Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : outubro 2014

Possível fracasso de Marina atrasa, mas não elimina 3ª via na política
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Fernando Rodrigues

Pesquisas indicam derretimento de candidata do PSB

Polarização PT-PSDB continua, mas tem futuro incerto

Petistas e tucanos ainda ouvirão “não me representam”

Marina-2013

Todas as pesquisas de intenção de voto divulgadas até a véspera da eleição de hoje (5.out.2014) indicam que pode estar ocorrendo um acelerado derretimento dos apoios de Marina Silva (PSB). É real a possibilidade de a pessebista ficar fora do 2º turno da disputa.

Se o processo de encolhimento eleitoral de Marina for mais agudo do que parece, fica inclusive robustecida a possibilidade –dada por muitos como remota– de vitória de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno.

Mas o que os institutos de pesquisa apontam como mais provável é uma rodada final entre Dilma e Aécio Neves (PSDB) no dia 26 de outubro de 2014, o segundo turno presidencial.

Se esse cenário se confirmar, a polarização PT-PSDB estará mais uma vez aprovada pela maioria dos eleitores brasileiros. Essa dicotomia teve início em 1994, há 20 anos. Vai então se repetir pela 6ª vez consecutiva. Novamente estará frustrada a construção de uma 3ª via na política brasileira no plano nacional.

As perguntas a serem feitas então são duas: 1) o que se passou com os mais de 70% dos brasileiros que têm respondido, pesquisa depois de pesquisa, que desejam uma mudança na forma de conduzir o país e a política? 2) Essa massa de eleitores agora ficou, subitamente, mais satisfeita?

Nada indica que foi preenchida a demanda por uma “nova política”. Tampouco há indicadores de que a imensa maioria dos brasileiros esteja realmente feliz com as opções oferecidas por PT e por PSDB. Circunstancialmente, o brasileiro se acomoda há 20 anos com petistas e tucanos, mas há sinais por toda parte de que o modelo parece ter pontos de esgotamento.

A eventual derrota de Marina Silva agora em 2014 não elimina a hipótese de prosperar uma terceira força eleitoral numa outra disputa pelo Palácio do Planalto. A viabilidade desse fenômeno depende de vários fatores, um deles sendo o tamanho da votação da pessebista agora em 2014.

Se Marina Silva obtiver nas urnas mais de 20% (o que teve em 2010), ela sairá do processo maior do que entrou. Mais relevante ainda, ficará registrado um recado claro de uma parcela significativa da população. Seria como se estivessem dizendo o seguinte nas urnas neste 5 de outubro: “Ei, PT! Ei, PSDB! Vocês não me representam”.

Isso quer dizer que nos próximos ciclos eleitorais a vida de petistas e de tucanos não será tão suave e confortável. Mesmo com Marina Silva e seu grupo sofrendo uma derrota agora em 2014, parece que já germinou na política brasileira uma semente a favor de novidades na forma como o país deva ser governado.

É claro que o PT e o PSDB podem acordar. Podem se abrir de maneira inaudita, promovendo uma conexão mais direta e verdadeira com os eleitores. Produzir um verdadeiro “aggiornamento” na forma como fazem política.

Alguém acredita que petistas e tucanos tomarão esse rumo?

Se esses partidos não adotarem medidas para se modernizarem, tende a continuar forte na sociedade a sensação de que há algo de errado com a política tradicional.

No ritmo atual, e pressupondo-se que PT e PSDB continuarão a dormir em berço esplêndido, a eleição de 2018 terá espaço para outras novidades. Até porque, dentro do establishment, as alternativas serão nomes já muito manjados. O apelo novidadeiro será pequeno.

Não importa o resultado agora em 2014, o PT hoje tem dois nomes claros para a disputa presidencial daqui a 4 anos. O primeiro e mais óbvio é o de Luiz Inácio Lula da Silva, que terá 73 anos na eleição de 2018. A opção mais “renovadora” do PT é o atual ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que completará 64 anos no ano da próxima eleição presidencial.

Do lado do PSDB, se Aécio for vencedor agora, certamente tentará se reeleger em 2018. Outra opção entre os tucanos seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que já declarou a vários interlocutores seu desejo de voltar a disputar a Presidência (ele tentou e perdeu em 2006).

Como se sabe, 2015 será um ano dos mais difíceis do ponto de vista econômico e social, com muito aperto e degradação da sensação de bem estar das pessoas. O movimento “não me representa” na política voltará a se energizar nesse ambiente, possivelmente já a partir do primeiro semestre do mandato do novo presidente.

Marina Silva deliberadamente não quis reagir no início do horário eleitoral, quando virou saco de pancadas de Dilma –e logo depois, de Aécio também. Ela fala muito sobre seu desejo de “ganhar ganhando”. Cita a disputa de 1989, da qual saiu vencedor Fernando Collor de Mello contra Lula. Para Marina, naquele ano, Lula perdeu, mas foi o vencedor. Collor, ganhou, mas perdeu.

Nesta eleição, se perder, que imagem Marina terá deixado? A de que foi massacrada por comerciais vitriólicos do PT e do PSDB, tendo ficado sem tempo nem condições de responder. E mesmo quando contra-atacou, usou um tom sempre menos virulento do que o de seus detratores.

Em resumo, mesmo derrotada, Marina terá saído do processo preservando sua imagem –que é seu maior patrimônio. Ficará livre para lançar de uma vez a Rede Sustentabilidade, o seu partido político.

Com a Rede pronta, poderá começar a atuar nos movimentos sociais no ano que vem, quando o Brasil tiver de enfrentar um duro ajuste fiscal, com aperto nas condições financeiras de todos. O mau humor pode tomar conta de grande parte da população.

A eventual derrota neste 5.out.2014 poderá ser não o final, mas apenas um novo recomeço da trajetória política de Marina.

Tudo o que está escrito aqui deve, por óbvio, ser jogado na lata do lixo se Marina passar ao segundo turno. Se não passar, essa narrativa é a que descreve o cenário mais provável para a ex-senadora que hoje está filiada ao PSB.


OAB federal deve dar registro a Joaquim Barbosa se OAB-Brasília negar
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Fernando Rodrigues

Pedro Ladeira/Folhapress - 24.jun.2013

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcus Vinicius Furtado Coêlho (foto), disse ao Blog que “poderá haver recurso ao Conselho Federal” da Ordem se a seção da OAB em Brasília negar registro de advogado para Joaquim Barbosa.

Na prática, Marcus Vinicius está dizendo que não adianta a OAB do Distrito Federal negar a reativação da carteira de advogado do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Quando o caso for para a instância superior da entidade, será analisado e o registro deve ser concedido –segundo o Blog apurou, embora o processo terá passar por um julgamento formal.

Eis o que disse Marcus Vinicius ao Blog:

A inscrição do ex-ministro Joaquim Barbosa está no âmbito da OAB do Distrito Federal. A OAB Nacional não pode interferir na autonomia da seccional, que possui essa competência definida por lei. Ainda não há decisão da OAB-DF. Quando vier a decisão, poderá haver recurso ao Conselho Federal. Mais um motivo para a OAB Nacional não opinar agora, porque ela terá que julgar a matéria. O certo é que a OAB respeitará a Constituição da Republica e a lei incidente sobre a questão”.

Nesta semana, o presidente da seccional da OAB do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, apresentou um documento no qual elencou episódios em que Barbosa teria demonstrado desapreço à categoria dos advogados. A iniciativa de Rocha pode resultar no impedimento da reativação da carteira de advogado de Barbosa –sem esse documento, o ex-presidente do STF não poderá exercer a profissão nem elaborar pareceres jurídicos para processos.

O presidente da OAB federal, Marcus Vinicius, resolveu dar uma declaração sobre o episódio para deixar claro que existe a possibilidade de recurso no caso de Barbosa não ter sucesso no âmbito da OAB de Brasília.

Há uma preocupação de que o veto a Joaquim Barbosa prejudique de maneira generalizada a imagem de advogados no país.

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Servidores do Ipea protestam contra show de mulatas em congresso acadêmico
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Fernando Rodrigues

Manifesto relaciona imagens ao turismo sexual e à violência contra a mulher

Sexismo “está no olhar de quem vê”, reage Marcelo Neri, ex-presidente do órgão

Imagens de mulatas de uma escola de samba interagindo com professores estrangeiros em um congresso organizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) provocaram incômodo entre os funcionários do órgão, vinculado ao governo federal.

Cinco servidores divulgaram uma carta aberta na última 3ª feira (30.set.2014) em protesto contra a iniciativa de contratar a apresentação das mulatas, considerada por eles “racista” e “sexista”.

O fato ocorreu no 6º Fórum Acadêmico dos Brics, organizado pelo Ipea e a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), no Rio de Janeiro, em março deste ano. As fotos começaram a circular há poucos dias.

Os servidores Natália de Oliveira Fontoura, Luana Simões Pinheiro, Antonio Teixeira Lima Júnior, Leila Posenato Garcia e Fernanda Lira Góes redigiram a carta e a divulgaram para os colegas. Eles afirmam que as imagens contradizem o esforço do governo federal para combater o turismo sexual e a violência contra as mulheres.

Para os funcionários, o show das mulatas no congresso evoca a “suposta sensualidade e disponibilidade dos corpos femininos negros (…) a serviço dos homens brancos”. A carta cita o episódio de camisetas lançadas pela Adidas na Copa do Mundo que representavam o Brasil como uma bunda usando biquini fio dental, retiradas do mercado após pressão do governo.

Marcelo Neri, hoje ministro da SAE, presidia o Ipea na época do congresso e aparece em uma das imagens. Ele minimiza as críticas dos servidores e afirma que as passistas representam uma manifestação cultural típica do Brasil.

“Aquilo era absolutamente normal dentro do Rio de Janeiro. Elas estavam exercendo seu trabalho”, diz Neri. A crítica de racismo e sexismo, diz, “está no olhar de quem vê”. “Estamos no Brasil, não estamos na Rússia”.

O Ipea é uma fundação criada em 1967 para dar suporte técnico ao governo na formulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento. O órgão se envolveu em outra polêmica recente, em abril, quando divulgou que 65% dos brasileiros apoiavam ataques a mulheres que mostram o corpo. O dado alarmante provocou enorme repercussão no país. Uma semana depois, o Ipea divulgou uma errata informando que o percentual correto era de 26% e o diretor responsável pela pesquisa, Rafael Guerreiro Osorio, pediu exoneração.

O Ipea, por meio de nota, informou que o show das passistas foi oferecido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, co-organizadora do evento. Segundo o site do congresso, o Fórum Acadêmico dos Brics tem por objetivo estabelecer redes acadêmicas entre pesquisadores dos cinco países que integram o bloco.

P.S. 1: Depois da publicação deste post, o Blog recebeu mensagem de parte dos signatários informando que a carta de protesto divulgada está ‘em vias de conclusão’ e recebeu a adesão de dezenas de novos servidores. Os signatários também manifestaram preocupação com a exposição dos servidores e das passistas. Como se trata de instituição pública (Ipea) e de um assunto que tem relevância jornalística, o Blog considera que o correto foi publicar o documento de protesto –até porque o texto (com as fotos) estava sendo enviado para inúmeras pessoas e não era, nem de longe, algo reservado nem muito menos secreto.

P.S. 2: O Ipea divulgou uma segunda nota, na noite de 6ª feira (3.out.2014), informando ser “costume” nos Fóruns Acadêmicos dos Brics oferecer uma apresentação de grupo cultural típico do país anfitrião. A organização do evento contratou o grupo de passistas da escola Acadêmicos do Grande Rio pelo valor de R$ 5.500. Na nota, o Ipea diz reiterar seu compromisso com “o combate à discriminação de gênero e raça no Brasil” e seu apoio à cultura popular.

(Bruno Lupion)

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Dilma, Marina e Aécio vão a reboque do conservadorismo do brasileiro
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Fernando Rodrigues

Candidatos seguem posições majoritárias do eleitor sobre aborto e maconha

Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), os 3 principais candidatos à Presidência, concordam em 2 pontos polêmicos. Não querem mexer nas regras sobre aborto e drogas. Uma razão matemática opera por trás dessa unanimidade: a imensa maioria dos brasileiros é conservadora nesses temas.

Pesquisa da agência Hello Research feita com 1.000 pessoas em 17 de agosto a 2 de setembro aponta que o eleitor não apoia iniciativas liberais sobre os 2 assuntos. Entre os entrevistados, 85% são contrários à legalização do aborto e 72% à descriminalização da maconha. Dilma, Marina e Aécio nadam no mesmo sentido da corrente.

Essa confluência conservadora dos 3 candidatos não se repete quando o assunto é redução da maioridade penal. Segundo a pesquisa da Hello Research, 83% dos entrevistados querem reduzir a maioridade para 16 anos. Apesar da maioria estrondosa, Dilma e Marina são contra mudanças na lei. Já Aécio defende que maiores de 16 anos envolvidos em crimes graves sejam punidos como adultos (tabela abaixo).

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A criminalização do aborto, no Brasil, é uma lei pouco respeitada. O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde estima que ocorram 800 mil interrupções provocadas de gravidez por ano no país. Segundo o jornal “O Globo”, em 20 Estados há hoje um total de 4 mulheres presas por terem abortado —3 no Paraná e 1 em Minas Gerais. Infográfico publicado pelo jornal britânico “The Guardian” na 4ª feira (1º.out.2014) mostra que o Brasil é um dos países mais atrasados do mundo no quesito.

Experiências com descriminalização ou legalização da maconha têm avançado no continente. No Uruguai, a venda da droga em farmácias começa em 2015, e em 37 Estados norte-americanos a maconha já foi liberada para uso médico ou recreativo. No Brasil, a depender dos políticos com maior força eleitoral, medidas nesse sentido devem demorar a ocorrer.

Os resultados da pesquisa Hello Research são semelhantes aos apurados em levantamentos recentes do Ibope e do Datafolha.

(Bruno Lupion)

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Dilma supera Lula e FHC em ida a debates durante campanha à reeleição
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Fernando Rodrigues

Petista é a primeira candidata à reeleição ao Planalto que vai a debates no 1° turno

No entanto, Dilma se recusou a participar de confronto direto na web com Marina e Aécio

Presidente esteve em 13 grandes entrevistas e sabatinas neste ano; concorrentes foram a 17

Com o debate desta 5ª feira (2.out.2014), a presidente Dilma Rousseff (PT) terá participado de 5 eventos desse tipo e de 17 grandes entrevistas e sabatinas nesta sua campanha por mais 4 anos no Palácio do Planalto. Trata-se de exposição muito superior à enfrentada pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1998 e 2006, quando ambos renovaram seus mandatos.

Além do debate presidencial organizado nesta 5ª feira à noite pela Rede Globo, ela também já foi aos debates da TV Bandeirantes (26 de agosto), UOL, “Folha”, SBT e Jovem Pan (1° de setembro), CNBB (16 de setembro) e Record (28 de setembro).

A presidente e sua equipe não aceitaram neste ano de 2014, entretanto, um debate apenas na internet que permitiria ter apenas os 2 ou 3 principais colocados se enfrentando. Em 2010, UOL e “Folha” promoveram um evento desse tipo apenas com Dilma, o tucano José Serra e Marina Silva, então filiada ao PV.

Mas Dilma é a primeira candidata à reeleição ao Planalto que participa de debates no primeiro turno. FHC, em 1998, e Lula, em 2006, se recusaram a ir a esses programas (tabela abaixo). O tucano venceu em turno único. Lula, no segundo turno, aceitou debater com Geraldo Alckmin (PSDB).

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Em 2006, cobrado por sua negativa em participar de debates no primeiro turno, Lula afirmou que “o presidente da República não pode se expor, tem de preservar a instituição”.

À época, o antecessor servia de exemplo. “Não é hábito do presidente ir a debate. O Fernando Henrique não foi a nenhum debate. Eu nunca vi ninguém cobrar dele”, disse.

Enfrentamentos diretos entre os candidatos ajudam o eleitor a decidir seu voto. Pesquisa feita pela consultoria Expertise com 1.188 eleitores aponta que os debates contam mais que as notícias e os programas eleitorais na escolha do candidato.

 

ENTREVISTAS
O espaço reservado para entrevistas e sabatinas na agenda de Dilma nesta campanha também é superior à da sua primeira disputa, em 2010, e à campanha de Lula em 2006.

Neste ano, houve 17 entrevistas e sabatinas organizadas por grandes veículos de comunicação ou entidades setoriais com os principais candidatos.

Marina Silva (PSB) –ou Eduardo Campos, que morreu em 13.ago.2014– e Aécio Neves (PSDB) foram a todas elas. Dilma, a 13. A petista não concedeu entrevistas ao programa Poder e Política, do UOL e da “Folha”, ao portal “G1”, ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, e ao Jornal da Globo.

Em 2010, houve 12 entrevistas e sabatinas do gênero. Dilma faltou a 4: as organizadas pelos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo” e “O Estado de S.Paulo” e à sabatina da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). Naquele ano, José Serra (PSDB) foi a todos os eventos e Marina não participou apenas da sabatina na CNA. Os 3 foram a um debate exclusivo pela internet promovido pelo UOL e a “Folha”.

Em 2006, 10 entrevistas tentaram reunir os principais candidatos no primeiro turno. Lula foi a 7 e negou convites dos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo” e “O Estado de S.Paulo”. Geraldo Alckmin (PSDB) e Heloísa Helena (PSOL) participaram de todos os eventos.

Compare abaixo a participação dos 3 principais candidatos em entrevistas, sabatinas e debates nas eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014:

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(Bruno Lupion)

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Agora, no último programa na TV, Marina decide fazer ataque frontal a Dilma
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Fernando Rodrigues

Peça não ensina de maneira didática ao eleitor número da pessebista na urna

A candidata do PSB a presidente da República, Marina Silva, decidiu usar seu último programa na propaganda eleitoral do 1° turno, nesta 5ª feira (2.out.2014), para transmitir uma de suas falas mais duras contra a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. Marina acusa a petista de ser mentirosa ao dizer que não sabia da corrupção na Petrobras e diz que Dilma é inexperiente porque “não foi nem vereadora”.

Esse tom foi adotado na campanha do PSB nos últimos dias. Na TV, é o programa de ataque frontal mais direto em toda a propaganda eletrônica marinista. A candidata vinha se recusando a usar esse tipo de discurso em outras fases da campanha, apesar de ter sido fustigada de maneira incessante nas últimas 4 semanas, tanto por Dilma como pelo candidato Aécio Neves, do PSDB.

O programa foi ao ar na televisão nesta 5ª feira, quando se encerra o horário eleitoral. A peça é dirigida pelo marqueteiro Diego Brandy e tem 2 minutos e 3 segundos de duração.

Diante do tempo exíguo de TV, o PSB preferiu priorizar um discurso político da candidata, e não ensinar, de forma didática, em que número o eleitor de Marina deve votar na urna. Isso poderá ser um problema para a pessebista. Segundo o Datafolha, os eleitores de Marina são os que menos conhecem o número de sua candidata. Somente 47% dos eleitores de Marina sabem citar corretamente seu número de urna. Entre os eleitores de Dilma, a taxa é de 66% e, entre os de Aécio, de 61%. A pesquisa foi feita em 29 e 30 de setembro.

Assista abaixo ao programa. O discurso foi gravado durante evento com militantes do PSB e da Rede e apoiadores de Marina em São Paulo nesta 3ª feira (30.set.2014).

O Blog analisou a reta final da corrida presidencial no post “Fortalecida, Dilma agora pode escolher quem prefere enfrentar no 2º turno“, publicado nesta 4ª feira (1°.out.2014).

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Fortalecida, Dilma agora pode escolher quem prefere enfrentar no 2º turno
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Fernando Rodrigues

Estratégia eficaz na TV permite à petista influir sobre quem será seu adversário

A presidente Dilma Rousseff (PT) chegou a esta fase da campanha eleitoral de 2014 com um trunfo nada desprezível: está em suas mãos a decisão de colocar no segundo turno Marina Silva (PSB) ou Aécio Neves (PSDB). A petista vai escolher quem preferirá enfrentar.

É evidente que Dilma gostaria de vencer ela própria a disputa já no primeiro turno do dia 5.out.2014. Mas essa é uma possibilidade incerta e mais improvável, como mostrou a pesquisa Datafolha realizada ontem e anteontem (29-30.out.2014).

Dilma tem 40% contra 25% de Marina. Aécio está em terceiro, com 20%. As curvas de intenção de voto do Datafolha mostram que Dilma pode ter chegado muito perto de seu limite máximo. Ela tem agora os mesmos 40% da semana passada.

Já Marina parece ainda não ter chegado ao seu piso. E Aécio tem se beneficiado dos votos perdidos pela pessebista. É o tucano, e não Dilma, que parece estar herdando os eleitores em processo de descolamento do marinismo

O que isso significa? Quatro coisas principais:

1) Narrativa do medo deu certo: funcionou muito bem para Dilma a estratégia de bater sem dó nem piedade em Marina nos comerciais de TV. Entrou na cabeça de muitos eleitores o sentimento de dúvida e de medo do desconhecido. A pessebista entrou em curva descendente acentuada;

2) PT aproxima-se do seu patamar: ainda falta um pouco, mas a presidente em busca da reeleição começa a ficar mais perto da taxa de intenção de votos que teve nesta mesma época em 2010 (tinha 47%) e à de Lula às vésperas do primeiro turno em 2006 (46%);

3) Marina desidratou: a candidata a presidente pelo PSB guarda semelhanças com a equipe de futebol do Santos contra a do Barcelona, em Tóquio, na final do campeonato mundial de times da Fifa, em 2011. Mesmo com excelentes jogadores (Neymar e Ganso em forma), o Santos ficou de joelhos enquanto apanhava do Barcelona, até que o placar de 4 a 0 para os espanhóis encerrou o sofrimento. A impressão hoje é que se a eleição fosse apenas em dezembro, Marina terminaria devendo votos, pois reage mal ou não reage aos ataques dos quais vem sendo alvo;

4) Aécio ajudou a tática do PT: mesmo com apenas cerca de 4 minutos na TV, o tucano escolheu bater em Marina. Pode parecer pouco, mas ao dizer que “a Marina é a Dilma com outra roupa”, Aécio contribuiu para a afirmação do nefando processo de “assemelhamento” da política (“os políticos são todos iguais”). De um lado, a campanha presidencial do PT mostrava as inconsistências programáticas de Marina. Do outro, o PSDB dizia que as duas eram a mesma coisa.

Em meio a esse cenário, o eleitor viu ser alimentado o sentimento de desencanto com a política.

Tudo isso levou a uma vitamização inaudita de Dilma Rousseff e da arriscada (e arrojada) estratégia desenhada pelo seu marqueteiro, João Santana.

Hoje, com seus 12 minutos na TV, dezenas e dezenas de comerciais ainda para colocar no ar, Dilma tem duas decisões pela frente. Pode continuar a malhar Marina nos próximos dias antes da eleição e acabar de destruir as chances da candidata do PSB. Alternativamente, pode retirar o pé do acelerador e ajudar o marinismo a passar para o segundo turno no olho mecânico –até porque o processo está em curso e nada pode ser feito de maneira automática, simplesmente apertando um botão.

A definição de Dilma e de João Santana parece clara: o PT prefere mil vezes enfrentar Aécio no segundo turno. E não Marina. Assim como lá atrás, o maior temor dos petistas era que Eduardo Campos (que morreu em 13.ago.2014) pudesse crescer e passar para a fase final da disputa.

Por que havia (com Eduardo) e há (com Marina) esse temor? Simples. Instalou-se no Brasil ao longo dos últimos anos uma fadiga entre os eleitores a respeito da política tradicional. Ninguém mais aguenta chegar em casa, ligar a TV e assistir a mais uma reportagem sobre roubalheira em Brasília com políticos engravatados dizendo “eu posso explicar”.

Num cenário como o atual, quando a eleição torna-se mais equânime (no segundo turno), fica sempre em vantagem política aquele candidato que evoca o “novo” e tem um discurso mais afinado com as manifestações de junho de 2013. Não importa que seja apenas retórica. Há uma demanda aguda na sociedade por mudanças. Mesmo que apareça alguém preenchendo essa necessidade só no gogó, sempre terá chances de prosperar –para o bem e para o mal, diga-se.

Isso não significa que se o segundo turno for entre Dilma e Marina a vitória é certa para o PSB. Claro que não. Mas certamente terminaria o estado de catatonia a que Marina se acorrentou no momento. Não seria tão fácil Dilma pelear com a pessebista se as duas tivessem as mesmas armas (tempo de TV igual e dinheiro).

Na dúvida, Dilma e João Santana sabem que é muito melhor disputar contra algo que já se conhece. O segundo turno do PT contra o PSDB não seria uma moleza para ninguém, mas as táticas já são todas manjadas.

Há também o fato de que Aécio, mesmo que passe para o segundo turno, estará bem debilitado em seu Estado natal, Minas Gerais, onde há reais chances de derrota do candidato do PSDB ao governo mineiro, Pimenta da Veiga. Pior: pode vencer o nome petista, Fernando Pimentel, que vem a ser amigo pessoal de Dilma Rousseff –ambos militaram na luta armada no final dos anos 1960.

Minas Gerais, nunca é demais lembrar, é o segundo maior colégio eleitoral do país. Em 2010, com pouquíssima estrutura, Marina teve forte votação entre os mineiros e poderia repeti-la neste ano, num eventual segundo turno.

Por todas essas razões, Dilma e João Santana tendem a acelerar o quanto puderem o processo de desconstrução de Marina. O comercial que vai à TV nesta quarta-feira (1º.out.2014) é prova disso. A diferença de 5 pontos percentuais que separa a pessebista de Aécio no Datafolha pode ser dilapidada até domingo, dia da eleição, 5.out.2014.

É claro que alguma reação poderá surgir por parte de Marina. Mas essa atitude deveria ter surgido há pelo menos umas duas semanas, no mínimo. Por exemplo, não deixando no ar acusações tão graves como a de que teria mentido a respeito de como votou, no Senado, no caso da CPMF, o imposto do cheque para a saúde.

Talvez nenhum eleitor brasileiro escolherá seu candidato a presidente pensando em como Marina votou sobre a CPMF. É verdade. Mas esse episódio é apenas um entre vários que ajudaram a produzir buracos na embarcação marinista.

João Santana não fez nenhum comercial mortal, para produzir um nocaute. Como numa luta de boxe, foi dando “socos de 30 segundos” no fígado do adversário. E continua na mesma toada.

É curioso que uma política experiente como Marina tenha ficado até agora em estado quase catatônico, sem tentar algum tipo de reação ou resposta mais convincente quando foi atacada. Não vale dizer que ela não teve tempo de TV para se explicar. É só observar que o PSB tampouco teve tempo de TV quando a candidata estava quase 10 pontos percentuais à frente de Dilma, na média das pesquisas.

A OPÇÃO DE AÉCIO
Seria um erro ou uma injustiça dizer que Aécio foi apenas linha auxiliar do PT, incorporando bovinamente a estratégia de João Santana e sentando a pua em Marina? Talvez.

Mas foi exatamente o que aconteceu.

O tucano pode até disparar e vir a vencer a eleição presidencial mais adiante. Tomará posse em 1º de janeiro de 2015. Tudo então será esquecido.

Mas se a vitória não vier, terá de ser creditada ao fato de Aécio não ter enxergado em anos recentes o sentimento geral dos brasileiros a respeito de mudanças. Houve uma última chance para ele em junho de 2013. Aécio poderia ter pensado: “Vai ser difícil eu ganhar uma eleição presidencial apenas com a política tradicional, aliando-me ao DEM e falando com a mesma entonação de meu avô nos discursos públicos”.

A palavra chave na política do século 21 é “conexão”. Os eleitores desejam se sentir conectados aos governantes. Aspiram a um outro tipo de interação em vez de apenas votar uma vez a cada 4 anos para presidente. Querem se sentir participantes do processo.

Aécio ficou longe de incorporar atitudes que pudessem ensejar essa nova abordagem. Até meados deste ano de 2014, o tucano sequer participava de redes sociais. Não tinha perfil no Facebook nem no Twitter.

Alguns dirão: mas se tudo isso é verdade, por que Dilma tem 40% nas pesquisas e pode ganhar? Afinal, a petista pode ser tudo, mas não tem nada a ver com formas modernas de fazer política,

A resposta é simples. Essa nova embocadura dos políticos é esperada de quem pretende fazer oposição. Dilma e todos os governadores que fazem administrações medíocres, mas sem nenhuma grande catástrofe para o dia a dia dos cidadãos, continuam bem fortes.

Contrariamente ao senso comum, o brasileiro é, antes de mais nada, um conservador. Basta ver o sucesso das propagandas com a narrativa do medo, estimulando a dúvida das pessoas a respeito do desconhecido que é Marina –como já elaborei neste post aqui.

Cabe ao opositor estruturado se apresentar como novidade, mas ofertando segurança na transição de um modelo para o outro. Aécio e a política tradicional do PSDB não oferecem isso.

O tucano, é sempre bom ressaltar, pode até acabar vencendo –sobretudo numa eleição com tantas surpresas como a atual. Mas não é o que mostra a lógica do atual ciclo eleitoral. Alguém acredita em docilidade de Dilma e de João Santana no segundo turno?

E é muito importante também olhar para São Paulo. O Estado não está uma maravilha. Sofre com a iminência do esgotamento da água. A sensação de que a segurança vai mal é generalizada. Ainda assim os tucanos, agora com Geraldo Alckmin, vão ficando no poder. Por quê? Porque as alternativas não oferecem, aos olhos dos eleitores, uma relação custo-benefício aceitável: mudar com chances de tudo melhorar.

Os paulistas podem ser classificados de conservadores, mas ninguém pode acusá-los de não enxergar grandes alternativas e novidades em Paulo Skaf (presidente da Fiesp) nem em Alexandre Padilha (político profissional).

No plano federal, Aécio acerta ao dizer que faz campanha contra o PT e contra Dilma. De fato, há eleitores no país que gostariam de mudar.

Só que quando Eduardo Campos morreu, em 13 de agosto, o tucano começou a ficar em pânico porque despencou nas intenções de voto, tendo seus votos corroídos pela onda pró-Marina. A reação espasmódica –e não política– foi atacar a pessebista: “Marina me tira votos? Vou espancá-la”.

Aécio e seus marqueteiros jogaram dama e não xadrez. Não tentaram ganhar o jogo pensando no máximo de movimentos possíveis do adversário. Ao atacarem Marina, desidrataram quem talvez pudesse se robustecer para, de fato, derrotar o PT no segundo turno.

Os tucanos então vão reclamar dizendo: mas você escreve que Aécio está sendo linha auxiliar do PT e está sugerindo que ele fosse linha auxiliar da Marina?

Não, não é nada disso.

Em política ganha o jogo quem faz a melhor análise de conjuntura. Não adianta ficar emburrado e achando que vai ganhar a eleição dizendo “esta é minha vez”. Ulysses Guimarães, venerado por tantos (não por mim), cometeu esse erro. Em 1989 colocou na cabeça que aquela era a vez dele. Teve 4% dos votos. Se em algum momento tivesse optado por montar uma frente ampla contra Fernando Collor, talvez o Brasil pudesse ter sido privado daquele que foi um dos piores presidentes da história do país.

No caso de Aécio, faltou sangue frio. Ele é jovem. Poderia ter participado de uma estratégia mais ampla. Marina vive dizendo que se ganhar ficará só um mandato no Planalto. Em política quatro anos é muito tempo. É sempre temerário firmar um acordo com essa antecedência. Mas essa parecia ser uma janela real para o PSDB tentar retornar ao poder em 2018.

O PSDB e Aécio poderiam ter continuado, como vinham fazendo até agosto, na sua estratégia de falar aos eleitores a respeito do que consideram não funcionar na administração federal do PT. Ao abdicar dessa tarefa e se juntar a Dilma na cruzada anti-Marina, o tucano pode até –isso ainda não é certo– ter conseguido um passe para entrar no segundo turno.

Mas entrará como? Possivelmente, Aécio indo ao segundo turno terá aproximadamente 23% a 25% dos votos totais do dia 5 de outubro. Marina estará um pouco abaixo. Dilma estará lá em cima, com algo na casa dos 40%. Em todas as eleições brasileiras, quem terminou o primeiro turno bem à frente, sempre ganhou a rodada final –essa não é uma regra imutável, mas alguma coisa de lógica existe aí.

O tucano terá então ajudado para que se autocumprisse a “profecia de João Santana”. O marqueteiro disse uma vez que Dilma ficaria nesta eleição flanando no Olimpo enquanto os anões políticos se digladiariam na planície. É exatamente o que está se passando.

Eleições como esta de 2014 são vencidas na política. Dilma fez o diabo, como ela própria disse que poderia fazer. Marina ficou paralisada, esperando a providência divina. E Aécio pensou que ser eleito presidente era como ganhar a eleição para governador de Minas Gerais.

EFEITO COLATERAL
Para terminar este texto excessivamente longo, uma última observação.

Imagine o que acontecerá se Dilma vencer a disputa com a fórmula que todos estamos vendo: muito tempo de TV + aliança ampla de partidos não-ideológicos (perdão pelo pleonasmo “partidos não-ideológicos”) + propaganda negativa tecnicamente perfeita quando as coisas apertam?

Essa passará a ser a receita de ouro de todos os políticos, sejam candidatos a presidente, governador ou a prefeito.

E daí? Daí que as forças hegemônicas farão de tudo e mais um pouco para jamais alterar as bases deste sistema perverso que permite a montagem de alianças na base da fisiologia, como Dilma, Lula e FHC já fizeram.

Quem se importa que os debates no primeiro turno sejam um lixo, com figuras tristes como a de Levy Fidelix produzindo despautérios? O que importa é ganhar a eleição. E o modelo atual dá a muitos políticos o acesso ao paraíso.

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