dilma
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Fernando Rodrigues

RIO DE JANEIRO – Um pouco antes de o Senado do Paraguai avançar ontem com seu golpe chavista, dentro da lei (sic), e derrubar o presidente Fernando Lugo, aqui no Rio Dilma Rousseff ainda mantinha a compostura em público. Leia mais (para assinantes do UOL e da Folha).


Dilma tem momentos de “dilmandona” na Rio+20
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Fernando Rodrigues

A Rio+20 produziu um documento final anódino e deixou quase todos descontentes com o seu resultado final. Mas a presidente Dilma Rousseff teve ontem (21.jun.2012) uma 5ª feira recheada de atitudes para reforçar a personagem que criou para si própria: dura nas cobranças. Quase a “dilmandona” do programa de humor “Casseta & Planeta vai fundo”.

Eis 3 episódios protagonizados ontem por Dilma:

1) deu uma bronca no secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, obrigando-o a se humilhar em público ao recuar de uma declaração sobre a falta de ambição do documento final da Rio+20;

2) convocou e coordenou uma reunião da Unasul, da qual participaram outros 4 presidentes latino-americanos, para repelir o risco de queda do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, alvo de um processo de impeachment relâmpago; e

3) quebrou o protocolo e respondeu na hora à uma crítica da ex-primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland sobre direitos reprodutivos.

Tudo considerado, Dilma gastou energia enquanto esteve no Riocentro, o horrendo galpão no qual se realiza a Rio+20. Se tivesse se dedicado com esse afinco nos últimos 12 meses a montar um documento final melhor para a conferência, o encontro da ONU sobre desenvolvimento sustentável teria um desfecho menos melancólico.

 

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Unasul manda hoje missão para o Paraguai
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Fernando Rodrigues

ideia é tentar retardar (ou impedir) impeachment de Lugo

processo será votado em 24 horas pelo Senado paraguaio

A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) decidiu enviar uma missão hoje (21.jun.2012) de ministros de Relações Exteriores ao Paraguai para mediar a crise política naquele país

A decisão foi tomada no início da tarde em reunião da qual participaram 5 presidentes: Dilma Rousseff (Brasil). José Mujica (Uruguai), Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia) e Juan Manuel Santos (Colômbia). A missão de chanceleres sai hoje às 19h, do Rio de Janeiro.

A ideia é tentar falar com os representantes das instituições do Paraguai e consulta-los sobre a forma como está sendo conduzido o processo de impeachment contra o presidente daquele país, Fernando Lugo.

A missão de chanceleres precisa chegar ainda hoje ao Paraguai por uma razão bem objetiva: o rito de impeachment de Lugo será sumário no Senado do país (a Câmara já o aprovou). Os senadores começam hoje à noite a realizar 3 sessões em apenas 24 horas: uma de acusação, outra de defesa e a de votação propriamente.

Os chanceleres latinos devem desembarcar no Paraguai à noite e ir diretamente ao Senado do país.

O secretário-geral da Unasul, Alí Rodríguez, disse em entrevista no Riocentro, onde se realiza a Rio+20, que não há intenção de prejulgar o que se passa no Paraguai. Mas que “todo processo dessa ordem precisa garantir o direito de defesa” aos acusados.

Segundo Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais da presidente Dilma Rousseff, já houve 23 anúncios de intenção de impeachment contra Fernando Lugo –eleito em 2008. Esse pedido atual era mais um, mas acabou prosperando e pegou a todos de surpresa no Rio Janeiro. Lugo não havia comparecido à Rio+20.

Na reunião dos presidentes latino-americanos que estavam no Riocentro, o colega do Paraguai conversou com todos ao telefone –no sistema viva-voz– por cerca de 15 minutos.

Embora em público nenhum dos ministros latino-americanos admita, a impressão geral das autoridades reunidas no Riocentro é que há uma tentativa de golpe congressual contra Lugo.

“Parece que as coisas foram feitas com uma rapidez incrível”, disse Marco Aurélio Garcia. “Não parece ser um procedimento normal”.

O assessor para assuntos internacionais de Dilma disse ser relevante lembrar que o Paraguai faz parte da Unasul e do Mercosul. “Essas duas organizações têm cláusulas democráticas”, disse. Ou seja, países que rompem com a democracia não podem permanecer membros.

Fernando Lugo está sendo ameaçado de impeachment pelo “fraco desempenho de suas funções”, após o violento confronto gerado por uma ordem de despejo de trabalhadores sem-terra na última sexta-feira (15.jun.2012).

A proposta de impeachment foi aprovada no dia de hoje (21.jun.2012) por 73 votos a favor e um contra na Câmara dos Deputados. Agora, se o Senado também aprovar, o presidente Lugo será afastado.

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Querem interromper democracia, diz Lugo
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Fernando Rodrigues

O presidente do Paraguai, Fernado Lugo, ameaçado de impeachment, escreveu uma “mensagem à nação” e enviou imediatamente uma cópia para os chefes de Estado que estão reunidos na tarde de hoje (21.jun.2012) em um encontro da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) que acontece na Rio+20.

O Blog teve acesso à carta. Lugo diz que o processo de impeachment iniciado contra ele no Congresso paraguaio “pretende interromper um processo democrático histórico a apenas 9 meses de novas eleições gerais, frustrando o que de mais significativo tem a democracia.”

Acesse aqui a carta de Lugo em formato PDF (7,6 Mb). Abaixo, reprodução das duas páginas do documento.

O abertura do processo de impeachment contra Lugo foi aprovado hoje (21.jun.2012) pela Câmara dos Deputados do Paraguai e deve seguir também hoje para o Senado, segundo noticiou a “Folha”. As duas Casas são dominadas pela oposição ao presidente.

Fernando Lugo enfrenta acusações de “mau desempenho de suas funções”. Na semana passada, um confronto armado deixou 6 policiais e 11 camponeses mortos no interior do país.

No Brasil, a presidente Dilma Rousseff informou, por meio de sua assessoria, que acompanha com “apreensão” a situação política no Paraguai. Nenhum integrante do governo brasileiro diz oficialmente, mas o  sentimento é que o “impeachment” de Lugo teria o efeito de um golpe de Estado, segundo informou este Blog em outro post sobre o assunto.

 

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Dilma vê com “apreensão” situação do Paraguai
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Fernando Rodrigues

reunião dos países do Mercosul pode ser antecipada

A presidente Dilma Rousseff informou por meio de sua assessoria que acompanha com “apreensão” a situação política no Paraguai.

Até o momento, o governo brasileiro apenas soube da votação de um “impeachment” do presidente Fernando Lugo pela Câmara do país. A votação pelo Senado deve ocorrer hoje (21.jun.2012) à tarde.

Dilma não falou ela própria com Lugo, mas a diplomacia brasileira entrou em contato. O sentimento dentro do governo brasileiro, embora ainda ninguém do entorno da presidente fale em público, é que o “impeachment” de Lugo teria o efeito de um golpe de Estado –pela rapidez e forma com que está sendo conduzido. O Brasil deverá reagir condenando tal desfecho.

A Câmara do Paraguai aprovou a deposição de Lugo pelo “fraco desempenho de suas funções”. Ele está sendo acusado de inépcia por causa de um violento confronto durante a execução de uma ordem de despejo de trabalhadores sem-terra –que ocupavam uma fazenda particular. A operação provocou a morte de 11 trabalhadores e 6 agentes policiais.

Na semana que vem (dias 28 e 29) está programada uma reunião dos países integrantes do Mercosul em Mendoza, na Argentina. Por causa dessa ameaça de instabilidade institucional no Paraguai, a presidente Dilma cogita a possibilidade de antecipar o encontro.

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Hillary falará sobre energia limpa no Rio
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Fernando Rodrigues

secretária de Estado dos EUA representará Obama na Rio+20

Sem antecipar detalhes, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, anunciou que amanhã (22.jun.2012), sexta-feira, apresentará “um novo mecanismo de financiamento em energia limpa”.

Segundo informa o governo dos EUA, “o anúncio será feito juntamente com a presidente e CEO da Corporação para Investimentos Privados Internacionais (OPIC na sigla em inglês), Elizabeth Littlefield”.

Em teoria, esse “mecanismo tem por objetivo alavancar diferentes tipos de apoio financeiro dos EUA para proporcionar maiores níveis de investimento do setor privado em projetos de energia limpa, principalmente na África”.

Os Estados Unidos, maior economia do planeta, não enviaram seu presidente, Barack Obama, para a Rio+20. Hillary Clinton o representará apenas nesta sexta-feira (22.jun.2012), último dia do evento –e ficou, portanto, fora da foto oficial que foi produzida ontem (20.jun.2012).

Uma das razões para a não participação de Obama na RIO+20 é o processo eleitoral em curso nos EUA (ele é candidato à reeleição).

Como a economia norte-americana ainda está seriamente afetada pela crise econômica internacional, a participação de Obama em uma conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável só teria o efeito de subtrair votos. Se o presidente dos EUA cedesse aos apelos ecológicos, desagradaria aos conservadores. Se negasse comprometimento com esse tipo de causa, reforçaria a imagem de se afasta cada vez mais de suas propostas liberais do passado.

Ou seja, Obama na Rio+20 não teria para onde correr –ou, como dizem os norte-americanos, seria uma “catch-22 situation”.

Há 20 anos, na Eco-92, o então presidente dos EUA, George Bush, aceitou estar presente no Rio. Ele era à época candidato a mais um mandato na Casa Branca, como ocorre hoje com Obama. Outra similaridade: a economia era também um fator de grande relevância na eleição norte-americana.

Um diplomata de alto escalão dos EUA foi confrontado com essas atitudes diferentes, de Bush (há 20 anos, que veio ao Rio) e de Obama (que não quis nem saber de participar da Rio+20): “Pois é. George Bush veio ao Rio há 20 anos… E o que aconteceu com ele? Perdeu a eleição para Bill Clinton em novembro daquele ano”.

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