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Arquivo : Itamaraty

Senador diz que embaixador “abandonou” comitiva brasileira em Caracas
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Fernando Rodrigues

Planalto mandou diplomata se afastar dos senadores, afirma José Medeiros

O senador José Medeiros (PPS-MT) afirma que o embaixador do Brasil na Venezuela, Rui Pereira, por ordem do governo brasileiro, abandonou a comitiva do Senado que viajou à Caracas nesta 5ª feira (18.jun.2015). Os senadores foram ao país vizinho prestar solidariedade aos membros da oposição venezuelana que estão presos.

“Fomos (..) deixados à própria sorte pelo governo brasileiro, que (…)  mandou que o embaixador nos abandonasse lá e deixou a comitiva inteira nas mãos dos delinquentes bem pagos e bem orientados pelo governo da Venezuela”, diz o senador.

Abaixo, assista ao vídeo no qual Medeiros faz a acusação:

O relato do senador destoa da nota oficial divulgada pelo Itamaraty na 5ª feira. A chancelaria brasileira afirma que o embaixador em Caracas acompanhou o “incidente”, “se manteve em contato telefônico com os senadores, retornou ao aeroporto e os despediu na partida de Caracas”.

Ao Blog, Medeiros afirmou que o embaixador Rui Pereira, cuja presença foi solicitada pelos senadores, teria dito à comitiva que “estava em outro lugar”. Mas, depois que a Câmara dos Deputados brasileira aprovou moção de repúdio ao incidente, reapareceu no aeroporto “em um passe de mágica” para se despedir da delegação.

Em outro vídeo, Medeiros afirma que a embaixada brasileira “não ajudou em nada a delegação brasileira”. “O que foi ofendido não foram os senadores que estiveram aqui, foi o Congresso Nacional, o Senado Federal e o povo venezuelano, vítima desse governo autoritário que está de plantão”, diz. Assista ao segundo vídeo abaixo:

Em nota, o Itamaraty afirmou serem “inaceitáveis” os “atos hostis” contra senadores brasileiros na Venezuela. O texto foi aprovado pelo Palácio do Planalto, depois que a presidente Dilma Rousseff conversou com o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores).

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Itamaraty diz que atos contra senadores na Venezuela são “inaceitáveis”
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Fernando Rodrigues

Brasil viu “atos hostis” e vai requerer “devidos esclarecimentos” por parte da Venezuela

O Itamaraty acaba de soltar uma nota oficial na noite desta quinta-feira (18.jun.2015) classificando como “inaceitáveis” os “atos hostis” contra senadores brasileiros na Venezuela no dia de hoje.

O texto foi aprovado pelo Palácio do Planalto, depois que a presidente Dilma Rousseff conversou com o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores).

Na nota, o Itamaraty diz que “à luz das tradicionais relações de amizade” do Brasil com a Venezuela, o “governo brasileiro solicitará ao governo venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido”.

Embora bem ponderada, a nota da diplomacia brasileira foi construída num tom que é raro nas relações recentes do país com a Venezuela. Em certa medida, a declaração oficial do Itamaraty confere uma certa vitória política à visita dos senadores brasileiros a Caracas nesta quinta-feira.

O que poderia ter se dado de maneira quase imperceptível acabou se transformando num evento de enorme repercussão midiática. Esses pedidos de esclarecimentos entre países, via diplomacia, quase nunca resultam em algo concreto.

Mas o objetivo dos senadores liderados pelos tucanos Aloysio Nunes Ferreira e Aécio Neves visava a chamar a atenção para a situação política da Venezuela. Essa meta foi plenamente atingida –e a nota do Itamaraty colaborou.

Eis a nota oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil a respeito da viagem de senadores brasileiros à Venezuela:

NOTA À IMPRENSA
“O Governo brasileiro lamenta os incidentes que afetaram a visita à Venezuela da Comissão Externa do Senado e prejudicaram o cumprimento da programação prevista naquele país. São inaceitáveis atos hostis de manifestantes contra parlamentares brasileiros”.

“O Governo brasileiro cedeu aeronave da FAB para o transporte dos Senadores e prestou apoio à missão precursora do Senado enviada na véspera a Caracas.

Por intermédio da Embaixada do Brasil, o Governo brasileiro solicitou e recebeu do Governo venezuelano a garantia de custódia policial para a delegação durante sua estada no país, o que foi feito”.

“O Embaixador do Brasil na Venezuela recebeu a Comissão na sua chegada ao aeroporto de Maiquetía, onde os Senadores e demais integrantes da delegação embarcaram em veículo proporcionado pela Embaixada, enquanto o Embaixador seguiu em seu próprio automóvel de retorno à Embaixada”.

“Ambos os veículos ficaram retidos no caminho devido a um grande congestionamento, segundo informações ocasionado pela transferência a Caracas, no mesmo momento, de cidadão venezuelano extraditado pelo Governo colombiano.

“O incidente foi seguido pelo Itamaraty por intermédio do Embaixador do Brasil, que todo o tempo se manteve em contato telefônico com os Senadores, retornou ao aeroporto e os despediu na partida de Caracas”.

“À luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países, o Governo brasileiro solicitará ao Governo venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido”.

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Senador boliviano é ameaçado de extradição e desiste de visitar Congresso
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Fernando Rodrigues

Pedro Ladeira/Folhapress - 30.ago.2013

Estava tudo marcado para que o senador boliviano Roger Pinto Molina visitasse hoje (3.set.2003) o Congresso, às 16h30. Mas ele não apareceu porque recebeu um recado do governo brasileiro: essa sua movimentação poderia acelerar o processo de eventual extradição.

O convite foi feito pelo deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), que hoje soube que o Palácio do Planalto, por meio do Ministério da Justiça, fez chegar a Roger Pinto Molina a informação de que não seria apreciada a visita do boliviano ao Congresso.

Em resumo, o governo brasileiro está ameaçando extraditar o senador da Bolívia se o caso começar a ser politizado de forma que desagrade à presidente Dilma Rousseff.

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Em meio a trapalhada na Bolívia, Itamaraty lança novo site
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Fernando Rodrigues

Página defende a reforma do Conselho de Segurança da ONU

O Ministério das Relações Exteriores escolheu uma boa data para lançar seu novo esforço de comunicação pela reforma do Conselho de Segurança da ONU: hoje (27.ago.2013), um dia após a demissão do chanceler Antonio Patriota pela trapalhada envolvendo a fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina.

A iniciativa do Itamaraty para defender a reforma do conselho, ambição do país há mais de uma década, consiste em um site exclusivo com informações sobre o tema, em português, espanhol e inglês.

Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, o site entrou no ar para testes na semana passada, ainda com defeitos. Após algumas correções, a página foi formalmente apresentada ao público hoje.

Em destaque no site, um editorial aponta uma estrutura de governança “desatualizada” no Conselho de Segurança, que comprometeria sua legitimidade, e clama pela inclusão de novos atores no órgão, especialmente países do mundo em desenvolvimento.

“A reforma (..) precisa ser debatida não somente em gabinetes e conferências internacionais, mas também nas universidades, na imprensa, em parlamentos – enfim, pela sociedade em geral”, afirma o texto.

É possível conhecer o resultado de uma década de reuniões, desde setembro de 2003, que visaram à reforma do conselho. Há também um resumo didático da última reforma realizada no órgão, em 1965, e artigos e documentos sobre o tema.

Comentário do Blog: a falta de senso de oportunidade do Itamaraty ao lançar esse site hoje só demonstra como os diplomatas brasileiros são desconectados da realidade. Vivem encapsulados num mundo próprio, quase em estado criogênico.

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Opinião: a incompetência do Itamaraty e do governo
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Fernando Rodrigues

O episódio do senador boliviano que fugiu para o Brasil tem vários aspectos. O mais relevante é o que expõe a extrema incompetência do serviço público brasileiro, a falta de capacidade gerencial e um pendor por colocar sempre a culpa em algum sujeito oculto –ou em alguém que acaba demitido e pagando o pato sozinho.

Tome-se como verdadeira a fantástica história do encarregado de negócios do Brasil na embaixada em La Paz, na Bolívia, Eduardo Saboia. Ele teria tomado sozinho a decisão de fugir com o senador boliviano Roger Pinto Molina.

Tome-se também como verdadeiro o fato de o então Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, não saber de nada. E que, pior ainda, a presidente da República, Dilma Rousseff, também estava em completa ignorância até o senador boliviano chegar a terras brasileiras.

Aí vem a pergunta: como é possível a sexta ou sétima economia do planeta não ter um sistema de filtros e de freios e contrapesos internos para prever que algo tão disparatado estava para acontecer? O encarregado Eduardo Saboia enviou centenas de e-mails de alerta.

É relevante não esquecer que o caso se refere à Bolívia. Por mais que exista um abominável preconceito contra o país vizinho, trata-se de um parceiro essencial do Brasil. Consome-se aqui gás vindo de lá. A fronteira entre as duas nações é extensa. Enfim, não se trata de um país remoto e pouco relevante para os brasileiros. Ainda assim, por muito tempo a embaixada em La Paz estava sem um titular.

A demissão de Antonio Patriota do cargo não resolve em absolutamente nada o problema. E qual foi e é o problema? A péssima administração do Ministério das Relações Exteriores. Essa deve ser a pasta na qual a relação custo-benefício talvez seja a pior de todas para os contribuintes brasileiros.

No Itamaraty os salários são os melhores. Os diplomatas passam um tempo estudando e já recebendo os salários durante a fase no Instituto Rio Branco. Sabem falar inglês. Conhecem as regras de boas maneiras, pegam nos talheres corretamente e sabem escolher um vinho. Quando vão para um posto no exterior, viajam bem e podem levar um contênier com suas mudanças. Educados na superfície, produzem uma miragem: seriam a ilha de excelência no depauperado serviço público nacional.

É um erro crasso cair nessa esparrela. O valor de recursos que consomem faz dos diplomatas brasileiros menos eficientes comparativamente do que o pobre coitado que trabalha numa repartição pública qualquer e não tem um centésimo dos benefícios do Itamaraty.

Até porque, afinal, qual foi a grande contribuição da diplomacia brasileira em anos recentes para que o Brasil prosperasse? É difícil dizer. Durante os anos FHC e Lula, foram esses políticos-presidentes os responsáveis pelo certo avanço da diplomacia brasileira, cada um a seu jeito. Não foram grandes diplomatas que tiveram ideias e propuseram uma política externa mais arrojada. Não fossem os presidentes, o país andaria de lado no cenário internacional e com a sabujice de sempre da maioria dos egressos do Itamaraty.

Com as exceções de sempre, o Itamaraty é um serpentário habitado por fofoqueiros que vivem falando mal do colega da mesa ao lado, tomando cefezinho, pensando na piada que farão com o desafortunado que foi removido para a África ou no sortudo que acabou de ser nomeado para Roma ou Paris.

Já estou na estrada há muito tempo. Nos tempos de correspondente em Nova York, Tóquio e Washington, nunca recebi a menor colaboração profissional para obter informações –além do básico– por parte de diplomatas. Como estudante na Bélgica e na Inglaterra, pior ainda. Estudantes brasileiros no exterior são quase desprezados pelos diplomatas e pelo corpo consular. O tratamento é a pontapés. Sem contar o preconceito latente. Em terras estrangeiras, diplomatas brasileiros agem como se fosse europeus –mas não sabem como são típicos e apenas provocam vergonha alheia.

Agora, ficará no ar, como se fosse um fato isolado, a inépcia de Patriota e de outros que deixaram a representação da Bolívia acéfala. Dilma demitiu o ministro. Tudo bem? Não. A responsabilidade é também da presidente e de seus antecessores –FHC e Lula incluídos– que nunca se preocuparam para valer em colocar essa tropa abúlica de punhos de renda para trabalhar de verdade a serviço do país –e faço sempre a ressalva de que há exceções.

A laborfobia reinante no Itamaraty, o espírito macunaímico da maioria dos diplomatas brasileiros (não todos) é que produz patetadas como essa recente na Bolívia.

Dilma demitiu Patriota. Mas o que ela fará para fazer com que os diplomatas peguem no batente e melhorem a governança do Itamaraty? Ninguém sabe. Nem ela.

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Itamaraty e Justiça lideram lista de informações ultrassecretas
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Fernando Rodrigues

Balanço de 1 ano da Lei de Acesso mostra quem mais se apegou ao sigilo

Órgãos federais fazem prestação de contas sem padrão e difícil de entender

Estados, cidades, Judiciário, Legislativo e MP estão ainda mais atrasados

Depois de 1 ano em vigor da Lei de Acesso à Informação (LAI), o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Justiça lideram em número de dados classificados como ultrassecretos, os mais alto na escala de sigilo no país.

O Itamaraty informa que mantém 202 documentos ultrassecretos. A Justiça tem 59 documentos com essa classificação. Esse tipo de informação (ultrassecreta) pode ficar em sigilo por 25 anos, permitida uma renovação desse prazo –portanto, um total de 50 anos em segredo.

A compilação desses dados faz parte de um levantamento que está sendo preparado pela CGU (Controladoria Geral da União) a respeito de todos os órgãos públicos da administração federal do Poder Executivo. O relatório completo deve ser divulgado hoje (24.jun.2013).

O Blog teve acesso a uma versão preliminar desse levantamento, com os dez órgãos públicos que mais acumulam documentos classificados. Eis um resumo:

Como é possível notar, embora Relações Exteriores e Justiça liderem com os documentos ultrassecretos, a Marinha do Brasil é, de longe, o órgão público detentor do maior número de informações sigilosas: no início de junho, eram 57.385 dados para os quais não era permitido acesso do público.

Trata-se de um dado curioso. Em comparação com as outras duas Forças, a Marinha revela um compulsão maior pelo sigilo. O Exército tem um estoque de 14.714 documentos sigilosos (nenhum é ultrassecreto). Aeronáutica declara 2.428 informações sigilosas.

Essa desproporção do grau de segredo usado nas Forças Armadas só está sendo explicitada por causa da LAI. É que a Lei 12.527, conhecida como Lei de Acesso à Informação, publicada em 18.nov.2011, contém um dispositivo muito avançado: determina a os órgãos públicos a divulgação anual de todas as informações classificadas (colocadas em sigilo) e desclassificadas (colocadas à disposição do público).

Essa obrigação foi detalhada na regulamentação da LAI feita (no âmbito do Poder Executivo federal) em 16.mai.2012 pelo Decreto Presidencial 7.724:

Decreto 7.724:
Art. 45.  A autoridade máxima de cada órgão ou entidade publicará anualmente, até o dia 1° de junho, em sítio na Internet:
I – rol das informações desclassificadas nos últimos doze meses;
II – rol das informações classificadas em cada grau de sigilo, que deverá conter:
a) código de indexação de documento;
b) categoria na qual se enquadra a informação;
c) indicação de dispositivo legal que fundamenta a classificação; e
d) data da produção, data da classificação e prazo da classificação;
III – relatório estatístico com a quantidade de pedidos de acesso à informação recebidos, atendidos e indeferidos; e
IV – informações estatísticas agregadas dos requerentes.
Parágrafo único.  Os órgãos e entidades deverão manter em meio físico as informações previstas no caput, para consulta pública em suas sedes.

Essa divulgação anual dos dados permitirá ao Palácio do Planalto uma governança mais efetiva a respeito do avanço da transparência no país. Por exemplo, caberá agora ao Ministério da Defesa, averiguar a razão pela qual a Marinha mantém muito mais dados sigilosos do que o Exército e a Aeronáutica.

Aliás, uma curiosidade: Exército e Aeronáutica só tem dados reservados e nenhum secreto ou ultrassecreto. Ou seja, isso significa que daqui a 5 anos todas as informações produzidas até hoje por Exército e a Aeronáutica terão de ser colocadas à disposição do público.

A LAI só tem 3 prazos de sigilo possíveis: a) ultrassecreto (25 anos), b) secreto (15 anos) e c) reservado (5 anos). Só os ultrassecretos podem ter o seu prazo renovado, por uma única vez. Os secretos e reservados precisam ser divulgados tão logo seus prazos prescrevam.

A obrigação de prestar contas uma vez por ano sobre informações classificadas e desclassificadas foi uma sugestão da sociedade civil quando a LAI estava em debate. Esse item foi incluído por sugestão do Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas. Se bem cumprido, o dispositivo será uma potente ferramenta para o exercício da cidadania: os brasileiros uma vez por ano vão saber quais órgãos públicos mais classificaram documentos e poderão cobrar, no tempo devido, a desclassificação.

Era de esperar, entretanto, que nesta primeira vez em que o dispositivo fosse usado haveria imperfeições. E, de fato, há muitos problemas.

Primeiro, há uma completa falta de padrão na forma como cada órgão público presta contas sobre o que fez nos últimos 12 meses. Segundo, não é apresentada uma distinção entre o número de documentos classificados desde sempre e os que passaram a ser reservados apenas no ano ao qual o relatório se refere. Por fim, os documentos desclassificados não são facilmente localizáveis na internet.

Tome-se o caso da Secretaria-Geral da Presidência da República. Esse órgão diz ter desclassificado apenas um documento nos últimos 12 meses, conforme mostra o site na internet. Se alguém se aventura a clicar no item Rol das informações desclassificadas nos últimos doze meses, abre-se uma página com a seguinte inscrição sobre um fundo branco: NUP: “00040.000011/2013‐46”. Ou seja, é algo absolutamente incompreensível.

Por que não colocar de uma vez na internet uma versão do documento desclassificado em formato digital para download? Essa é uma resposta que cada órgão público federal terá de fornecer ao Palácio do Planalto. Isto é, se for para valer promessa da presidente Dilma Rousseff feita na última 6ª feira (21.jun.2013) em seu pronunciamento na TV, quando exaltou o papel da transparência na gestão estatal.

Mas é necessário e justo ressaltar que se há falhas no plano federal, nos Estados não ainda notícia de estatísticas sobre o primeiro ano de vigência da LAI. Nas cidades, menos ainda. E nos Poderes Legislativo e Judiciário e no Ministério Público as coisas tampouco estão em boa situação.

Na 6ª feira, Dilma Rousseff disse na TV: “Precisamos oxigenar o nosso sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e, acima de tudo, mais permeáveis à influência da sociedade. É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar”. Em tese, esse será um tema da reunião que a presidente tem agendada com governadores de Estado e prefeitos de capitais nesta 2ª feira (24.jun.2013).

Como a Lei de Acesso já está em vigor há algum tempo, mecanismos legais não faltam para os governos ficarem mais abertos e conectados com a população. Só falta vontade e disposição dos governantes para fazer com que a LAI seja cumprida.

P.S.: Acesse o relatório completo publicado pela CGU.

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Dilma e o medo de ser “imperialista”
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Fernando Rodrigues

reação sobre crise paraguaia reacende antigo dilema:

Brasil quer condenar, mas teme que Brasília vire Washington

A crise política instalada no Paraguai depois de o país protagonizar um processo de 36 horas para destituir seu presidente, Fernando Lugo, serve para explicitar alguns defeitos e idiossincrasias da política externa brasileira.

Logo depois que Lugo foi deposto num julgamento político e sumário, um ministro importante do governo Dilma Rousseff comentou:

“Você viu o número de manifestantes em frente ao Congresso deles? Só umas 3.000 pessoas. Tinha de ter umas 30 mil… Ou seja, o Lugo não está com tanto apoio assim. Vamos ter de esperar para saber como reagir”.

O que essa declaração significa? Duas coisas:

1) indefinição de valores: o governo da presidente Dilma Rousseff está de olho na reação da população do Paraguai para depois calibrar a reação oficial do Brasil.

Ou seja, a interpretação sobre se há algo de errado do ponto de vista democrático depende muito de como a população do Paraguai vai reagir. E de como reagirão os principais países no cenário internacional. Até agora, EUA e Espanha bateram palmas para o Congresso do Paraguai. Já os vizinhos bolivarianos estrilaram.

A verdade é que começa a existir dúvida no núcleo central do governo Dilma sobre se o que se passou no Paraguai foi mesmo um golpe ou algo na linha chavista, “dentro da lei” (sic).

Este Blog não tem dúvida: o que se passou ali no Paraguai está longe de ser algo compatível com as boas normas e práticas democráticas –e aqui não existe nenhum juízo de valor, a favor ou contra Lugo.

Mas ilógico imaginar que a operação de retirada de trabalhadores sem-terra com mortes seja razão legítima para depor o presidente em 36 horas.

Parece claro que Lugo é incompetente, não tem apoio político-partidário e jogou o país numa profunda crise econômica. Muito bem. No ano que vem tem eleição e os paraguaios poderiam votar num candidato de oposição.

2) o medo ingênuo de ser imperialista: não é de hoje (vem desde sempre) um temor pueril de que cole ainda mais no Brasil uma imagem já renitente no Cone Sul: os brasileiros são os imperialistas do subcontinente latino-americano.

Ontem (22.jun.2012), após a queda de Lugo, uma observação palaciana foi emblemática: “Não podemos ser imperialistas. Brasília não é Washington”. É verdade.

Mas países de tradição católica e ibérica como o Brasil gostam mesmo de falar as coisas de maneira transversa, ou pela metade. “Passa lá em casa” é a frase síntese do brasileiro. Quem ouve isso sabe: o sentido é quase sempre o inverso –“não passe lá em casa”. É o “homem cordial” sobre o qual discorreu tão bem Sérgio Buarque de Holanda.

Ou seja, o governo brasileiro (de Dilma, Lula ou FHC, não importa), quer mandar na América Latina e na África. Mas quer continuar com a imagem de bonzinho na região, sem a pecha de imperialista.

Países anglo-saxões têm mais tradição de dizer o que pensam, para o bem e para o mal. Quando os EUA consideram que um país vive em democracia, fazem uma afirmação nesse sentido. E o mesmo vale para ditaduras ou democracias postiças.

O Brasil, não. Escuda-se sempre no (bom) princípio da autodeterminação dos povos e na política de não intervenção em assuntos internos de outras nações –embora isso nada tenha a ver com dizer o que se pensa.

O problema é que ambiguidade produz mais ambiguidade. Forma-se um círculo vicioso. No caso do Brasil, como justificar agora que houve um golpe constitucional-congressual no Paraguai se Brasília nada diz sobre a fragilidade da democracia em países como Venezuela, Equador, Bolívia e até Argentina?

Para não ser imperialista, o Brasil acaba não sendo nada. Fica com o pior dos mundos.

Até porque, na maioria dos vizinhos latino-americanos a imagem brasileira é péssima e igual há anos: o Brasil é na região o que os Estados Unidos são para o México e parte da América Central.

A anedota antiga de dois mexicanos sentados numa estrada na fronteira entre o seu país e os EUA logo poderá ser adaptada para Brasil e Paraguai.

É assim:

Mexicano 1: olhe, lá estão Califórnia, Novo México, Texas, Arizona…
Mexicano 2: sim, um dia tudo isso foi nosso, do México. Os gringos nos roubaram tudo.
Mexicano 1: sim, é verdade. E nos roubaram justamente a parte asfaltada.

 

A teoria do “dentro da lei”
A crise paraguaia remete é claro para o problema central nesses casos: Foi golpe? O Paraguai vive num regime que pode ser considerado uma democracia? A deposição de Lugo foi “dentro da lei”?

Para início de conversa, a escravidão no Brasil existiu, como se sabe, dentro da lei. Era legal ter escravos em casa.

Esse argumento da escravidão é um pouco extremo, mas nos obriga a um raciocínio mais sofisticado sobre o Paraguai. Deve-se pensar mais antes de afirmar de forma peremptória o mantra da vez: “o impeachment de Lugo foi dentro da lei”.

Esse mantra é atraente, pois não houve pessoas mortas nem presas.

O problema é que no século 21 não haverá mais (ou serão raríssimos) golpes de Estado no velho estilo das repúblicas das bananas.

Aqueles golpes com militares tradicionais, cheios de medalhas pregadas no peito e entrando no palácio presidencial para prender a todos só vai sobreviver em comédias sarcásticas no cinema, como no filme “O ditador”, de Sacha Baron Cohen (o Borat). Aqui, um trailer hilariante.

Os inimigos da democracia já assistiram a muitos filmes de Costa Gravas. Aprenderam como não se deve fazer. Agora, a “tendência” é fazer tudo “dentro da lei” (sic). Até os golpes de Estado ficaram politicamente corretos.

Foi o que se passou no Paraguai. Tudo “dentro da lei” (sic). Um processo que começou em terminou em apenas 36 horas.

A inépcia do Itamaraty
Outro aspecto relevante que emerge da atual crise paraguaia é a incapacidade operacional do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Dilma Rousseff só soube do problema político no país vizinho quando a Câmara dos Deputados do Paraguai já havia votado e aprovado o impeachment de Fernando Lugo.

Como é possível o serviço diplomático do maior país latino-americano não suprir sua presidente de informações sobre um iminente golpe de Estado numa nação que faz fronteira com o Brasil?

Quando Dilma soube, a vaca já havia ido para o brejo. Foi próximo do patético a tentativa de enviar chanceleres de vários países para tentar reverter o processo. O Senado do Paraguai não teria mais como encontrar um argumento político para recuar. Os senadores seriam massacrados por estarem se curvando à uma pressão externa.

Há hipóteses para essa inoperância do Itamaraty.

Uma delas é um fato: os diplomatas brasileiros são vendidos por um preço acima do seu valor real. A lenda de que o Ministério das Relações Exteriores é uma reserva de valor e qualidade é só isso mesmo –uma lenda. Há, por óbvio, exceções. Mas são apenas exceções.

O segundo ponto a ser considerado é o modelo gerencial escolhido por Dilma Rousseff. A presidente tem poucos assessores com liberdade para lhe dizer coisas desagradáveis, para interrompê-la ou trazer notícias ruins.

Os diplomatas já tem um comportamento pusilânime por natureza. São treinados para agradar. Com uma presidente da República adepta de um estilo duro no dia a dia, os itamaratecas tendem a ser ainda mais tímidos do que já são.

Mas nada justifica a omissão no caso do Paraguai. Tivesse tomado conhecimento do assunto antes, um país como o Brasil poderia ter ajudado a mediar a crise e evitar a deposição do presidente do país  vizinho –ajudado, é claro, dentro dos limites da legalidade e da diplomacia.

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