PDT quer me expulsar aos poucos, diz Cristovam Buarque
Fernando Rodrigues
Entrada de Ciro Gomes no partido desagradou ala anti-Dilma
Senador por Brasília diz sofrer pressão do presidente Carlos Lupi
Lupi nega a acusação: “Ele que está costeando o alambrado”
Maior parte da bancada no Senado está insatisfeita com a legenda
Senadores do PDT estão irritados com a posição do partido contra o impeachment de Dilma Rousseff e contra a provável escolha de Ciro Gomes (CE) como candidato presidencial pela sigla em 2018.
“Sinto que [Carlos] Lupi está me expulsando aos poucos da legenda”, diz o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). “É como se ele dissesse, sem essas palavras: vai embora, cara. Aqui não é o seu lugar”, completa. Lupi é o presidente nacional do PDT.
Ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes filiou-se ao PDT em 16.set.2015 em um acerto feito diretamente com Lupi. A partir daí, Ciro passou a dar uma série de entrevistas em que condena o impeachment de Dilma. Ele falou ao Blog em 11.dez.2015, quando recomendou a Dilma que “endurecesse” com o PMDB.
A apuração é do repórter do UOL André Shalders.
Cristovam está insatisfeito com a entrada de Ciro Gomes no partido.
O senador por Brasília diz, entretanto, que não pretende deixar o PDT por enquanto. A posição dele tende a ser seguida pela ala “independente” dos senadores da agremiação.
Uma das reclamações de Cristovam é que foi excluído das convenções estaduais do PDT. A última foi realizada em Roraima, no domingo (20.dez). “Virei praticamente um marginal dentro do partido”, diz.
O PDT tem 6 senadores. Desses, 4 estão incomodados com a gestão de Lupi. Ressentem-se do fato do partido ter fechado questão contra o impeachment de Dilma e de parte da legenda manter cargos no governo federal.
O PDT reúne o Diretório Nacional em 22.jan para fechar o posicionamento sobre o impeachment.
“ELE ESTÁ COSTEANDO O ALAMBRADO”, DIZ LUPI
Carlos Lupi reagiu às críticas de Cristovam Buarque. Para o presidente do PDT e ex-ministro do Trabalho no governo Lula, foi Cristovam quem escolheu a rota de rompimento com o partido.
“É como dizia o velho Brizola: ele está ‘costeando o alambrado’. É como o boi que fica dando de costas na cerca, para tentar derrubar e atravessar para o lado de lá”, respondeu Lupi.
Lupi diz ainda que as convenções são de responsabilidade das seções estaduais do PDT, e que cabe a Cristovam se perguntar o porquê de não ter sido convidado.
“Quem organiza são os Estados. Em Roraima mesmo, quem organizou foi o colega dele no Senado, o Telmário (Mota). Ele devia perguntar a essas pessoas o porquê dele não ter sido chamado”, diz Lupi. Ele lembra que apoiou Cristovam na disputa interna pela candidatura do partido à presidência, em 2006.
Lupi não esconde a preferência por Ciro. “O tempo agora é de alguém que tenha coragem para enfrentar a política econômica neoliberal, que estrangula o país”, disse.