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Lula: “Está ruim. Mas ainda é bem melhor do que antes da gente”
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Fernando Rodrigues

Lula-Foto-RicardoStuckert-InstitutoLula-5jun2015

O ex-presidente Lula, que defende comparar os indicadores do PT com os do PSDB

Petista quer retomada da fórmula PT X PSDB

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está escolhendo a “ideia-força” para petistas e o governo Dilma martelarem nos próximos dias e semanas para tentar neutralizar os péssimos indicadores econômicos.

Ontem (20.jul.2015), ele fez uma reflexão ao conversar com o marqueteiro João Santana: “O país vive dificuldades. A situação não está boa. Nós precisamos dar respostas aos problemas. Mas com tudo o que está aí, ainda está bem melhor do que antes da gente”.

É a volta da comparação dos anos PT (Lula & Dilma) com a era tucana de FHC.

Esse tipo de comparação já deu certo antes, em outras eleições. Lula quer repetir o modelo.

A novidade também é começar a argumentação com algum tipo de reconhecimento das dificuldades atuais. Lula recomenda que os petistas e o governo não neguem o atual momento difícil pelo qual o país passa –pois só ignorar a crise não pega bem diante de grande parte do eleitorado.

Esse tipo de argumentação será aprimorado durante as viagens que a presidente Dilma Rousseff e seus ministros passarão a fazer pelo país nas próximas semanas. Essa também foi uma sugestão de Lula, para que a presidente e seus assessores deixem a crise na capital do país e procurem falar com a população nas grandes e médias cidades.

O argumento “ainda é bem melhor que antes da gente” está sendo trabalhado pelo marqueteiro João Santana. Será empacotado para ser apresentado no programa partidário de 10 minutos do PT em rede nacional de rádio e de TV, em 6 de agosto –além dos comerciais curtos, de 30 segundos ou 1 minutos, agendados para os dias 18, 20, 22, 25 e 27 de agosto.

O mês de agosto é tido como um dos mais duros do ano quando há uma crise econômica. É quando os trabalhadores desempregados no primeiro semestre sentem de maneira mais intensa os efeitos da demissão. O comércio não tem datas relevantes para fazer promoções. E é também o momento em que o Congresso volta a trabalhar, certamente de mau humor e com pouca disposição para ajudar o Planalto.

Para complicar, em 16 de agosto (um domingo) estão programadas manifestações anti-Dilma em todo o país.

Em resumo, o PT e o governo tentarão contrapor os protestos de agosto com a ‘nova’ ideia-força proposta por Lula: no passado era pior.

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Poder e Política na semana – 20 a 26.jul.2015
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Fernando Rodrigues

Eis aqui um resumo sobre o que você precisa saber sobre a semana que começa.

Dilma Rousseff passa a maior parte do tempo em Brasília. A CNT (Confederação Nacional do Transporte) divulga pesquisa de popularidade pessoal da presidente e do governo federal.

Na 5ª feira, governo deve apresentar sua defesa para o TCU (Tribunal de Contas da União) sobre as chamadas “pedaladas fiscais” (o uso indevido de recursos de bancos públicos).

O vice-presidente, Michel Temer, passa a semana nos EUA.

Esta agenda é uma previsão. Os eventos podem ser cancelados ou alterados. Avisos ou correções, escreva para frpolitica@gmail.com.

A versão completa do Drive é exclusiva para assinantes.


2ª feira (20.jul.2015)

Dilma e a política – presidente Dilma realiza ampla reunião da articulação política. No Palácio do Planalto. Às 9h.

Congresso em recesso – Câmara e Senado sem trabalhos por duas semanas.

Judiciário em recesso – tribunais parados no mês de julho.

Temer nos EUA – vice-presidente passa a semana inteira fora do Brasil.

 

3ª feira (21.jul.2015)
Popularidade do governo Dilma
– CNT (Confederação Nacional do Transporte) divulga resultado da 128ª Pesquisa CNT/MDA sobre a popularidade da presidente Dilma Rousseff e do governo federal.

CNT divulga na 3ª feira resultado de pesquisa sobre a popularidade de Dilma e do governo federal

Dilma e o Judiciário – data limite para Dilma sancionar o PLC 28/2015, que concede um reajuste médio de 59,49% nos salários dos servidores do Poder Judiciário.


4ª feira (22.jul.2015)
Dilma em Piracicaba (SP)
– presidente vai até a cidade do interior paulista para inaugurar uma unidade de produção de etanol.

 

5ª feira (23.jul.2015)
Pedaladas fiscais e o TCU
– governo Dilma deve apresentar sua defesa para o TCU (Tribunal de Contas da União) sobre as chamadas “pedaladas fiscais” (o uso indevido de recursos de bancos públicos).

Emprego – IBGE divulga a Pesquisa Mensal de Emprego referente a junho.

 

6ª feira (24.jul.2015)
Comércio e consumo
– FGV divulga Sondagem do Comércio e Sondagem do Consumidor.

 

Sábado (25.jul.2015)
A esquerda e a economia
– Grupo Brasil, movimento de esquerda formado por dirigentes do PT, PSOL, PC do B e organizações sociais, realiza reunião para traçar estratégias e discutir a política econômica do governo.

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Lindbergh sugere a Dilma: “Que tal nos inspirarmos nos gregos?”
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Fernando Rodrigues

Planos de Joaquim Levy “estão fracassando”, diz senador do PT do Rio

Lindbergh quer mudar política econômica para “enfrentar o golpe”

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Lindbergh Farias (PT-RJ), que acha um fracasso a atuação de Joaquim Levy

Em duro artigo enviado a militantes e a vários veículos de comunicação, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) faz críticas severas à condução da política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Para o petista, “e hora de reaglutinar aquela turma que foi para as ruas no segundo turno da eleição da Dilma”. E tem uma sugestão clara para a presidente da República: “Tomando coragem (que tal nos inspirarmos nos gregos?) para reorientar a política econômica”.

“É um erro primário conduzir a economia desconsiderando a conjuntura política. Estamos em tempos de guerra. Não se atira contra a própria tropa, contra aqueles que podem sair às ruas em defesa da legalidade democrática”, escreve o senador.

Prossegue: “Ainda resta alguma dúvida de que os ‘planos de austeridade’ de Joaquim Levy estão fracassando? Nesse aspecto, está acontecendo entre nós exatamente uma repetição do que houve na Grécia, Espanha e Portugal. Essa política econômica neoliberal de Levy não é a nossa, nem Dilma foi eleita com essas propostas. Dizer que inexistem alternativas é falso, basta ler o debate econômico brasileiro e internacional e verificar que as alternativas existem, sim”.

Para Lindbergh, há uma articulação em curso para promover um golpe de Estado visando à derrubada de Dilma Rousseff. Para o petista, é necessário o governo alterar imediatamente o rumo da política econômica para “unificar a base social e enfrentar o golpe”.

“Isso só será possível se o governo entender a gravidade da crise, esquecer um pouco o Levy e seu samba de uma nota só do ajuste fiscal. Com isso, girar à esquerda com um programa que defenda o emprego e a renda dos trabalhadores, taxação das grandes fortunas, a legalidade democrática, a soberania nacional e os direitos humanos frente a essa ofensiva conservadora”.

Eis a íntegra do artigo de Lindbergh Farias:

Mudar a política econômica, unificar a base social e enfrentar o golpe

por Lindbergh Farias

A leitura dos jornais no final de semana me deixou indignado. Jamais pensei que o Brasil iria reviver seu passado obscuro: uma conspiração aberta, sem peias nem pudor, contra uma presidenta eleita democraticamente pela maioria do povo brasileiro. É lamentável constatar que entre os principais envolvidos nessa conspiração estão muitas das principais lideranças do PSDB, um partido que no passado se comportou como um dos fiadores da democracia brasileira.

Advirto que golpe é como brincar com fogo. É como abrir uma caixa de Pandora. Um golpe sabe-se como começa e nunca se sabe como termina. Em 1964, dizia-se que o golpe duraria até 1965, quando da eleição do novo presidente da República. Resultado: durou vinte e um longos anos. Mas os golpistas não passarão, para relembrar as palavras da heroína da guerra civil espanhola, Dolores Ibárruri.

Minha angústia aumenta ao perceber que o governo que elegemos, da honrada presidenta Dilma Rousseff, parece ainda não ter noção da gravidade da conspiração que visa derrubar o seu governo ainda este ano. O povo brasileiro amadureceu e não será conivente com qualquer tentativa de ruptura da ordem democrática no país. É por isso que não se pode ter uma posição defensiva.

Em Brasília, não é segredo para ninguém que a aliança do PSDB com setores do PMDB não está restrita a questões como a redução da maioridade penal. Tramam para afastar uma presidenta da República eleita de forma legítima. Nem se pede mais segredo de bastidores, a conspiração é aberta e escancarada.

Há dois argumentos centrais exibidos pelos que defendem a ruptura da continuidade democrática. O primeiro, pauta de todos os discursos, é o de que a crise política e a fragilidade do governo estão fazendo o Brasil afundar em um cenário de recessão e de alta da inflação. Afirmam que não há como sairmos dessa situação sem mudar o governo.

O outro argumento – este de bastidor – é que nunca houve na história do Brasil um governo tão fraco na relação com o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal. Se em público os tucanos aplaudem o juiz Sérgio Moro, em privado falam de abusos no processo e prometem que, se chegarem ao poder, tudo mudará. Não cansam de repetir que não agirão como Dilma, “que lavou as mãos”, e prometem um governo forte, com ascendência sobre o Ministério Público, trânsito no STF e nos meios de comunicação. Lembram que, no período FHC, era o presidente quem escolhia o Procurador (Engavetador) da República. Não havia eleição, isso foi “invenção do Lula”. Nunca vi tanto cinismo junto!

Trata-se, como evidente, de um discurso encomendado para seduzir setores da própria base governista. Vou mais longe: o que começou como uma conspiração está tomando a feição de um acordo, já com roteiro e plano de ação prontos. Falam-se das “pedaladas” e da rejeição das contas pelo TCU, mas a grande aposta é no TSE.

Sabe-se que o PSDB, logo que terminou as eleições presidenciais do ano passado, entrou com uma representação, uma AIJE (Ação Indireta de Investigação Eleitoral), de suposto “abuso de poder econômico”. Procura-se de todas as maneiras forjar um depoimento de um dos delatores presos na Operação Lava Jato, falando de “origem ilegal de recursos de campanha”. Pronto. Arrumou-se o mote.

A partir desse depoimento, parte-se para cabalar votos no Tribunal. Como é um Tribunal pequeno, apenas sete membros, uma maioria circunstancial de quatro permite o afastamento da presidenta da República. Sem nem precisar passar pelo Congresso! Sem nem passar pelo complexo e desgastante processo de um impeachment! Restaria a Dilma apenas lutar por uma liminar junto ao STF.

Resultado do hipotético julgamento junto ao TSE, afastados a Presidenta e o Vice, assumiria a Presidência da República, por três meses, o deputado Eduardo Cunha, enquanto novas eleições seriam realizadas. Este é o roteiro preferencial da chanchada preparada pela oposição e por alguns setores da ainda formalmente chamada “base governista”.

Alguém pode perguntar: o PMDB embarca nesta canoa furada mesmo contra Michel Temer? Ora, o Temer é minoria no PMDB. Além disso, aqui sabemos que ele não tem boas relações com seu próprio partido no Senado. E o controle da bancada do PMDB na Câmara é de Eduardo Cunha, que adoraria assumir a Presidência da República de forma interina. Evidentemente, se esse caminho não der certo, vão-se tentar outras veredas, a exemplo do impeachment e TCU.

Diante da gravidade da situação brasileira, o que nós, democratas e militantes de esquerda, podemos fazer para impedir o golpe, seja judicial ou parlamentar? Podemos fazer muito. Na minha avaliação, a questão central é mobilizar nossas bases sociais para irem às ruas. Eles têm que temer nossa capacidade de reação. Temos que anunciar que, se optarem por esse caminho, estarão colocando o Brasil em um clima de radicalização e confronto que atenta contra nossa democracia. Mas para isso precisamos da ajuda do governo. É preciso que governo pare de atacar a sua própria base! É hora de reaglutinar aquela turma que foi para as ruas no segundo turno da eleição da Dilma.

Como fazer isso? Tomando coragem (que tal nos inspirarmos nos gregos?) para reorientar a política econômica. É um erro primário conduzir a economia desconsiderando a conjuntura política. Estamos em tempos de guerra. Não se atira contra a própria tropa, contra aqueles que podem sair às ruas em defesa da legalidade democrática.

Ainda resta alguma dúvida de que os “planos de austeridade” de Joaquim Levy estão fracassando? Nesse aspecto, está acontecendo entre nós exatamente uma repetição do que houve na Grécia, Espanha e Portugal. Essa política econômica neoliberal de Levy não é a nossa, nem Dilma foi eleita com essas propostas. Dizer que inexistem alternativas é falso, basta ler o debate econômico brasileiro e internacional e verificar que as alternativas existem, sim.

Essa política econômica mergulhou o país em recessão. O Levy fez o ajuste dizendo que esse era o “único” caminho para recuperar o equilíbrio fiscal. Só que, ao impor ao país, conscientemente, uma recessão mastodôntica, a arrecadação do Estado não para de cair. Consorciado à queda da arrecadação, vem a elevação das taxas de juros (cada 0,5% de subida na SELIC significa R$ 7 bilhões de impacto fiscal negativo).

Resultado: a situação fiscal do Brasil só vem piorando. O déficit nominal de 2014, no ano passado, foi de 6,7; agora, no acumulado dos últimos doze meses, subiu para 7,9. Ou seja, está dando errado, apesar das consequências sociais e políticas desastrosas. O desemprego saiu de 4,9 em dezembro do ano passado e já há previsão de chegar a perto de 9% ao fim do ano. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE mostra que a massa salarial real habitual (sem o 13º salário) diminuiu 10% entre novembro do ano passado e maio deste ano.

A consequência dessa política econômica fracassada recai sobre os ombros dos trabalhadores e dos mais pobres, os que votaram em nosso governo, os que fizeram Dilma e Lula presidentes da República. São essas dezenas de milhões de brasileiros que confiaram em nós, a base social de nosso projeto vitorioso de inclusão social. É a confiança dessas pessoas que temos que reconquistar.

Isso só será possível se o governo entender a gravidade da crise, esquecer um pouco o Levy e seu samba de uma nota só do ajuste fiscal. Com isso, girar à esquerda com um programa que defenda o emprego e a renda dos trabalhadores, taxação das grandes fortunas, a legalidade democrática, a soberania nacional e os direitos humanos frente a essa ofensiva conservadora.

Temos que nos associar a essas pautas que, inclusive, serão tema de uma grande Conferência Nacional, no começo de setembro, chamada pelos movimentos sociais. Isso pode reunificar nosso campo político em cima de um programa que daria ânimo e disposição para a tropa ir à luta. É hora de parar com as ilusões: a ideia ingênua de que é possível neutralizar os mercados e a mídia e, dessa maneira, apaziguar o clima de radicalização em curso no Brasil.

Presidenta Dilma, por favor, entenda que essa turma quer a sua e as nossas cabeças. A nossa “Dilma coração valente” tem que reaparecer e governar com o programa vencedor das eleições. Olhar para o seu povo. Ser a guerreira defensora dos mais pobres, defensora dos empregos.

Este é um daqueles momentos de encruzilhada da história do Brasil em que somente o povo é capaz de nos livrar do golpe em curso. Se o governo não entender a gravidade da crise e continuar no mesmo rumo, mantiver a mesma política econômica recessiva, ainda assim vamos continuar na trincheira contra o golpe. No entanto, infelizmente, tudo será mais difícil, principalmente a necessária mobilização popular contra o golpe e os golpistas.

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TV Globo recebeu R$ 6,2 bilhões de publicidade federal com PT no Planalto
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Fernando Rodrigues

Já a Record teve R$ 2 bi de verbas nos 12 anos de Lula e Dilma

De 2003 a 2014, SBT recebeu R$ 1,6 bi; Band ficou com R$ 1 bi

UOL obteve dados inéditos e exclusivos sobre publicidade federal

Globo ainda lidera em verbas estatais, mas tem queda em anos recentes

Rede TV!, com menos de 1 ponto de audiência, recebeu R$ 408 mi nos anos petistas

A Rede Globo e as 5 emissoras de propriedade do Grupo Globo (em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília e Recife) receberam um total de R$ 6,2 bilhões em publicidade estatal federal durante os 12 anos dos governos Lula (2003 a 2010) e Dilma (2011 a 2014).

Como a cifra só considera TVs de propriedade do Grupo Globo, o montante ficaria maior se fossem agregados os valores pagos a emissoras afiliadas. Por exemplo, a RBS (afiliada da Globo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina) recebeu R$ 63,7 milhões de publicidade estatal federal de 2003 a 2014.

Outro exemplo: a Rede Bahia, afiliada da TV Globo em Salvador, que pertence aos herdeiros de Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), teve um faturamento de R$ 50,9 milhões de publicidade federal durante os 12 anos do PT no comando do Palácio do Planalto.

A TV Tem, que abrange uma parte do rico mercado do interior do Estado de São Paulo, em 4 regiões (com sedes nas cidades de São José do Rio Preto, Bauru, Itapetininga e Sorocaba), faturou R$ 8,5 milhões de publicidade estatal federal em 2014. Essa emissora é de propriedade do empresário José Hawilla, conhecido como J. Hawilla (pronuncia-se “Jota Ávila”), que está envolvido no escândalo de corrupção da Fifa.

Os dados deste post são inéditos. Nunca foram publicados com esse nível de detalhes até hoje. Os valores até 2013 estão corrigidos pelo IGP-M, o índice usado no mercado publicitário e também pelo governo quando se trata de informações dessa área. Os números de 2014 são correntes (sem atualização monetária).

A série histórica sobre publicidade do governo federal começou a ser construída de maneira mais consistente a partir do ano 2000. Não há dados confiáveis antes dessa data.

O volume total de publicidade federal destinado para emissoras próprias do Grupo Globo é quase a metade do que foi gasto pelas administrações de Lula e Dilma para fazer propaganda em todas as TVs do país. Ao todo, foram consumidos R$ 13,9 bilhões para veicular comerciais estatais em TVs abertas no período do PT na Presidência da República. As TVs da Globo tiveram R$ 6,2 bilhões nesse período.

Apesar do valor expressivo destinado à Globo, há uma nítida trajetória de queda quando se considera a proporção que cabe à emissora no bolo total dessas verbas.

As emissoras globais terminaram o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, em 2002, com 49% das verbas estatais comandadas pelo Palácio do Planalto e investidas em propaganda em TVs abertas.

No ano seguinte, em 2003, já com o petista Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência, a fatia da Globo pulou para 59% de tudo o que a administração pública federal gastava em publicidade nas TVs abertas. Esse salto não se sustentou.

Nos anos seguintes, com algumas oscilações, a curva global foi decrescente. No ano passado, 2014, a Globo ainda liderava (recebeu R$ 453,5 milhões), mas chegou ao seu nível baixo de participação no bolo estatal federal entre TVs abertas: 36% do total da publicidade.

Todos esses dados podem ser observados em detalhes no quadro a seguir (clique na imagem para ampliar):

tv1 tv2 TV3-Vale-Este

Como se observa, a queda de participação das TVs é também sentida na audiência da maior emissora brasileira. Segundo a aferição realizada pelo Ibope Media Workstation (Painel Nacional de Televisão, com base 15 mercados, durante 24 horas, todos os dias), a TV Globo teve 12 pontos de audiência domiciliar média em 2014.

Todas as 4 maiores emissoras de TV aberta enfrentaram quedas de audiência ao longo dos últimos anos. Essa menor presença nas casas das pessoas, entretanto, nem sempre está refletida em menos verbas publicitárias federais.

A Record, por exemplo, recebeu um verba de R$ 264 milhões em 2014 contra R$ 244 milhões em 2013 (aumento de 8,4%), apesar da queda da audiência da emissora de um ano para o outro (de 4,5 para 4,2 pontos no Ibope, das 6h à 0h).

Já o SBT, terceira TV aberta no Brasil (cuja audiência ficou quase estável, variando de 4,5 para 4,4 pontos no Ibope, de 2013 para 2014), registrou uma queda no faturamento de publicidade estatal federal: saiu de R$ 182 milhões para R$ 162 milhões.

Nota-se, portanto, uma assimetria no tratamento dado pelo governo para as 2 maiores TVs que ficam abaixo da Globo quando se considera audiência e valores de publicidade recebida.

Record e SBT tiveram audiências muito semelhantes em 2014, na casa de 4 pontos no Ibope. Só que a Record, emissora do Bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, recebeu cerca de R$ 100 milhões a mais de verbas publicitárias federais no ano passado na comparação com o SBT, do empresário e apresentador Silvio Santos.

Já a Band (com apenas 1,7 ponto de audiência média no Ibope em 2014) teve R$ 102,4 milhões de propaganda dilmista no ano passado. A Rede TV! (0,6 ponto de audiência) ficou com R$ 37,8 milhões.

 

JORNAIS IMPRESSOS
Nos governos Lula e Dilma (2003-2014), os jornais impressos arrecadaram R$ 2,1 bilhões com a publicação de propagandas da administração petista. Desse total, R$ 730,3 milhões (35%) foram destinados a apenas 4 publicações: “O Globo”, “Folha de S.Paulo”, “O Estado de S.Paulo” e “Valor Econômico”.

Alguns aspectos chamam a atenção a respeito da publicidade estatal federal para jornais diários impressos.

Um deles é que durante os anos de 2000, 2001 e 2002 (no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso) essas 4 publicações tiveram um volume de receita de publicidade estatal proporcionalmente igual ao do período subsequente, com o PT no poder.

Como está registrado acima neste post, não existem dados disponíveis e confiáveis sobre gastos em propaganda antes do ano 2000.

Dessa forma, só é possível somar os valores dos 3 últimos anos do segundo mandato de FHC, quando todos os jornais diários brasileiros receberam R$ 701,4 milhões de verbas de propaganda do governo federal. Desse total, a quadra “Globo-Folha-Estado-Valor” ficou com R$ 243,1 milhões –ou seja, 35% do bolo completo do meio jornal.

A conclusão é simples: embora o discurso do PT no poder tenha sido crítico em relação à cobertura jornalística feita pelos grandes jornais impressos diários, os petistas no Palácio do Planalto continuaram a conceder proporcionalmente a esses veículos o mesmo que o governo do PSDB concedia.

Eis os dados sobre publicidade estatal nos principais jornais impressos do país (clique na imagem para ampliar):

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JORNAIS DIGITAIS
Há um dado que merece ser visto com mais atenção quando se observa o valor recebido pelos mais tradicionais jornais impressos do país para veicular publicidade estatal federal: quanto vai para as suas operações na internet.

O quadro acima neste post mostra o valor total recebido por “O Globo”, “Folha de S.Paulo”, “O Estado de S.Paulo” e “Valor Econômico”. Mas é possível saber exatamente quanto essas empresas faturaram desses anúncios para veiculá-los apenas em suas edições online. E também existem dados sobre quantas edições desses 4 jornais são de fato impressas, em papel, e quantas são apenas assinaturas digitais. Eis os dados (clique na imagem para ampliar):

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Como se observa, há uma curva de crescimento para todos os 4 veículos ao longo dos últimos anos, com algumas oscilações. Em 2014, o líder das verbas estatais federais em suas edições digitais foi o jornal “O Estado de S.Paulo”, que recebeu R$ 2,743 milhões. Outro dado interessante: a queda continua das edições impressas. E no mês de maio de 2015, o jornal “O Globo” se tornando o de maior tiragem impressa entre os veículos de qualidade do país, à frente da “Folha de S.Paulo” –que há décadas liderava esse ranking.

 

REVISTAS
O meio revista tem experimentado também uma grande queda no faturamento com verbas publicitárias federais. A semanal “Veja”, líder do mercado, já chegou a ter R$ 43,7 milhões dessas verbas em 2009 (o seu recorde). Em 2014, desceu para R$ 19,9 milhões.

Eis os dados detalhados sobre as 4 principais revistas do país (clique na imagem para ampliar):

revistas1revistas2  revistas4  revistas5revistas3

 

PORTAIS DE INTERNET
O meio internet já é o segundo que mais recebe publicidade estatal do governo federal. Esse dado fica bem visível quando se observam os valores destinados a 4 grandes portais brasileiros.

O UOL, maior portal do país com 39,8 milhões de visitantes únicos em dezembro de 2014, teve R$ 14,7 milhões de faturamento para veicular propaganda estatal federal nesse ano. O UOL pertence ao Grupo Folha.

O G1 e o portal Globo.com, somados, tiveram uma audiência de 34,1 milhões de visitantes únicos em dezembro de 2014. Receberam R$ 13,5 milhões de verbas federais de publicidade nesse ano.

Eis os dados detalhados de 4 grandes portais de internet (clique na imagem para ampliar):

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(Colaborou nesta reportagem Bruno Lupion, do UOL, em Brasília).

Leia mais sobre publicidade estatal:

Publicidade federal para mídia alternativa vai a R$ 9,2 milhões em 2014

“Dados técnicos” justificam investir em mídia alternativa, diz Secom

Estatais defendem estratégia de publicidade em veículos alternativos

Acesse a íntegra dos arquivos sobre publicidade da União de 2000 a 2014

Facebook dispara na publicidade da União e ultrapassa veículos tradicionais

Agências na Lava Jato tiveram R$ 969 mi de publicidade nos anos Dilma

FCB e Borghi Lowe dizem colaborar com autoridades; Heads defende contratos

Em 2014, ano da Lava Jato, BR Distribuidora gasta 46% a mais com propaganda

Em 4 anos, Dilma gastou R$ 9 bilhões em publicidade, 23% a mais que Lula

Secom e BR Distribuidora defendem gastos com publicidade

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Lula reconhece que Dilma mentiu na campanha de 2014
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Fernando Rodrigues

Lula-18jun2015

Lula fala a religiosos em seu instituto (18.jun.2015)

Ex-presidente: eu e Dilma estamos no “volume morto”

Petista faz relato sombrio sobre situação política

Para Lula, é “um sacrifício” convencer Dilma a viajar pelo país

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez na última quinta-feira (18.jun.2015) um relato sombrio e muito duro sobre a atual situação política do governo de Dilma Rousseff.

Num dos trechos de sua fala, reconheceu que a atual presidente mentiu durante a campanha eleitoral de 2014:

“Tem uma frase da companheira Dilma que é sagrada: ‘Eu não mexo no direito dos trabalhadores nem que a vaca tussa’. E mexeu. Tem outra frase, Gilberto [Carvalho], que é marcante, que é a frase que diz o seguinte: ‘Eu não vou fazer ajuste, ajuste é coisa de tucano’. E fez. E os tucanos sabiamente colocaram Dilma falando isso [no programa de TV do partido] e dizendo que ela mente. Era uma coisa muito forte. E fiquei muito preocupado”.

O PSDB fez programas duros contra o PT e Dilma. Em 10 de maio de 2015, mostrou comerciais curtos nos quais brasileiros aparecem em situação de desalento. Em 19 de maio, foram veiculadas as falas de Dilma na campanha de 2014, nas quais a petista promete não arrochar salários nem produzir desemprego.

O encontro de anteontem (18.jun.2015) foi com padres e dirigentes de entidades religiosas no auditório do Instituto Lula, segundo detalhadíssimo relato das repórteres Tatiana Farah e Julianna Granjeia, do “O Globo”. Ao descrever a conjuntura atual, o ex-presidente fez um desabafo:

“Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação muito ruim. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos perdendo para nós mesmos”.

A expressão “volume morto” se refere à crise de abastecimento de água no Estado de São Paulo. Para manter o fornecimento, o governo paulista recorreu a uma reserva das represas conhecido como “volume morto”.

Como o encontro foi antes da prisões de sexta-feira (19.jun.2015) de empreiteiros por causa da Operação Lava Jato, Lula não fez menções a esse assunto.

Na conversa com religiosos, Lula deu um exemplo de como a situação está delicada para o governo federal e para o PT. Mencionou uma pesquisa interna do partido:

“Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo”.

Segundo Lula, ele teria dito a Dilma que o resultado da pesquisa não deveria desanimá-la. “Isso é para você saber que a gente tem de mudar, que a gente pode se recuperar. E entre o PT, entre eu e você, quem tem mais capacidade de se recuperar é o governo, porque tem iniciativa, tem recurso, tem uma máquina poderosa para poder falar, executar, inaugurar”.

Lula falou por cerca de 50 minutos, segundo o relato de “O Globo”. Reclamou que o PT e o governo estão fazendo pouca política num momento de dificuldades econômicas para o país.

“Na falta de dinheiro, tem de entrar a política. Nesses últimos 5 anos, fizemos muito menos atividade política com o povo do que fizemos no outro período”.

O ex-presidente citou algumas vezes o ex-ministro Gilberto Carvalho, interlocutor frequente do PT com movimentos religiosos. Carvalho, presente ao evento de anteontem, participou do primeiro mandato de Dilma Rousseff, mas viu seu papel dentro da administração federal ser desidratado. No momento, está fora do governo.

“Gilberto sabe do sacrifício que é a gente pedir para a companheira Dilma viajar e falar. Porque na hora que a gente abraça, pega na mão, é outra coisa. Política é isso, o olhar no olho, o passar a mão na cabeça, o beijo”.

Lula falou mal do ambiente dentro do Palácio do Planalto: “Aquele gabinete [presidencial] é uma desgraça. Não entra ninguém para dar notícia boa. Os caras só entram para pedir alguma coisa. E como a maioria que vai lá é gente grã-fina… Só entrou hanseniano porque eu tava [sic] no governo, só entrou catador de papel porque eu tava [sic] no governo”.

Para o ex-presidente, Dilma precisa “ir para a rua, viajar por esse país, botar o pé na estrada”.

Sobrou também uma reprovação para os ministros petistas: “Os ministros têm de falar. Parece um governo de mudos. Os ministros que viajam são os que não são do PT. [Gilberto] Kassab [Cidades] já visitou 23 Estados”. Kassab, ex-prefeito de São Paulo, é presidente nacional do PSD.

Para o titular da Casa Civil, Aloizio Mercadante, uma observação direta: “Pelo amor de Deus, Aloizio, você é um tremendo orador. É certo que é pouco simpático”.

“Falar é uma arma sagrada. Estamos há 6 meses discutindo ajuste. Ajuste não é programa de governo. Em vez de falar de ajuste… Depois de ajuste vem o quê?”. Para o ex-presidente, é necessário “fazer as pessoas acreditarem que o que vem pela frente é muito bom”.

A reportagem de Tatiana Farah e de Julianna Granjeia, no jornal “O Globo”, pode ser lida aqui.

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Planalto liberará R$ 1 bi em emendas para agradar Congresso, diz Delcídio
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Fernando Rodrigues

Cargos também serão preenchidos rapidamente, informa líder do governo

Petista defende permanência de Renan Calheiros no comando do Senado…

…Mas acha que presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, deveria se licenciar

‘Místico’ e adepto da numerologia, senador agora assina ‘Delcídio do Amaral’

O líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), informa que nas próximas semanas o Palácio do Planalto vai autorizar a liberação de R$ 1 bilhão em emendas ao Orçamento para deputados e senadores. Também deve haver uma aceleração no preenchimento de cargos federais por indicação de políticos aliados à presidente Dilma Rousseff.

A ideia é reforçar as bancadas governistas dentro do Congresso e finalizar as votações de medidas do ajuste fiscal, disse o petista em entrevista ao programa “Poder e Política”, do UOL.

“A base aliada tem que participar do governo. O governo está trazendo a base aliada para o Executivo. Para funções importantes também. Trabalhando no sentido de consolidar uma base na Câmara e uma base no Senado”, explica Delcídio.

O R$ 1 bilhão a ser liberado em emendas para os congressistas se refere “restos a pagar de 2013, de 2014”. Quando se dará esse pagamento? “Num período relativamente curto. Nós já daríamos o ‘start’ a partir deste mês [junho] e gradativamente chegando nesse valor de R$ 1 bilhão”.

No passado, o PT classificava como fisiologia a liberação de emendas e distribuição de cargos para obter apoio de congressistas. E agora, continua sendo fisiologia? “Não. Uma coisa é você ser oposição. Aí quando você senta na cadeira…a história é diferente”.

A principal preocupação do governo no momento é com o projeto de lei que elimina a desoneração da folha de pagamentos das empresas. A Câmara deve votar o texto na semana que vem. O Senado pretende liquidar o processo até o final de junho.

Em breve os senadores devem receber o pacote de medidas da reforma política que os deputados já votaram. Como há muita controvérsia sobre o efeito das alterações, o líder do governo no Senado acha que muita coisa será rejeitada.

“Para piorar o que já está aí, é melhor deixar do jeito que está. Lamentavelmente. Porque acho que a reforma política era um tema extremamente relevante para o Parlamento”.

Quando fala do PT e das críticas de seu partido à política econômica da presidente Dilma Rousseff, o senador Delcídio do Amaral avalia que a sigla tem uma história “que se consolidou na contradição, no debate”. Apesar das divergências, diz o líder do governo, “o PT vai compreender [e] apostar no sucesso da presidenta Dilma. Não tem saída”.

Para Delcídio, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve permanecer no cargo apesar de estar citado no caso da Operação Lava Jato –sobre corrupção envolvendo a Petrobras. Já no caso do presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Marco Polo Del Nero, a recomendação é para que se licencie ou renuncie.

Por muito tempo o engenheiro Delcídio, 60 anos, era apenas conhecido como “Delcídio Amaral”. No ano passado, consultou-se com uma numeróloga e passou a adotar “Delcídio do Amaral”, inclusive na urna eletrônica na eleição. Por quê?

“Sou místico. Sigo muito o que os números indicam. Minha vida foi sempre guiada pelo número 8. Minhas filhas todas têm uma composição de oitos. Se você somar ‘Delcídio do Amaral’ dá 16, que é 8 vezes 2. Que é 8 de fevereiro, dia do meu aniversário. E assim vai”.

Por enquanto, a nova grafia do nome não deu resultado eleitoral. Delcídio do Amaral foi candidato ao governo do Mato Grosso do Sul em 2014, mas acabou derrotado.

A seguir, trechos da entrevista gravada na quinta-feira (11.jun.2015), no estúdio do UOL, em Brasília, pouco antes de o senador viajar a Salvador (BA) para participar do Congresso Nacional do PT:

O sr. foi nomeado, no final de abril, líder do governo no Senado. Qual o balanço até o momento?
Dificílimo. O governo ainda não consolidou uma base no Senado. Cada votação tem uma história diferente. Temas muito difíceis. Um quadro conturbado sob o ponto de vista econômico. Preocupações com a economia, com os impactos sociais. Dias extremamente difíceis.

Nos últimos dias houve um movimento do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, entendido como uma ação para retirar parte do poder de Michel Temer na articulação política do Palácio do Planalto. Qual a sua avaliação?
Conversei com o presidente Michel e o ministro Aloizio Mercadante. A intenção não é, de forma nenhuma, afastar Michel da coordenação política. O presidente Michel é um bom articulador, um homem sereno, equilibrado. Os resultados na Câmara e no Senado são inquestionáveis.

Mas houve um movimento.
Talvez a discussão não tenha sido bem colocada. Gerou distorções. A articulação política não envolve só o trabalho junto aos líderes e às bancadas nas votações. Também está vinculada às atividades da SRI [Secretaria de Relações Institucionais]. Inclui o acompanhamento do plenário, das comissões, recebe parlamentares. Trata de questões dos Estados, emendas parlamentares. O ministro Aloizio Mercadante tem uma preocupação com esse dia a dia das Relações Institucionais.

Alguém teria que preencher esse cargo formalmente?
Não no sentido de afastar o presidente Michel Temer. Entre os dois há uma harmonia grande.

Falta um projeto de lei muito importante do ajuste fiscal para ser aprovado no Congresso: o que revê a política de desoneração da folha de pagamento das empresas. Como deve ser a conclusão dessa votação, que ainda está na Câmara?
Ontem [4ª feira, 10.jun.2015] foi a primeira reunião dos senadores com o presidente Michel e os líderes na Câmara para discutir desoneração. Foi um iniciativa correta do presidente Michel no sentido de incluir os senadores nesse debate para não acontecer o que aconteceu na [MP] 668 [que subiu as alíquotas do PIS/Pasep e da Cofins].

A que o sr. se refere?
Quando aprovamos a medida provisória 668, detectamos que existiam ‘jabutis’. É como a gente chama o contrabando de temas no seio da medida provisória.
Aprovamos 3 medidas provisórias numa só semana. Uma coisa impossível. Estou no Senado há algum tempo e nunca vi aprovar 3 medidas provisórias numa semana só.
É impossível aprovar o projeto das desonerações como foi enviado ao Congresso?
A intenção era aprovar na íntegra o projeto encaminhado. Mas é um processo complicado, envolve segmentos importantes da economia.
As tratativas da Câmara avançaram. O governo tentou fazer uma composição entre os ‘jabutis’ da 668 com a desoneração.

A presidente sancionaria a medida provisória 668 como foi aprovada em troca do projeto da desoneração?
Isso. Ou [com] pouquíssimos vetos, mantendo os ‘jabutis’ principais.

Mas essa discussão já ficou vencida.
Ficou vencida. Nas negociações [sobre o projeto de lei da desoneração da folha de pagamentos] surgiram o segmento de comunicação, os call centers e a questão dos transportes. O governo já compreende que o texto não vai ser exatamente o que se esperava.

A equipe econômica diz que se o projeto de desoneração da folha de pagamento sofrer muitas alterações será necessário elevar alguma taxa, imposto ou contribuição para compensar. O ministro tocou nesse assunto com o sr. na conversa desta 5ª feira?
Não. Ele tem a expectativa que o governo tenha êxito na Câmara e no Senado. Talvez não consiga alcançar o valor previsto. O ministro Joaquim Levy entende isso. Ele é ministro da Fazenda, mas é um ministro político.

Se o projeto das desonerações realmente for desidratado, que é a tendência pelo que se percebe…
…Existem duas alternativas. Uma é caminhar para o fim da desoneração gradativamente, terminando no ano que vem. Agora caminha para ter uma alíquota intermediária para determinados setores. Isso vai causar um impacto naqueles números que se previa inicialmente. Mas não vai  esfacelar o ajuste fiscal.

A expectativa é votar de qualquer jeito semana que vem?
Semana que vem vota na Câmara. Não tenho dúvida nenhuma.

O que se diz é que nesse período o vice-presidente, Michel Temer, vai resolver as pendências de nomeações da base aliada. É isso?
A responsabilidade do presidente Michel é essa. A base aliada tem que participar do governo. E o governo efetivamente está trazendo a base aliada para o Executivo. Para consolidar a base na Câmara e no Senado.
E também trabalhando a questão das emendas parlamentares. Tem muitos restos a pagar de 2013, de 2014. E a gente sabe muito bem o que é que isso representa para os municípios.

Qual valor poderia ser liberado desses restos a pagar nas próximas semanas?
A intenção é R$ 1 bilhão.

Estamos falando das emendas ao Orçamento propostas por senadores e deputados.
É. Mas não estamos falando ainda de 2015. Estamos falando de 2013, 2014. A documentação estando em ordem, os municípios comprovando a execução das obras, já foi colocado esse R$ 1 bilhão. Isso é absolutamente fundamental e causa insatisfações dentro do Congresso.

Começa já em junho esse pagamento?
A ideia é começar já em junho.

O sr. é do PT. No passado, o PT chamaria pagamento de emendas, nomeações para cargos no executivo, de fisiologia. Isso é fisiologia?
Não. Uma coisa é você ser oposição. Aí quando você senta na cadeira…

Fisiologia muda de nome.
A história é diferente. Se você tem uma base aliada, os partidos são responsáveis também pela administração do país e cada partido tem que ter seus representantes. Que efetivamente têm que atender exigências de caráter técnico, gerencial. Respeitar a Ficha Limpa.
Não é novidade. Isso aqui não acontece só no Brasil. Acontece em todos os países.

A Câmara dos Deputados fez uma votação no atacado de muitos itens da reforma política. Quais deles tendem a prosperar no Senado? Fim da reeleição?
Fim da reeleição é possível.

A cláusula de barreira que obriga os partidos a eleger apenas um deputado federal, não importa onde, para ter acesso ao fundo partidário e tempo de TV é ruim para a população?
É muito ruim. Na verdade a intenção é fortalecer partidos, não ter uma constelação de partidos de um deputado cada um.
Em determinados partidos às vezes um parlamentar é líder de si mesmo. Surreal.
A ideia era ter um número de partidos menores, mais consistentes, com políticas definidas. E não partidos que funcionam quando vem eleição e negocia tempo de televisão.

Qual a sua posição sobre o fim da reeleição?
Sou favorável ao fim da reeleição, com um mandato de 5 anos.

Que é o que a Câmara aprovou. Se o mandato for de 5 anos, o mandato de senador ficaria só com 5 anos ou teriam de ser 10?
Ainda não discutimos isso. Mas os senadores têm que ter um tempo de mandato maior, porque o Senado é a casa revisora, é a casa da Federação. O mandato mais longo garante uma independência maior com relação aos temas federativos.

Na opinião pública talvez não pegue muito bem dizer que um político será eleito para ficar 10 anos no cargo. Como isso está relacionado ao fim da reeleição e ao mandato de 5 anos, aprovado na Câmara, pode ser que nada acabe sendo aprovado no Senado?
Essa é uma grande preocupação minha. O que é que está acontecendo hoje no Congresso? As comissões permanentes e especiais não estão cumprindo seu papel. Você faz requerimento para votar tudo na mesa, vai tudo para o plenário. Não avalia, consistentemente, os prós e contras de cada tópico desses. E aí, com um discurso que aparentemente é muito bonito, “a casa da democracia, aqui nós resolvemos no voto, nós estamos votando verdadeiros “frankesteins”. Sincronizar todas essas questões não será fácil.

Nesse caso, para não ficar pior do que já é, melhor é não votar?
Melhor não votar. Para piorar o que já está aí, é melhor deixar do jeito que está. Lamentavelmente. Porque acho que a reforma política era um tema extremamente relevante para o parlamento. E acho que poderia melhorar muito a política no Brasil.

O PT realiza nesta semana o seu 5º Congresso Nacional, em Salvador. Setores do partido devem contestar o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy. Como resolver isso?
O PT se consolidou na contradição, no debate. Isso faz parte da história do PT.
Apesar das críticas, o PT vai apostar no sucesso do governo da presidenta Dilma. Não tem saída. Se o governo Dilma não caminhar bem, o projeto do PT também sai muito prejudicado.
Nós não podemos dissociar, depois de tudo que passamos e temos passado. Essa pauta difícil, árida, que enfrentamos ao longo dos últimos meses. Não podemos, como se diz lá no Pantanal, virar o cocho agora.

Nas últimas semanas, quando se discutiu o ajuste fiscal, a direção nacional do PT e o ex-presidente Lula acertaram com o discurso que fizeram criticando parte do ajuste?
O presidente Lula é a maior liderança do PT. Pode, como alguns setores do PT, divergir de medidas adotadas pelo governo. Mas mesmo na divergência eles entendem que nós precisamos marchar juntos, porque o nosso projeto passa por um bom governo Dilma, apesar das dificuldades que estamos enfrentando.

O ex-presidente Lula deve ser considerado candidato quase certo do PT a presidente em 2018?
O PT, lançando candidato em 2018, o melhor candidato de todos, sem dúvida nenhuma, é o presidente Lula.

Quando o Senado vai instalar a CPI do Futebol?
A partir da semana que vem os partidos vão indicar os seus senadores.

Na semana que vem pode ter a primeira sessão já ou ainda não?
Acho que não. Mas até o final de junho essa CPI está instalada.

O PT definiu quais dos seus integrantes no Senado devem compor a CPI do Futebol?
Ainda não discutimos.

Tem pretendentes?
Ah, para essa CPI o que tem de pretendente é brincadeira.

Por quê?
É um tema muito popular, as pessoas compreendem bem. O pessoal vai discutir essa CPI em boteco, no trabalho, dentro de ônibus, no metrô, andando, passeando, conversando com amigos.

Como têm as maiores bancadas, PMDB e PT têm o direito de indicar quem será presidente e relator, que são os dois cargos mais importantes. O sr. enxerga o PT ou o PMDB cedendo algum desses dois cargos para o senador Romário, do PSB, que propôs a CPI?
Sinto no PT essa intenção. Não conversei com o líder Eunício [Oliveira, PMDB-CE] com relação ao PMDB. Mas sinto no líder Humberto [Costa, PT-PE]. Não vejo restrições.

O PT abriria mão desse cargo importante, presidente ou relator na CPI do Futebol?
É. O senador mais emblemático nessa questão de futebol é o Romário (PSB-RJ). Por toda a história que ele tem.
É no futuro do pretérito. Poderia. Não houve uma discussão na bancada do PT.

Seria boa essa solução?
Precisamos fazer uma avaliação aprofundada. Vejo com simpatia grande a questão da indicação do Romário.
Queria registrar um sentimento. Essa CPI começou extremamente aquecida. Um alvoroço. Senti que de uns dias para cá arrefeceu um pouco.

Por quê?
Como toda CPI, quando você cria a turma empolga, depois o pessoal começa a analisar melhor a gravidade dos temas, os desdobramentos. Aí o camarada naturalmente tira o pé do acelerador para pensar melhor.

Há uma pressão de clubes de futebol e políticos para que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero, afaste-se ou renuncie ao cargo. O sr. tem opinião sobre isso?
Não conheço bem o presidente Marco Polo Del Nero. Mas vai haver uma grande reestruturação no futebol. No futebol mundial.

Ele deveria, de maneira prudencial, se afastar?
Seria uma boa medida. Até para facilitar os entendimentos necessários. Para fazer frente a esses impasses e a essas denúncias. A esses fatos que estão vindo à tona, fruto das investigações do FBI.

Seria prudente que ele renunciasse?
Eu acho. Ou se afastasse. Pelo menos um afastamento não seria ruim.

Por falar em CPIs que começam quentes e ficam frias, a CPI do HSBC está há 3 semanas sem se reunir. O que está acontecendo?
Toda CPI que começa no vácuo de uma investigação não vai para frente. É muito difícil. Uma CPI não tem os mecanismos necessários para fazer uma investigação complexa, de sistema financeiro, como essa do HSBC. Já pegou o negócio no meio do caminho.

Há uma informação de que muitos dos citados com possíveis contas no HSBC não-declaradas à Receita Federal e ao Banco Central pressionaram os senadores e o governo. O sr. ouviu alguma coisa a respeito?
Não ouvi, mas eu presumo. Fui presidente da CPI dos Correios. Uma CPI como essa faz pressões, há uma ação forte em cima dos parlamentares. Nesse caso, não tenho dúvida nenhuma. Seria de se estranhar se não houvesse nenhum tipo de pressão.

É bom para o Senado que Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente da Casa, aguarde no cargo a definição sobre o inquérito contra ele na Operação Lava Jato? E se for aceita a denúncia, também deve permanecer no cargo de presidente do Senado?
O presidente Renan foi eleito pelos seus pares, senadores e senadoras. A gente não pode fazer qualquer juízo de valor. É uma investigação.
Ele foi eleito antes de a lista do procurador-geral, Rodrigo Janot, ser divulgada.
O fato de alguém estar sendo investigado não presume culpabilidade.

Mas o sr. acabou de dizer que o Marco Polo Del Nero talvez devesse se afastar…
Não, mas no caso do Marco Polo Del Nero, eu acho que até…

…E não tem nem processo contra ele.
Isso a gente não sabe.

No Brasil, não tem.
Agora estão surgindo desdobramentos importantes da investigações.

No caso do presidente Renan já há elementos, a Procuradoria-Geral da República pediu para o Supremo Tribunal Federal investigá-lo.
Gostaria de separar muito bem esses casos. Por que que eu tenho essa leitura em relação ao futebol? O futebol vai passar por um processo de reestruturação forte. Para você quebrar tabus, é uma oportunidade ímpar para trazer novos protagonistas.

Mas isso não se aplica à política também? As pessoas marcharam aos milhões em 2013 pedindo renovação.
Eu acredito que sim, mas a política não está só nas pessoas… É uma nova forma de fazer política. Introdução de temas que refletem a realidade que levou a essa mobilização intensa. Não passa necessariamente por pessoas.

Ou seja, o sr. acredita que é apropriado que o presidente do Senado, Renan Calheiros, permaneça no cargo até o final do eventual julgamento a que ele seja submetido?
Se não houve nenhum julgamento, não podemos fazer uma condenação prévia. Temos muito casos pelo Brasil. Se a gente aplicar essa regra podemos estar cometendo injustiças com muitas pessoas.

O sr. foi diretor de gás e energia da Petrobras no final do governo Fernando Henrique, 2000, 2001. Recentemente, o senador José Serra (PSDB-SP) disse que a Petrobras deveria ser preparada para ter algumas áreas entregues à iniciativa privada. Seria bom para a Petrobras que ela fosse enxugada um pouco?
A tendência da Petrobras é valorizar a exploração e produção. Não tenho dúvida. O presidente [Aldemir] Bendini está organizando o portfólio da companhia nesse sentido.

Seriam no futuro vendidos alguns pedaços da empresa para ela não ter que ficar se preocupando com áreas que não são as principais?
Sem dúvida nenhuma. O plano de desinvestimento é muito claro nesse sentido.

Tem alguma área ou subsidiária da Petrobras que no futuro seria bom que fosse para a iniciativa privada?
Não fiz essa análise mais aprofundada. Mas a Petrobras tem que se desvencilhar de determinadas áreas que não estão no seu core business.

O sr. não tem medo de falar isso sendo petista?
Não. A Petrobras precisa olhar para  aquilo que dá mais rentabilidade e é o grande negócio da companhia. E o grande negócio da companhia é exploração e produção de petróleo.

O sr. foi no passado diretor de Gás e Energia da Petrobras. A estatal lançou a chamada NPP, Nova Política de Preços, em 2011 e passou a aplicar um desconto no preço do gás natural. Agora, o desconto está sendo retirado. É possível que neste ano isso represente um aumento de 12% no preço do gás natural, que é monopólio da Petrobras. Está correta essa política da Petrobras?
Houve uma distorção dos preços de gás natural em função do [gasoduto] Bolívia-Brasil. É um projeto que foi estruturado na forma de “take or pay”. Ou seja, você tem todo um aumento do volume exportado da Bolívia para o Brasil em milhões de metros cúbicos e o contrato é assim. Você tem um determinado “take” de gás. Ou você consome. Ou você paga do mesmo jeito.

Mas empresários reclamam que a Petrobras não tem política de preços definida. Quem se estrutura para ter aquela fonte de energia barata se surpreende de manhã com um preço totalmente diferente. Isso num momento em que a economia está em desaceleração. E a inflação em alta. Foi uma decisão desastrada fazer agora e dessa forma o aumento do preço do gás natural?
A Petrobras tinha uma regra de seguir preço internacional.

Não tem mais.
Não tem mais. Então o que que aconteceu? Isso traz uma série de distorções.

Como resolver?
No caso do gás natural vai ter que acompanhar a tendência dos outros combustíveis. A Petrobras vai ter que se adaptar. Os industriais, os consumidores, não podem ficar à mercê de oscilações ou de mudanças de políticas em cima de uma regra estabelecida.

Mas é exatamente o que está acontecendo agora.
Lamentavelmente.
Na verdade, também tivemos um despacho de usinas termelétricas intenso. E aí você tem uma necessidade forte, com o suprimento de energia do país.

E vai continuar a ter.
Vai continuar tendo. E usina termelétrica a gás operando na base. Do ponto de vista de produção de gás, o Brasil não tem uma situação confortável. Enquanto não tivermos o gás que vem do Espírito Santo, o gás do pré-sal, vamos estar importando gás.

Nesse caso atual, foi inevitável para a Petrobras aumentar o preço do gás natural?
Foi inevitável.
Mas não há ninguém do setor de gás, competentes como eles são, que é surpreendido por alguma mudança de uma hora para outra na Petrobras. Antes de a Petrobras decidir ele já sabe.

Sua campanha ao Senado em 2010 recebeu 3 doações eleitorais no total de R$ 200 mil de 2 empresas de Julio Gerin Camargo, lobista, apontado como operador de propinas no esquema revelado pela Operação Lava Jato. O sr. conhece Julio Gerin Camargo?
Conheço. Julio é meu amigo de muitos anos, amigo de família.

O que que se passou?
Isso foi uma doação legal.
Essa matéria já foi veiculada em outubro do ano passado. Alguns colegas seus, jornalistas, que sequer se deram ao trabalho de fazer uma pesquisa para ver se esse assunto já tinha aparecido.
Esse tema foi tratado inclusive no depoimento do Julio, quando ele diz assim: “Eu sempre doei para 2 parlamentares: senador Delcidio Amaral e o senador Romeu Tuma, já falecido. Senador Delcidio porque é meu amigo de família. E o senador Romeu Tuma porque seus filhos foram criados com os meus filhos”.
Não tem absolutamente nada de errado.

O fato de o Julio ser apontado como lobista, como alguns dizem, não prejudica o sr., ainda que sejam doações registradas legalmente?
O Julio é um empresário. O Julio não representava, não trabalhava só em projetos da Camargo Correia. O Julio era o principal representante, é ainda, da Mitsui, da Toyo. A Mitsui é uma das maiores tradings do mundo. A Toyo é a maior empresa do mundo de engenharia de equipamentos e de construção do mundo. São empresas que zelam pelo seus nomes, pelas suas imagens, por tudo aquilo que construíram. E a despeito dessas coisas todas, essas empresas não se distanciaram dele. Por quê? Porque reconhecem nele um empresário importante, um empresário que trabalhou em projetos fundamentais para as empresas que ele representava.

O sr. é contra à redução da maioridade penal?
Contra. Nós estamos discutindo agora o projeto do governador [Geraldo] Alckmin.

O sr. simpatiza com ideia defendida já há muitos anos pelo governador Geraldo Alckmin, do PSDB de São Paulo, que pretende aumentar o período de reclusão do menor, mas segregado do sistema penitenciário normal?
Sem dúvida nenhuma.

E também agravar a pena daqueles que usam menores para praticar crimes?
Sem dúvida nenhuma. É absolutamente pertinente.

Essas seriam as soluções?
Do meu ponto de vista, sim.

O sr. ficou conhecido sempre como ‘Delcídio Amaral’. Na eleição do ano passado, está Delcídio ‘do’ Amaral. O sr. introduziu esse ‘do’ na hora de se apresentar no ano passado por alguma razão específica?
É numerologia. Sempre consulto uma pessoa que me ensinou muitas coisas. Sou místico. Bastante. Sigo muito o que os números indicam.

Quem é essa pessoa, senador?
É uma pessoa que vive no Sul do Brasil e que sistematicamente eu consulto. É uma mulher.

É conhecida?
Não. É muito conhecida de alguns.

Como é o nome dela?
Prefiro não falar.

Ela recomendou o “do Amaral” para o sr.?
É o “do Amaral” por causa do número. Porque a minha vida foi sempre guiada pelo número 8. Minhas filhas todas têm uma composição de oitos. Esse número sempre me seguiu. Se você somar ‘Delcídio do Amaral’ dá 16, que é 8 vezes 2. Que é 8 de fevereiro, dia do meu aniversário. E assim vai.

Não deu certo no ano passado. O sr. perdeu a eleição para governador do Mato Grosso do Sul…
Não deu certo. Mas eu peguei um momento difícil. Primeiro, de um antipetismo intenso. Meu Estado é conservador. E exploraram essa questão da Petrobras, que eu estaria na lista [da Operação Lava Jato]. Foi uma das campanhas mais perniciosas que eu tive oportunidade de participar, pela baixaria. Foram ataques pessoais, ataques à família. Eu faço política olhando para frente, de uma maneira positiva, propositiva.

O sr. tentou 2 vezes, 2006 e 2014, o governado do Mato Grosso do Sul. Não deu certo. Quais são os seus planos daqui para frente?
Em princípio, candidatar-me à reeleição. O tempo vai dizer.
Em função de tudo o que aconteceu comigo, saí ‘vitimizado’ da eleição. Tanto é que ando no meu Estado e as pessoas de certa maneira avaliam assim: “Pô, Delcídio, tentaram vender uma imagem sua que você não era”.

Acesse a transcrição completa da entrevista.

A seguir, os vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets, com opção de assistir em HD):

1) Principais trechos da entrevista com Delcídio do Amaral (8:38)

2) Governo vai liberar R$ 1 bi para agradar Congresso, diz Delcídio (2:30)

3) Delcídio: Se for para piorar, Senado não deve votar reforma política (3:02)

4) PT não tem saída e vai apostar no sucesso de Dilma, diz Delcídio (1:17)

5) Seria bom Del Nero se licenciar ou renunciar da CBF, diz Delcídio (3:03)

6) CPI do HSBC sofre pressão de brasileiros citados, diz Delcídio (1:49)

7) Renan deve ficar no cargo enquanto não for julgado, diz Delcídio (4:14)

8) “Era inevitável; Petrobras teve que aumentar preço do gás” (3:30)

9) Doação de lobista à campanha foi legal, diz Delcídio (2:07)

10) Delcídio: Sou místico e troquei nome na urna após dica de numeróloga (2:09)

11) Quem é Delcídio do Amaral? (2:05)

12) Íntegra da entrevista com Delcídio do Amaral (65 min.)

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Patrus Ananias pede fim de eleições diretas para eleger direção do PT
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Fernando Rodrigues

Petista histórico é ministro do Desenvolvimento Agrário

Para ele, escolha em eleição direta tornou-se desqualificado

Muitos filiados “nada sabem” ou praticam do “ideário petista”

O ministro Patrus Ananias, que deseja acabar com as eleições diretas internas no PT

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, enviou aos militantes do PT um documento no qual defende o fim do sistema de eleições diretas dentro da legenda para a escolha dos dirigentes partidários.

Conhecido no jargão petista como PED (Processo de Eleições Diretas), o sistema é tido hoje por muitos militantes como uma forma corrompida de democracia interna. Milhares de filiados são arregimentados por grupos de candidatos e votam quase sem discutir a respeito das propostas de quem pretende dirigir o partido.

No texto “Congresso do PT: saindo da encruzilhada”, Patrus Ananias argumenta: “Estou convencido de que a extinção do PED e a retomada em bases ampliadas e mais participativas dos encontros partidários para escolha das direções é o melhor caminho para a redemocratização interna do partido”.

A crítica de Patrus tem relevância política porque ele faz parte do grupo CNB (Construindo um Novo Brasil), que é majoritário no PT e se beneficia há anos do PED para se manter no poder.

Aparentemente insatisfeito com os rumos da legenda, o ministro do Desenvolvimento Agrário preferiu se manifestar ao Congresso Nacional do PT apenas por escrito. Alegou ter uma agenda de trabalho para justificar a ausência no evento que se realiza em Salvador (BA) nesta quinta-feira (11.jun.2015) e amanhã.

“Sabemos, há três modelos de democracia: direta (ágora grega), representativa (surgida no século XVII) e participativa ou deliberativa. Esta última a meu ver é a melhor, pois propicia e estimula o debate, que é participativo e fundamental, embora os modelos não sejam excludentes. No PED, a democracia representativa é que prevalece, o que faz desaparecer dentro do Partido os espaços para os debates democráticos e a construção de consensos”, escreve em seu documento Patrus Ananias.

Ele diz preferir os chamados “encontros zonais e municipais” porque assim “todos os que realmente militam no partido teriam voz e voto”.

Nesses encontros seriam eleitos delegados que escolheriam as direções estaduais e nacional.

“A existência de plenárias e assembleias dentro do Partido é fundamental para que o PT contribua efetivamente para o avanço do país (…) Este debate não acontece nos PEDs. Eles foram desqualificados com as filiações massivas de pessoas que muitas vezes nada sabem ou praticam do ideário petista”.

A chance de prosperar a proposta de Patrus Ananias é pequena. Mas ele vocaliza o grau de desconforto que militantes históricos da legenda têm em relação à forma como o PT vem sendo conduzido.

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Senador que trocar de partido não perde o mandato, decide STF
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Fernando Rodrigues

Julgamento atinge em cheio ação do PT que tenta cassar Marta Suplicy

“Emocionada”, Marta afirmou que decisão do Supremo “coloca fim a polêmicas”

O Supremo Tribunal Federal decidiu nesta 4ª feira (27.mai.2015) que a regra da fidelidade partidária não se aplica a senadores, prefeitos, governadores e presidentes da República. Os políticos eleitos para esses cargos estão autorizados a trocar de partido sem ter o mandato cassado.

O plenário da Corte entendeu que cassar o mandato de políticos eleitos pelo sistema majoritário, no qual o mais votado é eleito, apenas por terem trocado de partido viola a “soberania popular”.

A decisão atinge em cheio a iniciativa do PT de tentar reaver o mandato da senadora Marta Suplicy (SP), que deixou a legenda e ruma para o PSB. A direção petista havia protocolado na 3ª feira (26.mai.2015) uma ação no Tribunal Superior Eleitoral pedindo a cassação do mandato de Marta por infidelidade partidária.

O PT escolheu um péssimo momento para mover a ação contra Marta. Acirrou a animosidade entre o partido e a senadora e, agora, tem chance praticamente nula de sucesso. A decisão do plenário do Supremo nesta 4ª feira foi unânime e será observada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Marta se disse “emocionada” com a decisão do Supremo. Em post em uma rede social, disse que a Corte “coloca fim a polêmicas, prevalecendo o principal instrumento da democracia: o voto”.

A regra da fidelidade partidária continua em vigor para cargos disputados pelo sistema proporcional: vereadores, deputados estaduais e deputados federais. Nesses casos, o político precisa justificar a mudança do partido por uma razão substantiva, como perseguição interna.

Luís Roberto Barroso, ministro relator do caso no STF, afirmou em seu voto que o vínculo entre partido e mandato é muito mais tênue no sistema majoritário do que no proporcional. “Não apenas pela inexistência de transferência de votos, mas pela circunstância de a votação se centrar muito mais na figura do candidato do que na do partido”, escreveu.

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Supremo decide na 4ª feira se “distritão” acaba com fidelidade partidária
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Fernando Rodrigues

Decisão judicial antiga do STF foi tomada só para sistema proporcional

Resultado vai influir sobre de quem é mandato de Marta Suplicy (ex-PT)

Nelson Jr./STF - 14.mai.2015

Está pautada para esta 4ª feira (27.maio.2015) no plenário do Supremo Tribunal Federal um julgamento sobre a validade da regra da fidelidade partidária para políticos eleitos em disputas majoritárias –presidente da República, governadores, prefeitos e senadores.

Se cair a fidelidade partidária para esses cargos, a regra deve também se aplicar para o sistema chamado “distritão”, que está em debate nesta semana na Câmara, sob o patrocínio direto do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMBD-RJ).

O “distritão”, se aprovado, substituirá o sistema atual de eleições. Ganharão apenas os candidatos que tiverem mais votos nas eleições. No caso do Estado de São Paulo, que tem 70 vagas na Câmara, os 70 mais bem votados seriam os eleitos.

No sistema atual, chamado de proporcional, os votos de todos os candidatos de um partido (ou coligação) são somados e as cadeiras da Câmara são distribuídas de acordo com o total desses apoios recebidos.

Até hoje, o consenso geral era sobre a perda de mandato quando um político eleito em eleições proporcionais (vereador, deputado estadual, distrital e federal) trocava de partido sem razão substantiva –por exemplo, perseguição interna.

Em 2008 o STF ratificou uma resolução anterior do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de 2007  a respeito da fidelidade partidária. Mas o julgamento foi conduzido considerando o sistema de eleição proporcional.

Agora, na 4ª feira, se o STF chegar ao final do julgamento (se nenhum ministro fizer um pedido de vista do processo), ficará pacificado o assunto. A decisão será tomada para responder a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em 2013. O Ministério Público Federal, sob Janot, considera que não cabe “ação para perda de mandato contra candidatos eleitos pelo sistema majoritário que tenham mudado de partido”.

A ser mantido o entendimento de Rodrigo Janot no STF, a vinda do “distritão” acabaria com a fidelidade partidária no Brasil.

O país voltaria ao modelo que vigorou até 2007, quando deputados federais eleitos mudavam de partido até mesmo antes de tomarem posse, como ocorreu no início dos anos de 2003 e de 2007.

O relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade sobre fidelidade partidária em casos de eleições majoritárias no STF é o ministro Luís Roberto Barroso. Ele está finalizando a redação de seu voto nesta 2ª feira (25.mai.2015) para apresentá-lo na 4ª feira e não comenta o assunto.

A repercussão da decisão do STF será sobre todo o sistema político brasileiro. Se o “distritão” for aprovado pelo Congresso e se o Supremo derrubar a fidelidade partidária, um candidato a deputado muito popular continuará a precisar de uma legenda apenas para se candidatar. Depois de eleito, poderá escolher outra agremiação ou até ficar sem partido durante o exercício do seu mandato.

Nesse cenário, aumentaria a fragilidade dos partidos políticos.

A decisão do STF também vai se aplicar ao caso da senadora Marta Suplicy, de São Paulo, que deixou o PT em abril. A direção petista anunciou que pretende requerer o mandato de Marta na Justiça.

Até hoje não houve um caso de destaque em que um governador, prefeito de grande cidade ou senador da República tenha saído de um partido e, por essa razão, tenha perdido o mandato. A decisão do STF de 4a feira vai balizar esses possíveis casos de troca de legenda.

 

RACIOCÍNIO DO TSE E DO STF

A decisão do STF sobre fidelidade partidária tomada em 12.nov.2008, ratificando a resolução 22.610/2007 do TSE, foi construída sob dois argumentos.

O primeiro foi que o sistema de voto no Brasil é proporcional para os casos em que se elege deputados e vereadores. Quando um eleitor escolhe um candidato a deputado, digita na urna um número que vale também para o partido político daquele candidato.

No sistema atual, mesmo que o escolhido pelo eleitor não ganhe uma cadeira na Câmara dos Deputados, o voto é válido –porque conta para a legenda. O partido político sempre busca ter muitos votos para todos os seus candidatos, pois é a soma de todos esses apoios que determina quantas vagas a legenda terá na Câmara.

Por esse raciocínio, o TSE e o STF decidiram que o mandato de um deputado não pertence ao político, mas ao partido ao qual essa pessoa estava filiada no momento da eleição.

Esse argumento está centrado no sistema eleitoral proporcional –quando cada agremiação recebe um número de cadeiras na Câmara (ou em Assembleias Legislativas ou em Câmaras de Vereadores) proporcional ao número total de apoios que a legenda teve nas urnas.

Há outro argumento que vale tanto para o sistema proporcional como para o majoritário. Para ser candidato a qualquer cargo, um cidadão brasileiro precisa preencher vários requisitos. Por exemplo, para ser presidente da República é necessário ter 35 anos ou mais. E há uma pré-condição incontornável que vale para todos os cargos públicos eletivos: estar filiado a um partido político.

Ou seja, ao se eleger, ainda que para um cargo majoritário, é necessário ao político estar relacionado formalmente a um partido. O que o STF responderá na 4a feira (27.maio.2015) é se, após eleito, o presidente, governador, prefeito ou senador pode abandonar a legenda pela qual foi escolhido.

 

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Não foi gripe: Joaquim Levy se desentendeu com Nelson Barbosa
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Fernando Rodrigues

Ministro da Fazenda se sentiu desautorizado por corte abaixo de R$ 70 bilhões

Irritado com colega do Planejamento, Levy não quis participar de entrevista

Levy e Barbosa no dia em que foram anunciados ministros, em novembro de 2014

Levy e Barbosa na cerimônia em que Dilma anunciou sua equipe econômica, em novembro de 2014

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ficou altamente irritado com o seu colega da pasta do Planejamento, Nelson Barbosa, pelo fato de o valor total dos cortes no Orçamento ter ficado abaixo de R$ 70 bilhões –ficou em R$ 69,9 bilhões.

Levy havia declarado publicamente na segunda-feira (18.mai.2015), após se reunir com o vice-presidente, Michel Temer, que a ordem de grandeza dos cortes ficaria entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões.

A partir daí, Nelson Barbosa se uniu ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para tentar de todas as formas estipular um valor fora da faixa anunciada por Joaquim Levy. A decisão final foi tomada na quinta-feira (21.mai.2015), e chancelada pela presidente Dilma Rousseff.

Nesta sexta-feira (22.mai.2015), Levy tentou durante parte da manhã reverter sua derrota do dia anterior. Em vão. A presidente da República e o Ministério do Planejamento mantiveram o valor.

No início da tarde, antes de começar a entrevista coletiva que estava programada para ser estrelada por Levy e Barbosa, o titular da Fazenda informou ao colega do Planejamento, por telefone, que não participaria. Foi uma conversa dura.

A desculpa formal dada aos jornalistas à tarde foi que Levy estava com gripe. De fato, ele está resfriado. Mas a razão real para ter faltado à entrevista foi a irritação por causa do valor de R$ 69,9 bilhões.

Durante a entrevista, outro fato foi notado pelo Ministro da Fazenda. Nelson Barbosa não deu a palavra ao secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Barbosa Saintive, que é subordinado a Levy. Foi uma retaliação de Nelson Barbosa contra Levy.

Por enquanto, segundo o Blog apurou, não há risco de Levy deixar a Fazenda ou ser demitido.

Outra razão pela qual ele não quis participar da entrevista coletiva desta sexta foi o fato de que sua apresentação seria muito mais realista do que a de Nelson Barbosa. Para Levy, muitos no Brasil, no meio empresarial e no governo, ainda não passaram pelo momento de “cair a ficha” em relação à real situação da economia.

O ministro da Fazenda sente-se só neste momento. Não enxergou ninguém no alto escalão da administração federal se solidarizando com sua cruzada pelo ajuste fiscal. De maneira tímida, a presidente da República tem dado apoio. Mas não no caso simbólico de fixar o valor dos cortes no Orçamento um pouco acima de R$ 70 bilhões.

Quem conhece as contas do governo sabe que não faria diferença, em termos econômicos reais, fixar os cortes do Orçamento em R$ 69,9 bilhões ou em R$ 70,1 bilhões. Até porque, é mínima a chance de o valor anunciado nesta sexta ser cortado exatamente tal qual o governo está prometendo.

A diferença que haveria seria política. Se Dilma tivesse permitido que o contingenciamento ficasse em R$ 70,1 bilhões, estaria “empoderando” um pouco mais seu ministro da Fazenda. Mas, nesse episódio, a presidente preferiu ouvir mais os argumentos de Nelson Barbosa do que os de Joaquim Levy.

O ministro da Fazenda se vê cada vez mais isolado dentro do governo. No Congresso, sente-se atacado por aliados do Planalto. No PT, enxerga o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vocalizado críticas por achar que o ajuste fiscal é mais duro do que o necessário. Por enquanto, Levy só se ampara em Dilma. Menos nesta sexta, quando a presidente também não quis segui-lo a respeito do valor dos cortes no Orçamento.

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