Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : outubro 2014

Dilma ou Aécio, ganhe quem for, terá vitória inédita
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Fernando Rodrigues

Se reeleita, presidente dará ao PT o período mais longo de poder democrático a um partido

Tucano, se vitorioso, será o primeiro a derrotar um presidente que tentava a reeleição no cargo

O cenário de disputa apertada entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), segundo pesquisas do Datafolha e do Ibope, indica que o segundo turno presidencial deste domingo (26.out.2014) está indefinido.

O leve favoritismo de Dilma não é suficiente para cravar um resultado. Isso significa que tanto a petista como o tucano estão prestes a conquistar –ou não– um fato inédito.

A vitória de Dilma Rousseff dará ao PT o poder central até 2018. Ou seja, a legenda ficará governando o Brasil por 16 anos consecutivos (começou em 2003, com Luiz Inácio Lula da Silva). Nunca um único partido ou grupo político na vida democrática brasileira ficou tanto tempo no comando.

A própria Dilma também aumentará o número de anos que uma mulher ficará no Palácio do Planalto. Ela foi a primeira a ser eleita, em 2010. Se vencer agora, poderá ficar 8 anos na Presidência, o que aumentará o ineditismo de sua conquista.

Já Aécio Neves, em caso de vitória, ficará conhecido com “o tucano que venceu o PT”. Vários candidatos a presidente pelo PSDB tentaram. Eram todos paulistas: José Serra (2002 e 2010) e Geraldo Alckmin (2006).

Se vencer, o mineiro Aécio Neves terá apresentado um desempenho superior ao dos colegas paulistas. Mas com um paradoxo, pois o PSDB continua soberano na política paulista, enquanto o candidato de Aécio ao governo de Minas Gerais (Pimenta da Veiga) perdeu a disputa para governador justamente para um adversário petista (Fernando Pimentel).

Aos 54 anos, Aécio também será, em caso de vitória, o primeiro presidente brasileiro cuja carreira política foi construída sobretudo num momento pós-ditadura militar. Representará uma troca geracional na política brasileira como nunca se viu em muitas décadas.

E haverá o recorde maior, em 1º de janeiro de 2015, quando tomará posse o presidente eleito pelo voto direto na 7ª eleição consecutiva. Esse fato nunca ocorreu antes no Brasil, como mostrado nesta coluna na Folha no início deste ano.

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Aécio e Dilma correm para conquistar parte dos 10% de “não-voto”
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Fernando Rodrigues

Candidatos tentam pescar apoios no grupo dos que não escolheram ainda em quem votar

Teorias sobre comportamento desse grupo do eleitorado não decifram o que pode acontecer no domingo

Os 10% de votos em branco, nulo ou indecisos na disputa para presidente que o Datafolha aferiu nesta 5ª feira (23.out.2014) se tornaram alvo das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) nesses últimos dias de campanha.

Com 6 pontos percentuais de diferença entre ambos, um naco desses indecisos ou o convencimento dos que pretendem anular ou votar em branco teria, em tese, potencial para assegurar a vitória de Dilma ou dar oxigênio para um “sprint” de Aécio.

Nesse cenário, prosperam teorias comparativas com outras eleições presidenciais sobre como se comporta no segundo turno o eleitorado que votou em branco, nulo ou se absteve no primeiro.

É temerário apostar em qualquer uma das teorias disponíveis. Por diversos motivos.

O primeiro refere-se ao tamanho da amostra, ainda muito modesta na jovem democracia brasileira. Esta é somente a quinta eleição presidencial pós-redemocratização com segundo turno.

Em segundo lugar, há eleições de natureza diversa nessa amostra, como a de 1989. Naquele ano, os brasileiros foram às urnas apenas para escolher seu presidente (foi uma “eleição solteira”) e o país estava em comoção pelo fim do regime militar.

A adoção da urna eletrônica, que alcançou todos os municípios somente a partir do ano de 2000, também mudou a relação do eleitor com o voto em branco e nulo. Antes, quem queria votar nulo fazia um rabisco qualquer, escrevia um palavrão ou o nome de um candidato fictício. Hoje, o voto nulo é um mistério para a maioria dos eleitores. O Tribunal Superior Eleitoral não ensina como o eleitor deve proceder se quiser votar nulo (digitando “99”, por exemplo, o número de um candidato que não existe).

Há quem defenda a tese de que a maioria dos votos nulos é resultado de erro de uma parcela do eleitorado que não soube teclar corretamente na urna eletrônica. Pouquíssimos seriam os eleitores que entram na cabine de votação decididos a votar nulo e que sabem como proceder nesse caso.

Feita essas ressalvas, há algumas conclusões que ajudam a revelar a dinâmica do chamado “não-voto” (a soma da abstenção e dos votos brancos e nulos) entre os dois turnos.

Em geral, a abstenção no segundo turno costuma ser maior que no primeiro. Isso ocorre desde 1989 no Brasil. Um dos motivos seria o menor número de políticos incentivando (ou até conduzindo) o eleitor a votar.

No primeiro turno, candidatos a deputado estadual ou federal exercem um incentivo direto para o eleitor comparecer à urna. No segundo, essa influência desaparece.

Outra dinâmica verificada é que os votos em branco e nulo para presidente costumam cair entre o primeiro e o segundo turno. Dois motivos explicariam o fenômeno: 1) o eleitor indeciso tem mais tempo para formar opinião sobre os candidatos e; 2) é menor a chance de o eleitor errar na hora de digitar os números na urna –pois há menos candidatos a escolher.

No primeiro turno, com 5 cargos em disputa, há eleitores que podem se confundir, errar ou desistir até chegar ao número presidente, o último voto a ser digitado na urna. No segundo turno, há apenas 1 ou 2 números a serem memorizados.

Em 2010, a queda numérica dos votos em branco e nulo não foi suficiente para compensar o aumento da abstenção. Naquele ano, o “não-voto” (soma de brancos, nulos e abstenções) cresceu 1,6 ponto percentual entre o primeiro e o segundo turnos.

Abaixo, a tabela com as taxas de abstenção e de votos em branco e nulo desde 1989. (clique na imagem para ampliar).

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Quando se observa de maneira mais detalhada o que se passa com a abstenção entre o primeiro e segundo turnos, nota-se que esse grupo de eleitores cresce mais nas unidades da Federação nas quais a disputa pelo governo foi decidida já no primeiro turno. A razão para esse fenômeno ocorrer é simples: menos candidatos, menor o interesse em votar.

Isso ocorreu nas eleições de 2010, mas com pouca magnitude. As 18 unidades da Federação que não tiveram segundo turno para governador registraram, em média, aumento de 4,3 pontos percentuais na taxa de abstenção. Nas 9 unidades da Federação onde houve segundo turno da disputa estadual, a abstenção cresceu 3,9 pontos percentuais. Diferença de 0,4 ponto percentual.

No Estado de São Paulo, com eleição estadual definida no primeiro turno, o feriado do dia do servidor público, comemorado na 3ª feira (28.out.2014), foi adiado para 6ª feira (31.out.2014). Isso ajuda a evitar que os servidores emendem a data com o fim de semana de eleição –e aproveitem o feriado para viajar e deixem de votar. Mas beneficiará diretamente Aécio Neves (PSDB), que vence Dilma Rousseff (PT) no Estado? Difícil afirmar.

Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco também adiaram o feriado para 6ª feira. Os dois primeiros são governados por petistas e os dois últimos, por aliados de Aécio.

Nestas eleições há uma particularidade sobre os votos brancos e nulos que deve ser levada em conta, apontada pelo jornal “O Globo” nesta 5ª feira (23.out.2014).

Comparados os primeiros turnos de 2010 e 2014, houve uma migração geográfica desses votos, do Nordeste para regiões metropolitanas do Sudeste, onde eclodiram os principais protesto de junho de 2013.

Por fim, as taxas de abstenção não revelam necessariamente, de maneira exata, o número exato de pessoas não estão indo votar. Alguns eleitores cadastrados simplesmente não aparecem porque já morreram, mas o cartório não informou o óbito à Justiça Eleitoral. Outros se mudaram e não transferiram o título.

Essa imprecisão poderia ser mitigada pelo recadastramento constante dos eleitores, operação custosa e de logística complexa.

O Distrito Federal é um exemplo de como as taxas de abstenção podem cair após a atualização do cadastro. A capital federal fez neste ano o recadastramento de todos os seus eleitores, para incluí-los no sistema biométrico. A abstenção caiu de 15,4% no primeiro turno de 2010 para 11,7% no primeiro turno deste ano de 2014.

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Aécio precisa de “bala de prata” para inverter tendência das pesquisas
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Fernando Rodrigues

Neste momento, Dilma tornou-se a favorita para ficar mais 4 anos no Planalto

Escrever sobre o desfecho desta eleição presidencial foi temerário desde o início. Já houve quase de tudo e muitas reviravoltas. Por essa razão é necessário analisar com cautela as pesquisas sobre intenção de voto presidencial divulgadas por Datafolha e Ibope nesta quinta-feira (23.out.2014).

Feita a ressalva inicial, cabe então uma afirmação mais peremptória: só um fato de proporções inauditas, uma “bala de prata”, para reverter o quadro até domingo. Neste momento, Dilma Rousseff (PT) tornou-se a favorita para vencer a disputa e ficar mais 4 anos no Palácio do Planalto.

A petista tem 53% dos votos válidos no Datafolha, contra 47% de Aécio Neves (PSDB). No Ibope, os percentuais são 54% a 46%, respectivamente.

O tucano adotou o discurso clássico nessas horas, duvidando da exatidão das pesquisas. É sempre uma opção. Mais do que isso, uma estratégia necessária para que a tropa de militantes não desanime na última hora, o que seria fatal para Aécio.

O fato é que nem o analista mais crítico das pesquisas negará que o Datafolha mostrou claramente na última semana de campanha antes do 1º turno a virada que estava em curso, com Aécio passando Marina Silva (PSB). Aliás, no final, essas ondas de virada apenas se intensificam –e dificilmente refluem.

É isso o que deve ser observado: a tendência apontada pelos levantamentos de intenção de voto.

Tanto Datafolha como Ibope indicam que a tendência é clara: Dilma está alta; Aécio, em baixa.

Só uma bomba, uma “bala de prata”, como dizem os marqueteiros, para tirar a tendência dos eleitores do prumo. As duas campanhas vão usar todos os recursos disponíveis. Há o debate na TV Globo na noite de sexta-feira (24.out.2014). No 1º turno, esse encontro global teve impacto positivo para Aécio Neves –mas naquela época ele já estava em alta, não em queda.

Vale registrar também que as reviravoltas anteriores ocorreram ao longo de duas ou três semanas. Só que a eleição é domingo. O tempo é curtíssimo para difundir uma nova ideia, esperar que os eleitores processem o fato e mudem de opinião.

Em suma, impossível é claro que não é. Mas parece ter ficado muito difícil a vitória de Aécio e do PSDB no domingo. As urnas darão a resposta no domingo (26.out.2014), às 20h, quando saem os primeiros relatórios da votação.

A seguir, os gráficos divulgados, pela ordem, por Datafolha e Ibope sobre as suas pesquisas mais recentes:

Datafolha-23out2014

Ibope-23out2014

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Institutos Datafolha e Ibope divulgam mais 2 pesquisas cada um nesta semana
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Fernando Rodrigues

Datafolha mostrará também intenção de votos para presidente nos principais Estados

Datafolha-Ibope-logos

Os institutos de pesquisa Datafolha e Ibope divulgam mais duas pesquisas de intenção de voto presidencial cada um até sábado.

Hoje (23.out.2014), Datafolha e Ibope finalizam as suas penúltimas pesquisas. O Ibope deve divulgar os seus dados às 18h. No caso do Datafolha, o instituto ainda não informou o horário exato da publicação.

A novidade na pesquisa Datafolha é que o campo será ampliado para que o número maior de entrevistados permita uma leitura detalhada da intenção de voto para presidente em alguns Estados com mais eleitores, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

A partir do Datafolha desta quinta-feira (23.out.2014) será possível saber, por exemplo, se Aécio Neves (PSDB) conseguiu (ou não) reverter sua situação de desvantagem para Dilma Rousseff (PT) em Minas Gerais. O tucano perdeu para a petista em seu Estado natal no 1º turno.

As últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope serão divulgadas no sábado (25.out.2014), véspera do 2º turno. Desta vez, o Datafolha vai concentrar mais entrevistas no próprio sábado –para tentar minimizar eventuais distorções. No 1º turno (5.out.2014), o instituto havia realizado a maioria das entrevistas na sexta-feira e só uma parte menor no sábado –isso pode ter impedido o levantamento de captar algumas mudanças da véspera da disputa.

A expectativa é que Datafolha e Ibope divulguem as suas pesquisas no final da tarde de sábado.

Por enquanto, como mostra o post abaixo, Dilma e Aécio estão empatados tecnicamente –e ambos têm um desempenho inédito nesta fase da campanha: o tucano é o candidato mais bem colocado de seu partido à véspera do 2º turno; a petista é a pior candidata da legenda desde 2002.

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Aécio é o tucano mais bem colocado nesta fase num 2° turno presidencial
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Fernando Rodrigues

Candidatos do PSDB crescem nas urnas desde 2002

Dilma tem o pior desempenho petista neste período da campanha

Há incerteza sobre a capacidade de Aécio Neves ser eleito presidente da República no domingo (26.out.2014), pois a disputa está muito apertada. Ainda assim, ele é o candidato do PSDB que registra nesta fase do 2º turno o melhor desempenho na comparação com todos os outros tucanos desde as eleições de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou a era petista no Palácio do Planalto.

Aécio tem 48% das intenções de votos válidos, segundo pesquisa Datafolha realizada na 3ª feira (21.out.2014). A taxa é superior à obtida nesta fase da campanha por José Serra em 2002 (tinha 34%), Geraldo Alckmin em 2006 (com 39%) e Serra novamente em 2010 (44%).

Eis os dados:

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Como se observa, a comparação dos números das 4 eleições mostra viés positivo do desempenho tucano não só na intenção de voto na última semana de campanha do segundo turno, mas também no desfecho da eleição.

Os resultados obtidos nas urnas pelos tucanos têm crescido a cada disputa desde 2002. Serra recebeu 38,7% dos votos válidos há 12 anos. Alckmin pontuou 39,2% em 2006. E Serra, em 2010, chegou a 43,9%, como mostra a tabela acima.

A trajetória histórica dos tucanos nas últimas 3 corridas presidenciais revela uma lenta e paulatina reorganização das forças opositoras ao PT desde que Lula venceu pela primeira vez.

PETISMO COM DILMA
Do lado oposto, há um encolhimento do poder eleitoral petista. A prova está nas pesquisas desta última semana de campanha do segundo turno e no resultado das urnas.

Em 2002, nesta época da disputa, Lula tinha 66% das intenções de votos válidos. Em 2006, a taxa era de 61%. Dilma, em 2010, registrava 56%, Neste ano, segundo a última pesquisa Datafolha, ela pontua 52%.

O desempenho nas urnas de Lula e de Dilma também vem caindo, de forma lenta. Quando foi eleito pela primeira vez, em 2002, Lula recebeu 61,3% dos votos válidos no segundo turno. Em 2006, reelegeu-se com 60,8%. Dilma, em 2010, venceu a eleição com 56,1% dos votos válidos.

PESQUISAS ELEITORAIS
Vale registrar que, nas 2 últimas eleições, o resultado das urnas foi muito semelhante ao apurado pelas pesquisas 5 dias antes. Lula tinha 61% das intenções de voto em 2006, nesta época da disputa, e venceu com 60,8%. Em 2010, Dilma tinha 56% das intenções de voto e, nas urnas, obteve 56,1%.

No período comparado, 2002 foi o único ano em que houve mudanças na semana final da disputa. Lula tinha 66% das intenções de voto e, 4 dias depois, obteve 61,3% nas urnas –queda de quase 5 pontos percentuais. À época, sua larga vantagem sobre Serra, superior a 30 pontos percentuais, permitia esse tipo de oscilação sem oferecer riscos. Não é o caso da disputa atual.

Esta eleição de 2014 é a mais acirrada desde a de 1989, quando Fernando Collor (então candidato pelo PRN e hoje senador pelo PTB de Alagoas) venceu Lula.

Ao longo do segundo turno, Aécio superou Dilma nos 2 primeiros levantamentos do Datafolha (51% a 49% em 8-9.out e 14-15.out) e foi ultrapassado numericamente pela petista nos 2 últimos estudos de intenção de voto (48% a 52% em 20.out e 21.out). As 4 pesquisas, contudo, registraram empate técnico, dentro da margem de erro dos levantamentos.

Uma curiosidade sobre a trajetória de Aécio é que seu desempenho só deixou de ser sofrível em meados de setembro. Durante quase toda a campanha, o tucano teve taxas de intenção de voto que prenunciavam um grande fracasso. Por várias vezes, ele foi nas pesquisas o pior candidato do PSDB a presidente num determinado período da disputa –como registrou o Blog, por exemplo, em 4.jul.2014.

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Dilma e Aécio têm hoje percentuais iguais aos de Collor e Lula em 1989
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Fernando Rodrigues

Resultados no Datafolha a uma semana do 2º turno são idênticos nas disputas de 2014 e de 1989

Diferenças se dão nas regiões do país, pois agora o PT mudou seus redutos para regiões menos ricas

O Brasil pós-redemocratização conclui no domingo (26.out.2014) sua sétima eleição presidencial. Será a quinta disputada até o 2º turno.

A comparação dos percentuais de intenção de voto a uma semana do 2º turno indica que a eleição deste ano de 2014 tem uma grande coincidência –numérica, pelo menos– com a de 1989.

Em 1989, na primeira disputa presidencial direta no Brasil pós-ditadura militar (1964-1985), Fernando Collor (então candidato pelo PRN e hoje senador pelo PTB de Alagoas) registrava 52% de intenções de votos válidos em pesquisa Datafolha realizada a uma semana da disputa. Seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pontuava 48%.

Essa pesquisa de 1989 foi realizada pelo Datafolha em 8 de dezembro daquele ano, a 9 dias do segundo turno. É que naquela época as disputas eram em datas diferentes das atuais.

Essas taxas de intenção de voto de 1989 são exatamente as mesmas que têm hoje Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB): 52% X 48% dos votos válidos, de acordo com o Datafolha de 2ª feira (20.out.2014).

Em 1989, ao longo da última semana do segundo turno, Collor cresceu um pouco e venceu com 53,03% dos votos válidos. Lula marcou 46,97% no dia da eleição e perdeu. O país, como se dizia à época, estava rachado ao meio. Como parece ser o cenário de hoje.

REGIÕES
As coincidências entre 1989 e 2014 terminam quando são analisadas as diferentes regiões do país.

Em 1989, a uma semana do pleito, Lula vencia Collor no Sudeste por 54% a 46% das intenções de votos válidos e perdia no Nordeste, de 45% a 55%. Hoje a situação é inversa para a petista Dilma Rousseff. Ela ganha de Aécio Neves (PSDB) no Nordeste de 70% a 30% e perde no Sudeste, de 44% a 56%.

Naquela época, parte da elite intelectual carioca e paulistana apoiava o candidato petista. Era “cool” votar no PT quando a legenda exalava um tom novidadeiro e parecia imune a desvios éticos ou corrupção. Por outro lado, o voto do Nordeste era mais ligado aos antigos coronéis locais, todos ligados à candidatura de Collor.

Agora, 25 anos depois, o PT passa calor para conseguir votos da população urbana do Sudeste, insatisfeita com a sequência de escândalos de desvios de verba e a péssima qualidade dos serviços públicos. A imagem do petismo de hoje guarda poucas semelhanças com a de 1989.

Já no Nordeste, beneficiado por políticas sociais bem-sucedidas do governo petista (o Bolsa Família, por exemplo), o voto em Dilma significa a continuidade de um projeto que reduziu a miséria extrema.

CURIOSIDADES
A disputa de 2º turno de 2014 é a primeira em que o candidato a presidente pelo PT, a uma semana do pleito, perde para seu adversário no Sudeste. Lula nesta época estava à frente de Collor, em 1989, de José Serra (PSDB), em 2002, e de Geraldo Alckmin (PSDB), em 2006. A própria Dilma também vencia Serra em 2010. Os dados estão na tabela a seguir (clique na imagem para ampliar):

2014-repete-1989-vale-este

Em 1994 e 1998, Lula nem chegou a ir ao 2º turno. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) saiu-se vitorioso em turno único.

O Sul é a região do país onde o PT historicamente vai pior. Lula, a uma semana da eleição, vencia ali apenas em 2002. Nas outras oportunidades em que houve 2º turno, o candidato do PT cativava nesta época a minoria dos moradores de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Nota-se também que o PT mantém desde 2002 a mesma média de intenção de votos no Nordeste. Em 2002 e 2010, o percentual a esta altura da disputa era o mesmo do aferido pela última pesquisa Datafolha: 70% para o candidato petista e 30% para o nome tucano.

Não é possível comparar o atual desempenho eleitoral de Dilma Rousseff e de Aécio Neves nas regiões Centro-Oeste e Norte, pois até 2010 o Datafolha contabilizava os votos dessas 2 regiões em um mesmo lote.

CORREÇÃO: a tabela inserida no post foi corrigida às 14h30 de 21.out.2014. O partido de Fernando Collor era o PRN (e não o PRTB como estava inicialmente anotado no quadro). No texto, o PRN já estava mencionado como o partido de Collor em 1989.

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Facebook será o grande campo de batalha virtual entre Dilma e Aécio
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Fernando Rodrigues

Faltam poucos dias para o Brasil definir quem será seu presidente nos próximos 4 anos. No mundo das redes sociais na internet, o grande campo de batalha será, de longe, o Facebook. O “Fêice”, como se diz no Brasil.

A rede social criada por Mark Zuckerberg tem 96 milhões de usuários no Brasil. Desses, 47% estão concentrados em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. É nesse bioma cibernético do “Fêice” que as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB) terão conquistar apoios –ou disseminar ataques, o que é mais provável pela natureza da internet.

Para Manoel Fernandes, sócio e diretor executivo da consultoria Bites, “o Facebook vai concentrar os principais debates da semana, desmentidos e boatos”.

Aécio está na liderança no Facebook. Na segunda-feira (20.out.2014), o tucano atingiu 3.025.000 fãs (crescimento de 18% em uma semana). Já Dilma reúne 1.693.606 fã, uma variação de 15% na semana.

O Twitter, rede social preferida de jornalistas, é muito menor do que o Facebook. O Twitter tem estimados 22 milhões de usuários no Brasil. Dilma cresceu 7,7% na semana no microblog e foi para 2,9 milhões de seguidores. Aécio variou 21% e chegou a 185.418 seguidores.

Manoel Fernandes acha que, “diante dessas circunstâncias, é natural que Aécio concentre esforços no Facebook. O Twitter para Dilma será muito importante no debate da TV Globo em função da característica de essa rede social se transformar em uma ‘segunda tela’ para muitos telespectadores”.

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Alckmin ataca ONU por crítica sobre falta de água em São Paulo
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Bruno Lupion

Tucano questionou conhecimento e liderança da organização para tratar de mudanças climáticas

Em ofício, governador cobra de Ban Ki-moon que corrija declarações da relatora especial para água e saneamento

Governador paulista reclamou de críticas feitas no meio do processo eleitoral

Racionamento de água em SP pauta última semana da campanha presidencial

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, enviou um duro ofício ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, cobrando que a entidade corrija suas conclusões sobre a crise da água no Estado.

O estopim foi a visita da portuguesa Catarina de Albuquerque, relatora especial para água e saneamento, a São Paulo, em agosto último. Ela afirmou que a crise era responsabilidade do governo estadual e apontou falta de investimentos.

O ofício de Alckmin obtido pelo Blog foi enviado a Ban Ki-moon em 9.set.2014 e ainda não havia sido divulgado. O tucano usa a proximidade da Cúpula do Clima, promovida pela ONU em Nova York em 23.set.2014, para fustigar as conclusões de Catarina. Alckmin diz que a relatora incorreu em “erros factuais” e fez uso político do tema ao conceder entrevistas às vésperas da eleição estadual, violando o código de conduta da ONU.

Ao concluir o texto, o governador adota um tom acima do usual em comunicações diplomáticas. Ele afirma que se a ONU não retificar as informações prestadas por Catarina de Albuquerque, ele ficaria em dúvida sobre a habilidade da organização para realizar a Cúpula do Clima e demonstrar “propriedade, criatividade e liderança” sobre o tema. Dá a entender que não participaria do evento que estava prestes a ser realizado.

Abaixo, reprodução de trecho do ofício, em inglês (clique na imagem para ler a íntegra).

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Uma semana antes, o secretário da Casa Civil de Alckmin, Saulo de Castro, também enviara uma carta ao Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, reclamando das conclusões da relatora.

Catarina de Albuquerque é professora visitante das universidades de Braga e Coimbra, em Portugal. Os relatores especiais da ONU estão vinculados ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, mas têm atuação independente. São nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para mandatos de 3 anos, renováveis por igual período.

Quatro pontos da visita de Catarina incomodaram o Palácio dos Bandeirantes: 1) o momento político de disputa eleitoral; 2) a visita ter sido feita em caráter não oficial; 3) o fato de Catarina não ter procurado a Sabesp (a última vez que ela havia feito isso fora em dezembro de 2013); e 4) as acusações de falta de investimento em obras de captação de água.

Alckmin também questionou afirmação feita por Catarina em entrevista de que as perdas de água estavam “quase em 40%” quando, no Estado de São Paulo, a perda é de 31,2%. Ocorre que o jornal já havia publicado uma correção no dia seguinte, informando que, por erro de edição, a entrevista deu a entender que a taxa se referia à média paulista, quando na realidade se referia à média do país.

O governo paulista, por meio de nota, informou que Alckmin de fato não compareceu à Cúpula do Clima, em Nova York, mas sua ausência não teve relação com o entrevero sobre a crise hídrica. Na data da cúpula, Alckmin comandou solenidade no Palácio dos Bandeirantes para assinar um financiamento de R$ 2,3 bilhões para obras em rodovias estaduais. O governo também informa que ainda não recebeu uma resposta oficial de Ban Ki-moon ao ofício.

Eleição presidencial
A crise no fornecimento de água em São Paulo chegou ao epicentro da campanha presidencial na última semana de campanha. A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, dedicou metade dos 10 minutos de sua propaganda eleitoral de domingo (19.out.2014) ao tema. Em resposta, Aécio Neves, candidato do PSDB ao Planalto, disse na 2ª feira (20.out.2014) que o governo federal não contribuiu para solucionar a questão.

Dilma e sua equipe tentam tirar proveito político da crise. Após o primeiro turno das eleições, as emissoras de TV começaram a cobrir o assunto com mais intensidade e moradores de todos os Estados agora acompanham a falta de água em São Paulo.

No programa de domingo, Dilma não cita Alckmin diretamente, mas diz se solidarizar com os paulistas e critica o “modelo de gestão tucana” que o “adversário [Aécio] defende e representa”.

COMPLEMENTO

1) Governo de SP manda mensagem: o Blog recebeu na tarde de 21.out.2014 um comunicado do governo do Estado de São Paulo, que está reproduzido a seguir, na íntegra:

“O governador Geraldo Alckmin nunca ‘atacou’ a ONU, como afirma incorreta e irresponsavelmente a reportagem do UOL. O ofício mencionado, na verdade, é uma resposta do governador a um convite feito pelo secretário-geral Ban Ki-moon para participar da Cúpula do Clima, que aconteceria em setembro”.

“O governador apenas aproveitou a oportunidade para indagar se a funcionária da organização, ao comentar a crise hídrica, falava em nome próprio ou em nome das Nações Unidas. O questionamento, ainda não foi respondido, decorre do fato de que vários veículos de comunicação, em especial o UOL, descreveram as declarações da funcionária como sendo posição da ONU. Tivesse o UOL a mesma curiosidade de outros órgãos de imprensa, teria notado que a viagem, em plena campanha eleitoral, foi organizada por um militante do PT, Silvio Marques, ex-presidente do diretório municipal de Campinas”.

“O Governo do Estado de São Paulo tem como princípio apoiar as missões oficiais de relatores e comissões da ONU, atendendo a todos os pedidos de reuniões e de esclarecimentos. Registre-se que, em sua visita a São Paulo, a relatora não solicitou ao Governo do Estado nenhum encontro ou pedido de informação. E que, ainda que em missões não oficiais de seus representantes e funcionários, a ONU prevê, em seu código de conduta, a obediência aos princípios da imparcialidade, verdade e equilíbrio, entre outros”.

 “Assessoria de Imprensa do Governo de São Paulo”.

2) O Blog responde:

Todas as informações do post acima estão mantidas. Não há erro factual apontado pela assessoria do governador de São Paulo, que foi avisado com antecedência sobre a publicação e preferiu apenas dar uma resposta inicial lacônica;

Sobre a discordância a respeito de ter atacado a ONU em seu ofício, o Blog recomenda ao governador a leitura do último parágrafo do documento do qual ele é signatário. Ali está contido um ataque sobre a capacidade da ONU de organizar a Cúpula do Clima e uma ameaça de não participar do evento (o que, de fato, ocorreu). É curioso o governador negar o que ele próprio escreveu e, por meio de sua assessoria de imprensa, responder atacando o maior portal de notícias do Brasil, o UOL, a quem classifica de irresponsável. Ao fazer tal acusação, o governador de São Paulo atinge também a milhões de brasileiros que se informam diariamente pelo UOL e dão ao portal notória credibilidade;

Por fim, sobre a visita da comissária da ONU ao Brasil ter sido, como diz a nota da assessoria de imprensa, “organizada por um militante do PT, Silvio Marques, ex-presidente do diretório municipal de Campinas”, o Blog estranha que o governador não tenha mencionado esse tema na sua carta endereçada à ONU.

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Vantagem numérica no Datafolha, mesmo mínima, incendiará militância petista
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Fernando Rodrigues

Pesquisa mostra Dilma com 52% e Aécio com 48%

Está em jogo qual campanha negativa será mais eficaz

Petista tenta agora usar crise hídrica de SP contra tucano

Datafolha-20out2014

O cruzamento das curvas e a inversão de posições entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) na pesquisa Datafolha desta segunda-feira (20.out.2014) deve incendiar a militância petista nesta reta final de campanha.

Segundo o Datafolha, numa pesquisa com 4.389 eleitores e realizada integralmente nesta segunda-feira, Dilma aparece com 52% dos votos válidos contra 48% de Aécio. Nas duas pesquisas anteriores, o tucano liderava numericamente com 51% contra 49% da petista.

É evidente que do ponto de vista estatístico nada mudou. Ambos, Dilma e Aécio, continuam empatados no limite da margem de erro –que é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Mas nessas horas, numa eleição que será aparentemente decidida “nos detalhes”, como dizem os técnicos de futebol, o aspecto psicológico vale muito. O PT é tido como o partido com a militância mais aguerrida em retas finais de campanha. Os pontinhos a mais que Dilma recebeu hoje no Datafolha serão vitais para motivar os ativistas pró-PT.

É claro que do ponto de vista estritamente objetivo é necessário olhar com cautela esses percentuais do Datafolha. Sobretudo numa campanha com tantas reviravoltas como esta de 2014. Nada impede que ocorram mais inversões de posição até o dia da eleição, domingo, 26.out.2014.

O certo ainda é apenas registrar que o desfecho da corrida presidencial continua indefinido.

Feitas as ressalvas, é preciso também mencionar dois fatos a serem considerados.

Primeiro, a eficácia da campanha negativa de parte a parte.

Aécio falou basicamente em corrupção, Petrobras e incompetência gerencial da atual administração federal. A não ser um brasileiro que tenha chegado agora de Marte, todos já conheciam as histórias de corrupção envolvendo o PT e a Petrobras.

Já Dilma introduziu de maneira viral para o grande público casos considerados novos para parte do eleitorado. Por exemplo o episódio em que Aécio foi barrado por uma blitz, no Rio, e se recusou a fazer o teste do bafômetro –além de estar dirigindo sem carteira de motorista. A petista também enfatizou ao máximo a imagem de elitista do PSDB/Aécio, que não se preocupa com os mais pobres.

Quem foi mais eficaz na campanha negativa? Aécio ou Dilma?

O outro aspecto a ser mencionado a respeito dos últimos dias é o destaque dado à crise hídrica de São Paulo. As emissoras de TV que durante o primeiro turno tratavam com cuidado o assunto (temendo serem partidárias, pois ainda havia uma disputa pelo governo paulista), agora rasgaram a fantasia.

Nesta segunda-feira, 20.out.2014, o “Jornal Nacional” da TV Globo fez longa reportagem sobre a falta de água entre os paulistas. Ontem, 19.out.2014, o programa “Fantástico” também martelou sobre o tema. E todas as outras TVs estão indo na mesma linha.

Para complicar, o Brasil e o Estado de São Paulo enfrentaram um calor incomum nos últimos dias. A vida de milhões de paulistas se degradou. E todos estão se vendo agora –diferentemente do que ocorria no primeiro turno– nos telejornais noturnos.

Dilma Rousseff e sua equipe de marketing estão tentando surfar nessa onda desde domingo, quando o programa da petista falou em tom grave para se solidarizar com os paulistas que sofrem uma situação “muito triste e preocupante”.

De maneira esperta, Dilma não cita o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), que foi reeleito no primeiro turno. A petista só fala no “modelo de gestão tucana” que o “adversário [Aécio] defende e representa”.

Dilma sabe que é quase impossível ganhar em São Paulo. Mas sabe também que pode obter alguns pontos extras ali para não perder feio, como o Brasil foi derrotado para a Alemanha na Copa do Mundo de Futebol. De quebra, a petista sabe que todos os eleitores, de norte a sul, estão assistindo às reportagens da TV Globo e de outras emissoras sobre a falta de água em São Paulo. Vai tentar se aproveitar disso.

Vai dar certo? As próximas pesquisas, e, mais importante, as urnas dirão.

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Eros Grau, ex-ministro do STF indicado por Lula, assina manifesto pró-Aécio
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Fernando Rodrigues

Advogado afirma que será um “soldado” do tucano se ele for eleito

Texto também é subscrito por ex-simpatizantes do PT

Ruy Baron/Folhapress

O advogado Eros Grau (foto), ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, assinou um manifesto de apoio à eleição do tucano Aécio Neves à Presidência da República.

Professor aposentado da Faculdade de Direito da USP, Eros Grau tornou-se uma referência para a esquerda no pensamento jurídico após a redemocratização. Ele foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro e chegou a ser preso na ditadura. Em junho de 2004, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva o nomeou para uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

“É uma coisa muito engraçada. A maioria das pessoas acha que pelo fato de o presidente Lula ter indicado a mim, ao Joaquim Barbosa e ao Cezar Peluso ao Supremo, nós seríamos ligado ao PT. Mas nenhum de nós é. Eu sempre fui ligado ao PSDB e minha origem lá atrás é sabida”, diz Eros.

Aos 74 anos, ele afirma que pretende colaborar com o governo Aécio se o tucano for eleito. “Sem nenhum cargo, porque não tenho idade, mas certamente serei um soldado”, diz. Ele exalta sua proximidade histórica com o senador Aloysio Nunes Ferreira, candidato a vice de Aécio e também ex-militante do Partido Comunista Brasileiro.

O manifesto intitulado “Esquerda democrática com Aécio Neves” foi redigido pelo sociólogo Marco Aurélio Nogueira, professor da Universidade Estadual Paulista, segundo Eros Grau. O texto afirma que os signatários se decepcionaram com o PT no primeiro turno. A campanha petista, diz a carta, “caluniou, difamou e agrediu moralmente a candidatura de Marina Silva” e “atropelou regras procedimentais e parâmetros éticos preciosos para a esquerda e a democracia”.

Os signatários defendem a manutenção e ampliação do Bolsa Família, do Mais Médicos e do Minha Casa, Minha Vida, programas sociais que se tornaram vitrine da administração petista, e criticam a polarização entre pobres e ricos ao longo da campanha. “Não aceitamos que se aprisione a sociedade num maniqueísmo “povo” x “elite”, que leva os cidadãos a simplificar o que não pode ser simplificado”, diz o manifesto, subscrito por 772 pessoas até a manhã desta 2ª feira (20.out.2014).

Também assinam o texto Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública no governo Lula, o ator Marcos Palmeira, o economista José Eli da Veiga e o cientista político José Álvaro Moises, entre outros.

Eros Grau foi ministro do Supremo por 6 anos e deixou a Corte em agosto de 2010. Sua decisão de maior impacto político ocorreu no julgamento de uma ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil que pretendia revogar a Lei da Anistia. O objetivo da ação era abrir caminho para punir criminalmente agentes do Estado envolvidos em torturas e mortes durante o regime militar. Grau era relator da ação, votou pela manutenção da Lei da Anistia e seu entendimento foi acompanhado pela maioria dos ministros, derrubando a iniciativa da OAB.

(Bruno Lupion)

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