Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : eleições 2014

Poder e Política na semana – 6 a 12.out.2014
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Fernando Rodrigues

Nesta semana, Dilma Rousseff e Aécio Neves correm atrás de alianças e traçam a estratégia para a reta final da campanha.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ser acionado para conversar com Roberto Amaral, presidente do PSB. Aécio aposta numa aproximação com o ex-tucano Walter Feldman, que atuou como braço direito de Marina na campanha.

Ricardo Moraes/Reuters - 3.out.2014

A partir das 17h desta 2ª feira, está liberada a propaganda eleitoral nas ruas, com distribuição de panfletos e uso de carros de som. No sábado começa o horário eleitoral em rádio em TV para o segundo turno, com tempo distribuído igualmente entre os dois candidatos.

Na 4ª feira, o PSB reúne sua Executiva Nacional, em Brasília, para anunciar a posição do partido no segundo turno da corrida presidencial.

O Congresso retoma suas atividades nesta semana. Na 3ª feira, os líderes partidários reúnem-se na Câmara e definem a pauta de votações. Na lista, a MP 650/14, que reestrutura as carreiras da Polícia Federal e concede reajuste para agentes, escrivães e papiloscopistas. Na 4ª feira, a CPI Mista da Petrobras colhe depoimento de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef.

No domingo, a Bolívia realiza eleições presidenciais. O presidente Evo Morales tem 59% das intenções dos votos válidos, segundo pesquisa divulgada na última 6ª feira (4.out.2014).

Eis, a seguir, o drive político da semana. Se tiver algum reparo a fazer ou evento a sugerir, escreva para frpolitica@gmail.com. Atenção: esta agenda é uma previsão. Os eventos podem ser cancelados ou alterados.

 

2ª feira (6.out.2014)
Propaganda eleitoral – a partir das 17h, está liberada a propaganda eleitoral para o segundo turno, como distribuição de panfletos, uso de carros de som e carreatas.

Aécio em SP – Aécio Neves, candidato do PSDB a presidente, reúne-se com apoiadores em São Paulo.

Economia em debate – Associação Nacional do Ministério Público de Contas e Tribunal de Contas da União promovem o debate “Por que o Brasil cresce pouco?”, com os economistas Raul Velloso, Marcos Lisboa, Marcos Mendes e Samuel Pessoa. Às 14h, no auditório do TCU, em Brasília.

Racionamento em SP – Sabesp entrega à Agência Nacional das Águas versão final do plano de contingência para o Sistema Cantareira.

Inflação – Dieese divulga pesquisa nacional da cesta básica.

TED no Rio – ciclo de conferências TED realiza evento global no Rio, na praia de Copacabana. Até 6ª feira (10.out.2014).

 

3ª feira (7.out.2014)
Dilma e eleitos – campanha de Dilma Rousseff à reeleição reúne petistas e apoiadores eleitos no primeiro turno para cobrar dedicação exclusiva no segundo turno.

Pezão com PT – Petistas do Rio podem se reunir com o governador Luiz Fernando Pezão, candidato do PMDB à reeleição, que disputará o segundo turno contra Marcelo Crivella (PRB). O encontro foi convocado pelo prefeito de Paraty, Casé Miranda, do PT.

PF e Serra – Polícia Federal deve ouvir José Serra (PSDB), senador eleito por São Paulo, sobre contatos com empresas do cartel de trens que teria atuado no Estado entre 1998 e 2008.

Custo de vida – Dieese divulga pesquisa sobre o custo de vida na cidade de São Paulo.

Votações na Câmara – Casa retoma atividades normais. Reunião de líderes define a pauta de votações da semana. Na lista, a Medida Provisória 650/14, que reestrutura as carreiras da Polícia Federal e concede reajuste para agentes, escrivães e papiloscopistas.

 

4ª feira (8.out.2014)
PSB e o 2º turno – partido reúne sua Comissão Executiva Nacional, em Brasília, e deve anunciar que posição tomará no segundo turno da disputa presidencial.

Orçamento – Comissão Mista de Orçamento vota relatório preliminar do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) ao projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2015.

Petrobras – CPI Mista da Petrobras colhe depoimento de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef.

Processo contra Argôlo – Conselho de Ética da Câmara vota parecer sobre os processos contra o deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), acusado de quebra de decoro por manter contatos com o doleiro Alberto Youssef.

Greve no ABC – metalúrgicos do ABC de veículos planejam iniciar greve para pressionar por reajuste salarial. A paralisação não atinge os operários de montadoras, que já negociaram reajustes.

Inflação – IBGE divulga o IPCA de setembro, o índice oficial de inflação do país.

Emprego – FGV divulga Indicador Antecedente de Emprego e Indicador Coincidente de Desemprego referente a setembro.

Indústria – IBGE divulga a produção industrial do país em setembro.

Construção civil – IBGE apresenta resultado dos Índices da Construção Civil.

Serviços – FGV apresenta resultado da Sondagem de Serviços.

 

5ª feira (9.out.2014)
Justiça do Rio – OAB-RJ define lista de 6 advogados para serem indicados para uma vaga de desembargador do Tribunal de Justiça do Rio. Pela primeira vez, a votação será de direta e aberta para 150 mil advogados do Estado. A escolha final é do governador. Neste ano, o ministro Luiz Fux, do STJ, ligou para conselheiros da OAB e desembargadores do TJ do Rio fazendo campanha para a filha, Marianna, o que causou constrangimento no meio jurídico.

Gullar na ABL – Academia Brasileira de Letras deve eleger o poeta Ferreira Gullar como novo imortal.

Agricultura – IBGE divulga o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola.

Indústria – FGV divulga a Sondagem da Indústria.

 

6ª feira (10.out.2014)
Investimento estrangeiro – Câmara de Comércio Brasil-EUA promove seminário a investidores estrangeiros sobre economia brasileira, em Washington. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria, participam.

Energia limpa – Agência Nacional de Energia Elétrica realiza leilão de energia de reserva, destinada a suprir eventual falta de energia produzida por usinas hidrelétricas. Podem participar fornecedores de energia solar, eólica e de biomassa.

Empresários reunidos – jornal “Valor Econômico” promove seminário com líderes empresariais, em SP. Rubens Ometto, presidente da Cosan, é um dos palestrantes.

Emprego – IBGE divulga pesquisa mensal sobre Emprego e Salário.

 

Sábado (11.out.2014)
Horário eleitoral – início do período de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.

Prisão de candidatos – a partir desta data, nenhum candidato que participará do segundo turno de votação poderá ser detido ou preso, salvo em flagrante delito.

 

Domingo (12.out.2014)
Bolívia vota – país latino-americano elege deputados, senadores e presidente. O presidente Evo Morales tem 59% das intenções dos votos válidos, segundo pesquisa divulgada na última 6ª feira (4.out.2014). O empresário Samuel Doria Medina tem 41%.

Bósnia Herzegovina nas urnas – país balcânico realiza eleições legislativas.

 

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Marina será acusada de ir “para a direita” se apoiar Aécio, diz Amaral
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Fernando Rodrigues

Presidente nacional do PSB diz que situação da candidata derrotada é “incômoda”

O presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, disse na madrugada desta segunda-feira (6.out.2014) que Marina Silva está numa situação “incômoda”.

Se a terceira colocada na corrida presidencial decidir-se por apoiar Aécio Neves (PSDB) na disputa de segundo turno, pode ser acusada de “ir para a direita”. A frase de Amaral foi dita no programa “Canal Livre”, da TV Bandeirantes.

Por outro lado, se Marina decidir-se por apoiar Dilma Rousseff (PT), estará indo contra o discurso sobre renovar a política que pregou durante o primeiro turno.

A provocação de Amaral foi uma reação ao que parece ser o caminho natural de sua candidata a presidente a partir de agora. É que na sua primeira aparição após a derrota, Marina sinalizou que poderia apoiar Aécio Neves.

Roberto Amaral afirmou que, pelo que conhece de Marina Silva, acha que ela pode acabar não apoiando ninguém no segundo turno –e aí seria classificada de “omissa”.

A neutralidade de Marina é o desejo maior do PT e de Dilma Rousseff, pois assim ficaria mais fácil para a candidata à reeleição “pescar” apoios entre os eleitores marinistas.

O presidente do PSB disse ter conversado com a candidata pessebista no final do domingo (5.out.2014). “Eu estava mais deprimido do que ela”, declarou. Marina “estava alegre e disse que foi além” do que as condições política permitiam.

Amaral e Marina combinaram de tentar anunciar uma posição conjunta ao longo desta semana. Mas o dirigente do PSB declara ser possível que o partido e o grupo liderado por Marina, a Rede, tenham posições divergentes. O objetivo, entretanto, é buscar um consenso.

No programa da TV Bandeirantes, Amaral fez uma brincadeira com o tucano Andrea Matarazzo, que também estava presente ao “Canal Livre”. Ao comentar o fato de Aécio Neves não ter ido tão bem Minas Gerais, Amaral observou: “É quem em Minas o Aécio é bem conhecido”.

Nesta segunda e terça-feira, Amaral pretende consultar líderes do PSB, sobretudo os governadores da legenda –os atuais, os que foram eleitos e os candidatos que vão disputar o segundo turno. Na quarta-feira (8.out.2014), o partido fará uma reunião da sua Executiva Nacional em Brasília, quando a decisão sobre o segundo turno presidencial deve ser anunciada.

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Possível fracasso de Marina atrasa, mas não elimina 3ª via na política
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Fernando Rodrigues

Pesquisas indicam derretimento de candidata do PSB

Polarização PT-PSDB continua, mas tem futuro incerto

Petistas e tucanos ainda ouvirão “não me representam”

Marina-2013

Todas as pesquisas de intenção de voto divulgadas até a véspera da eleição de hoje (5.out.2014) indicam que pode estar ocorrendo um acelerado derretimento dos apoios de Marina Silva (PSB). É real a possibilidade de a pessebista ficar fora do 2º turno da disputa.

Se o processo de encolhimento eleitoral de Marina for mais agudo do que parece, fica inclusive robustecida a possibilidade –dada por muitos como remota– de vitória de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno.

Mas o que os institutos de pesquisa apontam como mais provável é uma rodada final entre Dilma e Aécio Neves (PSDB) no dia 26 de outubro de 2014, o segundo turno presidencial.

Se esse cenário se confirmar, a polarização PT-PSDB estará mais uma vez aprovada pela maioria dos eleitores brasileiros. Essa dicotomia teve início em 1994, há 20 anos. Vai então se repetir pela 6ª vez consecutiva. Novamente estará frustrada a construção de uma 3ª via na política brasileira no plano nacional.

As perguntas a serem feitas então são duas: 1) o que se passou com os mais de 70% dos brasileiros que têm respondido, pesquisa depois de pesquisa, que desejam uma mudança na forma de conduzir o país e a política? 2) Essa massa de eleitores agora ficou, subitamente, mais satisfeita?

Nada indica que foi preenchida a demanda por uma “nova política”. Tampouco há indicadores de que a imensa maioria dos brasileiros esteja realmente feliz com as opções oferecidas por PT e por PSDB. Circunstancialmente, o brasileiro se acomoda há 20 anos com petistas e tucanos, mas há sinais por toda parte de que o modelo parece ter pontos de esgotamento.

A eventual derrota de Marina Silva agora em 2014 não elimina a hipótese de prosperar uma terceira força eleitoral numa outra disputa pelo Palácio do Planalto. A viabilidade desse fenômeno depende de vários fatores, um deles sendo o tamanho da votação da pessebista agora em 2014.

Se Marina Silva obtiver nas urnas mais de 20% (o que teve em 2010), ela sairá do processo maior do que entrou. Mais relevante ainda, ficará registrado um recado claro de uma parcela significativa da população. Seria como se estivessem dizendo o seguinte nas urnas neste 5 de outubro: “Ei, PT! Ei, PSDB! Vocês não me representam”.

Isso quer dizer que nos próximos ciclos eleitorais a vida de petistas e de tucanos não será tão suave e confortável. Mesmo com Marina Silva e seu grupo sofrendo uma derrota agora em 2014, parece que já germinou na política brasileira uma semente a favor de novidades na forma como o país deva ser governado.

É claro que o PT e o PSDB podem acordar. Podem se abrir de maneira inaudita, promovendo uma conexão mais direta e verdadeira com os eleitores. Produzir um verdadeiro “aggiornamento” na forma como fazem política.

Alguém acredita que petistas e tucanos tomarão esse rumo?

Se esses partidos não adotarem medidas para se modernizarem, tende a continuar forte na sociedade a sensação de que há algo de errado com a política tradicional.

No ritmo atual, e pressupondo-se que PT e PSDB continuarão a dormir em berço esplêndido, a eleição de 2018 terá espaço para outras novidades. Até porque, dentro do establishment, as alternativas serão nomes já muito manjados. O apelo novidadeiro será pequeno.

Não importa o resultado agora em 2014, o PT hoje tem dois nomes claros para a disputa presidencial daqui a 4 anos. O primeiro e mais óbvio é o de Luiz Inácio Lula da Silva, que terá 73 anos na eleição de 2018. A opção mais “renovadora” do PT é o atual ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que completará 64 anos no ano da próxima eleição presidencial.

Do lado do PSDB, se Aécio for vencedor agora, certamente tentará se reeleger em 2018. Outra opção entre os tucanos seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que já declarou a vários interlocutores seu desejo de voltar a disputar a Presidência (ele tentou e perdeu em 2006).

Como se sabe, 2015 será um ano dos mais difíceis do ponto de vista econômico e social, com muito aperto e degradação da sensação de bem estar das pessoas. O movimento “não me representa” na política voltará a se energizar nesse ambiente, possivelmente já a partir do primeiro semestre do mandato do novo presidente.

Marina Silva deliberadamente não quis reagir no início do horário eleitoral, quando virou saco de pancadas de Dilma –e logo depois, de Aécio também. Ela fala muito sobre seu desejo de “ganhar ganhando”. Cita a disputa de 1989, da qual saiu vencedor Fernando Collor de Mello contra Lula. Para Marina, naquele ano, Lula perdeu, mas foi o vencedor. Collor, ganhou, mas perdeu.

Nesta eleição, se perder, que imagem Marina terá deixado? A de que foi massacrada por comerciais vitriólicos do PT e do PSDB, tendo ficado sem tempo nem condições de responder. E mesmo quando contra-atacou, usou um tom sempre menos virulento do que o de seus detratores.

Em resumo, mesmo derrotada, Marina terá saído do processo preservando sua imagem –que é seu maior patrimônio. Ficará livre para lançar de uma vez a Rede Sustentabilidade, o seu partido político.

Com a Rede pronta, poderá começar a atuar nos movimentos sociais no ano que vem, quando o Brasil tiver de enfrentar um duro ajuste fiscal, com aperto nas condições financeiras de todos. O mau humor pode tomar conta de grande parte da população.

A eventual derrota neste 5.out.2014 poderá ser não o final, mas apenas um novo recomeço da trajetória política de Marina.

Tudo o que está escrito aqui deve, por óbvio, ser jogado na lata do lixo se Marina passar ao segundo turno. Se não passar, essa narrativa é a que descreve o cenário mais provável para a ex-senadora que hoje está filiada ao PSB.


Dilma, Marina e Aécio vão a reboque do conservadorismo do brasileiro
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Fernando Rodrigues

Candidatos seguem posições majoritárias do eleitor sobre aborto e maconha

Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), os 3 principais candidatos à Presidência, concordam em 2 pontos polêmicos. Não querem mexer nas regras sobre aborto e drogas. Uma razão matemática opera por trás dessa unanimidade: a imensa maioria dos brasileiros é conservadora nesses temas.

Pesquisa da agência Hello Research feita com 1.000 pessoas em 17 de agosto a 2 de setembro aponta que o eleitor não apoia iniciativas liberais sobre os 2 assuntos. Entre os entrevistados, 85% são contrários à legalização do aborto e 72% à descriminalização da maconha. Dilma, Marina e Aécio nadam no mesmo sentido da corrente.

Essa confluência conservadora dos 3 candidatos não se repete quando o assunto é redução da maioridade penal. Segundo a pesquisa da Hello Research, 83% dos entrevistados querem reduzir a maioridade para 16 anos. Apesar da maioria estrondosa, Dilma e Marina são contra mudanças na lei. Já Aécio defende que maiores de 16 anos envolvidos em crimes graves sejam punidos como adultos (tabela abaixo).

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A criminalização do aborto, no Brasil, é uma lei pouco respeitada. O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde estima que ocorram 800 mil interrupções provocadas de gravidez por ano no país. Segundo o jornal “O Globo”, em 20 Estados há hoje um total de 4 mulheres presas por terem abortado —3 no Paraná e 1 em Minas Gerais. Infográfico publicado pelo jornal britânico “The Guardian” na 4ª feira (1º.out.2014) mostra que o Brasil é um dos países mais atrasados do mundo no quesito.

Experiências com descriminalização ou legalização da maconha têm avançado no continente. No Uruguai, a venda da droga em farmácias começa em 2015, e em 37 Estados norte-americanos a maconha já foi liberada para uso médico ou recreativo. No Brasil, a depender dos políticos com maior força eleitoral, medidas nesse sentido devem demorar a ocorrer.

Os resultados da pesquisa Hello Research são semelhantes aos apurados em levantamentos recentes do Ibope e do Datafolha.

(Bruno Lupion)

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Dilma supera Lula e FHC em ida a debates durante campanha à reeleição
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Fernando Rodrigues

Petista é a primeira candidata à reeleição ao Planalto que vai a debates no 1° turno

No entanto, Dilma se recusou a participar de confronto direto na web com Marina e Aécio

Presidente esteve em 13 grandes entrevistas e sabatinas neste ano; concorrentes foram a 17

Com o debate desta 5ª feira (2.out.2014), a presidente Dilma Rousseff (PT) terá participado de 5 eventos desse tipo e de 17 grandes entrevistas e sabatinas nesta sua campanha por mais 4 anos no Palácio do Planalto. Trata-se de exposição muito superior à enfrentada pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1998 e 2006, quando ambos renovaram seus mandatos.

Além do debate presidencial organizado nesta 5ª feira à noite pela Rede Globo, ela também já foi aos debates da TV Bandeirantes (26 de agosto), UOL, “Folha”, SBT e Jovem Pan (1° de setembro), CNBB (16 de setembro) e Record (28 de setembro).

A presidente e sua equipe não aceitaram neste ano de 2014, entretanto, um debate apenas na internet que permitiria ter apenas os 2 ou 3 principais colocados se enfrentando. Em 2010, UOL e “Folha” promoveram um evento desse tipo apenas com Dilma, o tucano José Serra e Marina Silva, então filiada ao PV.

Mas Dilma é a primeira candidata à reeleição ao Planalto que participa de debates no primeiro turno. FHC, em 1998, e Lula, em 2006, se recusaram a ir a esses programas (tabela abaixo). O tucano venceu em turno único. Lula, no segundo turno, aceitou debater com Geraldo Alckmin (PSDB).

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Em 2006, cobrado por sua negativa em participar de debates no primeiro turno, Lula afirmou que “o presidente da República não pode se expor, tem de preservar a instituição”.

À época, o antecessor servia de exemplo. “Não é hábito do presidente ir a debate. O Fernando Henrique não foi a nenhum debate. Eu nunca vi ninguém cobrar dele”, disse.

Enfrentamentos diretos entre os candidatos ajudam o eleitor a decidir seu voto. Pesquisa feita pela consultoria Expertise com 1.188 eleitores aponta que os debates contam mais que as notícias e os programas eleitorais na escolha do candidato.

 

ENTREVISTAS
O espaço reservado para entrevistas e sabatinas na agenda de Dilma nesta campanha também é superior à da sua primeira disputa, em 2010, e à campanha de Lula em 2006.

Neste ano, houve 17 entrevistas e sabatinas organizadas por grandes veículos de comunicação ou entidades setoriais com os principais candidatos.

Marina Silva (PSB) –ou Eduardo Campos, que morreu em 13.ago.2014– e Aécio Neves (PSDB) foram a todas elas. Dilma, a 13. A petista não concedeu entrevistas ao programa Poder e Política, do UOL e da “Folha”, ao portal “G1”, ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, e ao Jornal da Globo.

Em 2010, houve 12 entrevistas e sabatinas do gênero. Dilma faltou a 4: as organizadas pelos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo” e “O Estado de S.Paulo” e à sabatina da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). Naquele ano, José Serra (PSDB) foi a todos os eventos e Marina não participou apenas da sabatina na CNA. Os 3 foram a um debate exclusivo pela internet promovido pelo UOL e a “Folha”.

Em 2006, 10 entrevistas tentaram reunir os principais candidatos no primeiro turno. Lula foi a 7 e negou convites dos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo” e “O Estado de S.Paulo”. Geraldo Alckmin (PSDB) e Heloísa Helena (PSOL) participaram de todos os eventos.

Compare abaixo a participação dos 3 principais candidatos em entrevistas, sabatinas e debates nas eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014:

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(Bruno Lupion)

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Agora, no último programa na TV, Marina decide fazer ataque frontal a Dilma
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Fernando Rodrigues

Peça não ensina de maneira didática ao eleitor número da pessebista na urna

A candidata do PSB a presidente da República, Marina Silva, decidiu usar seu último programa na propaganda eleitoral do 1° turno, nesta 5ª feira (2.out.2014), para transmitir uma de suas falas mais duras contra a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. Marina acusa a petista de ser mentirosa ao dizer que não sabia da corrupção na Petrobras e diz que Dilma é inexperiente porque “não foi nem vereadora”.

Esse tom foi adotado na campanha do PSB nos últimos dias. Na TV, é o programa de ataque frontal mais direto em toda a propaganda eletrônica marinista. A candidata vinha se recusando a usar esse tipo de discurso em outras fases da campanha, apesar de ter sido fustigada de maneira incessante nas últimas 4 semanas, tanto por Dilma como pelo candidato Aécio Neves, do PSDB.

O programa foi ao ar na televisão nesta 5ª feira, quando se encerra o horário eleitoral. A peça é dirigida pelo marqueteiro Diego Brandy e tem 2 minutos e 3 segundos de duração.

Diante do tempo exíguo de TV, o PSB preferiu priorizar um discurso político da candidata, e não ensinar, de forma didática, em que número o eleitor de Marina deve votar na urna. Isso poderá ser um problema para a pessebista. Segundo o Datafolha, os eleitores de Marina são os que menos conhecem o número de sua candidata. Somente 47% dos eleitores de Marina sabem citar corretamente seu número de urna. Entre os eleitores de Dilma, a taxa é de 66% e, entre os de Aécio, de 61%. A pesquisa foi feita em 29 e 30 de setembro.

Assista abaixo ao programa. O discurso foi gravado durante evento com militantes do PSB e da Rede e apoiadores de Marina em São Paulo nesta 3ª feira (30.set.2014).

O Blog analisou a reta final da corrida presidencial no post “Fortalecida, Dilma agora pode escolher quem prefere enfrentar no 2º turno“, publicado nesta 4ª feira (1°.out.2014).

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Em novo ataque, Dilma diz que Marina anda com “gente da ditadura”
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Fernando Rodrigues

Comercial de 30 segundos mostra candidata do PSB ao lado de Jorge Bornhausen

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Em novo comercial de 30 segundos, que começa a ser exibido amanhã (01º.out.2014), na TV, a campanha de Dilma Rousseff (PT) faz mais um ataque frontal a Marina Silva (PSB).

O filme mostra a imagem da candidata do PSB a presidente ao lado das de Jorge Bornhausen e de Heráclito Fortes, dois políticos que no passado foram importantes líderes do PFL (hoje DEM).

Ao descrever Bornhausen, o comercial preparado pelo marqueteiro João Santana diz que se trata de representante “dos ruralistas e dos banqueiros. Gente que vem lá do tempo da Arena e da ditadura”. Político de Santa Catarina, Bornahusen militou na Arena, o partido de sustentação da ditadura militar. Eis o filme:

No início do comercial, um locutor diz que Marina “revelou com quem pretende renovar a política”. Ao final, conclui: “Se Marina tem alguma coisa de novo, certamente não são as suas companhias”.

Na realidade, hoje os principais candidatos a presidente têm entre seus apoiadores políticos que foram, no passado, ligados à ditadura. Dilma Rousseff, por exemplo, tem ao seu lado o senador José Sarney (PMDB-AP).

Ocorre que se Marina entrar nesse debate, terá de admitir que todos os candidatos, de alguma forma, se relacionam à chamada “velha política”. É um ataque que só pode piorar se o PSB responder no mesmo nível.

Eis a íntegra do roteiro do comercial “Marina e a velha política”:

[Tela escura com a foto de Marina ao centro]

[Música incidental de tom trágico]

Locutor: Finalmente, Marina apresentou uma grande novidade nesta campanha: ela revelou com quem pretende renovar a política…

[surge na tela aparece uma reportagem da Folha com o seguinte título: “Marina negociará com ‘velha polítca’, diz coordenador de Marina”, numa referência a uma frase de Walter Feldman]

Locutor: …com os Bornhausen, por exemplo…

[surge na tela a foto de Jorge Borhausen, ao lado da de Marina]

Locutor: … representantes dos ruralistas e dos banqueiros. Gente que vem lá do tempo da Arena e da ditadura… E Heráclito Fortes…

[surge do outro lado da tela, a foto de Heráclito Fortes]

Locutor: … ex-Arena, ex-PFL e ex-DEM. Se Marina tem alguma coisa de novo, certamente não são as suas companhias”.

Esse comercial é mais uma peça que compõe a “narrativa do medo” usada por João Santana na campanha de Dilma Rousseff: despertar na mente dos eleitores dúvidas a respeito de como seria um eventual governo Marina Silva quando se compara o que a candidata do PSB diz com o que ela poderia fazer se estivesse no Palácio do Planalto.

Essa estratégia já foi analisada aqui neste Blog num post de 20.set.2014. Além do comercial de amanhã sobre “velha política”, outros que se destacam mostram uma comparação da pessebista com Jânio Quadros e com Fernando Collor. Uma insinuação de que um Banco Central independente tira a comida do prato dos mais pobres. Outro no qual se afirma o pré-sal no marinismo seria relegado ao segundo plano, resultando em menos dinheiro de bancos públicos para programas como o Minha Casa, Minha Vida. E o filme no Marina é acusada de ter mentido sobre como votou no Senado sobre a CPMF.

p.s.: este post foi corrigido em 18.out.2014 (às 14h30) no trecho que cita Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes como “dois políticos que no passado foram importantes líderes do DEM (hoje PFL)”. O certo (como já está no texto) é “líderes do PFL (hoje DEM)”.

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44% não se lembram em quem votaram para deputado federal em 2010
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Fernando Rodrigues

Amnésia é mais forte em relação aos candidatos ao Poder Legislativo

No Poder Executivo, 82% recordam em quem votaram para governador e 91%, para presidente

Apenas 28% dos jovens de até 29 anos tentam convencer amigos a votar em determinado político

Pesquisa divulgada nesta 3ª feira (30.set.2014) mostra como ainda é baixo o interesse do brasileiro por política: 44% dos eleitores não se lembram em quem votaram para deputado federal; 43% não se recordam quem escolheram para deputado estadual e 38% se esqueceram de como foi seu voto para senador.

Essa falta de memória ocorre ao mesmo tempo em que mais de 70% dos eleitores têm expressado, em várias pesquisas, um desejo difuso de mudança. Falam sobre a necessidade de o Brasil ser governado de uma maneira diferente. Reclamam da qualidade dos políticos que se apresentam como candidatos nas eleições.

A democracia no Brasil, em geral, é vista apenas como o ato de votar a cada 2 anos. A maioria dos políticos não procura os eleitores entre uma disputa e outra. E os brasileiros também não se interessam em cobrar as promessas feitas pelos eleitos.

É curioso que a amnésia dos eleitores seja mais forte em relação aos ocupantes do Poder Legislativo, justamente aquele que deve servir de conexão entre o Estado e os seus cidadãos.

Quando indagados sobre o voto para o Poder Executivo em 2010, 82% dos pesquisados responderam se lembrar quem escolheram para governador e 91% se recordaram do seu voto para presidente.

Os dados constam de levantamento feito pela consultoria Expertise com 1.188 pessoas de ambos os sexos, todas as classes sociais e unidades da Federação, por meio de questionário online, no mês de setembro.

A iniciativa de convencer amigos e parentes a votar em um determinado político também é uma atitude pouco usual no cotidiano de muitos eleitores brasileiros. Dois terços dos entrevistados responderam que não tentam influenciar seus conhecidos nesse sentido.

O percentual de eleitores que faz campanha dentro do seu círculo de amizades é maior na população mais velha e rica: atinge 42% entre as pessoas com 50 anos ou mais e 42% entre eleitores das classes A e B.

Os jovens parecem ser mais alienados, apesar de terem sido a maioria nos protestos de junho de 2013. Não parecem agora propensos a fazer campanha no atual ciclo eleitoral. Só 28% dos eleitores de até 29 anos tentam convencer conhecidos sobre as qualidades de um determinado candidato.

O levantamento da Expertise também perguntou quais seriam os fatores mais relevantes para um eleitor escolher um candidato. O principal são as propostas apresentadas, citadas por 86% dos entrevistados, o histórico do político (82%) e o fato dele estar ou não enquadrado na Lei da Ficha Limpa (80%). O partido ao qual o candidato é filiado foi considerado importante por apenas 27% dos eleitores –reforçando a percepção de que, no Brasil, os eleitores votam na pessoa, e não na legenda (imagem abaixo).

Reprodução

A pesquisa mediu os principais meios de informação utilizados pelos brasileiros para formarem sua opinião sobre as eleições. Os debates são o principal, citados por 61% dos entrevistados, seguidos pelos portais de notícias na internet (50%), o horário eleitoral gratuito (44%) e as redes sociais (35%).

O levantamento tem margem de erro de 2,8 pontos percentuais e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR-000578/2014.

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22 disputas para o Senado quase definidas
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Fernando Rodrigues

Há candidatos favoritos para a disputa pelo Senado em 21 Estados e no Distrito Federal. De acordo com pesquisas de intenção de voto disponíveis, estão ainda indefinidas as eleições apenas nos seguintes 5 Estados (com candidatos empatados na liderança): Bahia, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima e Santa Catarina.

Reportagem da Folha de hoje (30.set.2014) detalha as disputas.

A seguir, como ficam as projeções para 2015 e as disputas resumidas nas 27 unidades da Federação (clique nas imagens para ampliar):

Senado-projecoes-2015-30set2014

Senado-27-disputas-2015-30set2014

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Dilma, Marina e Aécio são corresponsáveis por despautérios de Levy Fidelix
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Fernando Rodrigues

PT, PSB, PSDB e outros grandes nada fazem para acabar com vale-tudo de nanicos

Cláusula de desempenho limitaria acesso de siglas sem representação a debates

O candidato do PRTB a presidente da República, Levy Fidelix, produziu alguns despautérios homofóbicos no debate promovido pela TV Record no domingo (28.set.2014; reproduzidos ao final deste post).

No minuto seguinte, Levy Fidelix começou a ser malhado por causa da ignorância contida em seus comentários preconceituosos. Menos críticas têm sido ouvidas a respeito da existência de tal cenário: candidatos nanicos sem representação presentes a debates eleitorais para vocalizar suas ideias exóticas.

Não que um candidato de um partido grande não possa também falar absurdos e ser preconceituoso –aliás, é muito comum. Mas aí os mecanismos de cobrança tendem a ser mais eficazes. No caso de um nanico, ele faz o que bem entende e não presta contas a ninguém.

Falta à democracia brasileira uma disciplina maior para tratar de maneira correta os que não têm votos. Nesse aspecto, Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves, juntos com seus respectivos partidos (PT, PSB e PSDB), são grandes responsáveis para que prosperem políticos “a la Levy Fidelix” e siglas com o PRTB.

Seria necessário aprovar uma cláusula de desempenho que impedisse o acesso facilitado de partidos quase sem voto ao horário eleitoral, ao dinheiro (público) do Fundo Partidário e aos debates entre candidatos em meio eletrônico (rádio e TV).

Para fazer um debate hoje, emissoras de TVs e de rádio estão obrigadas a convidar todos os candidatos de partidos que elegeram deputados federais na última eleição (no caso de 2014, são 7 candidatos a presidente).

Não importa o número de deputados que partido consiga eleger. Pode ter sido 1 ou 100, não faz diferença. Se a sigla tiver candidato a presidente terá também o direito de aparecer no debate para atravancar a discussão falando de aerotrem ou expressar seu preconceito (ao final deste post, a íntegra do que falou Levy Fidelix no domingo).

[é claro que há exceções, com nanicos responsáveis; mas este post trata da parte ruim do sistema].

Houve uma tentativa mal feita nos anos 1990 de reduzir drasticamente o acesso dos nanicos à TV, ao rádio e ao Fundo Partidário. O Supremo Tribunal Federal considerou a medida inconstitucional (já nos anos 2000), pois havia sido introduzida por meio de lei. Teria de ser uma emenda constitucional –há quem considere que o STF errou a mão nessa decisão, mas agora não vem ao caso.

O fato é que os partidos estão há décadas discutindo o tema, mas nunca fazendo nada efetivo. PT, PMDB, PSDB, PSB, DEM e outras legendas tradicionais nunca se esforçaram, de fato, para fazer passar uma emenda constitucional que acabasse com o democratismo que coloca no horário eleitoral gente com quase zero de representação na sociedade.

O que deve ser feito? Simples. Chama-se cláusula de desempenho. Por exemplo, estipular que o partido com menos de 3%, 4% ou 5% dos votos (seria necessário modular qual é o percentual ideal) em nível nacional numa eleição para a Câmara dos Deputados não terá o direito de ter o seu candidato convidado obrigatoriamente para um debate na TV ou no rádio.

Esses partidos menores também não teriam mais o direito de aparecer a cada 6 meses na TV e no rádio, em rede nacional. Isso ocorre hoje, seja ano eleitoral ou não (e quem paga é o contribuinte, pois as emissoras são ressarcidas pelo horário cedido). Por fim, o acesso ao Fundo Partidário ficaria bem mais restrito.

O PRTB de Levy Fidelix, por exemplo, elegeu 2 deputados federais em 2010. Hoje, não tem mais nenhum.

Não é um exagero dizer que o PRTB é quase um partido secreto para a população brasileira. Mas ele teve o seu momento de glória no dia 20.mar.2014: apareceu 5 minutos em rede nacional de TV (das 20h30 às 20h35) e de rádio (das 20h às 20h05). Quem pagou por isso sem saber? Os brasileiros que pagam impostos.

A legenda de Levy Fidelix também já recebeu neste ano de 2014, até setembro, um total de R$ 992.247,50 do Fundo Partidário –dinheiro dos impostos de todos os brasileiros. Em 2013, o PRTB abiscoitou R$ 1.361.924,12.

E não é tudo. Todas as legendas também recebem uma participação proporcional no que a Justiça Eleitoral arrecada de multas dos políticos e das agremiações partidárias –isso mesmo, a Justiça cobra multas e depois devolve o dinheiro para os próprios partidos (incrível). Nesse sistema surrealista, o PRTB de Levy Fidelix ganhou em 2013 um total de R$ 310.249,78 desse reparte das multas redistribuídas pelo TSE.

A pergunta que vem agora é prosaica e muito fácil de ser respondida: quantos dos 202 milhões de brasileiros são a favor de o PRTB receber, anualmente, R$ 1,672 milhão (como ocorreu em 2013) em dinheiro público? Possivelmente, só os dirigentes do PRTB e seus amigos mais próximos.

Outra pergunta: por que os partidos maiores não acabam com essa farra que nada tem a ver com democracia? A resposta vem em duas partes.

Primeiro, porque os partidos nanicos são muito úteis aos grandes. Muitos (não todos, claro) se dispõem a fazer o trabalho sujo em eleições, usando o seu tempo de propaganda para difamar alguém.

A segunda razão é que há muitos nanicos, vamos dizer, ideológicos, que também ficariam sem acesso facilitado ao tempo de TV e de rádio nem ao Fundo Partidário se fosse adotada uma cláusula de desempenho.

Em resumo, uma das razões tem a ver com funcionalidade podre da política (usar siglas nanicas como bocas de aluguel). A outra razão seria, em tese, nobre –não condenar legendas ideológicas a uma vida mais difícil. Essa segunda motivação é uma falsa disjuntiva.

Por mais simpáticos que possam ser alguns nanicos, não faz sentido dar dinheiro público a quem não tem representação na sociedade. Tomem-se algumas siglas trotskistas que há décadas têm batalhado pelas suas causas, mas nunca conseguiram prosperar. Não há como a sociedade brasileira sustentar tal tipo de situação.

Verdade seja dita, Dilma Rousseff e o PT têm falado sobre algum tipo de reforma política em suas propagandas eleitorais deste ano (propondo um esdrúxulo plebiscito para mudar quase tudo). É só cortina de fumaça. Trata-se de uma embromação pregar uma ampla mudança nas regras. Isso nunca acontecerá.

O mais plausível é a adoção de alguma alteração pontual –como uma cláusula de desempenho– que teria efeito saneador depois de duas ou três eleições.

Mas eis uma dúvida legítima que alguns terão: e se um candidato a presidente da República de um partido nanico se tornasse muito popular, disparando nas pesquisas, e não fosse convidado para um debate na TV porque não haveria mais a exigência da lei? Essa é outra falsa questão.

Com várias emissoras de TV no país, será que nenhuma se interessaria em entrevistar ou convidar para um debate um candidato com 25% ou 30% das intenções de voto?

Em 2010, numa iniciativa pioneira, o jornal “Folha de S.Paulo” e o portal UOL realizaram um debate presidencial, transmitido apenas em “streaming”, via internet –o que permite que se convide quantos candidatos os organizadores desejarem. À época (agosto de 2010), só havia 2 candidatos competitivos, Dilma Rousseff (PT), com 41%, e José Serra (PSDB), 33% das intenções de voto. Ainda assim, já estava começando a despontar a candidatura de Marina Silva (então no minúsculo PV), com 10%. Os 3 foram convidados, pois essa era a decisão correta a ser tomada do ponto de vista jornalístico.

É evidente que isso também aconteceria na eventualidade de a cláusula de desempenho entrar em vigor.

A opção que existe é não fazer nada. Nesse caso, a sociedade brasileira terá de se acostumar com cenas grotescas como a de Levy Fidelix, cuja fala de 28.set.2014 sobre união entre pessoas do mesmo sexo vai reproduzida a seguir, para registro histórico:

Levy Fidelix [debate da TV Record, em 28.set.2014]: “…Tenho 62 anos. Pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho. E digo mais. Digo mais. Desculpe, mas aparelho excretor não reproduz. É feio dizer isso, mas não podemos, jamais, gente, eu que sou um pai de família e um avô, deixar que tenhamos esses que aí estão achacando a gente no dia a dia, querendo escorar essa minoria à maioria do povo brasileiro. Como é que pode um pai de família, um avô, ficar aqui escorado? Porque tem medo de perder voto. Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô, que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto. E vamos acabar com essa historinha. Eu via um padre, o santo padre, o papa, expurgar, fez muito bem, do Vaticano um pedófilo. Está certo. Nós tratamos a vida toda com a religiosidade para que nossos filhos possam encontrar, realmente, um bom caminho familiar. Então, Luciana [Genro, candidata do PSOL a presidente em 2014], lamento muito. Que façam um bom proveito que querem fazer e continuar como estão. Mas eu, presidente da República, não vou estimular. Se está na lei, que fique como está. Mas estimular, jamais, a união homoafetiva”.

(…) Luciana, você já imaginou? O Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se começarmos a estimular isso daí, daqui a pouquinho vai reduzir para 100 [milhões]. É… Vai para a [avenida] Paulista e anda lá e vê. É feio o negócio, né? Então, gente, vamos ter coragem somos maioria. Vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los, não ter medo. Dizer que sou pai, mamãe, vovô. E o mais importante é que esses que têm esses problemas realmente seja atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente. Bem longe, mesmo, porque aqui não dá”.

p.s.: note que o nome do dispositivo sugerido é “cláusula de desempenho“. Não tem nada a ver com “cláusula de barreira“. Os partidos poderão todos continuar a existir. Mas só terão acesso farto a dinheiro público, a tempo generoso em rádio e e TV e a participar compulsoriamente de debates depois de passarem de um certo percentual de votos numa eleição. Em resumo: sem apoio dos eleitores, uma agremiação partidária não merece ter destaque.

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