Agora, Dilma diz que Marina vai reduzir Minha Casa, Minha Vida
Fernando Rodrigues
Comercial acusa candidata do PSB de querer reduzir “os subsídios dados pelos bancos públicos”
Cenas repetem “narrativa do medo”: financistas tramando contra pequenos produtores e programas sociais
O novo comercial da série petista que tenta desconstruir a imagem pública de Marina Silva acusa a candidata a presidente pelo PSB de querer “reduzir os subsídios dados pelos bancos públicos”.
Como nos dois comerciais anteriores de Dilma Rousseff na sua “campanha do medo” (um sobre autonomia do Banco Central e outro a respeito da exploração do pré-sal), o filme de hoje (17.set.2014) tem 30 segundos e uma lógica simples.
Primeiro, uma assertiva: “Marina tem dito que, se eleita, vai reduzir os subsídios dados pelos bancos públicos. Parece algo distante da vida da gente, né? Parece, mas não é…”
Em seguida, vem uma “explicação” em tom grave, com música incidental ajudando a criar um clima de medo e insegurança. No caso, pequenos produtores de morango trabalhando em um galpão começam a ver os produtos sumirem. O cenário é de desolação.
Além dos pequenos produtores afetados, diz o comercial, a política de Marina seria “um grande risco para programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida e o Prouni…”
E a conclusão, na voz de um locutor: “…É isso que você quer para o futuro do Brasil?”.
Eis a íntegra do comercial sobre subsídios a bancos públicos e como isso afetaria pequenos produtores e também programas maiores, como o Minha Casa, Minha Vida:
ANÁLISE
Esses comerciais de Dilma Rousseff estão funcionando? É difícil responder a essa pergunta com precisão. A resposta possível é que algum efeito existe, mas talvez não seja exatamente como esperavam a petista e seu marqueteiro, João Santana.
Por um lado, é inegável que nas últimas duas semanas Dilma Rousseff se segurou nas pesquisas de intenção de voto no 1º turno, sempre ficando numericamente à frente de Marina Silva –embora empatadas na margem de erro. Nas simulações de 2º turno, a petista também reduziu a distância que a separava da pessebista.
Essa reação de Dilma, ainda que tímida, coincidiu com a campanha negativa contra Marina. O PT prefere evitar e rejeita expressões como “discurso do medo” ou “desconstrução”. Dilma e sua equipe dizem que estão fazendo o debate político e apresentando aos eleitores argumentos úteis na hora do voto. Outro eufemismo usado pelos dilmistas é que estão trabalhando para “dessacralizar” a principal adversária.
O fato é que Dilma está se mantendo de maneira sólida acima dos 30% nas pesquisas e até demonstrou, em alguns levantamentos, uma leve recuperação. Também vale registrar que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) considerou legal a narrativa usada em um dos comerciais do PT (sobre o Banco Central) e essa decisão deve valer para os demais filmes da série.
Mas se os comerciais funcionam, porque Dilma só fica pouco acima dos 30%, aparentemente sem sair do lugar e sem conseguir alargar a vantagem sobre os adversários?
Aí entra a tese da eficácia limitada dos comerciais de João Santana. Para começar, a propaganda negativa sempre dá mais resultado quando ataca um predicado bem conhecido do político que está sendo alvo.
Exemplo: um candidato é visto como uma pessoa muito honesta e alguém descobre uma prova de que se trata de um ladrão e corrupto. Tal revelação vai ecoar de maneira forte nas mentes dos eleitores.
No caso de Marina Silva, os ataques dilmo-petistas são sobre aspectos que não estão no imaginário popular a respeito da candidata do PSB. Poucos eleitores relacionam Marina com Banco Central (aliás, a imensa maioria nem sabe o que é o BC), com pré-sal ou com “subsídios dados pelos bancos públicos”. Dessa forma, a propaganda de João Santana pode até causar um ruído, mas não um deslocamento de placas tectônicas no eleitorado.
E um comentário extra: quantos dos 142 milhões de eleitores brasileiros sabem definir o que são “subsídios dados pelos bancos públicos” (frase da propaganda de hoje)? Esse é outro problema dos comerciais petistas. Talvez sejam muito elaborados e tenham uma linguagem sofisticada que não esteja ao alcance da maioria dos eleitores.
A seguir, a íntegra do roteiro do comercial ao que se refere este post:
[cenário: homens e mulheres em trajes sociais discutem em torno de monitores, evocando um ambiente empresarial. Em uma das telas, um gráfico sobre o Minha Casa, Minha Vida].
Locutor: “Marina tem dito que, se eleita, vai reduzir os subsídios dados pelos bancos públicos. Parece algo distante da vida da gente, né? Parece, mas não é…”.
[música incidental de tom grave, quase fúnebre].
[corte para cena de uma pequena empresa com pessoas produzindo e embalando geleia de morango].
Locutor: “…Isso significaria menos financiamento para a agricultura familiar e para a indústria. E um grande risco para programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida e o Prouni…”.
[corte para os empresários demonstrando preocupação. Uma das telas exibe a foto de formatura de estudantes].
Locutor: “…Ou seja, milhões de brasileiros com menos acesso ao crédito, à educação e à casa própria…”.
[neste momento, os potes de geleia ficam vazios].
Locutor: “…É isso que você quer para o futuro do Brasil?”.
[câmera volta para a pequena empresa. A mesa fica vazia e os produtores ficam com expressão de espanto e tristeza].