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Fonte anônima dos Panama Papers lança manifesto e propõe colaboração
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Fernando Rodrigues

“John Doe” se diz ser necessário proteção legal a vazadores

Dados foram oferecidos a jornais que decidiram não usá-los

Fonte alega não estar ligada a nenhum governo ou agência

Leia aqui neste post a íntegra do manifesto, em português

PanamaPapers-Front

A fonte anônima responsável pelo vazamento de 11,5 milhões de documentos da firma panamenha de advocacia Mossack Fonseca divulgou um manifesto ontem, 6ª feira (6.mai.2016). No texto, mostra disposição para colaborar com autoridades na resolução de casos de evasão de divisas.

Batizado de “A revolução será digitalizada” [“Revolution will be digitized”], o manifesto afirma que a fonte ofereceu os documentos a editores de outros meios de comunicação, mas eles não quiseram divulgá-los. A documentação também teria sido oferecida à organização Wikileaks,  que teria ignorado os avisos.

O texto foi entregue ao repórter Bastian Obermayer, do jornal alemão Suddëutsche Zeitung.

Em tom pessimista, a fonte faz críticas aos meios de comunicação, aos governos e à comunidade jurídica por suposta conivência com a sonegação fiscal e com a corrupção disseminada. O manifesto é assinado com o pseudônimo “John Doe”, expressão que significa “João Ninguém” em inglês.

Com um viés de esquerda, a fonte anônima afirma: “O resultado para a sociedade dessas falhas é a erosão completa dos padrões éticos, levando, no fim, a um novo sistema que nós continuamos chamando de capitalismo, mas que está muito mais para a escravidão econômica”.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada em 3.abr.2016, é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam do trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

Leia abaixo a íntegra, em português, do manifesto de John Doe (aqui, em inglês):

A revolução será digitalizada

A desigualdade de renda é uma das principais assuntos do nosso tempo. Ela afeta a todos nós, no mundo todo. O debate sobre o a aceleração repentina da desigualdade perdura há anos. Políticos, acadêmicos e ativistas foram incapazes de impedir o aumento na concentração de renda, a despeito dos inúmeros discursos, análises estatísticas e de protestos pontuais. Mesmo assim, a questão persiste: por que? E por que agora?

Os Panama Papers oferecem uma resposta: corrupção massiva e persistente. E não é coincidência que a resposta venha de um escritório de advocacia. A Mossack Fonseca é bem mais que uma engrenagem na máquina da “gestão da riqueza”. A firma panamenha usou sua influência para criar e distorcer leis em vários países ao redor do mundo, de forma a proteger os interesses de criminosos ao longo das últimas décadas.

Tome-se como exemplo a ilha de Niue: a Mossack cuidou de todas as etapas da montagem de um paraíso fiscal. Ramón Fonseca e Jurgen Mossack tentaram fazer crer que as companhias de fachada [shell companies] montadas por sua empresa, às vezes chamadas de “veículos de propósito especial”, são como carros de passeio.

Mas vendedores de carros usados não escrevem leis. E, frequentemente, o único “propósito especial” dos “veículos” que a Mossack produz é a fraude em larga escala.

Empresas de fachada são frequentemente associadas ao crime de sonegação de impostos. O que os Panama Papers mostraram é que, apesar de não serem ilegais por definição, essas empresas são usadas para uma gama de crimes que vai muito além da sonegação.

Eu decidi expor as atividades da Mossack Fonseca por acreditar que seus fundadores, empregados e clientes precisam responder pelo papel que cumpriram nesses crimes, dos quais apenas alguns foram expostos até agora. Levará anos, possivelmente décadas, para que toda a extensão dos malfeitos da Mossack seja conhecida.

Ao mesmo tempo, um novo debate global sobre o tema emergiu, o que é animador. Ao contrário da retórica educada do passado, que cuidadosamente omitia qualquer indício de malfeito por parte da elite, o debate atual foca no que realmente importa.

Eu tenho alguns pontos a apresentar sobre este debate.

Quero deixar registrado que eu não trabalho com nenhum governo ou agência de inteligência, nem diretamente e nem sob contrato, e nunca trabalhei. Meu ponto de vista é totalmente particular, assim como foi minha decisão de compartilhar os documentos com o Suddëutsche Zeitung e com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.

A decisão não se baseia em nenhum propósito político específico; apenas no fato de que eu conheço os documentos bem o suficiente para entender a dimensão das injustiças que eles descrevem.

A narrativa dominante na imprensa até agora explorou o escândalo do que é possível fazer, de forma legal, dentro do sistema [das offshores]. De fato, coisas escandalosas são permitidas por lei e precisam ser mudadas.

Mas não podemos perder de vista outro fato importante: a Mossack, seus fundadores e empregados violaram repetida e conscientemente uma miríade de leis mundo afora. Em público, eles alegam desconhecimento dos fatos, mas os documentos mostram que eles os conheciam em detalhes e agiam deliberadamente.

No mínimo, já sabemos que Jurgen Mossack mentiu diante de um tribunal federal em Nevada (EUA) e sabemos também que a equipe de TI da Mossack trabalhou para ocultar traços do perjúrio. Todos eles devem ser processados de acordo com a lei, sem privilégios.

Ao fim e ao cabo, milhares de denúncias podem resultar dos Panama Papers, desde que as autoridades possam acessar e avaliar o acervo de documentos. O ICIJ e seus parceiros decidiram, corretamente, que não repassariam os documentos às agências governamentais. Eu mesmo, porém, estou disposto a cooperar com as autoridades dentro das minhas possibilidades.

Há vários vazadores [whistleblowers] e ativistas nos Estados Unidos e na Europa que tiveram suas vidas destruídas depois de lançar luz em casos nos quais obviamente houve crime. Edward Snowden está retido em Moscou, exilado pela decisão do governo Obama de denunciá-lo pela violação da Lei de Espionagem [Espionage Act]. As revelações de Snowden sobre a NSA merecem honras de herói e um prêmio substancial, não banimento.

Bradley Birkenfeld recebeu milhões como prêmio por suas informações sobre o banco suíço UBS –e mesmo assim acabou condenado à prisão pelo Departamento de Justiça (dos EUA).

Antoine Deltour está sendo julgado por ter repassado a jornalistas informações sobre acordos tarifários secretos entre Luxemburgo e multinacionais. O país europeu ofereceu condições “de pai para filho” às empresas, resultando em perdas de bilhões de euros em impostos para os países vizinhos. E há dezenas de outros exemplos.

Vazadores legítimos, que expõe crimes inquestionáveis, merecem imunidade contra reações de governos. Até que os governos criem leis garantindo essa proteção aos que fazem denúncias anônimas, as autoridades dependerão de seus próprios recursos e das informações publicadas pela mídia.

É preciso que a Comissão Europeia, o Parlamento Britânico, o Congresso dos EUA e todos os demais países ajam de forma rápida não só para proteger os vazadores, mas também para dar fim aos abusos de firmas como a Mossack Fonseca.

Na União Europeia, os registros de empresas de todos os países membros deveriam estar acessíveis, com dados detalhados sobre os beneficiários finais.

O Reino Unido pode se orgulhar das iniciativas domésticas já tomadas até o momento, mas ainda há muito o que fazer para acabar com a opacidade financeira existente em vários de seus territórios ultramarinos, que são, sem dúvida, peças centrais para a corrupção mundo afora.

E os Estados Unidos não podem continuar confiando que seus 50 Estados tomarão decisões corretas sobre as informações corporativas. Já passou da hora de o Congresso entrar na discussão e forçar o aumento da transparência, estabelecendo padrões para a abertura e o acesso público.

Uma coisa é louvar as virtudes da transparência em fóruns governamentais. Outra totalmente diferente é implementá-la na prática. É um “segredo aberto” o fato de que, nos EUA, os representantes eleitos passam a maior parte de seu tempo coletando doações de campanha.

A sonegação fiscal jamais será eliminada enquanto os políticos dependerem de dinheiro dos mesmos que têm os maiores motivos para sonegar impostos dentre todos os segmentos da sociedade. Essas práticas políticas inadequadas fecharam um ciclo. O sistema de financiamento de campanhas dos EUA faliu e sua reforma não pode esperar mais.

Obviamente esses não são os únicos problemas. O primeiro ministro da Nova Zelândia, John Key, permaneceu estranhamente silencioso diante do papel de seu país em viabilizar a Meca da fraude fiscal que são as Ilhas Cook. Na Grã Bretanha, os Tories (partido conservador) não tiveram pudor em esconder o uso de empresas offshores.

Enquanto isso, Jennifer Shasky Calvery, diretora da Rede de Combate a Crimes Financeiros do Tesouro dos EUA, acaba de renunciar ao cargo. Ela trabalhará para o HSBC, um dos principais bancos do mundo (e não coincidentemente sediado em Londres). Milhares de beneficiários finais ainda ocultos de empresas offshores devem estar rezando para que o substituto dela no Tesouro seja igualmente desmotivado.

Em face da covardia política generalizada, há a tentação de render-se ao derrotismo e argumentar que o status quo continuará fundamentalmente intocado. Os Panama Papers são, se mais não fossem, um sintoma reluzente do tecido moral cada vez mais doente e apodrecido da nossa sociedade.

Mas a questão finalmente está sobre a mesa. Não é surpresa que uma mudança leve tempo. Durante 50 anos, os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo ao redor do mundo falharam completamente em atacar os paraísos fiscais em metástase mundo afora. Mesmo hoje, o Panamá diz querer ser lembrado para além dos papéis [“for more than papers”], mas o governo, de forma conveniente, só examinou 1 cavalinho no carrossel das offshores.

Bancos, agências reguladoras do sistema financeiro e autoridades fiscais falharam. As decisões tomadas pouparam os ricos e concentraram0-se nos pobres e na classe média.

Tribunais retrógrados e ineficientes falharam. Juízes habituaram-se a aquiescer aos argumentos dos ricos, cujos advogados –e não só a Mossack Fonseca– são competentes em seguir a letra da lei enquanto fazem tudo o que podem para contrariar o espírito das normas.

A mídia falhou. Muitos veículos são hoje caricaturas do que já foram. A propriedade de jornais parece ter virado um hobby para bilionários, limitando a cobertura de questões sobre os ricos. O jornalismo sério carece de financiamento. O impacto é real: além do Süddeutsche Zeitung e do ICIJ, editores de vários outros grandes meios de imprensa analisaram os documentos do Panama Papers e decidiram não entrar na investigação. A triste realidade é que nenhuma das principais organizações de mídia do planeta se interessou em cobrir a história. Nem mesmo o Wikileaks respondeu a vários contatos seguidos.

Acima de tudo, a advocacia falhou. O sistema democrático depende de indivíduos responsáveis, espalhados por todo o sistema, que entendam e defendam a lei, não que a entendam para melhor explorá-la [em benefício próprio]. Na média, os advogados se tornaram tão profundamente corruptos que é fundamental que hajam mudanças profundas na profissão, muito além das propostas cosméticas já apresentadas.

Para começo de conversa, o termo “ética legal”, no qual se baseiam os códigos de conduta da advocacia, se tornou um oximoro. A Mossack Fonseca não trabalhava no vácuo –a despeito das multas e violações documentadas às regulamentações do setor, ela encontrava aliados e intermediários em grandes firmas de advocacia, em virtualmente todos os países.

Se a situação econômica decrépita da indústria da advocacia já não fosse evidência suficiente, agora não há mais como negar que advogados não podem regular uns aos outros. Isto simplesmente não funciona. Aqueles aptos a pagar mais sempre podem encontrar um advogado que sirva aos seus fins, esteja esse advogado trabalhando para a Mossack Fonseca ou para outro escritório ainda desconhecido para nós. E o restante da sociedade, como fica?

O resultado para a sociedade dessas falhas é a erosão completa dos padrões éticos, levando, no fim, a um novo sistema que nós continuamos chamando de capitalismo, mas que está muito mais para a escravidão econômica.

Neste sistema –nosso sistema atual– os escravos não sabem nem que são escravos e nem quem são seus mestres, que vivem num mundo à parte. Neste mundo, os grilhões intangíveis são escrupulosamente escondidos por camadas e camadas de “juridiquês” impenetrável. A magnitude dos danos deveria acordar a todos nós. O fato de ser preciso um vazador para soar o alarme deveria ser motivo de mais preocupação ainda. Isto mostra que os pesos e contrapesos [checks and balances] da democracia falharam, que o problema é sistêmico e que a desordem severa e disseminada pode estar bem próxima. É hora de agir de verdade e o primeiro passo é fazer as perguntas corretas.

Historiadores podem facilmente demonstrar como problemas envolvendo impostos e desequilíbrios de poder resultaram em revoluções no passado. Naquela época, a força militar era necessária para subjugar o povo. Hoje, restringir o acesso à informação é tão eficaz quanto ou mais, uma vez que a ação se dá, geralmente, de forma invisível. Mesmo quando vivemos em uma época na qual a armazenagem de dados online é cada vez mais barata e ilimitada e na qual as conexões à internet transcende as fronteiras nacionais.

Não é muito difícil ligar os pontos: do começo ao fim, da fundação até o impacto midiático global, a próxima revolução será digitalizada.

Ou talvez já tenha começado. 

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O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

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Empresários de mídia e jornalistas negam irregularidades ou não comentam
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Fernando Rodrigues

Todos os citados foram procurados pela reportagem

PanamaPapers-FrontA reportagem procurou todas as pessoas mencionadas no texto sobre empresários de mídia e jornalistas que aparecem nos Panama Papers. A seguir, o que cada um disse:

ANTONIO LUIZ DROGHETTI NETO
[acionista e membro do conselho de diversas empresas, incluindo as TVs Studios Vale do Paraíba e TV Studios de Jaú, ambas pertencentes ao Grupo Silvio Santos]

A reportagem entrou em contato nos dias 12, 13 e 18.abr por meio da TV Studios Vale do Paraíba, veículo no qual ele é sócio-administrador. Um dos funcionários da emissora respondeu a reportagem da seguinte forma: “Essa empresa [TV Studios Vale do Paraíba] não é operacional. Ela foi aberta por meio de uma licitação pública. Nunca entrou em atividade. O Droghetti é um dos sócios, mas não está mais aqui na casa. Eu desconheço [alguma forma de entrar em contato]. Temos inclusive uma dificuldade operacional em relação a esta pessoa”.

A offshore controlada por Antonio Luiz Droghetti Neto aparece no site da Receita Federal no quadro societário da Gertie Participações Ltda., companhia brasileira que também é administrada pelo empresário.

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CARLOS SCHRODER
[jornalista, diretor-geral da Rede Globo]

Consultado, o próprio Carlos Schroder apresentou todos os documentos fiscais relativos à offshore Denmark Holdings Incorporations. A empresa está devidamente informada na declaração de Imposto de Renda à Receita Federal, bem como remessas de valores registradas no Banco Central. Não há irregularidades.

HELENA E LUIZ EDUARDO VELHO DA SILVA VASCONCELOS
[ex-acionista e ex-diretor, respectivamente, da Rádio Globo S.A., empresa do Grupo Globo]

Junto com mais 3 pessoas da família, fizeram parte da diretoria da Veurne Capital Inc., em jun.2002, offshore nas Ilhas Virgens Britânicas. Em fev.2006, quase a totalidade das ações da Veurne foram liquidadas e os valores transferidos para outras duas offshores: a Tripoli Holding Venture Limited e a Lucky Seven Venture Inc..

Helena e Luiz Eduardo informam que os empreendimentos foram declarados à Receita Federal.

JOÃO TENÓRIO
[ex-senador pelo PSDB de Alagoas (2003- 2010), proprietário da TV Pajuçara, emissora sediada em Maceió e afiliada à Rede Record]

Foi procurado por meio do assessor Josafá Soares. Este informou, por telefone, que as offshores estão devidamente declaradas às autoridades fiscais brasileiras, sem dar maiores detalhes. 

JOSÉ ROBERTO DIAS GUZZO
[jornalista, é do Conselho Editorial da Editora Abril e colunista da revista “Veja”]

Enviou mensagem por meio da assessoria do Grupo Abril: “Todas as informações a respeito da minha vida financeira estão registradas na Receita Federal do Brasil, nas declarações anuais de rendimentos e patrimônio”.

MARLUCE DIAS DA SILVA
[diretora-geral da TV Globo de jan.1999 a set.2002]

A reportagem tentou vários contatos, deixou recados por meio de pessoas conhecidas, mas não obteve resposta. Marluce não tem assessoria de imprensa.

PAULA MARINHO
[Uma das netas de Roberto Marinho (1904-2003), fundador do Grupo Globo, e filha de João Roberto Marinho, vice-presidente do Grupo Globo]

Por meio de sua assessoria, respondeu: “Paula Marinho informa que não tem nem nunca teve participação em nenhuma dessas empresas [Vaincre LLC, Plus Holdings e Soc. Juste International]. O beneficiário era seu ex-marido Alexandre Chiapeta. Seu endereço foi apenas usado para o envio de faturas de manutenção das mesmas. Quanto à casa mencionada [na Praia Vermelha, próxima a Paraty, no Rio de Janeiro], essa informação [veiculada em parte da mídia] não é verdadeira. A propriedade não pertence à família Marinho”.

PEDRO JACK KAPELLER
Foi contatado na sede da empresa Bloch Som e Imagem Ltda, no Rio de Janeiro, da qual é sócio. E-mails foram enviados para a secretária de Pedro, de nome Marta, em 3 ocasiões a partir de 12.abr. Houve também várias tentativas de contato telefônico no período, sem resposta.

RATINHO
[empresário e apresentador de TV, Carlos Roberto Massa é dono da “Rede Massa”, afiliada ao SBT no Paraná]

Aparece nos Panama Papers como diretor da offshore Cambara Limited, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas por sugestão do HSBC. Ratinho também foi mencionado no SwissLeaks  como correntista da agência do banco em Genebra, na Suíça.

A reportagem procurou o empresário e apresentador por meio de sua secretária em São Paulo, Maria Helena, nos dias 5 e 6.mai.2016. Ela informou que havia repassado os questionamentos para a presidência do Grupo Massa. Não houve resposta. Em 2015, ao ser citado no SwissLeaks, Ratinho encaminhou o seguinte comentário: “Todos os bens e valores de Carlos Roberto Massa e Solange Martinez Massa foram devidamente declarados aos órgãos competentes”.

ROSSANA BERTO
[diretora da Globo Comunicação e Participações S.A., razão social do Grupo Globo]

Controla a offshore Howell Finance Ltd. junto com Luiz Rogerio Berto, que é seu marido. Rogério disse que trabalhou no exterior nos anos 1980 e 1990, quando criou a offshore. Ele dá a seguinte explicação: “Eu sou o beneficiário final e a Rossana está ali apenas para o caso de acontecer algo comigo. Quando eu voltei ao Brasil acabei não declarando a empresa. Agora, estou em processo de fechamento. O último saldo que havia no exterior era de 2014 e vou usar a lei da repatriação para regularizar a situação”.

RUY MESQUITA FILHO
[bisneto de Julio de Mesquita Filho. Foi diretor do “Jornal da Tarde”, mas hoje não atua no grupo]

O jornal “O Estado de S. Paulo” encaminhou nota. Eis a íntegra: “O acionista Ruy Mesquita Filho foi apenas procurador, durante um curto espaço de tempo, de uma offshore da qual não é dono, proprietário ou beneficiário de quaisquer valores a qualquer título”.

WALTER FONTANA FILHO
[presidente do Conselho de Administração do Grupo Estado]

O presidente do Conselho de Administração do Grupo Estado enviou a seguinte nota, incluindo também uma informação sobre um primo seu, Romano Ancelmo Fontana, cujo nome também aparece na offshore Hartley Consulting Corporation: “Walter e Romano, pelo que se recordam, foram procuradores de uma empresa, encerrada no ano de 2005, que apoiava ação de internacionalização de empresa que eram executivos à época”.

YOLANDA VIDAL QUEIROZ
[dona da TV Verdes Mares]

Foi contatada por meio de sua secretária no grupo Edson Queiroz, de nome Marilac. O contato inicial foi no dia 13.abr, quando foi encaminhado um e-mail com os questionamentos. A reportagem fez contato telefônico em pelo menos 4 ocasiões. Segundo a secretária, filhas de Yolanda foram informadas, mas não responderam.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

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O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participam da série Panama Papers no Brasil os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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João Doria tem empresa offshore comprada da Mossack Fonseca
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Fernando Rodrigues

Tucano é pré-candidato do PSDB a prefeito de S. Paulo

Offshore está incorporada nas Ilhas Virgens Britânicas

Firma foi usada em 1998 para comprar imóvel em Miami

Apartamento não está na declaração de bens, só a offshore

Advogado: operação é “absolutamente legal e recomendada”

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João Doria com a esposa, Bia, e Geraldo Alckmin

Por José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Pedro Venceslau

O pré-candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, João Doria Jr., comprou uma empresa de prateleira do escritório panamenho Mossack Fonseca. Incorporada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, a offshore Pavilion Development Limited foi usada por Doria para adquirir um apartamento em Miami (EUA) em 1998 por US$ 231 mil sem que a propriedade aparecesse em seu nome.

Há contratos, procurações e cópia de passaportes de Doria e sua mulher, junto a mensagens de e-mail referentes à compra da offshore, dentre os 11,5 milhões de documentos dos Panama Papers, divulgados pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos). A série provocou a queda do primeiro-ministro da Islândia e revelou esquemas de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio em centenas de países. A série começou a ser publicada no dia 3.abr.2016 (um domingo), e é resultado de uma investigação de cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

As informações são originais, da base de dados da Mossack Fonseca. Os dados foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e compartilhados com o ICIJ. Saiba como foi feita a série. Uma parte dos documentos será colocada à disposição do público em 9.mai.2016.

pav-develpComprar ou abrir uma offshore não é ilegal, desde que a empresa seja declarada à Receita Federal no Brasil. Nelson Wilians, advogado de Doria, mostrou à reportagem uma das 27 páginas da declaração de bens de seu cliente no Imposto de Renda de 2016 na qual a Pavilion Development aparece declarada. Mas não atendeu o pedido da reportagem para mostrar as declarações de IR de 1998, quando Doria comprou a offshore, e dos anos posteriores. O advogado disse que elas só serão apresentadas, à Justiça Eleitoral, se Doria vier a ser formalizado como candidato.

A história da offshore de Doria começa em 15 de abril de 1998, quando ele compra a Pavilion da Mossack Fonseca, em negócio intermediado pela advogada brasileira Luciana Haddad Hakim. À época, o capital da offshore era de US$ 12 mil, dividido em 12 mil ações. Foram emitidos seis certificados ao portador. Os diretores da corporação eram João Agripino da Costa Doria (presidente) e sua mulher, Beatriz Maria Bettanin Doria (vice).

Menos de três meses depois, a Pavilion Development se tornou proprietária de um apartamento de 2 quartos no apart-hotel Mutiny On The Bay, de frente para o mar, em Miami. Nos documentos do Dade County, a venda foi registrada por US$ 231 mil. Pela legislação brasileira, toda remessa ao exterior a partir de US$ 100 mil deve ser registrada no Banco Central.

Segundo seu advogado, Doria não fez remessas. Pagou a entrada de US$ 30 mil com uma permuta feita no Brasil, e o restante foi financiado em 30 anos nos EUA. O advogado diz que as parcelas do financiamento, de US$ 2.056 por mês, são pagas com rendimentos da locação do imóvel. A diária de um apartamento no Mutiny On The Bay custa de US$ 243. Para pagar a mensalidade, Doria precisaria alugar o apartamento por 9 dias ao mês, pelo menos.

imovel-doriaA offshore de Doria não realizou outros negócios até dezembro 2009, quando sua advogada à época, Luciana Hakim, cogitou fechá-la, em correspondência enviada à Mossack Fonseca. Nesse mesmo mês daquele ano, estava prevista uma importante mudança na legislação das Ilhas Virgens Britânicas: acabariam as ações ao portador de empresas offshore, e passaria a ser necessário registrar nos certificados de ações o nome do proprietário.

Em vez de fechá-la, Doria transferiu as ações da offshore em 8 de dezembro de 2009 para o Pavilion Trust, cujo endereço é o mesmo de outras empresas de Doria no Brasil, na avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. O nome de contato para assuntos relativos ao Trust, segundo correspondência da advogada com a Mossack Fonseca, é o de uma funcionária de confiança de Doria, Celia Matias Pompeia. Simultaneamente, o capital da offshore aumentou para US$ 50 mil, divididos em 50 mil ações.

O Trust é um jeito de colocar patrimônio sob confidencialidade –os beneficiários não são legalmente donos dos bens que o Trust administra– e um mecanismo para transferir legado financeiro para sucessores (filhos e cônjuge, por exemplo) sem necessidade de pagar imposto sobre herança. Em caso de morte de um dos beneficiários, os demais continuam usufruindo dos bens.

Pelos registros da Mossack Fonseca, a Pavilion Development Limited continuava ativa até o ano passado. E o apartamento à beira-mar em Miami continuava registrado em seu nome.

OUTRO LADO
O advogado Nelson Wilians, cujo escritório tem entre seus clientes o pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, João Doria Jr., afirmou que o tucano tem “todo o seu patrimônio”, tanto no Brasil quanto no exterior, declarado à Receita Federal.

Wilians mostrou à reportagem uma das 27 páginas da declaração de Imposto de Renda de 2016 do pré-candidato. Nela, aparece listada a empresa Pavilion Development Limited, com valor declarado de US$ 50 mil.

A Pavilion, empresa offshore registrada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, é a proprietária de um apartamento de Doria em Miami, nos Estados Unidos. O apartamento foi adquirido por US$ 231 mil em 1998.

O imóvel não aparece na declaração de bens de Doria. Segundo o advogado, “a regra tributária nacional não exige que uma pessoa física declare bens que integrem o patrimônio de pessoas jurídicas, ainda que a pessoa física figure como sócia”.

Doria foi informado sobre a reportagem a respeito da offshore e do imóvel em Miami na segunda-feira, quando ainda faltavam cinco dias para o prazo limite da entrega das declarações de renda referentes a 2016. A reportagem pediu acesso às declarações dos anos anteriores, para checar se a offshore também foi devidamente registrada, inclusive em 1998, ano da compra da mesma.

O advogado informou que esses dados serão tornados públicos quando e se Doria for oficializado candidato.

“Todas as informações tributárias, além de outras, estarão rigorosamente detalhadas na declaração do Imposto de Renda da pessoa física do contribuinte João Doria, a qual será entregue à Justiça Eleitoral quando do momento do registro de sua candidatura e será pública”, afirma a nota assinada por Wilians.

A reportagem perguntou ao pré-candidato do PSDB como foi feita a remessa de recursos para a aquisição do apartamento em Miami. Segundo o advogado, não houve envio de dinheiro.

“João Doria adquiriu o referido imóvel através de uma permuta. O contribuinte prestou serviços de mídia à época, através de uma de suas empresas, e em contraprestação recebeu o valor correspondente a US$ 30 mil, que era o valor da entrada do imóvel. A diferença, no valor de cerca de US$ 170 mil, foi financiada (nos EUA)”, afirmou Wilians.

Ele mostrou os contratos referentes às duas operações e disse que eles serão colocados à disposição da Justiça Eleitoral no momento oportuno.

Sobre a compra do imóvel por meio de uma offshore, em vez do registro em nome da pessoa física, Wilians afirmou: “Nos Estados Unidos, a tradição e a prática recomendam a compra via pessoa jurídica, em vez da pessoa física”. O advogado disse ainda que João Doria é “sócio proprietário de diversas empresas”, sendo que a administração via offshore é “absolutamente legal e juridicamente recomendada”.

Participaram da série Panama Papers os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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ICIJ divulgará base de dados da série “Panama Papers”
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Fernando Rodrigues

Dados estarão disponíveis online a partir de 9 de maio

Mais de 200 mil offshores poderão ser consultadas

Empresas estão incorporadas em 21 paraísos fiscais

Só informações de interesse público serão divulgadas

PanamaPapers
O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) divulgará em 9.mai.2016 uma parte do conjunto de dados que deu origem à série de reportagens Panama Papers.

Informações sobre mais de 200 mil offshores em 21 paraísos fiscais estarão disponíveis para serem pesquisadas pela internet. Será possível buscar dados como os nomes das empresas, as localizações e os responsáveis por elas. Essas companhias pertencem a cidadãos de mais de 200 países, inclusive do Brasil.

Segundo o ICIJ, uma organização não governamental baseada em Washington (capital dos EUA), “trata-se, provavelmente, da maior divulgação jamais feita de offshores e de seus beneficiários”. Outras 100 mil offshores de um vazamento anterior também poderão ser consultadas.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada em 3.abr.2016, é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

“A base de dados não será um simples ‘depósito de dados’ com os documentos originais ­–trata-se de uma divulgação cautelosa das informações básicas das offshores”, diz um trecho da nota publicada pelo ICIJ.

“O ICIJ não divulgará dados pessoais em massa. A base de dados pública não incluirá registros de contas bancárias ou transações financeiras; nem e-mails, passaportes e números de telefone. As informações selecionadas serão publicadas atendendo ao interesse público”, diz um outro trecho de reportagem publicada pelo ICIJ.

É importante notar que os Panama Papers e outras reportagens comandadas pelo ICIJ, como o HSBC-SwissLeaks, não são “listas de nomes”. Trata-se de um complexo acervo composto por todos os tipos de arquivos, em diversos formatos –nem sempre pesquisáveis de maneira automática, como se faz num arquivo de texto, usando o comando de “busca”.

É por essa razão que as reportagens só são publicadas após uma demorada análise dos dados, sempre seguida de apuração de campo, com entrevistas dos envolvidos e de outras fontes correlatas ao processo.

Outro dado relevante: o UOL e os outros 2 parceiros do ICIJ na publicação dos Panama Papers no Brasil (o jornal “O Estado de S.Paulo” e a Rede TV!) continuam a analisar os dados disponíveis e mais reportagens serão publicadas.

CRITÉRIO DE DIVULGAÇÃO
No caso do UOL, representado pelo Blog do Fernando Rodrigues, os critérios para publicação de dados seguem os de outras dezenas de veículos associados ao ICIJ nessas apurações. Utiliza-se o binômio interesse público e relevância jornalística.

São de interesse público pessoas e empresas que exercem papel de relevância na sociedade. Grandes empresas, que fazem uso intensivo de mão de obra ou que recebem dinheiro público. Personalidades que opinam sobre a vida nacional (artistas, escritores, intelectuais) ou que também recebem subsídio governamental para suas atividades.

O entendimento do ICIJ –compartilhado pelo UOL– é o de que nesses casos há interesse público e relevância jornalística. Já a divulgação indiscriminada de todos os dados obtidos não atenderia a esses critérios.

PANAMA PAPERS X SWISSLEAKS
Por que no caso do HSBC-SwissLeaks o ICIJ não divulgou a base de dados na internet e por que serão divulgadas agora informações do Panama Papers? Porque são casos diferentes.

No episódio do HSBC-SwissLeaks, eram contas bancárias secretas na Suíça, com os nomes dos correntistas (cerca de 8.000 com endereço no Brasil), citando inclusive os saldos. Era impossível saber quais eram os casos de contas bancárias declaradas (e legais) ou não. Só o governo brasileiro (por meio da Receita Federal) poderia fazer tal apuração (que até hoje não foi concluída).

A divulgação de uma conta bancária e de seu saldo poderia representar uma injustiça no caso de o titular dos recursos ter declarado devidamente as informações para a Receita Federal. Por essa razão, o ICIJ não divulgou o banco de dados. Esse também foi o procedimento do UOL, que fez reportagens apenas sobre os casos de interesse público e relevância jornalística. Mais de 500 nomes de brasileiros foram divulgados em dezenas de reportagens –todas podem ser lidas aqui.

A série Panama Papers utiliza uma base de dados de natureza diferente da perscrutada pela reportagem HSBC-SwissLeaks . Os documentos da firma panamenha Mossack Fonseca não tratam exclusivamente de contas bancárias e saldos. São sobre empresas constituídas em paraísos fiscais.

Há um entendimento geral no mundo desenvolvido de que as informações sobre empresas devem ser públicas. No Brasil, uma empresa precisa estar registrada e seus dados básicos, como endereço e nomes dos donos, ficam à disposição de qualquer interessado.

São esses os dados que serão divulgados da base de informações dos Panama Papers: os nomes das empresas e de quem é responsável por elas. Como explica o ICIJ, “a base de dados pública não incluirá registros de contas bancárias ou transações financeiras; nem e-mails, passaportes e números de telefone”.

A divulgação está sendo feita apenas em 9.mai.2016 porque a prioridade do ICIJ e dos veículos jornalísticos envolvidos na apuração foi concluir as reportagens que começaram a ser publicadas em 3.abr.2016. Também era necessário preparar o banco de dados dos Panama Papers para publicar apenas o que se encaixa na categoria de interesse público.

Nunca é demais repetir: não existe uma “lista de offshores do Panamá”. O banco de dados é um complexo conjunto de arquivos que foi minuciosamente triado e organizado pelo ICIJ.

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Cartório de Miami errou na papelada do imóvel de Barbosa; imposto foi pago
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Fernando Rodrigues

“Miami Herald” afirma que Cartório Casalina Title admitiu ter omitido valor por engano

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O ex-ministro Joaquim Barbosa preside sessão do STF em 2013

O jornal “Miami Herald” publicou uma retificação na reportagem sobre o apartamento de Joaquim Barbosa em Miami, comprado por meio de uma offshore aberta pela Mossack Fonseca.

O cartório (“title company”, em inglês) admitiu ter errado no preenchimento da papelada, ao não incluir o valor pago pelo “stamp tax”.

“Três dias depois da publicação –e mais de um mês depois de ter sido contatada– a advogada de Barbosa em Miami, Diane Nobile, respondeu às questões”, afirma o texto publicado pelo “Miami Herald”, um dos veículos parceiros na investigação da série PanamaPapers.

“A title company contratada por Barbosa, chamada Casalina Title, alega ter esquecido de incluir o valor pago pelo stamp tax quando preencheu a papelada de compra e venda”, escreveu o jornal de Miami.

Leia aqui a íntegra da retificação publicada pelo Herald.

A advogada de Barbosa, por sua vez, diz que o cliente não participa do processo de pagamento do stamp tax, e nem é responsável por registrar o pagamento dessa taxa na papelada. O imposto foi, porém, pago.

Segundo a advogada Diane Nobile, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal não é responsável pelo erro. A dona da Casalina Title, Silene Souza, admitiu ao Herald responsabilidade pelo equívoco.

“Foi um erro que demorou 4 anos para ser corrigido, apesar dos questionamentos da imprensa brasileira”, escreveu o Herald.

Um novo pagamento, no valor de USD 2.010,00, foi feito em 24.mar. A data é posterior aos primeiros contatos do “Miami Herald”.

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A versão original do documento e a atualização, com uma anotação à caneta

O novo documento foi encaminhado à reportagem e reproduzido numa atualização anterior do post original, no Blog.

Participaram da série Panama Papers  os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Conheça 22 milionários brasileiros nos Panama Papers
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Fernando Rodrigues

12 têm ou tiveram fortunas acima de R$ 1 bilhão

Uso de offshores é legal, se declarado ao Fisco

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Barras de ouro com o logo do banco suíço UBS

Pelo menos 22 empresas e famílias brasileiras estão nos arquivos dos Panama Papers por manterem relação com firmas abertas em paraísos fiscais.

Nesse seleto grupo há 12 citados que frequentam ou frequentaram listas de bilionários elaboradas pela mídia especializada.

Os empresários representam o maior grupo dentre os donos das cerca de 1.700 offshores abertas pela firma panamenha de advocacia e consultoria Mossack Fonseca para endereços de pessoas morando no Brasil.

O uso dessas estruturas é legítimo e garantido pela lei brasileira desde que a empresa e os bens controlados por ela sejam declarados à Receita Federal e tributados.

O setor com mais bilionários donos de offshores é o de alimentos e bebidas. Na lista, estão os controladores da gigante Ambev, o Grupo Telles, antigo dono da Ypióca, o empresário Walter Faria, do Grupo Petrópolis, e um dos donos da M. Dias Branco, produtora de massas. Também está nos arquivos um dos donos do frigorífico multinacional JBS.

As pessoas e empresas mencionadas nesta reportagem foram procuradas. Todos negam irregularidades ou preferiram não se manifestar. Leia aqui o que diz cada um dos citados.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada em 3.abr.2016, é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

As tabelas abaixo mostram, em ordem alfabética, um resumo sobre as offshores de cada um dos mencionados nos Panama Papers (clique nas imagens para ampliar):

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A seguir, um resumo de cada um dos 22 milionários brasileiros nos Panama Papers:

Alberto Dominguez (Track & Field)
Alberto Dominguez Von Ihering Azevedo é 1 dos 3 sócios da Track & Field, marca brasileira de roupas esportivas. Ele aparece nos arquivos da Mossack como recebedor de procuração (“power of attorney”) da offshore Barra River Inc, em fevereiro de 2004. A mesma procuração foi emitida em nome de Gustavo Dominguez Von Ihering Azevedo.

Antonio Carlos Pipponzi (DrogaRaia)
Antonio Carlos Pipponzi é o presidente da Droga Raia, uma das maiores redes de farmácias do Brasil. A rede começou com uma única farmácia, fundada em 1905 em Araraquara (SP), pelo imigrante italiano João Baptista Raia.

Em 2011, a rede fundiu-se à outra empresa do ramo, a Drogasil. Juntas, controlam hoje mais de 1.100 lojas. Em novembro de 2006, Pipponzi recebeu uma procuração (“power of attoney”) para a empresa Laketon Ventures S.A, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. Também receberam a mesma procuração Rosalia Pipponzi e Franco Pipponzi (morto em 2012). Esses poderes foram revogados em 2012.

Benedictis (Shefa)
Membros da família Benedictis, proprietária do Laticínio Shefa, aparecem relacionados às offshores Melfort Investments Ltd e Cercena Investments Ltd. Ambas foram registradas nas Ilhas Virgens Britânicas e permanecem ativas, segundo os documentos no arquivo da Mossack. A primeira foi registrada em outubro de 1996. Já a Cercena foi criada em janeiro de 1999.

Carlos Mariani Bittencourt (Banco BBM)
Trata-se do vice-presidente da Firjan e presidente do Conselho de Administração da Participações Industriais do Nordeste (PIN), um grupo com investimentos em várias áreas da economia e sediado em Salvador (BA).

Carlos Mariani Bittencourt aparece como proprietário da offshore Karpel Trading Ltd junto com outros 7 membros da família. A companhia foi aberta em 2003 nas Ilhas Virgens Britânicas e desativada em agosto de 2006. Mariani é também membro do conselho do Banco BBM.

Carlos Sanchez (laboratório EMS)
Carlos Eduardo Sanchez, dono do maior laboratório produtor de medicamentos genéricos do país, o EMS, é acionista da offshore Illus Global Corporation, com sede no Panamá. A empresa foi usada para abrir, em 2013, uma conta no banco suíço Julius Baer.

Carlos Sanchez também aparece como controlador (tem “power of attorney”) de 3 outras empresas ao lado de sua irmã, Nanci Sanchez, e de sua mãe, Ana Defillo Sanchez. As 3 estão sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas. São elas a Humboldt Group, a Morea Holdings e a Guess Promotion.

As 3 companhias têm ações emitidas em 2005 em nome de outra offshore, a panamenha Pyramus. Sanchez figura entre os 31 bilionários brasileiros da lista da Forbes em 2016, com patrimônio de R$ 5,9 bilhões (US$ 1,7 bilhão corrigidos pela cotação de 11.abr).

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Contrato entre Sanchez e a Mossack Fonseca

Feffer (Suzano)
Os donos do Grupo Suzano aparecem nos registros da Mossack como proprietários de 4 empresas offshores. Duas são citadas em balanços do grupo. As outras 2 foram reveladas pelos Panama Papers: a Infonet Incorporated (aberta nas Bahamas em janeiro de 2000) e a Calcorp Inc (também nas Bahamas, em agosto do mesmo ano).

A primeira era controlada por Max Feffer, então presidente do grupo, e 4 filhos. Já a Calcorp pertencia somente a David Feffer. A família Feffer aparece pela última vez na lista da Forbes em 2014 com um patrimônio de R$ 6,93 bilhões.

Em setembro de 2015, Fanny Feffer aparece como a 106ª mulher mais rica do país, com patrimônio de R$ 1,9 bilhão. O nome dela não está relacionado a nenhuma das offshores da família.

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Membros da família Feffer como diretores da Infonet

Ferreira Telles (antigos donos da Ypióca)
A família Ferreira Telles está relacionada no acervo da Mossack Fonseca como titular da Colton Group Inc. São acionistas da empresa o patriarca Everardo Ferreira Telles, seu filho Paulo e Maria Elisa Telles Figueiredo.

A empresa foi adquirida em fevereiro de 2009 nas Ilhas Virgens Britânicas e continua ativa, segundo os registros da Mossack Fonseca. A família comandou durante mais de 160 anos o Grupo Ypióca, um dos maiores produtores de aguardente do país, sediado no Ceará.

Em 2012, a empresa foi vendida à multinacional Diageo, fabricante da Vodka Smirnoff e do whisky Johnnie Walker, entre outros. Os Telles apareceram na lista de 2014 da Forbes como detentores de um patrimônio de pouco mais de R$ 1 bilhão.

Documento com a assinatura de Gerardo Ferreira Telles

Documento com a assinatura de Everardo Ferreira Telles

Francisco Ivens Jr. (massas Adria)
Francisco Ivens de Sá Dias Branco Júnior é hoje presidente da M. Dias Branco, empresa do setor de alimentos e proprietária de marcas como Adria e Isabela. Ele é neto do português Manoel Dias Branco, que iniciou os negócios da família ao abrir uma padaria em Fortaleza (CE), em 1936.

Branco aparece nos registros da Mossack Fonseca como proprietário da LLL Investments Limited, aberta em dezembro de 2014 nas Ilhas Virgens Britânicas. A empresa permanece ativa, segundo os registros da Mossack Fonseca. O pai dele, Francisco Ivens de Sá, conhecido como sr. Ivens, figura na lista da Forbes de 2016 como o 13º homem mais rico do país, com uma fortuna de R$ 2,1 bilhões, segundo a revista.

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Gerdau 
Cinco executivos e ex-executivos do grupo abriram, em 2005, a Suncast Group Corporation. Quando a companhia foi criada, a totalidade das ações pertencia a Klaus Gerdau Johannpeter, atual vice-presidente do Conselho de Administração da Gerdau.

Nomes de vários outros membros da família são mencionados nos documentos da empresa, inclusive o de Jorge Gerdau, que deixou a presidência do Conselho de Administração em 2015. A companhia foi desativada em ago.2009.

Os documentos também mencionam uma transferência de cerca de 46 milhões de euros entre a Suncast e outra offshore. Jorge apareceu com seus 3 irmãos na lista da Forbes em 2014. Eles tinham um patrimônio estimado em R$ 2,19 bilhões.

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Klabin
A família Klabin apareceu pela última vez na lista de bilionários da Forbes em 2014, quando registrou patrimônio de R$ 3,95 bilhões (US$ 1,13 bilhão, corrigidos pela cotação de 11.abr). Roberto Klabin Martins Xavier, membro do Conselho de Administração da Klabin S.A., recebeu uma procuração (“power of attorney”) para gerir a Needart Inc.

Já Lilia Klabin Levine, suplente no Conselho de Administração da Klabin S.A., é controladora da Sardinalli Corp. As duas companhias panamenhas foram criadas em 2008 e permanecem ativas. Elas foram vendidas ao UBS Deutschland AG, que atua como intermediário em transações como essa.

Em abril de 2014, o intermediário das empresas passou a ser a Equilibrium Wealth Advisory e, logo depois, foram abertas duas contas, uma para cada empresa, no banco suíço Julius Baer.

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Klein (Casas Bahia)
Filho do fundador das Casas Bahia, Michael Klein teve sua fortuna avaliada em RS 1,9 bilhão pela edição de 2014 da lista da Forbes. Ele se tornou o único acionista da Haifa International Corporation em novembro de 2012, segundo os registros da Mossack Fonseca. Mas a ligação dele com a offshore parece ser mais antiga.

Um documento de 1999 mostra o nome dele, do filho Leandro (morto em 2001, aos 27 anos) e do pai, Samuel (morto em novembro de 2014), como diretores da Haifa. Em março de 2012, na condição de “signatário autorizado” da offshore, autorizou a abertura de contas no Santander Private Banking.

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Laerte Codonho (guaraná Dolly)
É o dono da empresa que produz o Dolly Guaraná. Assinaturas dele aparecem em documentos de 2 empresas offshore: a Lumia Industries LLC e a Saratoga Capital Group Corp, registradas em abril e maio de 2010, respectivamente. O nome de Codonho surge ainda como intermediário (“client”, no jargão offshore) de 5 outras companhias, todas sediadas no Panamá.

Em pelo menos uma dessas 5 offshores, a Risedale Consultants Inc, Codonho recebeu uma procuração especial (“power of attorney”). O nome do empresário é mencionado em 398 documentos do acervo da Mossack.

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Saulo Wanderley (Cowan)
O grupo mineiro começou no setor de construção civil em 1958, mas hoje possui interesses em várias outras áreas, como petróleo e gás, mineração e até saneamento. Em março de 1992, o fundador do grupo, Walduck Wanderley, e o irmão, Saulo Wanderley, receberam poderes para gerir a Royce Corporation, uma offshore registrada nas Ilhas Virgens Britânicas. Também recebeu os mesmos poderes Synval Filgueiras de Moraes Filho. No mesmo despacho, a Mossack constituiu outras 2 offshores nas Ilhas Virgens: a Tiger Corporation e a Silver Spur Corporation.

A primeira emitiu poderes em nome de Saulo e de Saulo Wanderley Filho, além de Virginia Barbosa Wanderley. Já a segunda era controlada por Walduck, por Ana Cristina Penna Wanderley Mendonça e Andreya Penna Wanderley. As 3 companhias tornaram-se inativas pouco depois, em março de 1993, segundo os registros da Mossack.

Simões Zica (Minas Ligas) 
Sandra Simões Zica é integrante do conselho de administração da Minas Ligas (formalmente chamada de Companhia Ferroligas de Minas Gerais).

Desde setembro de 2014, ela controla 75% das ações da SZ Investments LTD, uma offshore registrada em Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas. Os outros 25% das ações pertencem aos filhos de Sandra: Cristiana, Leonardo, Henrique e Roberto Simões Zica.

A fórmula escolhida foi a de propriedade conjunta (“joint tenancy with right of survivorship”, no termo em inglês). Se um dos acionistas morrer, os direitos e bens são transferidos aos demais. Este é um arranjo comum nas offshores abertas com fins sucessórios.

A Minas Ligas foi fundada em 1980 e especializou-se na produção de ferro silício e de silício metálico. Por meio de sua assessoria, Sandra disse que a SZ foi aberta para “investimentos” e não tem nenhuma relação com a Minas Ligas. Também disse que a empresa foi declarada e que todos os impostos foram pagos.

Steinbruch (CSN)
Os donos da Companhia Siderúrgica Nacional e do Grupo Vicunha frequentaram a lista de bilionários da Forbes até a edição de 2014.

Nomes da família apareceram no caso SwissLeaks, em 2015, quando os Steinbruchs emergiram como donos de um saldo US$ 543,8 milhões numa agência do HSBC de Genebra. O dinheiro estava distribuído entre 15 contas. Muitas foram abertas em nome de offshores.

Agora, os documentos da Mossack Fonseca mostram que a firma panamenha gerenciava pelo menos 2 dessas offshores: a Coast to Coast Corporation Ltd, aberta em 1989 nas Ilhas Virgens Britânicas, e a Rosleen Capital Ltd, aberta em 2012.

Os documentos de incorporação da Coast to Coast também trazem a autorização para a abertura de uma conta bancária no National Bank of New York (Suisse). Cinco membros da família receberam delegações para controlar a Coast to Coast, entre eles Mendel Steinbruch (morto em 1994). A offshore Rosleen é de propriedade apenas de Clarice Steinbruch.

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Walter Faria (cervejaria Petrópolis)
O dono do Grupo Petrópolis aparece na lista da Forbes de 2016 como o 11º homem mais rico do Brasil, com R$ 2,6 bilhões.

Faria comprou a Petrópolis em 1998 e a tornou a 2ª maior cervejaria do Brasil, atrás apenas da Ambev. Ele foi dono da Stetson Equities, aberta em 1998 nas Ilhas Virgens Britânicas por meio do escritório uruguaio da Mossack Fonseca. A empresa se tornou inativa em dezembro de 2001.

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Wesley Batista (JBS)
É o filho caçula de José Batista Sobrinho, fundador do frigorífico JBS. Os arquivos da Mossack Fonseca mostram que ele recebeu uma procuração para controlar a offshore Avel Group LLC, em novembro de 2005. A offshore foi registrada em Nevada, nos EUA, e tornou-se inativa em 2009. Os arquivos não dão mais detalhes sobre as atividades da Avel.

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DOCUMENTOS APRESENTADOS
As empresas e famílias abaixo enviaram documentos ao Blog demonstrando terem declarado a existência dos empreendimentos à Receita Federal e, quando era o caso, ao Banco Central.

No caso do 3G / Ambev, as offshores são mencionadas em seus balanços, que são documentos públicos. Eis os casos:

3G e Ambev
Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto da Veiga Sicupira são donos e fundadores do 3G Capital, um fundo de investimentos que tem como carro chefe a gigante do setor de bebidas Ambev (que faz parte do grupo global AB InBev). Eles frequentam há anos o topo da lista dos mais ricos do Brasil.

Jorge Felipe Lemann (filho de Jorge Paulo) e os outros 2 sócios do 3G aparecem ligados a 3 offshores no acervo da Mossack: a Petrix Overseas LTD, a Crestline Associates LTD e a Aspen Equities Corp. Os nomes deles e de outros executivos e ex-executivos são citados em vários documentos, como procurações, quadros de diretores, etc.

A Petrix foi a primeira a surgir, em 1999. Depois de várias elevações, o capital autorizado atingiu US$ 900 milhões em 2010. A Crestline foi fundada em janeiro de 2001, nas Ilhas Virgens Britânicas. Nesse mesmo ano surgiu a Aspen, registrada nas Bahamas.

Tanto a Petrix quanto a Crestline tornaram-se inativas em 2013 e 2015, respectivamente. A Aspen continua ativa, segundo os registros da Mossack. Esta é ligada à Ambev, enquanto Crestline e Petrix estão relacionadas ao 3G. As offshores são mencionadas em documentos oficiais do grupo, como os balanços apresentados à Bolsa de Valores. Eis um exemplo aqui. As pessoas mencionadas acima não tem mais relação com a Aspen.

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Constantino (Gol) 
Os donos da Gol aparecem nos arquivos da Mossack Fonseca relacionados a 5 empresas offshores, batizadas como Linxia Corp, Angarsk Ltd, Chapeco S.A, Nibel Corporation e Henson Overseas. Esta última foi criada para a negociação de um jatinho, no qual os Constantinos tinham uma opção de compra, que não foi exercida.

Todas as offshores deles foram declaradas à Receita. A série Panama Papers abordou o caso aqui. A família apareceu pela última vez na lista da Forbes em setembro de 2014, com fortuna estimada em R$ 2,45 bilhões.

Eike Batista
O empresário do setor de mineração chegou a ser o 7º homem mais rico do mundo em 2012, quando sua fortuna foi estimada em R$ 105 bilhões (US$ 30 bilhões) pela Forbes.

Em setembro de 2013, a mesma publicação sentenciou que Eike havia deixado o grupo dos bilionários. Nos arquivos da Mossack, ele aparece como o controlador de uma estrutura de 22 empresas offshores. Advogados de Eike apresentaram ao Blog documentos comprovando que as offshores foram declaradas. O caso está detalhado aqui.

João Carlos Di Genio (Grupo Objetivo) 
Professor, começou a trabalhar dando aulas de física em um cursinho pré-vestibular, enquanto estudava medicina na USP. Hoje, dirige o Grupo Objetivo, dono da Universidade Paulista (Unip), do Curso Objetivo e da rede de colégios de mesmo nome.

Nos arquivos da Mossack Fonseca, Di Genio aparece como proprietário de várias empresas offshores. Tornou-se acionista da Olga Consulting Limited, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas (BVI), em julho de 2002. Na mesma negociação, foram abertas as offshores Zanga Corp, Lopez Capital Corp e Unicorn Solicitors S.A, todas registradas nas BVI e relacionadas aos negócios de Di Genio.

Di Genio enviou documentos comprovando que todas as operações foram devidamente tributadas. O Blog teve acesso às declarações à Receita Federal e ao Banco Central.

Ricardo Antunes Sessegolo e Sérgio Goldzstein 
Ricardo é presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon). É também diretor da Fiergs, segundo o site da entidade. Em dezembro de 2001, tornou-se acionista de uma offshore chamada Alterra Management Ltd. O sócio majoritário era Sérgio Goldzstein, dono da incorporadora que leva o nome de sua família e da qual Ricardo é diretor.

A companhia, registrada nas Bahamas, tornou-se inativa em dezembro de 2003, segundo os registros da Mossack. Por meio da assessoria, a Goldzstein informou que a Alterra foi declarada à Receita Federal, mas nunca exerceu qualquer atividade e nem recebeu aportes. Foi, portanto, constituída de forma legal.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

Leia tudo sobre os Panama Papers

O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participam da série Panama Papers no Brasil na investigação sobre esportes os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Milionários negam irregularidades ou não comentam
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Fernando Rodrigues

Todos os citados foram procurados pela reportagem

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O Blog procurou todas as pessoas mencionadas na reportagem sobre os milionários e bilionários brasileiros com offshores da Mossack Fonseca.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada no domingo (3.abr.2016), é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

Eis o que disse cada um:

Alberto Dominguez (Track & Field)
Alberto Dominguez Von Ihering Azevedo foi avisado por telefone sobre a reportagem, por meio do filho Gustavo, em 6.abr. Preferiu não comentar o assunto.

Antonio Carlos Pipponzi (DrogaRaia)
A assessoria de imprensa enviou nota sobre o caso. Eis a íntegra: “Antonio Carlos Pipponzi e Rosalia Almeida Prado informam que todos os seus bens e direitos estão devidamente registrados nas respectivas declarações do Imposto de Renda e ambos se colocam inteiramente à disposição das autoridades fiscais para prestar eventuais esclarecimentos”

Benedictis (Shefa)
A empresa foi contatada pela equipe do Blog em cinco ocasiões a partir do dia 4.abr, tanto via e-mail quanto por telefone. Não houve resposta.

Carlos Mariani Bittencourt (Banco BBM)
Mariani enviou nota por meio da assessoria do Banco BBM, de cujo conselho faz parte. “A assessoria de imprensa do Banco BBM informa que nem o banco, nem Carlos Mariani, nem qualquer membro da família Mariani têm qualquer relação ou sequer conhecem a empresa Karpel Trading Ltd”, diz a nota.

Carlos Sanchez (EMS)
Por meio da assessoria, disse que “a EMS desconhece a existência das referidas contas e ressalta que a empresa jamais teve conta no Panamá”. Acrescentou: “A assessoria de imprensa de Carlos Sanchez informa que não vai se pronunciar por não ter tido acesso aos documentos citados na reportagem“.

Constantino (Gol)
Os Constantinos encaminharam à reportagem os documentos das empresas offshores que pertenceram a membros da família. Essas companhias foram declaradas ao Banco Central e à Receita Federal. Acrescentaram que, no caso da offshore Henson, houve apenas uma opção de compra da aeronave, que não foi exercida.

Eike Batista
Todas as offshores do empresário foram declaradas à Receita Federal e tributadas. Advogados de Eike mostraram documentos à reportagem comprovando. Leia mais aqui.

Feffer (Suzano)
A família controladora da Suzano encaminhou nota. Eis a íntegra: “Entre 1993 e 2011, membros da família Feffer detiveram participação societária na Infonet Incorporated para investimentos no exterior. Até o ano de 2011, quando o investimento foi descontinuado, a participação foi informada nas respectivas Declarações de Ajuste Anual de Imposto de Renda e nas Declarações de Capitais Brasileiros do Banco Central do Brasil”. Os documentos não foram encaminhados ao Blog, segundo a assessoria, por tratar-se de informação sigilosa.

Ferreira Telles (antigos donos da Ypióca)
Procurado por meio da assessoria, Everardo Ferreira Telles disse que não iria comentar o assunto.

Franscisco Ivens Jr (M. Dias Branco)
Francisco Ivens Jr. enviou resposta por meio da assessoria. Eis a íntegra: “O Sr. Francisco Ivens de Sá Dias Branco Junior informa que o referido investimento foi realizado em conformidade com a legislação aplicável e devidamente declarado à Receita Federal”.

Gerdau
A empresa encaminhou nota por meio da assessoria. Eis a íntegra: “A Empresa Suncast Group Corporation foi regularmente constituída com o objetivo de captar recursos junto a instituições financeiras com a finalidade de investimentos no exterior. A empresa encerrou suas atividades em primeiro de julho de 2009. Os executivos mencionados foram procuradores da empresa. Ao longo de sua existência, a Suncast Group Corporation não gerou resultados tributáveis no Brasil.”

João Carlos Di Genio (Grupo Objetivo)
Resposta do diretor-geral da Unip, José Augusto Nasr: “As sociedades mencionadas estão ativas e são detidas, direta e indiretamente por João Carlos Di Genio e família.  

São sociedades holdings, regularmente constituídas no exterior, com recursos regularmente enviados pelos respectivos titulares. Os recursos detidos pelas referidas holdings são aplicados nos mercado financeiro do exterior, como alternativa às aplicações no mercado interno.  

O que motivou a sua criação, além do mencionado acima, foram os benefícios fiscais concedidos a esse tipo de sociedades no local de suas sedes e a diversificação de investimentos.  

Todas as remessas de recursos ao exterior, assim como a titularidade das quotas das holdings foram e continuam sendo declaradas perante o Banco Central e Receita Federal do Brasil.  

Os impostos e taxas relacionados à operação das sociedades holdings são pagos regularmente, conforme a legislação aplicável.”

A empresa enviou documentos comprovando as informações.

Klabin
Por telefone e por e-mail, a assessoria informou que as duas pessoas mencionadas na matéria são membros do Conselho de Administração da empresa. Elas não quiseram comentar.

Klein (Casas Bahia)
Foi contatado por meio da assessoria de imprensa. Respondeu por e-mail que não ia comentar o caso.

Laerte Codonho (Dolly Guaraná)
Foi contatado em diversas ocasiões por meio do departamento de marketing da Dolly, à partir do dia 5.mar. Não houve resposta. No dia 11.mar, o Blog telefonou novamente para a empresa às 14h12, 15h19, 16h34, 17h17 e 18h41. Não houve resposta.

Saulo Wanderley (Cowan)
A Cowan enviou nota sobre o caso. Eis a íntegra: “A notícia faz referência a fatos acontecidos há mais de 20 anos e as pessoas citadas faleceram ou não fazem parte da Cowan há mais de uma década ou não guardam mais qualquer informação sobre estes assuntos. As próprias declarações de Imposto de Renda já não existem mais para que se pudesse ter uma informação mais precisa do que se trata”.

Sérgio Goldzstein, Ricardo Sessegolo (Goldzstein)
Sérgio Goldzstein, dono da Goldzstein Incorporadora, enviou nota por meio da assessoria de imprensa. Segundo ele, a empresa foi declarada à Receita Federal. A Alterra nunca recebeu aportes, motivo pelo qual não foi declarada ao Banco Central. Eis a resposta, na íntegra:

“Efetivamente esta empresa foi constituída em 2001 pelos sócios da Incorporadora  Goldsztein, com o objetivo de captar recursos no exterior para investimento no mercado imobiliário brasileiro. 

Tal propósito, contudo, não foi atingido, razão pela qual a ALTERRA nunca teve atividades, no exterior ou no Brasil, já tendo sido devidamente encerrada. 

Importante ressaltar que a empresa sempre foi declarada às autoridades brasileiras (Receita Federal e Junta Comercial), não tendo nenhum registro no Banco Central do Brasil, pois não realizou os investimentos para os quais havia sido constituída”.

Ricardo Antunes Sessegolo também enviou nota. Eis a íntegra: “Vimos, através desta, responder ao vosso email datado do dia 01 de abril de 2016 sobre participação de sócios da Goldsztein Administração e Incorporações Ltda na empresa offshore ALTERRA Management Ltda, sediada nas Bahamas.

Efetivamente esta empresa foi constituída em 2001 pelos sócios da Goldsztein, com o objetivo de captar recursos no exterior para investimento no mercado imobiliário brasileiro. Tal propósito, contudo, não foi atingido, razão pela qual a ALTERRA nunca teve atividades, no exterior ou no Brasil, já tendo sido devidamente encerrada.

Importante ressaltar que a empresa sempre foi declarada às autoridades brasileiras (Receita Federal e Junta Comercial), não tendo nenhum registro no Banco Central do Brasil, pois não realizou os investimentos para os quais havia sido constituída.”

Simões Zica (MinasLigas)
Por meio da assessoria de imprensa, informam que a SZ Investments continua ativa e que não há qualquer relação entre a offshore e a Minas Ligas. Informa ainda que todos os impostos e taxas relacionadas ao caso foram pagos, e que a empresa foi declarada às autoridades brasileiras.

Steinbruch (CSN)
Foi procurada por meio da assessoria de imprensa em 3 ocasiões à partir do dia 05.mar. A assessoria de imprensa enviou mensagem dizendo que a diretoria foi informada e alertada sobre o conteúdo da reportagem, mas que não houve resposta. As offshores dos Steinbruchs foram mencionadas no caso SwissLeaks. Na ocasião, houve uma nota da assessoria de imprensa. “Todos os ativos no exterior da família Steinbruch têm finalidades licitas e estão de acordo com a lei. Quanto às menções a pessoas de sobrenome Steinbruch constantes de dados que foram roubados do Banco HSBC e manipulados, reiteramos que não correspondem à verdade e, por sua origem criminosa, não merecem comentários”.

Walter Faria (Grupo Petrópolis)
O Grupo Petrópolis enviou nota. Eis a íntegra: “O Grupo Petrópolis e seus acionistas nunca tiveram qualquer ligação com a empresa Mossack Fonseca. Todas as transações que requerem prestação de contas ou declarações fiscais perante a Receita Federal ou quaisquer outros órgãos foram feitas na forma da lei”. 

Wesley Batista (JBS)
Wesley Batista enviou nota por meio da assessoria. Eis a íntegra:  “A JBS esclarece que seu CEO, Wesley Batista, nunca foi proprietário, sócio ou beneficiário da Avel Group LLC, tendo apenas sido nomeado seu procurador entre 2006 e 2008. A Avel foi constituída em 13 de outubro de 2005 e dissolvida em 8 de dezembro de 2008, sem nunca exercer qualquer tipo de operação financeira, societária, operacional, patrimonial ou sequer tendo aberto conta bancária”. 

3G e Ambev
Contatados por meio da assessoria, decidiram não se pronunciar.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

Leia tudo sobre os Panama Papers

O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participam da série Panama Papers no Brasil na investigação sobre esportes os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Empresários investigados utilizaram serviços da Mossack Fonseca
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Fernando Rodrigues

Raúl Srour e Benjamin Katz criaram offshores dos Panama Papers

João Procópio Prado firmou acordo de “consultoria” de US$ 1 milhão

Famílias Haber, Kattan e Trombeta compraram firmas via Mossack

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o doleiro Raúl Henrique Srour na CPI da Petrobras, em agosto de 2015

A firma panamenha de advocacia e consultoria Mossack Fonseca forneceu empresas offshore para diversos “doleiros” brasileiros investigados na Lava Jato e por suposta participação em desvios no banco Banestado nos anos 1990.

Raúl Henrique Srour e João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado são réus na Lava Jato. Prado trabalhava para o doleiro Alberto Yousseff.

Um dos primeiros investigados na Lava Jato, Raul Henrique Srour manteve pelo menos 2 companhias com a Mossack & Fonseca: a Seaway Holdings Corp (aberta em 2000, nas Bahamas) e a Uniglobe Finance Limited (que funcionou de 2007 a 2009, nas Ilhas Virgens Britânicas).

Srour foi preso em 17.mar.2014 e solto em 24.abr.2014 após pagar fiança de R$ 7,2 milhões. Ele é apontado pelo MPF como um dos membros do grupo de Alberto Yousseff que operava no mercado paralelo de câmbio. Na denúncia, o Ministério Público Federal enquadra seu envolvimento em crimes de lavagem de dinheiro praticados pelo menos desde a década de 1990. Srour também apareceu nos documentos do SwissLeaks.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada no domingo (3.abr.2016), é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

JOÃO PROCÓPIO
João Procópio de Almeida Prado é contador e trabalhava com o doleiro Alberto Yousseff. Na denúncia apresentada contra ele na Lava Jato, o Ministério Público Federal afirma que Prado era o responsável por criar, movimentar e gerir várias das offshores usadas pelo grupo. A denúncia faz a ligação dele com diversas empresas do mesmo tipo.

Os arquivos da Mossack contêm 2 offshores até agora desconhecidas pela força-tarefa da Lava Jato e que são reveladas pelos Panama Papers: a Edaco Services (aberta no Panamá em set.2011) e a Cedes Management Corp (também no Panamá, em jul.2012).

Os documentos contêm indícios de que uma das contas movimentadas por Prado, a Santa Tereza Services LP, pode ter sido usada para enviar dinheiro a um ex-dirigente da Fifa, Jack Warner.

A principal peça é um acordo entre a Santa Tereza e outra offshore, de nome Pendrey Associates Corporation. Esta última pertence a Ken Emrith, um cidadão de Trinidad e Tobago ligado a Warner.

Em dezembro de 2012, Santa Tereza e Pendrey firmaram acordo de “consultoria” para a expansão do porto da Baía de Walvis, na Namíbia. Em valores da época, o negócio envolveu US$ 1 milhão. No contrato, há a assinatura de Prado.

Estas informações foram apuradas em colaboração com a repórter Camini Marajh, do jornal Trinidad Express.

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O acordo entre a Pendrey e a Santa Tereza, de Procópio, com as assinaturas

FAMÍLIA HABER
O doleiro Roger Clement Haber tem um passado de investigações por suas atividades no mercado de câmbio. Ele foi investigado pela CPI do Banestado em 2003. Em 2006, foi escrutinado pela Polícia Federal por operar a offshore Agata, nas Ilhas Virgens Britânicas. Havia a suspeita de que a empresa seria usada para enviar remessas ilegais de dinheiro para fora do país.

A lista de suspeitos de utilizar os serviços de Roger Clement Haber, segundo a Polícia Federal, inclui nomes notórios como o deputado federal e ex-prefeito de SP Paulo Maluf, as Casas Bahia e os marqueteiros do PT Duda Mendonça e João Santana.

Com a Mossack Fonseca, Roger Clement Haber e sua mulher, Myriam Haber, criaram a Fuenteverde Trading Inc. em 1998. A empresa estava delegada ao casal por meio de uma procuração (“power of attorney”), mas era dirigida oficialmente por outra firma, a Belgravia.

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Procuração para Roger Haber, expedida pela Mossack

Os documentos da Mossack indicam que a Fuenteverde foi utilizada em 2000 para efetuar a negociação da Romipar Participações Ltda., que pertencia a uma empresa uruguaia e foi adquirida pelo casal. Em 2006, ela voltou a ser usada, dessa vez para a venda de uma loja da Romipar na avenida Angélica, em São Paulo.

Em 2010, a administração da Fuenteverde foi transferida para o filho do casal, Richard Clement Haber, e ações foram emitidas em nome de outra empresa, a Polaris Holding Inc.

Em 2015, uma firma de advocacia acionou a Mossack Fonseca Brasil pedindo informações antes de assumir o controle da Fuenteverde. Alegou representar a viúva do beneficiário final da empresa, que seria Myriam Haber. Roger Clement Haber morreu em dez.2010.

A MF-Brazil não se mostrou disposta a ajudar e rejeitou qualquer contato. Não há documentos que indiquem novas movimentações depois disso.

KATTAN, KATZ E TROMBETA
Os arquivos também trazem informações sobre companhias ligadas a outros empresários que foram ou são alvo de investigação no país. Estão nos arquivos Roberto Trombeta, hoje delator na Lava Jato; o empresário Benjamin Katz e a família Kattan, investigados no caso Banestado.

Benjamin Katz descreve a si próprio como empresário do ramo imobiliário, baseado no Rio de Janeiro. Ele abriu uma offshore de nome Guibor Ltd. em 1º.jul.2014, nas Ilhas Virgens Britânicas. Não há, no entanto, registro das atividades da empresa após sua abertura.

Ele enviou à reportagem comprovantes de que a empresa foi declarada às autoridades fiscais brasileiras, sendo, portanto, legal.

A família Kattan aparece nos registros da Mossack Fonseca como proprietária de pelo menos 14 empresas offshores, abertas de 1992 a 2010. Muitas dessas foram usadas para movimentar contas bancárias nas seguintes instituições: Safra (nas unidades da Suíça e de Luxemburgo), UBS (Alemanha), e UBP estão entre as instituições usadas.

Em 2003, a sede de uma empresa dos Kattan foi alvo de busca e apreensão da PF, à pedido da CPI do Banestado. A PAI Capital Corporation teria movimentado US$ 200 milhões e seria uma das principais empresas do caso.

De todos os integrantes da família, David Kattan é o que mais aparece como titular de offshores. As jurisdições usadas pelos Kattan geralmente são o Panamá, as Bahamas e as Ilhas Virgens Britânicas.

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Procuração da Brownbay para David Kattan

Outro grupo responsável por várias offshores da Mossack é o de Roberto Trombeta. Ele, a filha Fabiana de Paula Trombeta e o sócio, Rodrigo Morales, aparecem como donos ou como intermediários de 17 offshores geridas pela Mossack.

A relação dos Trombetas com a Mossack Fonseca era mais como intermediários (“client”, no jargão offshore) do que como usuários finais. Das offshores abertas por eles, por exemplo, 4 tinham como usuário final o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o Caoa –dono de revendedoras de automóveis e da operação da montadora Hyundai no Brasil.

OUTRO LADO
Todas as pessoas mencionadas nesta reportagem foram procuradas pela reportagem. Eis o que cada um disse:

João Procópio
Por meio do advogado Ricardo Berenguer, João Procópio Prado negou conhecer a Mossack Fonseca ou as offshores Edaco Services e Cedes. Sobre a Santa Tereza Services LP, a defesa disse que não tem como verificar se houve alguma transferência a Ken Emrith porque os documentos dessa empresa foram apreendidos. Afirmou ainda que só se manifestará sobre esse assunto em juízo.

Raúl Srour
Raúl Henrique Srour foi procurado por meio do escritório Sánchez Rios Advocacia Criminal, de Curitiba. E-mails foram enviados a partir de 11.mar, quando houve contato telefônico. Nenhuma resposta foi recebida até a publicação deste texto.

Benjamin Katz
Por meio de sua assessoria, Benjamin Katz disse que a Guibor Ltd foi constituída para “adquirir um imóvel em Miami e por uma questão sucessória”. O uso da offshore seria “tributariamente mais aconselhável para preservar o patrimônio da família. Sem a offshore, haveria uma incidência tributária de 50% em caso de falecimento do proprietário”.

A assessoria também encaminhou documentos comprovando que a offshore foi declarada à Receita Federal e ao Banco Central.

A assessoria de Katz também diz que ele nunca atuou como doleiro. Um pequeno resumo das atividades dele foi enviado pela assessoria. Eis a íntegra:

“Empresário brasileiro, 55 anos casado, 4 filhos, atua na área de construção e incorporação imobiliária através da empresa Visione Empreendimentos Imobiliários com mais de 200.000 m2 já construídos de habitação residencial para a classe média, exclusivamente com recursos privados. Nenhum empreendimento da família Katz teve investimento público.

Empreendedor, trouxe importantes marcas e investidores estrangeiros para se implantarem no Brasil, como, por exemplo, Fossil watches e Guardone rastreamento de veículos por satélite.

Ele frisa, também, que o imóvel comprado nos Estados Unidos, via offshore, foi parcelado e ainda está em construção”.

Kattan e Trombeta
As famílias Kattan e Trombeta não foram localizadas para comentar.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

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O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participaram da série Panama Papers  os repórteres Fernando RodriguesAndré ShaldersMateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de ToledoDaniel BramattiRodrigo BurgarelliGuilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Investigado no tríplex do Guarujá era intermediário profissional da Mossack
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Fernando Rodrigues

Ademir Auada viajava ao Panamá quase 1 vez por mês

Ele intermediou a Murray Holdings, de Nelci Warken

Eleição de Lula em 2002 seria “boa para os negócios”

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Ao centro, o Condomínio Solaris, onde fica o apartamento Tríplex que foi alvo da 22ª fase da Lava Jato

O empresário Ademir Auada, preso na fase “Triplo X” da Operação Lava Jato, atuava como intermediário na venda de offshores criadas pela empresa de advocacia e consultoria panamenha Mossack Fonseca. Arquivos da companhia listam 29 empresas em que Auada aparece como intermediário. Esse tipo de operação dificulta a obtenção da identidade dos verdadeiros donos.

Os arquivos da Mossack Fonseca revelados pela série Panama Papers mostram que Auada era o contato entre a firma panamenha e a publicitária Nelci Warken. Para a Polícia Federal, Nelci era “testa de ferro” num esquema montado pela Bancoop, o PT e a OAS. O objetivo seria esconder a verdadeira propriedade de imóveis do Condomínio Solaris, no Guarujá.

Durante as investigações da Lava Jato, a Polícia Federal levantou a suspeita de que um apartamento tríplex no Condomínio Solaris pertenceria à família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –o que o petista nega.

Ademir Auada foi preso na 22ª fase da Lava Jato, quando voltava de viagem ao Panamá. A “Triplo X”, como foi batizada, investiga se a OAS lavou dinheiro por meio de negócios imobiliários que beneficiaram o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Auada foi solto junto com Nelci Warken em 5.fev.2016. A Procuradoria Geral da República decidiu não requerer prisão preventiva dos 2.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada no domingo (3.abr.2016), é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

Em vários casos, inclusive no de Nelci, os funcionários da Mossack recebem instruções para “nunca contatar os clientes”. Eles deveriam contatar Auada.

Em 2012 e 2013, Auada esteve no Panamá para tratar diretamente da documentação das empresas de Nelci (Hazelvile International Inc. e Woodbay Holdings SA) e da Murray Holdings LLC, offshore dona de imóveis no Solaris.

Os arquivos da Mossack Fonseca apresentam 1.236 menções ao nome de Auada. Dão indícios de uma relação longa e produtiva entre eles. O empresário paulistano trabalha com a empresa panamenha pelo menos desde 2001.

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Mossack Fonseca envia a Ademir os papéis da Murray Holdings, de Nelci Warken

Há registro de várias reuniões entre ele e Mercedes Riaño, chefe da Mossack Fonseca Brasil, foragida da Polícia Federal brasileira desde que a fase “Triplo X” da Lava Jato foi deflagrada, em 27.jan.2016.

Auada também viajava muito ao Panamá para se encontrar pessoalmente com funcionários da matriz da Mossack Fonseca. Um deles comenta em registro de 2001 que o empresário ia ao Panamá a cada 40 dias, em média.

LULA AJUDA OS NEGÓCIOS
Em uma de suas viagens, em mai.2002, Auada fez avaliações sobre as eleições brasileiras durante um jantar com funcionários da Mossack. O relato está assim em documento dos Panamá Papers: “As eleições presidenciais no seu país (Brasil) ocorrerão em outubro deste ano (2002). A esquerda é muito forte e, se ganha, seria muito ruim para o país, mas bom para seus negócios”. Leia aqui parte dos relatos feitos pela Mossack sobre as reuniões com Auada.

O contexto dessa citação de Auada era o de que a eventual chegada do PT ao Palácio do Planalto produziria alguma reação de pânico entre os brasileiros mais abastados. Dessa forma, muitos poderiam desejar abrir empresas offshores para enviar recursos ao exterior –o que ajudaria os negócios da Mossack Fonseca.

A prisão de Auada pela Lava Jato foi realizada no aeroporto de Guarulhos, em 28.jan.2016, quando o empresário desembarcou retornando do Panamá.

OUTRO LADO
Blog conversou com Edvaldo Kavaliauskas, advogado que representa Auada nos processos da Lava Jato. O advogado confirmou a relação de seu cliente com a Mossack Fonseca, mas disse que ele deixou de trabalhar com os panamenhos há cerca de 2 anos. “Se subsistia alguma relação, era só o pagamento de anualidade de firmas que ele intermediou antes”, disse.

Segundo Kavaliauskas, Auada trabalhava como uma espécie de “despachante” internacional, auxiliando empresas na “redução da carga tributária”. Ele informa que Auada possuía clientes no Panamá e em outros países, o que justificaria suas frequentes viagens.

Em e-mail, a defesa de Auada também contestou o número de empresas encontradas em meio aos Panama Papers. Eis a íntegra da mensagem enviada:

Junto a empresa Mossack Panamá, o Sr. Ademir utilizou dos serviços desta empresa no registro e certificação de 19 empresas e não 29 como constou, sendo que dessas 19, três se encontram inativas.

“Com relação as viagens ao Panamá, informamos que essas são inerentes a atividade de consultor internacional, possui uma empresa naquele país devidamente declarada aos órgãos brasileiros, de seus serviços depreende-se a busca de negócios e mercados, visando a expansão comercial bem como a redução de custos operacionais para seus clientes, tudo em decorrência da instituição da Zona Franca de Colon.

“Salienta-se que as viagens não se restringem ao Panamá, pelo contrario, efetua um maior numero de viagens para outros países, pois além do serviço de consultoria atua como agente referenciador bancário.

“Todos os clientes que atuam no território nacional possuem seus registros no CADEMP e CNPJ.

“Ressalta que após a contratação dos serviços da empresa Mossack Fonseca Panamá, sendo a ultima em meados do ano de 2013/14, seus serviços se limitavam a efetuar, quando solicitado, dar suporte com a documentação para realização de alterações contratuais e documentais, quando necessário”.

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Participaram da série Panama Papers  os repórteres Fernando RodriguesAndré ShaldersMateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de ToledoDaniel BramattiRodrigo BurgarelliGuilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Offshore controlava até mesmo escalação de equipes na Libertadores
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Fernando Rodrigues

Contrato fala em “pelo menos” 7 titulares por partida da competição

Empresa também tinha poderes sobre horários e locais dos jogos

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Jogo da Libertadores em Belo Horizonte (MG), em 2013

Por Rodrigo Burgarelli

O contrato de cessão dos direitos para transmitir os jogos da Copa Libertadores assinado entre a Conmebol e a empresa T&T Sports Marketing Ltd, registrada nas Ilhas Cayman, dava amplo controle à offshore sobre regras essenciais para o funcionamento do torneio.

Entre essas regras está a decisão sobre os locais e os horários dos jogos e até sobre a escalação das equipes que disputam a maior e mais importante competição interclubes da América Latina.

A reportagem obteve cópia do contrato de cessão de direitos de transmissão da Copa Libertadores, que está entre os 11,5 millhões de documentos dos Panama Papers. Leia aqui a íntegra do contrato.

O contrato foi enviado em meio a vários outros arquivos após exigência do departamento de compliance da Mossack Fonseca, que havia sido contatada para se tornar o agente registrado de parte da rede de offshores criada para explorar esses direitos de transmissão.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada no domingo (3.abr.2016), é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

Como uma das empresas era incorporada na Holanda, país com legislação bancária mais rígida, o escritório local da firma panamenha foi obrigado a comprovar a origem dos fundos que estavam no nome das companhias.

O contrato em questão foi assinado em 2008 e traz informações também sobre um período anterior a essa data. No total, estão detalhados os pagamentos para a cessão dos direitos de gravação, produção, transmissão e distribuição das partidas desde 2003 até 2018, em caráter exclusivo.

A empresa, portanto, poderia renegociar esses direitos com as redes de televisão de qualquer país interessado.

Os valores que deveriam ser pagos pela T&T Sports Marketing Ltd eram de US$ 22 milhões por ano até 2010, U$ 22,2 milhões por ano de 2011 a 2014 e U$ 25,3 milhões por ano de 2015 a 2018, além de US$ 4 milhões de luvas pela assinatura do acordo. O valor total do contrato, portanto, é de US$ 370 milhões –ou mais de R$ 1,3 bilhão pelos 15 anos.

Há várias cláusulas extras no contrato que dão uma série de benefícios para a offshore das Ilhas Cayman. Uma delas afirma que, se as situações macroeconômicas da América Latina sofrerem qualquer mudança substancial no período de vigência, as condições econômicas do contrato poderiam ser renegociadas “de boa fé” por ambas as partes.

Além disso, a Conmebol cedeu à empresa uma opção prioritária para renovar o contrato após o seu vencimento, em 2018. Caso a entidade decidisse fazer uma licitação para vender os direitos de transmissão para um período posterior, a T&T Sports Marketing Ltd teria a opção de igualar o valor máximo oferecido.

EXIGÊNCIA DE TITULARES
A cláusula 4.7 deixa claro que a Conmebol deve exigir de todos os clubes participantes que joguem todas as partidas com suas equipes profissionais principais. Isso significa que os times devem usar pelo menos sete jogadores que habitualmente tenham participado como titulares em pelo menos 15 partidas da primeira divisão de seus países. Eis a reprodução desse trecho do documento (clique na imagem para ampliar):

Contrato-TTSports-Conmebol-Libertadores-2006A única exceção para não escalar um titular seria se algum clube contratasse algum jogador de “renome” que não tivesse disputado a competição anterior. “No caso de (a Conmebol) não fazer (a exigência dos titulares), haverá sérias sanções”, estipula o contrato.

Outra condição benéfica para a T&T Sports Marketing Ltd está na cláusula 4.3, que afirma que a offshore deve estar incluída na definição dos lugares, datas e horários da partida do evento com a devida antecipação. Os representantes da empresa também devem ter acesso livre e com facilidade aos estádios onde o evento está sendo realizado.

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