Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : Panamá

Esquemas com offshores custam bilhões de dólares à África por ano
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Fernando Rodrigues

Mossack Fonseca criou 37 offshores envolvidas em escândalos

Offshores da Mossack operam em 44 dos 54 países da região

Informações estão no banco de dados dos Panama Papers

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Casas ao pé de uma montanha de cascalho de mineração em Koidu, Serra Leoa

Por Will Fitzgibbon, do ICIJ

Levantamento conduzido pelo ICIJ identificou pelo menos 37 offshores criadas ou operadas pela Mossack Fonseca que já foram mencionadas em investigações e processos judiciais sobre recursos naturais na África.

A análise feita pelo ICIJ nos arquivos internos da Mossack Fonseca mostra que a firma panamenha é uma das principais fornecedoras de offshores para a indústria extrativista no continente africano.

Os arquivos incluem mais de 1.400 offshores cujos nomes trazem as palavras “mineração”, “minerais”, “petróleo”, “óleo” e “gás”. Além disso, há offshores com nomes menos explícitos relacionadas ao setor.

Este texto é uma adaptação abreviada do original. Acesse aqui o material na íntegra, em inglês. O ICIJ também publica hoje outros 3 textos da série PanamaPapers sobre o continente africano. Leia tudo aqui.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada em 3.abr.2016, é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung e compartilhados com o ICIJ. O material foi investigado por mais de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a “RedeTV!”.

Os arquivos da Mossack revelam offshores que operavam em 44 dos 54 países africanos. Parte delas são controladas por políticos, seus familiares e sócios. Recursos minerais que se formaram abaixo da superfície durante milhões (ou bilhões) de anos são negociados por empresas de fachada com apenas alguns meses de vida.

Não é incomum surgirem indícios de pagamento de propina em contratos de empresas de petróleo, gás, diamantes, ouro e outros recursos naturais. De acordo com especialistas, contratos suspeitos nessas áreas costumam ser organizados com a ajuda de contas bancárias escondidas e empresas em paraísos fiscais.

“Uma empresa pode fechar um acordo lucrativo na área porque os donos são bem relacionados politicamente ou porque estão dispostos a participar de esquemas questionáveis. O objetivo é gerar lucro rápido para poucos, ao invés de beneficiar a sociedade de forma mais ampla”, diz Fredrik Reinfeldt, ex-primeiro-ministro da Suécia e hoje chefe da Iniciativa para a Transparência das Indústrias Extrativistas (Extractive Industries Transparency Initiative, no original em inglês).

“Empresas anônimas tornam mais difícil evitar a lavagem de dinheiro e a corrupção ao permitir que criminosos escondam-se atrás de uma cadeia de companhias, muitas vezes registradas em múltiplas jurisdições”, continua Reinfeldt.

A Mossack Fonseca também criou ou gerenciou pelo menos 27 subsidiárias da AngloGold Ashanti, uma das maiores empresas de extração de ouro do mundo. À reportagem, a AngloGold disse obedecer as normas tributárias. Disse que suas offshores viabilizaram investimentos e permitiram “mitigar os efeitos da bi-tributação [quando dois impostos diferentes são cobrados sobre o mesmo bem ou serviço]”.

A Argélia possui a 2ª maior reserva de petróleo da África. De 2003 a 2014, o país perdeu em média US$ 1,5 bilhão por ano com propinas, evasão fiscal e corrupção, segundo um levantamento da organização Global Financial Integrity. As Nações Unidas estimam que a corrupção custe à África cerca de US$ 50 bilhões por ano.

PROPINODUTO NA ARGÉLIA
Quando não estava à bordo de seu iate, Farid Bedjaoui gostava de se hospedar no hotel Bulgari, em Milão. O estabelecimento ocupa um palácio restaurado do século XVIII, entre o jardim botânico da cidade e o teatro La Scala. Em 5 anos, os gastos de Bedjaoui no hotel excederam US$ 100 mil.

No Bulgari, Bedjaoui reunia-se com autoridades do governo da Argélia e executivos da Saipem, gigante italiana do ramo de energia. Os encontros serviram para acertar o pagamento de mais de US$ 275 milhões em propinas, de acordo com testemunhas ouvidas por procuradores italianos que investigaram o caso. O objetivo: garantir à Saipem mais de US$ 10 bilhões em contratos de construção de oleodutos e gasodutos no norte da África.

De 2006 a 2009, a Saipem ­–que descreve a si própria como “uma das líderes mundiais” em extração de óleo e gás e na construção de dutos­– venceu 7 contratos para construir milhares de quilômetros de dutos e canais, além de refinarias. A infraestrutura foi projetada para processar até 100 mil barris de petróleo por dia.

Para repassar o dinheiro entre os países, Bedjaoui usou um grupo de empresas offshores, companhias sem sede ou funcionários, que só existem no papel e que geralmente estão sediadas em paraísos fiscais. Segundo os procuradores italianos, a rede de offshores permitiu que Bedjaoui mantivesse as transações em segredo.

Doze das 17 offshores ligadas a Bedjaoui foram criadas pela Mossack Fonseca.

Os investigadores italianos descreveram uma dessas companhias, a Minkle Consultants S.A, como um “duto de fluxos financeiros ilícitos” pelo qual passaram milhões de dólares. O dinheiro ia dos concessionários para um conjunto de pessoas cujas identidades ainda estão sendo reveladas. Para a investigação, Bedjaoui usou offshores para direcionar mais de US$ 15 milhões a sócios e familiares do então ministro da energia da Argélia.

As suspeitas em torno dos negócios de Bedjaoui com a Saipem vieram a público em 2013. Meses antes, a polícia canadense confiscou bens de Bedjaoui em Montreal. Ao mesmo tempo, um apartamento dele em Paris foi alvo de buscas por autoridades francesas. A França também confiscou um iate de 43 metros pertencente a Bedjaoui. Dentro do barco foram encontradas pinturas de Andy Warhol, Joan Miró e Salvador Dali.

O “propinoduto” internacional da Argélia é uma das dezenas de casos na África em que offshores da Mossack Fonseca foram usadas em negociações das indústrias de petróleo, gás e mineração e que resultaram em investigações sobre fraude fiscal, corrupção, danos ambientais e outros crimes.

OUTRO LADO
A Mossack Fonseca não quis comentar em detalhes a reportagem.

Disse ao ICIJ: “A nossa empresa, como muitas outras, oferece serviços notariais ao redor do mundo para clientes profissionais (como advogados, bancos e fundos de investimentos) que atuam como intermediários. Como agente registrador, a Mossack atua apenas na incorporação das empresas. Antes de aceitarmos prestar qualquer serviço para um cliente, conduzimos um rigoroso processo de devida diligência (due-diligence), que satisfaz e muitas vezes excede as normas locais de cada país”.

A Mossack Fonseca acrescenta que “preencher a papelada para ajudar na incorporação de uma empresa é muito diferente de estabelecer uma relação de negócios ou comandar de qualquer forma a atuação da empresa offshore, uma vez que esta é criada. Nós apenas incorporamos empresas. Todos reconhecem a importância desta atividade e sabem que ela é fundamental para que a economia global funcione de forma eficaz”.

A Saipem, a empresa italiana de energia, disse ao ICIJ estar “cooperando totalmente” com os procuradores. Afirmou ainda que “implementou significativas reformas gerenciais e administrativas”. Consultores externos avaliaram os registros da empresa, diz a Saipem, e “não encontraram evidência de pagamentos para servidores públicos argelinos no material analisado”.

Em fevereiro de 2016, uma subsidiária argelina da Saipem foi condenada em um tribunal local pelos crimes de fraude, lavagem de dinheiro e corrupção ao negociar com a estatal argelina de petróleo, a Sonatrach.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

Leia tudo sobre os Panama Papers

O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participam da série Panama Papers no Brasil na investigação sobre esportes os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Parentes de Ricardo Magro adquiriram offshore com banco alvo da Lava Jato
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Fernando Rodrigues

Tio do empresário entra no foco da Lava Jato após 32ª fase

Ao todo, 44 offshores foram intermediadas pelo FPB Bank

Informações estão no banco de dados dos Panama Papers

Magro é amigo e ex-advogado do deputado Eduardo Cunha

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A refinaria de Manguinhos, no Estado do Rio de Janeiro

Familiares de Ricardo Magro, empresário investigado na Lava Jato e amigo do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são donos de 4 empresas offshores abertas pela Mossack Fonseca e intermediadas pelo FPB Bank, alvo da 32ª fase da Lava Jato, batizada de Caça Fantasma. A operação foi deflagrada em 7.jul.

O banco FPB Bank, sediado no Panamá, atuava no Brasil sem autorização do Banco Central. A instituição é uma das dezenas de intermediários que operavam a venda das offshores abertas pelo escritório brasileiro da Mossack. Ao todo, o FPB Bank esteve relacionada com negociações de 44 empresas offshores para clientes brasileiros. Este dado é inédito para a força-tarefa sediada em Curitiba.

Vários dos compradores das offshores mediadas pelo FPB Bank forneceram endereços em bairros nobres de Fortaleza (CE). De acordo com os registros da Mossack Fonseca, o relacionamento comercial com o FPB Bank teria começado em 16.out.2014.

As 4 offshores estão em nome de Ernesto dos Santos Andrade (tio de Ricardo Magro), de sua mulher, Elisabete Leal da Costa Andrade, e do filho do casal, Cristiano da Costa Andrade. As empresas em paraísos fiscais foram abertas em 2015. As informações aparecem no banco de dados da série jornalística Panama Papers.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada em 3.abr.2016, é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung e compartilhados com o ICIJ. O material foi investigado por mais de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a “RedeTV!”.

Contexto: o FPB é apenas um entre as dezenas de intermediários que ofereciam os serviços da Mossack Fonseca a clientes interessados em adquirir uma empresa offshore. No jargão desse mercado, este tipo de atravessador é conhecido como “client”. Outros agentes com a mesma atuação do FPB já foram alvos da Lava Jato: é o caso do empresário Ademir Auada e do doleiro Roberto Trombeta.

O uso de offshores é legítimo e garantido pela lei brasileira desde que a empresa e os bens e valores controlados por ela sejam declarados à Receita Federal e tributados.

RICARDO MAGRO
Ex-advogado de Cunha e também ex-defensor de seu tio Ernesto na Justiça, Ricardo Magro foi preso temporariamente no dia 24 de junho na Operação Recomeço da PF. Ele é acusado de participar da fraude de R$ 90 milhões no fundo de pensão da Petrobras, o Petros, e no dos Correios, o Postalis. Este último caso envolveu a compra de créditos (debêntures) do Grupo Galileo.

Magro pagou R$ 4,4 milhões de fiança e foi solto. Atualmente, o empresário responde por fraude e estelionato em uma ação penal na Justiça Federal do Rio decorrente da operação.

Magro também é proprietário da Refinaria de Manguinhos, alvo de inúmeras denúncias na Justiça por suspeita de ser utilizada para um esquema de fraudes no ICMS. A empresa deve cerca de R$ 4 bilhões aos Estados do Rio, São Paulo e Paraná.

O nome de Ernesto, tio de Magro, também apareceu nas investigações sobre a refinaria. Ele era proprietário da TM Distribuidora de Combustíveis, empresa que teria se beneficiado de um regime especial de recolhimento de ICMS estabelecido pelo Estado do Rio em 2002.

SISTEMA FINANCEIRO PARALELO
As investigações, que agora devem se aproximar dos parentes de Magro, fazem parte de uma nova frente aberta pela Lava Jato com a Caça Fantasmas. O foco é um sistema bancário paralelo, estruturado no Brasil por bancos estrangeiros legalmente constituídos em seus países, que seria usado para lavagem de dinheiro.

O FPB Bank Inc, do Panamá – que pertence ao banqueiro brasileiro Nelson Noronha Pinheiro, ex-sócio do Pine -, o PKB, da Suíça, e o Carregosa, de Portugal, são investigados pela força-tarefa da Operação Lava Jato por suposto uso de “representações” clandestinas para captação de clientes interessados em abrir contas secretas em paraísos fiscais.

O esquema, segundo suspeita a força-tarefa, teria sido usado por doleiros e operadores de propinas para ocultar dinheiro da corrupção descoberta na Petrobras e sob investigação em outros órgãos como Ministério do Planejamento, Ministério dos Transportes, Eletrobras e Valec –alvos de apurações em desdobramentos da Lava Jato, como Custo Brasil, Saqueador, O Recebedor.

“O perfil do cliente é de alguém que quer esconder a origem de seu dinheiro, porque senão não procuraria uma instituição ilegal. Todos que procuravam o serviço sabiam da situação”, afirmou o delegado da Polícia Federal Rodrigo Sanfurgo, da equipe da Lava Jato, em Curitiba.

Apesar de ser uma instituição legalmente constituída no Panamá, o FPB Bank e seus representantes não tinham licença do Banco Central do Brasil para cuidar de contas e de movimentações financeiras no País. Tudo era realizado em empresas brasileiras registradas em nome dos representantes do banco, como a Minucia Assessoria e Consultoria Financeira de Valores Mobiliários. Sete pessoas ligadas a ela foram alvos de condução coercitiva, no dia 7.jul.2016.

Os representantes do banco tinham canal direto com o escritório da Mossack Fonseca, no Brasil. Alvo da investigação Panama Papers, a empresa panamenha é especializada em abertura de offshores (firmas de gaveta, com sede fora do País) e passou a ser investigada sob suspeita de servir para lavadores de dinheiro.

Em fevereiro, o escritório brasileiro da Mossack, em São Paulo, foi alvo de buscas na Lava Jato. Uma offshore criada pela firma panamenha era detentora de um tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, vizinho ao apartamento atribuído ao ex-presidente Lula, que chegou a adquirir uma cota do empreendimento, mas depois desistiu do negócio. A suspeita da Lava Jato é de que a offshore foi usada para ocultar patrimônio oriundo do esquema de corrupção na Petrobras.

Na ocasião, foi localizado um telefone criptografado para comunicação exclusiva entre seus funcionários e os representantes do FPB Bank. “Era um pacote completo porque a instituição financeira registrava as offshores, cuidava da parte gerencial da offshore, e ao mesmo tempo cuidavam da estruturação da conta fora do País para movimentar dinheiro”, explicou o delegado.

OUTRO LADO
A reportagem entrou em contato com os advogados de Ernesto dos Santos Andrade na última 5ª feira (21.jul). Foram encaminhados questionamentos sobre as offshores em nome de Ernesto e de seus familiares, mas ainda não houve resposta. Os advogados de Ricardo Magro não foram localizados.

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O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participam da série Panama Papers no Brasil na investigação sobre esportes os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Panama Papers vence prêmio global de jornalismo de dados
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Fernando Rodrigues

Premiação é concedida pela Global Editors Network

Investigação teve cerca de 400 jornalistas de 76 países
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A série Panama Papers recebeu ontem o principal prêmio internacional de jornalismo de dados, concedido pela Global Editors Network. O trabalho venceu na categoria “Investigação do Ano”.

Ao todo, participaram do processo de apuração 376 jornalistas de 109 veículos em 76 países. O material foi analisado ao longo de 1 ano. A força-tarefa de jornalistas debruçou-se sobre 11,5 milhões de arquivos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, especializado em abrir empresas offshore.

Os dados foram obtidos pelo jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” por meio de uma fonte anônima e compartilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). No Brasil, participaram da investigação o UOL, o jornal “O Estado de S. Paulo” e a RedeTV!

No Blog, a série PanamaPapers resultou na publicação de 53 reportagens até o momento. Leia aqui todos os textos.

Na investigação, foram descobertas 107 offshores relacionadas à Lava Jato. Também foram encontradas várias empresas pertencentes a políticos e seus familiares. Offshores de diversos milionários brasileiros estavam nos arquivos, assim como de jornalistas e empresários da mídia.

A investigação identificou 214.844 pessoas jurídicas nos arquivos (entre offshores, fundações privadas, etc). Dessas, cerca de 1,7 mil pertencem a pessoas que informaram endereços no Brasil. A base de dados engloba o período de 1977 a dez.2015.

A análise das informações foi feita utilizando um algoritmo que permite confrontar a base de dados com planilhas de nomes. Conheça aqui os detalhes do processo de apuração.

No caso brasileiro, foram checados os seguintes grupos, entre outros:
– 551 pessoas que exerceram o cargo de deputado federal;
– 1.061 deputados estaduais eleitos;
– 1.404 juízes federais;
– 354 desembargadores;
– 30 mil servidores mais bem remunerados do Executivo federal;
– Todos os senadores e seus suplentes;
– Todos os diretores e ex-diretores da Petrobras;
– Citados e investigados nas operações Lava Jato, Zelotes e Acrônimo.

Possuir uma offshore não é ilegal desde que ela esteja devidamente declarada às autoridades e tenha seu patrimônio tributado. Saiba os detalhes aqui.

Participam da série Panama Papers no Brasil os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Conheça a Mossack Fonseca, porta de entrada para os segredos das offshores
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Fernando Rodrigues

Lista de clientes inclui traficantes de drogas

Há também integrantes da máfia e políticos

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Acervo do escritório panamenho inclui traficantes, políticos e mafiosos

Por Martha M. Hamilton
Panama Papers

Os mais de 11 milhões documentos obtidos pelo ICIJ –e-mails, contas bancárias e registros de clientes– abrangem os trabalhos internos da Mossack Fonseca por quase 40 anos, de 1977 a dezembro de 2015.

O acervo detalha, exemplo após exemplo, as transgressões éticas e legais de clientes e fornecem evidências de que a empresa fica feliz em agir como a porta de entrada para os segredos de seus clientes, mesmo aqueles que se revelam criminosos, integrantes da máfia, traficantes de drogas, políticos corruptos e sonegadores.

Os registros mostram que os negócios têm ido bem.

Atualmente, a Mossack Fonseca é considerada uma das 5 maiores atacadistas de sigilo offshore. A empresa tem mais de 500 funcionários e colaboradores em mais de 40 escritórios ao redor do mundo, dentre eles 3 na Suíça e 8 na China. Em 2013, faturou mais de US$ 42 milhões.

A Mossack Fonseca respondeu a perguntas levantadas pelas descobertas do ICIJ afirmando que “há mais de 40 anos a Mossack Fonseca tem operado de forma irrepreensível…nossa empresa nunca foi acusada ou indiciada por prática criminosa”.

As origens da Mossack Fonseca remontam a 1986, quando Ramón Fonseca fundiu sua pequena empresa panamenha, que contava com apenas uma secretária, com outra, dirigida por Jürgen Mossack, um panamenho de origem alemã.

“Juntos”, disse posteriormente Fonseca a um jornalista, “criamos um monstro”.

Hoje em dia, os 2 sócios movimentam-se nos mais altos círculos da sociedade panamenha.

Além de advogado, Fonseca leva uma destacada segunda vida como escritor premiado. Dentre seus livros está “Mister Politicus” um thriller político que, segundo seu site literário, “esclarece os emaranhados processos que funcionários sem escrúpulos usam para ganhar poder e alcançar suas detestáveis ambições”.

Fonseca conhece o mundo da política por meio de seu trabalho, exercido até recentemente, como importante conselheiro do presidente panamenho, Juan Carlos Varela.

No início de março Fonseca anunciou que estava se afastando do cargo após acusações de que a filial brasileira da Mossack Fonseca estaria envolvida numa investigação, ainda em curso, de um escândalo de suborno e lavagem de dinheiro centrado na estatal petrolífera brasileira.

A media foi adotada “para defender minha honra e minha empresa e meu país”, disse ele.

Já Mossack é integrante do prestigiado Club Union, do qual sua filha Nicole passou a fazer parte em 2008. Ele também atuou no Conarex, o conselho de relações exteriores do Panamá, de 2009 a 2014.

A fusão que criou a Mossack Fonseca aconteceu num período difícil da história do Panamá. O país enfrentava instabilidade política e econômica sob o ditador militar Manuel Noriega, que estava atraindo atenção indesejada por causa das crescentes evidências de que ele estava envolvido em lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.

Em 1987, com o Panamá sob uma sombra, a Mossack Fonseca adotou seu primeiro grande movimento em direção ao exterior, estabelecendo uma filial da empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, que alguns anos antes havia aprovado uma lei que facilitava a abertura de companhias offshore sem a revelação pública de quem eram os donos ou diretores dessas organizações.

Hoje em dia, as Ilhas Virgens Britânicas abrigam cerca de 40% das empresas offshore do mundo. Das empresas que aparece nos arquivos da Mossack Fonseca, uma a cada duas companhias, são mais de 113 mil, foram abertas nas Ilhas Virgens Britânicas.

A Mossack Fonseca fez outro movimento importante em 1994.

Ajudou a pequena nação de Niue, um pequeno afloramento de corais com uma população de menos de 2 mil pessoas, a elaborar uma lei que previa a abertura de companhias offshore.

O escritório de advocacia havia escolhido Niue, revelou Mossack posteriormente à agência France-Presse, porque queria uma localização no fuso horário Ásia-Pacífico e porque não enfrentaria competição. “Se tivéssemos uma jurisdição que era pequena, e nós a tínhamos desde o início, poderíamos oferecer às pessoas um ambiente estável, um preço estável”.

A empresa assinou então um acordo de 20 anos com o governo do pequeno atol para ter o direito exclusivo de registrar companhias offshore em Niue. Um aspecto importante é que Niue ofereceu a possibilidade de registro em caracteres chineses e cirílicos, o que tornou o local atrativo para clientes chineses e russos.

Em 2001, a Mossack Fonseca estava fazendo tantos negócios em Niue que era responsável pela arrecadação do equivalente a U$ 1,6 milhão dos S$ 2 milhões do orçamento anual do país.

Mas as relações convenientes da empresa com o país insular também começaram a atrair atenção indesejada.

Naquele mesmo ano, o Departamento de Estado dos Estados Unidos questionou os “estranhos acordos de partilha” entre Niue e a Mossack Fonseca e advertiu que a indústria offshore de Niue “tinha ligações com a lavagem de proventos criminosos da Rússia e da América do Sul”.

A Força-Tarefa de Ação Financeira, uma organização intergovernamental estabelecia pelos principais países do mundo para combater a lavagem de dinheiro, colocou Niue na lista negra de jurisdições que não estavam tomando medidas para evitar a lavagem de dinheiro.

Em 2003, Niue recusou-se a renovar 4 empresas abertas pela Mossack Fonseca, sinalizando que fecharia as franquias exclusivas do escritório de advocacia.

Perder Niue, porém, não desacelerou os negócios da Mossack Fonseca.  A empresa simplesmente transferiu suas operações e encorajou seus clientes que tinham companhias em Niue a reabri-las em Samoa, um país próximo.

A troca era parte de um padrão que emerge nos documentos. Quando ações de repressão legal prejudicavam a habilidade da Mossack Fonseca de servir seus clientes, a empresa rapidamente se adaptava e encontrava outro local para trabalhar.

Quando as Ilhas Virgens Britânicas reprimiram o uso de  ações ao portador em 2005, a Mossack Fonseca transferiu esse tipo particular de negócio para o Panamá.

Companhias com ações ao portador não mostram o nome de seu dono. Se estiverem em suas mãos, você é o proprietário delas. Há tempos essas ações são consideradas uma forma de lavagem de dinheiro e de outras infrações e têm gradualmente desaparecido em todo o mundo. Em algumas jurisdições elas ainda são permitidas, embora submetidas a mais restrições.

A capacidade da Mossack Fonseca de transferir seus negócios rapidamente revela-se no grande aumento na abertura de empresas em uma dessas jurisdições, a ilha caribenha de Anguilla, que viu o número de empresas abertas mais do que dobrar entre 2010 e 2011. Anguilla é agora uma das 4 principais jurisdições da Mossack Fonseca para abertura de empresas offshore.

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Candidato de João Santana perde eleição no Panamá
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Publicitário de Lula e Dilma colhe primeiro revés após longa série de vitórias

Roberto Stuckert - Novembro de 2010

A eleição do empresário Juan Carlos Varela para a Presidência do Panamá, na América Central, neste final de semana, é um raro revés para o marqueteiro João Santana, atual guru midiático da presidente Dilma Rousseff e do pré-candidato petista ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha.

João Santana trabalhava há mais de 6 meses para eleger o candidato governista José Domingo Arias, apoiado pelo atual presidente, Ricardo Martinelli, e, segundo a revista “Época”, mantinha uma equipe de 30 pessoas de sua confiança na Cidade do Panamá.

As pesquisas eleitorais no início do ano apontavam vitória certa de Arias, mas a proximidade do pleito tornou a disputa embolada entre 3 candidatos: além de Arias, o conservador Varela e o esquerdista Juan Carlos Navarro.

Com 60% das urnas apuradas, Varela foi consagrado vencedor pela Justiça Eleitoral do país na noite de domingo (4.mai.2014), com uma vantagem de 7 pontos sobre Arias.

Descrito pela imprensa panamenha como “el hacedor de presidentes”, João Santana vinha de uma sequência de 6 eleições presidenciais vitoriosas: Lula em 2006, Mauricio Funes (El Salvador) em 2009, Dilma Rousseff em 2010, Danilo Medina (República Dominicana) em 2012, José Eduardo dos Santos (Angola) em 2012 e Nicolás Maduro (Venezuela) em 2012.

Tanta exposição acabou colocando o marqueteiro brasileiro na linha de tiro da oposição local, que apontou possível influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de Arias.

Santana e Dilma

Mesmo sem ter contrato com o governo federal, Santana atuou nos últimos anos como conselheiro informal de Dilma –assim como também atuou durante o segundo mandato de Lula.

Frasista profícuo, na sua entrevista à “Época”, em outubro de 2013, Santana disse o seguinte sobre a disputa presidencial deste ano no Brasil: “A Dilma vai ganhar no primeiro turno, em 2014, porque ocorrerá uma antropofagia de anões. Eles vão se comer, lá embaixo, e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo”.

Antes, em 2010, Santana havia previsto para Dilma uma posição majestática na sociedade brasileira: “Há na mitologia política e sentimental brasileira uma imensa cadeira vazia, que chamo metaforicamente de ‘cadeira da rainha’, e que poderá ser ocupada por Dilma”.

“A República brasileira não produziu uma única grande figura feminina, nem mesmo conjugal. Dilma tem tudo para ocupar esse espaço. O espaço metafórico da cadeira da rainha só foi parcialmente ocupado pela princesa Isabel. Para um homem sim, seria uma tarefa hercúlea suceder a Lula. Para uma mulher, não. Em especial, uma mulher como Dilma. Lula sabia disso e este talvez seja o conteúdo mais genial da sua escolha”, disse.

Em 2012, Santana decretou que sua previsão sobre a “Dilma rainha” estava se concretizando: “Ela está firmando uma imagem vigorosa de grande consolidadora das políticas sociais, de ampliadora dos direitos da classe média, de reformadora moral e modernizadora do país. Está se formando a imagem de uma mulher firme, honesta, que não tem medo de tomar medidas duras. Uma mulher que não se deixa mandar. Que sabe fazer parcerias e alianças com setores importantes, especialmente com Lula. Uma presidenta que enfrenta uma das maiores crises da economia internacional sem titubear. Uma mulher de raça. Que enfrenta os bancos para abaixar os juros, as empresas de energia para abaixar a tarifa elétrica. Eu não estou inventando: estou relatando a leitura de estudos profundos de opinião”.

[O sr. afirmou em 2010 que Dilma ocuparia metaforicamente a cadeira da rainha no imaginário do brasileiro. Isso está se passando?]

“Era uma imagem figurada. Uma metáfora que está se cumprindo simbolicamente. Grandes camadas da população têm um respeito, uma admiração e um carinho tão sutil por Dilma que chega até a ser de uma forma majestática. É diferente daquele amor quase carnal, elétrico, vulcânico que têm por Lula”.

Leia entrevistas concedidas por João Santana em 2006, 2010 e 2012.

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João Santana avança para Panamá e Itália
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Fernando Rodrigues

Marqueteiro de Lula e Dilma amplia suas operações no exterior

O marqueteiro João Santana continua a expandir seus negócios internacionais. Seus próximos destinos são Panamá e Itália, segundo revelou em uma entrevista ao repórter Simon Romero, que publica um perfil do brasileiro na edição de hoje (6.abr.2013) do jornal “The New York Times”.

No Panamá, Santana afirmou que deve fazer a campanha presidencial do “Cambio Democratico”, partido de centro-direita daquele país. Essa é uma novidade em sua carreira recente. Seus trabalhos têm sido até agora sempre para políticos que se posicionam do centro para a esquerda no espectro político.

A operação italiana não foi muito esclarecida na reportagem do “NYTimes”. O jornal cita apenas “um operação na Itália para começar a administrar campanhas na Europa”.

Num dado momento da entrevista, Santana define seu trabalho: “Assim como psicanalistas ajudam as pessoas a ter sexo sem culpa, nós ajudamos as pessoas a gostar de política sem remorso”.

Natural de Tucano, no interior da Bahia, Santana tem 60 anos. Jornalista de formação, começou no marketing político em associação com Duda Mendonça. Os dois romperam em 2001.

Santana venceu 6 das 7 campanhas presidenciais que fez até hoje. No Brasil, ganhou com Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010). No exterior, pela ordem, teve sucesso com Maurício Funes, em El Salvador (2009), Danilo Medina, na República Dominicana (2012), José Eduardo dos Santos, em Angola (2012) e Hugo Chávez, na Venezuela (2012).

Perdeu na Argentina, com Eduardo Duhalde (1999), quando “ainda era associado a Duda Mendonça”, costuma dizer.

No momento, o marqueteiro tem uma relação formal com o PT. Mas como revelou reportagem da Folha em 31.mar.2013, também presta uma “contribuição gratuita” à presidente Dilma Rousseff: ajuda na formatação e gravação de depoimentos importantes, opina nas propagandas estatais que enaltecem o governo e dá conselhos constantes ao Planalto.

Econômico na hora de dar entrevistas, Santana falou em 2006, 2010 e  2012 ao jornal “Folha de S.Paulo”. Eis os links:

Entrevista de João Santana em 2006

Entrevista de João Santana em 2010

Entrevista de João Santana em 2012

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