Presidente do HSBC não esclarece SwissLeaks para CPI do Senado
Fernando Rodrigues
Bem treinado, André Brandão negou ter dados sobre brasileiros com contas na Suíça
Escândalo provocou “desgaste” ao banco, mas não trouxe “grande impacto financeiro”, disse
O presidente do HSBC no Brasil, André Brandão, não trouxe novos elementos para a investigação de supostos crimes de sonegação fiscal e evasão de divisas que teriam sido cometidos por brasileiros com contas na agência de Genebra do banco. Ele falou à CPI do HSBC no Senado nesta terça-feira (5.mai.2015).
Brandão estava bem treinado –o banco contratou especialistas em comunicação e marketing nas últimas semanas para instruí-lo sobre como se comportar no Senado. Tentou adotar um tom humilde. Usou voz baixa e dirigia um olhar lateral aos senadores.
Ficou imperceptível para os presentes a forte dor lombar que quase impediu André de comparecer à CPI. Ele teve de tomar remédios fortes nesta terça-feira, depois de se consultar com um médico, para suportar as mais de duas horas de depoimento.
Sempre que indagado sobre as contas de brasileiros na filial Suíça do banco, Brandão respondeu que o HSBC no Brasil não tinha dados a respeito. Repetiu a frase diversas vezes ao longo da audiência.
O nome e os valores depositados por correntistas na filial Suíça do HSBC em 2006 e 2007 foram obtidos pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos). O caso, conhecido como SwissLeaks, é o maior vazamento de dados bancários da história. No Brasil, a apuração é realizada pelo UOL e o jornal “O Globo”.
Brandão reconheceu que o assunto é “desgastante” para o banco, mas não provocou “grande impacto financeiro”. Ressaltou que os dados haviam sido furtados do HSBC na Suíça por um ex-funcionário –Hervé Falciani– e que se tratava de um “caso antigo”. Na sua narrativa, de “uma década” atrás.
A lógica foi delimitar a ocorrência de fraudes por meio de contas no HSBC ao passado e tentar vender o banco de hoje como uma instituição que promove o combate rigoroso à lavagem de dinheiro.
Na sua fala, Brandão apresentou o ano de 2012 como um divisor de águas para a instituição financeira. Naquele ano, o banco foi multado em US$ 1,9 bilhão nos Estados Unidos por “falha de procedimentos internos” que favoreceram movimentações financeiras de traficantes de drogas que operavam entre México e Estados Unidos.
Depois, disse, o HSBC teria modificado profundamente seu relacionamento com clientes de alto risco. Citou números: até 2012, o banco tinha, em todo mundo, 1.500 funcionários em seu setor de compliance, mobilizados para evitar o uso de contas para fins criminosos. Hoje seriam 7.000 funcionários no setor, dos quais 400 no Brasil.
O novo padrão de rigor foi aplicado à filial brasileira, disse. Em 2012 o HSBC no Brasil tinha 14 milhões de contas correntes no país. Naquele ano, decidiu fechar 4,5 milhões de contas “dormentes”, pois concluiu que elas poderiam vir a facilitar transações criminosas.
Segundo Brandão, clientes de alto risco também passaram a ser consultados uma vez por ano por seus gerentes, para que justificassem seu patrimônio e sua renda.
Indagado se o HSBC no Brasil está à venda, como noticiado nas últimas semanas, Brandão afirmou que se tratava de rumores e que a matriz está sempre reavaliando seus ativos. A instituição tem 260 mil funcionários, dos quais 21 mil no Brasil.
A Receita Federal no Brasil já obteve o acervo de dados sobre os brasileiros que tinham contas no HSBC da Suíça em 2006 e 2007, e sinalizou que não perseguirá crimes de sonegação fiscal ocorridos nesses anos.
O Ministério Público Federal, responsável pela apuração do crime de evasão de divisas, ainda está em contato com autoridades da França, que validaram os dados, e espera obter a listagem ainda neste mês de maio.