Possível fracasso de Marina atrasa, mas não elimina 3ª via na política
Fernando Rodrigues
Pesquisas indicam derretimento de candidata do PSB
Polarização PT-PSDB continua, mas tem futuro incerto
Petistas e tucanos ainda ouvirão “não me representam”
Todas as pesquisas de intenção de voto divulgadas até a véspera da eleição de hoje (5.out.2014) indicam que pode estar ocorrendo um acelerado derretimento dos apoios de Marina Silva (PSB). É real a possibilidade de a pessebista ficar fora do 2º turno da disputa.
Se o processo de encolhimento eleitoral de Marina for mais agudo do que parece, fica inclusive robustecida a possibilidade –dada por muitos como remota– de vitória de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno.
Mas o que os institutos de pesquisa apontam como mais provável é uma rodada final entre Dilma e Aécio Neves (PSDB) no dia 26 de outubro de 2014, o segundo turno presidencial.
Se esse cenário se confirmar, a polarização PT-PSDB estará mais uma vez aprovada pela maioria dos eleitores brasileiros. Essa dicotomia teve início em 1994, há 20 anos. Vai então se repetir pela 6ª vez consecutiva. Novamente estará frustrada a construção de uma 3ª via na política brasileira no plano nacional.
As perguntas a serem feitas então são duas: 1) o que se passou com os mais de 70% dos brasileiros que têm respondido, pesquisa depois de pesquisa, que desejam uma mudança na forma de conduzir o país e a política? 2) Essa massa de eleitores agora ficou, subitamente, mais satisfeita?
Nada indica que foi preenchida a demanda por uma “nova política”. Tampouco há indicadores de que a imensa maioria dos brasileiros esteja realmente feliz com as opções oferecidas por PT e por PSDB. Circunstancialmente, o brasileiro se acomoda há 20 anos com petistas e tucanos, mas há sinais por toda parte de que o modelo parece ter pontos de esgotamento.
A eventual derrota de Marina Silva agora em 2014 não elimina a hipótese de prosperar uma terceira força eleitoral numa outra disputa pelo Palácio do Planalto. A viabilidade desse fenômeno depende de vários fatores, um deles sendo o tamanho da votação da pessebista agora em 2014.
Se Marina Silva obtiver nas urnas mais de 20% (o que teve em 2010), ela sairá do processo maior do que entrou. Mais relevante ainda, ficará registrado um recado claro de uma parcela significativa da população. Seria como se estivessem dizendo o seguinte nas urnas neste 5 de outubro: “Ei, PT! Ei, PSDB! Vocês não me representam”.
Isso quer dizer que nos próximos ciclos eleitorais a vida de petistas e de tucanos não será tão suave e confortável. Mesmo com Marina Silva e seu grupo sofrendo uma derrota agora em 2014, parece que já germinou na política brasileira uma semente a favor de novidades na forma como o país deva ser governado.
É claro que o PT e o PSDB podem acordar. Podem se abrir de maneira inaudita, promovendo uma conexão mais direta e verdadeira com os eleitores. Produzir um verdadeiro “aggiornamento” na forma como fazem política.
Alguém acredita que petistas e tucanos tomarão esse rumo?
Se esses partidos não adotarem medidas para se modernizarem, tende a continuar forte na sociedade a sensação de que há algo de errado com a política tradicional.
No ritmo atual, e pressupondo-se que PT e PSDB continuarão a dormir em berço esplêndido, a eleição de 2018 terá espaço para outras novidades. Até porque, dentro do establishment, as alternativas serão nomes já muito manjados. O apelo novidadeiro será pequeno.
Não importa o resultado agora em 2014, o PT hoje tem dois nomes claros para a disputa presidencial daqui a 4 anos. O primeiro e mais óbvio é o de Luiz Inácio Lula da Silva, que terá 73 anos na eleição de 2018. A opção mais “renovadora” do PT é o atual ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que completará 64 anos no ano da próxima eleição presidencial.
Do lado do PSDB, se Aécio for vencedor agora, certamente tentará se reeleger em 2018. Outra opção entre os tucanos seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que já declarou a vários interlocutores seu desejo de voltar a disputar a Presidência (ele tentou e perdeu em 2006).
Como se sabe, 2015 será um ano dos mais difíceis do ponto de vista econômico e social, com muito aperto e degradação da sensação de bem estar das pessoas. O movimento “não me representa” na política voltará a se energizar nesse ambiente, possivelmente já a partir do primeiro semestre do mandato do novo presidente.
Marina Silva deliberadamente não quis reagir no início do horário eleitoral, quando virou saco de pancadas de Dilma –e logo depois, de Aécio também. Ela fala muito sobre seu desejo de “ganhar ganhando”. Cita a disputa de 1989, da qual saiu vencedor Fernando Collor de Mello contra Lula. Para Marina, naquele ano, Lula perdeu, mas foi o vencedor. Collor, ganhou, mas perdeu.
Nesta eleição, se perder, que imagem Marina terá deixado? A de que foi massacrada por comerciais vitriólicos do PT e do PSDB, tendo ficado sem tempo nem condições de responder. E mesmo quando contra-atacou, usou um tom sempre menos virulento do que o de seus detratores.
Em resumo, mesmo derrotada, Marina terá saído do processo preservando sua imagem –que é seu maior patrimônio. Ficará livre para lançar de uma vez a Rede Sustentabilidade, o seu partido político.
Com a Rede pronta, poderá começar a atuar nos movimentos sociais no ano que vem, quando o Brasil tiver de enfrentar um duro ajuste fiscal, com aperto nas condições financeiras de todos. O mau humor pode tomar conta de grande parte da população.
A eventual derrota neste 5.out.2014 poderá ser não o final, mas apenas um novo recomeço da trajetória política de Marina.
Tudo o que está escrito aqui deve, por óbvio, ser jogado na lata do lixo se Marina passar ao segundo turno. Se não passar, essa narrativa é a que descreve o cenário mais provável para a ex-senadora que hoje está filiada ao PSB.